8.5.14

Mini Fic - Capítulo 19 - Maratona 4/5

Não perca o controle.
~ Manual 101 de Combate a Incêndio ~
Trinta minutos depois, Demi saiu do elevador e entrou no apartamento de cobertura de Joe, em Potrero Hill, e ficou de queixo caído. Ele tirou-lhe o casaco dos ombros, mas ela estava tão entretida assimilando a vista de cada janela que mal percebeu.
— A vista aqui é incrível! — Ela virou-se para ele. — Como consegue fazer outra coisa que não seja ficar olhando pelas janelas?
— Achei que você fosse gostar — comentou, enquanto andava pela sala até ficar em pé ao lado dela. — Geralmente, a vista é nítida assim no inverno, mas no verão...
— Deve parecer que está flutuando nas nuvens. - Ele quis beijá-la pelo menos umas cem vezes desde que ela abrira a porta da frente para ele, e agora, com ela ali na sala de sua casa, observando com olhos sonhadores pela janela, Joe tinha que se esforçar ao máximo para seguir o plano e manter sua promessa. Ela combinava tanto com a casa dele. Tão perfeita. Apesar da grande estrutura do prédio, da vista e da localização, ele sempre achou que estava faltando alguma coisa. Agora sabia exatamente o que era. Como seria diferente se Demi e Summer vivessem ali com ele! Se toda aquela cor do apartamento delas estivesse ali. Se as roupas dela estivessem penduradas no closet e os desenhos de Summer grudados na geladeira.Ciente de que estava se precipitando, que, além da queima de fogos, nada estava combinado, Joe forçou-se a se afastar da única mulher que algum dia já lhe tirara todo o controle.
— Aquele omelete mal deu para matar a minha fome — ele disse a ela. — Comida tailandesa seria bom para o jantar? Tem um lugar aqui perto que faz entrega em domicílio. - O rosto dela se iluminou. 

— Adoro comida tailandesa! - Meu Deus, ele agora não tinha só ciúme de um homem morto; tinha ciúme também até da comida tailandesa.
— Fique à vontade enquanto eu peço uma coisa de cada. - Sem deixar a janela durante todo o tempo em que Joe estava ao telefone, ela riu e disse:
— Parece ótimo. - Joe tinha certeza do quanto ela sentia falta de morar num lugar mais alto para ter a vista da cidade, como tinha no apartamento que havia pegado fogo. Ele desligou o telefone e ela continuava tão encantada pelas luzes da cidade que não percebeu quando ele colocou duas taças de vinho tinto sobre uma prateleira perto deles. Um minuto depois, ele disse:
— Com licença. - Demi ficou claramente chocada ao vê-lo carregando uma poltrona enorme sobre a cabeça.
— O que está fazendo com isso?
— Tentando fazê-la ficar à vontade — ele respondeu, enquanto baixava a poltrona até o chão, devagar. Além disso, Joe teve de admitir: estava se exibindo um pouquinho ao ver os olhos de Demi passarem pelos bíceps dele, que agora estavam saltados por ter levantado a poltrona pesada. Ele puxou a mão dela.
— Sente aqui comigo.
— A poltrona não é grande o bastante para nós dois — ela protestou, mas ele já a tinha a meio caminho do colo, com a mão na cintura dela.
— Para mim, parece ter o tamanho certo. - Meu Deus, ele amava o cheiro dela, uma mistura de flores do campo em botão com uma pitada doce de desejo feminino.
— Joe, não deveríamos...
— Não se preocupe — ele murmurou no ouvido dela —, não vou quebrar minha promessa.- Será que ela sabia o quanto tinha ficado decepcionado quando ela virou orosto para longe dele e olhou pela janela mais uma vez? Joe tentou esconder osorriso enquanto esticava as mãos até a prateleira para alcançar o vinho, e passou a taça para ela.
— O melhor da Vinícola Jonas. - Ela tomou a taça da mão dele e inalou com prazer. 
— Só para deixar bem claro, eu já era uma fã dos vinhos de Nick antes de nos conhecermos.
— É coisa boa — ele concordou. - Ela admitiu, e então continuou:
— E sei que não o conheci, mas seu outro irmão, Smith... — Ela parou de repente, como se tivesse acabado de perceber que não deveria dizer mais nada.
— Deixe para lá. — Tomou um gole do Cabernet. — Isso é muito gostoso.
— O que é que tem o Smith? Também vai me dizer o quanto gosta dos filmes dele? - Ela lambeu os lábios e deu de ombros.
— Você há de admitir que são todos muito bons. — Ela parou de novo, deu outro gole no vinho. — Assim como este vinho. — Ela apontou para a janela.
— Ei, aquele lá não é o estádio de beisebol? - Ele semicerrou os olhos. — Você também é fã de beisebol?
— Culpa da Summer — ela respondeu. — O pai dela costumava levá-la aos jogos quando ela era bebê e desde então ela adora. Ela adorou ter conhecido Ryan na festa da sua mãe. Ele é o lançador favorito dela.  - Por que ele tinha tantos irmãos? O cabo da taça de vinho dele quase se quebrou de tão forte que ele o apertava. Os olhos de Demi dançavam enquanto apontava para uma grande fotografia de um nascer no sol na África, pendurada na parede.
— Tenho que perguntar. Foi Kevin que tirou essa foto?
— Foi. — A resposta veio mais seca do que ele gostaria. - Foi então que ele a pegou sorrindo sobre a beirada do copo e percebeu que qualquer ilusão que ele tivera sobre ter o controle daquela noite era apenas... ilusão. Com apenas algumas frases, Demi o tinha colocado exatamente onde queria: agindo feito um idiota ciumento. De novo. Querendo algum tipo de retribuição, ele puxou-a para mais perto, as costas dela lhe pressionando o peito.
— Estou feliz por você estar aqui, Demi. - Por alguns segundos, ela ficou tensa e ele chegou a pensar que ela se afastaria. Mas, em seguida, sentiu-a aconchegando-se a ele, apoiando a ponta da cabeça no queixo dele.
— Eu também. - Joe poderia ter ficado a noite toda sentado com ela, em perfeito silêncio, vendo os fogos se acenderem e apagarem pela cidade. Mesmo com o autocontrole por um fio, por causa das curvas macias dela pressionando-lhe os quadris, Joe nunca se sentiu tão à vontade com outra pessoa. Nem mesmo com a própria família. Pena que o entregador de comida tailandesa não parava de tocar a campainha. Demi não parecia nem um pouco mais feliz do que ele.
— Acho que um de nós tem de ir lá buscar. - Ele não a beijou, mas enfiou o rosto nos cabelos dela por um milésimo de segundo antes de colocar as mãos na cintura e levantá-la do colo dele. Joe já tinha estado com muitas mulheres que sabiam exatamente o que fazer quando estavam perto de um homem, mulheres que se esforçavam para isso. Demi era pura sensualidade, dos pés à cabeça, sem fazer o mínimo de esforço além de respirar. Ele estava tão enfeitiçado que ela alcançou a bolsa para pegar uma gorjeta antes que ele pudesse perceber. O adolescente olhava para ela tão embevecido que provavelmente teria esquecido do dinheiro se Joe não tivesse pigarreado e mandado o garoto embora. Demi fechou a porta e carregou as sacolas de comida.
— O cheiro está fantástico.
— O pobre garoto mal conseguia balbuciar duas palavras na sua frente. - Ela olhou-o como se Joe fosse louco.
— Do que você está falando?
— De você, Demi. E de quanto é linda. - Ela ficou tão surpresa que ele pegou rapidamente as sacolas de comida das mãos dela antes que caíssem, e colocou-as sobre a mesa. A surpresa transformou-se em timidez. E descrença.
— Você fica dizendo isso toda hora.
— É porque não consigo parar de pensar nisso toda vez que olho para você. Toda vez que penso em você.  - Demi olhou fixamente para Joe, com os olhos dela buscando os dele. 
— Nunca conheci ninguém como você, Joe. — Ela baixou os olhos até as mãos, antes de levantá-los de novo até o rosto dele. — Fico feliz por ter sido você quem encontrou a mim e a Summer. — Ela respirou fundo. — E fico feliz por ela ter insistido em levar muffins para você. — Ela mordeu os lábios. — E até fico feliz por ela ter te convencido a nos ensinar snowboard. - Se ele fosse até ela agora, ele sabia que não só quebraria a promessa de não a beijar, como também a possuiria bem ali, no tapete no meio do chão da sala. Ele puxou uma cadeira para ela, à mesa.
— Venha. Vamos comer. - Pois ele esperava — pelo amor de Deus — que ela ia precisar de todas as suas forças mais tarde. O celular dela tocou no momento em que ela se sentava com o som de “You are my sunshine”, e ele sentou-se enquanto ela tirava o telefone do bolso.
— Oi, meu amor, como vai o Mickey? - Ele adorava ver a maneira como o rosto dela se iluminava quando falava com Summer. A mãe dele sempre esteve presente na vida dele e de seus irmãos e, quando criança, ele achava que era assim que todas as mães deveriam ser. Quando adulto, ele percebeu o quanto tinha sido sortudo. E quanto Summer também era sortuda.
— Uau, isso parece barulho de água e fogos de artifício. Mal posso esperar para ouvir mais sobre como eles fizeram a água de todas aquelas cores, quando você voltar para casa. - Ele serviu-lhes pad thai e salada de pepino enquanto ela ria de alguma coisa que Summer disse. Então, de repente, parou de rir.
— O que vou fazer hoje à noite? — Ela pegou a taça e deu um gole no vinho.
— O mesmo que você, meu docinho, vou assistir um pouquinho à queima de fogos. - Joe parou de servir a comida. Ele queria ouvir o que Demi diria à filha. Será que falaria que estava com ele? Demi ouvia cuidadosamente a voz do outro lado da linha.
— Não, meu amor, sozinha não. Com um amigo. - Joe não gostou do fato de que ela não olhava para ele e teve de lembrar-se de ter paciência. A noite estava indo bem, melhor do que ele esperava. O problema era que, no que dizia respeito a Demi, ele queria mais do que jamais teve com outra mulher. E queria agora. Finalmente, Demi levantou os olhos para encontrar os dele sobre os pratos e as embalagens de comida.
— Vou ver a queima de fogos com o Joe. - Ele conseguiu ouvir os gritinhos de Summer do outro lado da linha.
— Não sei se ele pode falar agora... — Ela parou na metade da frase, quando ele esticou a mão para pegar o telefone. — Na verdade, ele está bem aqui. - Ele não conseguiu decifrar a expressão de Demi ao dizer: 
— Ei, lindinha! Já foi em algum brinquedo assustador hoje? — Ele ouvia, gargalhando das descrições dos brinquedos. 
— Nem mesmo sua mãe já foi nesse aí? — Ele levantou a sobrancelha na direção de Demi. — Uau, você é corajosa mesmo, hein? Aqui está sua mãe de novo. — Ele ainda ria quando passou o telefone de volta para Demi.
— Claro, gostaríamos que estivesse aqui. — Ela virou-se, levemente, deixando o cabelo cair sobre o rosto. Estou com muita saudade de você, meu amor. E estou tão feliz que esteja se divertindo com a vovó e o vovô. Mal posso esperar para vê-la amanhã. — Ela colocou o telefone sobre a mesa, mas não conseguiu tirar a mão de cima dele. Ele queria perguntar por que ela não queria contar a Summer que estavam juntos. Mas ele já sabia da resposta, não sabia? E não queria fazê-la lembrar dos motivos. Além disso, não gostava quando ela ficava triste depois de dizer adeus à filha. Então, Joe pegou o garfo e tentou fazê-la rir da vez em que ele e Ryan resolveram se esconder na Ilha do Tom Sawyer e quase acabaram trancados durante a noite.
— Você devia ter visto o Ryan — ele contou —, feito um bebezinho, chorando pela mamãe. - Ela sorriu diante do comentário. — Não sei por que, mas ele não me parece o tipo bebê chorão.
— Já o viu sendo pego na base de lançamento? — Ele olhou para baixo, para o colo, para garantir que ela entendesse onde a bola tinha caído.
— Isso já aconteceu de verdade? - Dessa vez foi ele que sorriu.
— Mais de uma vez. E, enquanto as ex-namoradas vibravam, pode acreditar que ele estava chorando. - Joe tinha ficado atraído por Demi desde o primeiro momento em que ela entrou no quarto do hospital. Entretanto, por mais que estivesse contando os minutos até poder beijá-la sem ter de quebrar a promessa, adorava ouvi-la rir, sabendo, sem a menor sombra de dúvida, que a conexão deles era muito mais profunda. Era tão profunda que a filha dela ganhou não somente seu coração, mas também sua alma.


Continua... Oi! Mais tarde eu posto mais, ok? Beijos

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