26.12.17

Capítulo 1 - Família Lovato


Sete e vinte e nove. Sete e trinta. Era agonizante a lerdeza do ponteiro do relógio que representava os segundos. Havia uma hora exata que Demi estava pronta e sentada ao sofá tão tensa que os músculos estavam rígidos. A ansiedade para as sete e cinquenta a matava aos pouquinhos, pois era o horário que Inácio a buscaria.

   - Demi, relaxa. – Selena a tocou no ombro e quando Demi a olhou assustada, Sel sorriu. – Nós estamos aqui, dá pra conversar com a gente? – Demi mordeu o lábio inferior ao olhar para Joe, que arqueou uma sobrancelha e sorriu para depois ela olhar para Selena.

   - Eu estou nervosa. – Murmurou penteando o cabelo com os dedos e Selena revirou os olhos porque havia demorado muito para elas conseguissem colocar tudo no devido lugar.

   - Amor, você vai passar mal. – Quando Joe ficou em frente a Demi e a ajudou a se levantar, Selena revirou os olhos porque Joe tinha sentado no lugar de Demi e a puxado para o colo. – Relaxa. – Disse a beijando na bochecha e Demi não se aninhou manhosa ao corpo dele como costumava fazer.

   - Dez minutos está demorando uma eternidade. – Resmungou levando a mão direita a barriga de Selena e com jeito, ela conseguiu deitar repousando a cabeça nas coxas de Sel e as pernas, quem ficou responsável foi Joe. – Como está o bebê da tia? – Perguntou toda carinhosa beijando a barriga de Sel, que sorriu acariciando a bochecha de Demi.

   - Está muito bem. – Selena sorriu para Joe que também observava Demi a beijando na barriga e conversando baixinho com o bebê. – Hoje eu comi tanto chocolate, o Ed teve que acordar às quatro da manhã para comprar. – Demi cerrou os olhos, mas logo sorriu.

   - Você nem lembrou de mim, sua chata. – Resmungou manhosa e Selena deu de ombros. – Você é a pior amiga que uma mulher poderia ter. – A ideia era fingir estar emburrada, mas Demi acabou rindo quando Selena a atacou com cócegas.

   - Joseph, não se atreve. – Murmurou toda vermelha de tanto rir quando flagrou a troca de olhares de Joe e Selena. As gargalhadas de Demi foram altas e escandalosas, ela até tentou revidar, mas sem sucesso já que Joe e Selena não davam trégua em momento algum. – Ok, já deu! Eu me rendo, ok?! – O cabelo ficou uma bagunça e as bochechas coradas.

   - Vamos, levanta. A sua roupa vai amassar. – Reclamou Selena e Demi revirou os olhos, mas se acomodou entre o namorado e a melhor amiga. – Você parece uma criança, Demetria. – Por que Sel era tão exigente? Demi ficou quieta enquanto a amiga arrumava a jaqueta jeans escura ao corpo e colocava o cabelo no lugar. – Já sabe sobre o batom, certo? – Demi assentiu prontamente. Ela não queria ir tão maquiada, porém não reclamou quando se olhou no espelho. Foi quase uma hora de relógio sentada a poltrona com Selena sentada no colo ditando regras e lançando olhares feios a ela, mas pelo resultado valeu a pena. Os cílios estavam cheios e tão bonitos por conta do rímel. As pálpebras carregavam sombra escura e as sobrancelhas estavam impecáveis! E Selena a mataria, caso o batom fosse borrado, razão da qual Demi estava se matando aos pouquinhos por estar há horas sem beijar Joe.

   - Sei. – Murmurou de cenho franzido conforme Selena dobrava a manga da jaqueta que ela usava. – Sel, eu acho que está bom. – Disse porque Selena  mal tinha largado a manga da jaqueta para arrumar a gola.

   - Agora está. – Selena sabia um pouco de tudo, e Demi ficava assustada com a forma que a amiga era esperta com aquela coisa de beleza. Todas as combinações de roupa que Sel planejava ficavam boas, já Demi demorava algum tempo para conseguir montar um look legal.

   - Não é melhor levar mais um casaco, está frio para sair apenas com um suéter e jaqueta jeans. – Comentou Joe. Demi e Selena olharam para ele que deu de ombros. Ele vestia três suéteres, uma jaqueta em couro revestida e touca.

   - Você não está com calor? – Perguntou Selena de cenho franzido. Ela estava aquecida com dois suéteres, jeans e botas. Joe exagerava a ponto de ser agonizante vê-lo com aquele tanto de roupa.

   - Não, estou aquecido. – Murmurou e Demi sorriu o abraçando.

   - Amor, você deveria ao menos tirar essa jaqueta. Você já é naturalmente quentinho. – Disse toda manhosa o beijando brevemente nos lábios porque Joe tinha a puxado para o colo e distribuiu tantos beijinhos pelo rosto, que ela não conseguia parar de sorrir apaixonada. – Sel, dormir com ele é a melhor coisa que existe. Ainda mais nesse frio. – Murmurou abraçando o namorado contra o peito e Joe corou, mas a beijou no queixo e a abraçou descansando a cabeça no peito.

   - O Ed também é. Enquanto eu estou morrendo de frio, ele está todo quente, principalmente quando está dormindo. – Demi assentiu sorrindo se lembrando das noites que ela passava agarrada a Joe. Era tão bom que nem parecia ser verdade. Elas conversariam mais sobre os namorados, porém quando o celular de Demi começou a tocar, a situação mudou drasticamente.

   - Dem, calma. – Disse Joe a olhando nos olhos.

   - É ele? – Selena perguntou e Demi assentiu olhando o nome do pai na tela do celular. – Atende! – Disse quando a amiga iria guardar o celular na bolsa.

   - Oi. Estou. Vou descer. – Ela não teve coragem de dizer mais palavras a Inácio, nem mesmo desejar boa noite como ele tinha feito. – Eu estou nervosa. – Disse a Selena e Joe. – O que eu vou conversar com ele? E quando eu chegar lá? – Choramingou sem saber exatamente para quem ela poderia fazer manha, a única coisa boa era saber que Joe e Sel estavam lá para mima-la.

   - Eu não sei. – Murmurou Joe coçando a nuca. – Vocês podem conversar sobre.. Hum.. Eu não faço ideia. – Ele corou porque Demi o olhava com esperança e Selena atentamente.

   - Dem, seja sincera com ele. Vai ser melhor. – Disse Sel fitando os olhos de Demi que assentiu. – Diga que você está nervosa e ansiosa. Ele vai saber conduzir uma conversa agradável. – Sel tinha razão. Inácio entenderia que ela estava nervosa com a situação, ele até já tinha comentado que era tudo muito novo para ela, e realmente era. Do dia para noite havia um pai e seis irmãs. Era muito para qualquer pessoa absorver em pouco tempo.

   - Eu só digo isso para ele? – Disse ajeitando a bolsa de ombro para se levantar.

   - Você vai saber o que dizer, nós sabemos que a senhorita é muito tagarela quando quer. – Disse Selena e Joe riu assentindo. – Agora vamos? Não queremos deixa-lo esperando por muito tempo. – Tinha como desistir? Demi engoliu em seco quando Sel e Joe se levantaram e eles caminharam para fora do apartamento esperando que ela o trancasse. Aquilo era uma droga. Ao mesmo tempo que a vontade de conhecer melhor o pai e as irmãs era muita, também era quase nula. Conhecer aquelas pessoas significava dar um novo rumo a vida. Nada seria como antes. Demi franziu o cenho fitando Selena para depois Joe. Eles estavam esperando por ela.

   - Vamos descer de elevador, não quero você fazendo esforço físico. – Ela estava tão intrigada com a situação que nem mesmo conseguiu sorrir para Sel, como a amiga tinha feito. No elevador o clima não foi ruim porque Joe tinha a abraçado de lado e Demi segurou a mão de Selena. As duas pessoas que ela mais amava no mundo estavam lá para protege-la, não tinha como dar nada de errado. – Pessoal, eu amo muito vocês. – Disse e como recompensa, Sel e Joe a abraçaram até que Demi estava sorrindo de orelha a orelha.

   - Nós também amamos você, gatinha. Só relaxa, vai dá tudo certo e você vai se divertir muito. – Disse Joe e Demi roubou um selinho o envolvendo num abraço de urso.

   - Exatamente. Você merece relaxar um pouquinho, Dem. E é a família que você sempre quis. – Disse Selena. Demi franziu um pouco o cenho pensando nas palavras da amiga. Ela realmente sempre quis ter uma família amorosa. Ter seis irmãs era mais que o planejado, e não era ruim. Inácio era um bom homem e um pai maravilhoso. Só faltava Dianna para completar.

Não deu tempo para que Demi expor as questões que a perturbava porque o elevador chegou ao hall do prédio. Se ela não saísse daquele cubículo, ele a levaria de volta para o andar onde morava. Joe guiou a mão a dela esboçando aquele sorriso tímido que a deixava ainda mais apaixonada por ele. Os dois sorriram se olhando e Demi assentiu derrotada deixando que ele a levasse para fora do elevador.

   - Relaxa. – Disse Selena a Demi quando elas notaram que Inácio estava esperando na recepção. Ele conversava com tanta simpatia com o porteiro e o recepcionista e quando a viu, sorriu ansioso e se aproximou.

   - Boa noite. – Nem mesmo o fato de Joe estar de mãos dadas com Demi estragaria aquela felicidade que crescia no coração de Inácio. Ele sorriu exclusivamente para Demi mal prestando atenção em Selena e em Joe que desejaram boa noite como ele tinha feito. – Está pronta? – Perguntou a Demi que sorriu envergonhada assentindo. – Nós podemos ir? – Tornou a perguntar e Demi a assentir.

   - Só vou me despedir. – Disse sem saber ao certo de onde havia tirado forças para dizer aquelas palavras. – Sel, obrigada por me ajudar. Eu te amo muito, e cuide do nosso bebê. – Disse baixinho a Selena quando a abraçou calorosamente.

   - Vou cuidar, meu amor. – Sel a beijou na testa e sorriu fitando os olhos de Demi. – Eu também te amo muito. Quero que você se divirta muito essa noite. Nada de vergonha, ok? – Demi nunca quebrava uma promessa. Ela enlaçou o dedo mindinho ao de Selena e tornou a abraça-la gostando de sentir o calor e o cheiro da amiga a envolvendo.

   - Qualquer coisa, você me liga. – Disse Joe depois de beija-la na testa e Demi assentiu o abraçando e o beijando no peito. – Amo você. Quando você quiser voltar para casa, me liga, vou busca-la, ok? – Demi assentiu o olhando nos olhos.

   - Combinado, príncipe. Amo você. – Demi sabia que não podia trocar o beijo que ela e Joe desejavam, então eles se contentaram apenas com um selinho demorado que era mais que o suficiente para que os corações acelerassem e os sorrisos brotassem nos lábios. – Leva a Sel para casa, tenha cuidado. – Disse e Joe assentiu esboçando um pequeno sorriso quando ela o beijou demoradamente na bochecha. Então lá estava Inácio a esperando pacientemente. – Não se esqueça de tomar a insulina e comer, cuida da nossa pequena. –Demi acariciou o rosto de Joe gostando de sentir os pelinhos da barba em contato com os dedos e o beijou na boca novamente se despedindo. – Nós podemos ir. – Disse ao pai que assentiu logo oferecendo a mão para que Joe a apertasse e Selena, ele a beijou na testa e sorriu educadamente. – Tchau. – Disse Demi a Sel e Joe quando olhou para trás caminhando ao lado de Inácio.

   - Você está muito bonita. – Agora restavam apenas ela e Inácio. Demi sorriu envergonhada, e agradeceu ao elogio fitando os olhos marrons do pai. Inácio parecia tão feliz e radiante que ela também se sentia feliz por permitindo aquela aproximação. – Vai conseguir andar com toda essa neve? – Era a pergunta que Demi se fazia. Selena tinha insistido para que ela calçasse botas com salto, e como Demi estava nervosa e nem se importando muito com o que iria vestir, ela acabou calçando as botas de salto alto com direito a tachas neles.

   - Eu acho que vou precisar de ajuda. – Melhor que cair e passar uma vergonha maior. Demi sorriu quando Inácio a abraçou de lado e atentamente a guiou para onde estava estacionada a SUV branca. – Obrigada. – Disse educadamente quando o pai abriu a porta do carro e a ajudou a se acomodar ao banco do carona.

   - As garotas estão ansiosas. Lá em casa está um caos. – Eram cinco garotas e uma bebê. Quando elas inventavam que iriam se arrumar, Inácio ficava confuso com tanta bagunça, música em meio ao converseiro e as brigas e discussões. Não era fácil ser um homem em meio a tanta mulher. – Está ansiosa? – Ele perguntou dando partida no carro e como não conseguia sair da vaga por conta dos carros, Inácio olhou para Demi com ansiedade e uma alegria perceptível.

   - Estou. Muito ansiosa. – Demi sorriu quando teve a mão esquerda cuidadosamente tocada.

   - Eu também estou, filha. É muito importante para mim ver todas as minhas garotas juntas. – Eles não mantiveram contato visual porque Inácio guiava o carro para fora da vaga, e Demi usou toda a coragem que tinha para envolver os dedos do pai com os dela. Era tão bom ouvi-lo. Inácio era gentil e falava com tanto gosto e paixão sobre as filhas.

   - Vo..Você tem certeza que não quer um exame de DNA? – Demi sustentou o olhar de Inácio e sentiu as bochechas corarem quando ele franziu o cenho e umedeceu os lábios. Ela tinha que fazer aquela pergunta porque viver mais uma mentira de Dianna estava fora de cogitação.

   - Eu tenho certeza que você é minha filha. – Disse Inácio pacientemente.

   - Mesmo? – Perguntou e ele assentiu sorrindo para ela. – Eu só não quero que isso seja mentira. É importante para mim. – Ter uma família a mudaria tanto para melhor. Seria diferente e incrível.

   - Eu confio na sua mãe. Sei que ela não está mentindo. – Disse Inácio e Demi franziu o cenho. Com toda a história de Dianna, alguns pontos se justificaram, porém outros não, como a história com Jake e outros absurdos.

   - Eu também quero acreditar que ela não está, mas já passei por tantas coisas por conta das mentiras dela. Eu a amo e entendo algumas coisas, mas é impossível esquecer que.. – Como ela contaria para Inácio que já tinha dormido com um homem por dinheiro por ideia da mãe? Dianna tinha inventado uma história tão convincente, e de tão inocente que Demi era, acabou entrando no jogo da mãe sem saber do que fato se tratava. E era apenas a ponta do iceberg.

   - Querida, está tudo bem. Sua mãe me contou tudo que aconteceu entre vocês. Exatamente tudo. – As bochechas dela coraram com o olhar de compreensão de Inácio. A vontade de Demi era de chorar de vergonha e simplesmente sumir no mundo. – Eu sinto muito por tudo que você passou, eu queria estar ao seu lado para te proteger, mas... O que a sua mãe fez é tão absurdo, mas nós não podemos consertar. Já passou, e agora que eu tenho você, o que posso fazer é minha função de pai que é garantir que nada te falte e que você esteja feliz e protegida. – Os olhos de Demi marejaram quando ela teve a mão beijada com tanto carinho. – Sabe por que eu acredito na sua mãe? Quando a conheci, ela era uma garota incrível e nós passamos o pouco tempo que tivemos juntos. Planejamos um futuro, nos divertimos como adolescentes, namoramos e prometemos que nunca iríamos mentir um para o outro. Eu ainda consigo enxergar aquela garota de vinte e três anos atrás quando a vejo. Sei que ela ainda está lá, em algum lugar presa na mulher fria e forte. É por isso que eu acredito que você é minha.

   - Você a amava. – Comentou pensando em todas as palavras que tinha escutado. A forma como Inácio falava sobre Dianna era apaixonada e havia certeza nas palavras dele.

   - Ela foi a primeira que amei. – Disse desviando o olhar do trânsito para fitar os olhos de Demi.

   - Nós podemos fazer o teste? – Perguntou sustentando o olhar do pai quando o carro parou numa sinaleira. – Só para termos certeza. – Disse e Inácio assentiu de cenho franzido.

   - Se você acha melhor assim, nós fazemos. Quando chegarmos em casa, você vai entender porque eu tenho ainda mais certeza que você é minha filha. – A mãe das garotas tinha olhos azuis e cabelos claros, Inácio achava incrível como nenhuma das garotas tinha a mesma cor dos olhos da mãe e a que tinha a cor do cabelo mais clara era Isabella, porém não era loira como a mãe, o cabelo era castanho claro. – Você está melhor? – Perguntou a olhando nos olhos brevemente já que o carro estava inserido no pequeno engarrafamento. Geralmente naquela época do ano onde havia neve, o Rockefeller Center ficava lotado de turistas, pois a árvore de natal já estava montada e a pista de gelo era o palco de muitas pessoas que gostavam de se divertir patinando ou tentando.

   - Estou. Fui ao hospital hoje. – Disse mais relaxada se acomodando ao banco do carro. – Anna trocou o meu curativo, ela disse que está tudo encaminhado para sarar logo. – Comentou e Inácio assentiu sorrindo de orelha a orelha. Ele adorava a ideia de ter Demi junto as outras garotas.

   - Ela não disse nada. – Resmungou de cenho franzido. – Na verdade eu não a vi. Quando cheguei em casa, ela já estava dentro do quarto trancada longe da bagunça da cozinha. – Demi assentiu imaginando que Anna deveria estar descansando ou atualizando algum trecho da monografia que o supervisor pediu. Ela também o faria se estivesse apaixonada por ele.

O silêncio era para ser constrangedor e desconfortável, mas não foi nada do que Demi pensou, bem pelo contrário. Inácio focou a atenção no trânsito que não colaborava muito para a movimentação do carro e Demi se sentiu bem, segura e aquecida acomodada ao banco daquele carro. Ela até mesmo poderia cochilar de tão à vontade que estava.

   - Onde você mora? – Demi perguntou ao pai curiosa.

   - Aqui mesmo em Manhattan. No Gramercy. – Era um bairro mais sossegado, diferente da agitação daquela região do Rockefeller Center, cheio de edifícios históricos cercados de árvores. Era um lugar excelente para construir uma família. – Me conta sobre o seu dia. – Demi assentiu fitando os olhos do pai.

   - Dormi até tarde, só acordei porque o Joe me chamou para comer. – Comentou franzindo um pouco o cenho porque o sono estava tão bom, que se dependesse dela, nem para comer se levantaria. – Nós saímos à tarde. – Disse corada porque ela tinha passado boa parte da manhã e do começo da tarde nos braços de Joe. – Levamos a minha carta de demissão à Gyllenhaal. Fomos ao hospital trocar o meu curativo e no caminho aproveitei para visitar um ponto que estou pensando em alugar para abrir o meu escritório. Anna nos deixou no Brooklyn na empresa onde o Joe trabalha e depois fomos a barbearia.

   - Por que pediu demissão? – Perguntou Inácio e Demi umedeceu os lábios.

   - Não quero mais trabalhar para Gyllenhaal. – Eram tantas razões, e as principais estavam focadas em Jake e em tudo o que ele aprontou em poucos meses. – Eu gostava de trabalhar para o Jason, e depois que ele foi assassinado, as coisas mudaram dentro da empresa. Primeiro teve o Jake, ele era terrível... E agora o Marcus, que é irmão da esposa do Jake. Eu só quero recomeçar. Abrir um escritório será bom, vai dar trabalho, mas eu vou administrar melhor a minha vida. Quando eu estava trabalhando para Gyllenhaal, eu mal tinha tempo para fazer as minhas coisas.

   - Não será fácil, mas vale a pena. – Disse a olhando e Demi assentiu. Só o fato de poder ficar com Joe e Selena mais tempo já fazia a decisão valer a pena. – Eu trabalhei a vida toda com o meu pai, e depois que ele ficou doente, assumi o negócio com os meus irmãos. O trabalho é puxado, mas eu faço o meu horário e consigo aproveitar melhor o meu tempo com a família.

   - Por isso que eu prefiro abrir um escritório, quero passar mais tempo com as pessoas que eu amo. – Demi só percebeu que eles tinham chegado quando o carro parou em frente a casa onde Inácio morava. – Ok, eu estou nervosa. – Disse colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha e mordendo o lábio inferior.

   - Quer conversar um pouco? – Disse Inácio fitando a mensagem de Hannah na tela do celular perguntando o porquê que eles não tinham entrado.

   - Tudo bem. Preciso de alguns minutos. – Para tentar se acalmar, Demi respirava fundo e concentrava as energias em pensar que tudo daria certo. – Você pode me contar um pouco sobre as garotas? – Perguntou sustentando o olhar do pai que assentiu.

   - Bella é a nossa cozinheira quando o assunto é massa. Eu diria que é a mais paciente e compreensível. Anna é determinada e gosta de ajudar as pessoas. Você pode conversar sobre tudo com ela. Bem, Megan é.. – Inácio sorriu pensando na filha. – É astuta, inteligente e argumentativa. Quando ela não está tocando piano, está ouvindo música, jogando vídeo game ou lendo livros e revistas. Ela é a mais comunicativa e.. É difícil. – Ele acabou rindo ao se lembrar de como era complicado explicar alguma coisa para Megan, ela sempre respondia com mais perguntas. – Amber é um amor. Ela é dedicada ao balé e só não é mais paciente que Bella porque ainda é criança e não sabe controlar as emoções. Ela e Meggy são melhores amigas, mas na maior parte do tempo estão brigando. Alicia é uma tagarela. Ela é muito brincalhona e carente de atenção, ela adora ficar com as meninas quando elas estão conversando ou se arrumando. – Ele parecia tão animado que Demi sorriu imaginando como deveria ser bom viver com tantas pessoas diferentes, mas que se amavam. – Hannah. – Disse Inácio de cenho franzido, mas logo sorriu. – Ela sempre será o meu bebê. Nós erámos companheiros antes da minha esposa falecer, mas nos afastamos depois que ela entrou nessa fase rebelde de adolescente e começou a namorar sem a minha permissão. Ela é companheira, carinhosa e gentil. Hann sempre fará o melhor para você se sentir bem e te dará conselhos inteligentes.

   - Você deveria deixa-la namorar. O Augusto é um bom rapaz. – Disse Demi. Ela tinha conhecido Hannah por poucos minutos e foi o suficiente para saber que era uma boa garota que só queria ficar em paz com o namorado.

   - Não sou malvado, só quero protege-la. – Disse Inácio fitando a aliança de compromisso que Demi usava. – Está preparada? – Perguntou quando o celular vibrou em mais uma mensagem, mas dessa era de Megan.

Não tinha como estar preparada. Aquela situação era do tipo que se enfrentava com frio na barriga e muita coragem. Não tinha como evitar estar nervosa e ansiosa. A porta do carro foi aberta por Inácio e Demi sorriu educadamente em agradecimento quando o pai ofereceu a mão para que ela pudesse segura-la a ajudando a sair do carro. A diferença de temperatura fez com Demi se encolhesse de frio. Estava nevando e o vento que soprava era gelado que doía na alma. Joe tinha razão em se agasalhar ao ponto de não conseguir se mover. Para subir os três degraus da varanda, Demi precisou da ajuda do pai e a cada passo ela se sentia mais nervosa e ansiosa.

   - Sinta-se à vontade, você está em casa, querida. – Disse Inácio a olhando nos olhos e Demi assentiu comovida com toda a gentiliza e carinho. A porta só foi aberta depois que ela recebeu um beijo na testa.

Onde estavam as seis meninas juntas na sala a olhando com atenção como se ela fosse um ser de outro planeta? E ela faria o mesmo... Porém não havia ninguém na sala. O silêncio dentro daquela casa era absoluto, até Inácio estranhou.

Demi só adentrou a casa porque o pai a convidou, caso contrário ela continuaria em pé na porta de entrada cogitando a ideia de fugir dali correndo ou se acomodar no sofá. Era uma casa muito aconchegante e rica em detalhes de madeira. Eles tinham uma lareira onde a lenha queimava aquecendo aquela parte da casa! Aquilo era tão legal porque a única lareira que Demi tinha visto era a da casa de Selena. Eram tantas coisas para observar: O conjunto de sofá era branco, e entre eles o tapete felpudo cor de mel. A televisão tão grande quanto a que Demi tinha no apartamento, e a ela o videogame estava plugado. Eles também tinham um piano branco num lugar mais reservado da sala, porta casaco atrás da porta principal e um lustre. Sem contar que Demi jurava que só a sala de Inácio era o espaço que ela tinha no apartamento para a sala e a cozinha. Da sala, abriram-se dois corredores: um que levava ao escritório de Inácio no segundo andar e a cozinha, e o outro que levava aos quartos e demais cômodos. Era uma casa grande e com certeza dava para se perder ali dentro.

   - Ei, não precisa ficar nervosa. – Inácio sorriu observando Demi, ela estava sem jeito e as bochechas coradas. Se ele não a puxasse, ela não daria um passo. – Vem cá, você não me deu o meu abraço. – Demi acabou sorrindo quando foi puxada para os braços do pai que a envolveu num abraço de urso que a fez rir mais descontraída. – Você está em casa, ok? – Disse a olhando nos olhos e Demi acabou assentindo sentindo o coração disparar no peito. – Vamos procurar as suas irmãs? ­­– Ao mesmo tempo que era empolgante saber que ela não era a única Lovato no mundo, também era assustador. – Ora, ora. Que silêncio é esse? – Eles adentrariam a cozinha se não topassem com Hannah. A garota era tão bonita e esboçou o sorriso mais bonito e acolhedor quando viu Demi.

   - Oi Demi. – Hannah nem mesmo respondeu o pai. Fitou os olhos da irmã igualmente castanhos e a puxou para um abraço caloroso. – Seja bem-vinda. – Disse ainda abraçando Demi que sorriu tão feliz. – Você está muito bonita. – Comentou a garota estudando o look da irmã.

   - Obrigada Hannah. Você também está bonita. – Disse Demi sem saber de onde tinha tirado coragem para dizer aquelas palavras. Hannah era como Inácio tinha descrevido: uma adolescente gentil e carinhosa. Diferente das roupas de Demi onde só havia preto, Hannah usava vestido, jaqueta, botas e touca com direito a um pompom.

   - Então.. – Hannah mordeu o lábio inferior também corando como Demi, mas segurou a mão da irmã e riu quando fitou os olhos do pai que fitava ela e Demi com certo divertimento. – Pai, não seja chato. – Disse envergonhada e Inácio riu porque ele estava tão feliz por ter todas as suas garotas juntas. – Eu estava subindo para ajudar Bella trocar a fralda da bebê. Agora que você está aqui, pode subir, bonitão. – Inácio arqueou uma sobrancelha, mas assentiu.

   - Vocês duas vão ficar bem? – Perguntou observando que Hannah ainda segurava a mão de Demi.

   - Nós estamos na cozinha terminando de organizar o jantar. – Disse Hannah a Demi e ao pai. – Você quer subir com o papai ou ficar com a gente? – Perguntou a Demi, que mordeu o lábio inferior sem saber ao certo o que queria. Ficar com Inácio já não a deixava tão envergonhada como no começo, mas ela também queria conhecer Amber e Megan.

   - Posso ficar com vocês. – Disse Demi fitando os olhos de Hannah que assentiu logo olhando para o pai.

   - Não coloquem fogo na minha cozinha, desço daqui a pouco. – Inácio era um bom pai, ele beijou a testa de cada uma das filhas. Demi sorriu e Hannah revirou os olhos, mas apesar dos últimos conflitos que ela tinha tido com o pai, sorriu porque o amava acima de tudo.

   - Ele parece ser bravo e durão, mas tem um grande coração. – Comentou Hannah perdida em pensamentos. – Ok Demi, primeiro você tem que prometer que não vai contar nada para o papai sobre o que está acontecendo na cozinha. – Demi franziu o cenho, mas acabou sorrindo porque Hannah tinha um sorriso sapeca nos lábios.

   - O que vocês estão aprontando? – Perguntou Demi um pouco corada e Hannah riu.

   - Não é nada. Você promete? – Perguntou ainda sorrindo e Demi assentiu.

    - Tudo bem, eu prometo. – Disse e Hannah piscou para ela a puxando pela mão corredor adentro que levava a cozinha.

O que tinha acontecido naquela ali? Demi mordeu o lábio inferior para conter o riso e Hannah fez o mesmo quando viu a cena. Anna estava dividida entre digitar no notebook e vigiar a panela sobre a chama do fogão que certamente estava no máximo, razão pela qual a panela cor de prata estava com manchas pretas na parte de baixo. Até avental ela usava. E bem, as outras duas... Megan era mais alta poucos centímetros que Amber, tinha cabelo longo e de um ondulado mais solto como o de Hannah. Amber era uma criança, o cabelo estava preso num coque bailarina com direito até meia e tudo mais. Junto a elas havia um cachorro e tocava Perfect, do Ed Sheeran.

   - Amb, larga esse cachorro e vem me ajudar. – Disse Megan que se concentrava em cortar o peito de frango congelado.

   - Mas Meggy, ele está com fome. – A voz de Amber era carregada de manha e era tão fina e delicada. A menina voltou a dar biscoitos para o cachorro que chegava balançar o rabo e o acariciou na cabeça.

   - Eu não sei se está bom. – Murmurou Anna mexendo o conteúdo da panela com uma colher de pau e quando Meggy se aproximou para olhar o que a irmã preparava, Anna aproveitou para se esticar e digitar no notebook.

   - Ok, é melhor a gente ligar para um restaurante e pedir comida. – Disse Hannah atraindo o olhar das três irmãs que coraram de vergonha ao ver que Demi também estava na cozinha. – Eu deveria filmar a reação de vocês. – Comentou rindo e Demi sorriu logo começando a rir.

    - Droga Hann, você pegou pesado. – Murmurou Meggy envergonhada e Hannah sorriu porque era difícil deixar Megan sem jeito.

   - Oi Demi. – Disse Anna um pouco corada quando se aproximou. – Seja bem-vinda. Fique à vontade. – A cada abraço que Demi recebia, ela se sentia mais parte daquela família. E Anna a envolveu num abraço apertado que a fez sorrir. – Nós estávamos preparando um jantar para você, mas não está dando muito certo. – Comentou no mesmo instante que elas ouviram um barulho de estalo para depois sentirem o cheiro de queimado. – Vamos ter que pedir comida. – Tinha queimado. Anna massageou o cenho e respirou fundo pensando na bronca que receberia do pai porque eles jogariam comida fora. E era realmente um absurdo uma vez que aquela refeição, caso estivesse boa, poderia alimentar alguém que estava lá fora enfrentando o inverno rigoroso e passando fome.

   - Você é uma tragédia, Annie. – Disse Megan para depois olhar para Demi com certa ansiedade. – Oi, eu sou a Megan. – Hannah riu da pose da irmã, que ofereceu a mão para Demi apertar. – Eu gostaria de dizer, primeiramente, que adorei o design do handheld game que vocês lançaram ano passado. É mil vezes mais confortável que o antigo. – Demi arqueou levemente as sobrancelhas surpresa com o comentário de Megan. Ela parecia realmente animada e satisfeita com um dos primeiros produtos que Demi tinha desenhado para Gyllenhaal. – É uma honra tê-la como irmã. Seja bem-vinda. – Megan poderia ter todo aquele ar de independência, mas ela sorriu para Demi e a envolveu num abraço breve que foi apertado e acolhedor.

   - Obrigada, Megan. – Disse Demi sorrindo para Meggy e então elas fitaram Amber que estava rosada e sem jeito. E para quebrar o gelo, Demi ofereceu a mão para Amber como Megan tinha feito. – Oi Amber. – Disse porque a garota estava mais sem jeito que ela.

   - Oi Demi, é um prazer conhece-la. – A garotinha era encantadora. Demi sorriu e a puxou para um abraço. – Seja bem-vinda. – Disse baixinho e Demi disse um sorridente obrigada fitando os olhos marrons de Amber.

  - Ok, garotas. Nós precisamos nos organizar. – Disse Anna franzindo o cenho ao fitar o cachorro comer os biscoitos de Amber diretamente do saco que estava sobre uma cadeira. – Amb, se o papai souber que o cachorro dos Harris está na nossa cozinha, ele vai surtar.

   - Eu não podia deixa-lo lá fora, está nevando. – Murmurou Amber toda manhosa e cada irmã teve uma reação diferente. Demi sorriu, Hannah revirou os olhos, Anna assentiu e Megan segurou o cachorro pela coleira antes que ele pulasse com tudo em Demi para cumprimenta-la com uma bela lambida no rosto. Era um Flat-Coated Retriever, uma raça idêntica ao Golden Retriever, porém de pelagem escura.

   - O seu namorado deveria ter mais cuidado com os animais de estimação. – Comentou Megan e Anna respirou fundo antes de dizer a frase que vinha repetindo há tempos.

   - O Rick não é meu namorado. – Murmurou e Hannah e Megan riram.

   - Fala sério, Annie. Já passou da hora de você dar o seu jeito. – Disse Hannah pegando o celular no bolso da jaqueta. – Essa história já está ficando cansativa. Tem quanto tempo que vocês estão nesse flerte infinito?

   - Sabe o que nós deveríamos fazer? Colocar a Anna para levar o Pluto na casa do Rick. – Disse Megan arrancando um sorriso de Hannah.

   - O papai vai ficar uma fera. – Disse Amber tentando conter o cachorro e Demi a ajudou quando se agachou para acariciar Pluto. Lucy era tão imperativa que todo cachorro em comparação a ela, era calmo e obediente. Bastou acariciar atrás da orelhas de Pluto para que ele aconchegasse a cabeça na mão de Demi e começasse a lambê-la.

   - Demi, não o deixe lamber a sua mão esquerda. – Alertou Anna e Demi assentiu. – Amb, nós vamos levar o Pluto agora e Hann, você e as meninas decidem o que nós vamos pedir antes que o papa.. – Foi tarde demais. Quando Hannah massageou o cenho e tentou, “discretamente”, alertar Anna que o pai estava logo atrás com Bella e Alicia, já era tarde demais.

   - Se eu não estivesse feliz, vocês estariam de castigo até completarem a minha idade. – Disse Inácio para o alívio das garotas.

   - Eu falei que elas estavam aprontando. – Nos braços de Isabella estava a pequena Alicia. Ela tinha bochechas cheias e coradas, olhos castanhos curiosos e gentis. Era simplesmente uma gracinha! Os cachinhos saiam de dentro da touca cor de rosa e eram castanho chocolate. – Oi Demi, seja bem-vinda. – Bella envolveu Demi num abraço apertado e esboçou um lindo sorriso ao olha-la nos olhos. – Esse é o nosso docinho. – A voz de Isabella mudou completamente para algo mais meloso e gentil quando ela falou sobre Alicia, que sorriu e escondeu o rosto na curva do pescoço da irmã. – Bebê, faz cócegas. – Demi sorriu quando ouviu a risada gostosa de Alicia. Ela tinha murmurado um “Por quê?” toda sorridente e agarrada a Isabella. – Olha só, você tem uma nova irmãzinha. Fala um oi para Demi. – Disse e Demi sorriu ansiosa. Ela não tinha experiência com bebês e muito menos com crianças, mal tinha estado perto de um.

   - Oooi Dem. – Foi um oi arrastado e tímido que arrancou uma risada de todos naquela cozinha, e Alicia corou abraçando Isabella.

   - Você falou o dia todo sobre conhecer a Demi e agora está com vergonha? – Disse Inácio correndo os dedos nas costelas de Alicia para fazê-la rir. – O que nós combinamos? – Inácio sustentou o olhar de Alicia e ela fez careta como tinha aprendido com Hannah.

   - Tudo bem Dem? – O mais engraçado e fofo era que Alicia olhava para Demi atentamente e tinha as bochechas coradas.

   - Eu estou bem. E você? – Demi sorriu quando Alicia riu sapeca e olhou para o pai que assentiu.

   - Tudo bem. – Disse a pequena virando um pimentão toda sorridente e o coração de Demi derreteu. Tinha criança mais fofa? A vontade de Demi era de abraça-la e morde-la nas bochechas.

   - Eu posso pega-la? – Perguntou Demi a Isabella que assentiu logo cochichando alguma coisa no ouvido da irmãzinha que riu, mas assentiu esticando os braços para que Demi a pegasse. – Como eu faço isso? – Perguntou um pouco envergonhada porque ela não fazia ideia de como segurar corretamente Alicia.

   - Abrace o corpo dela repousando as mãos no bumbum. – Disse Inácio sorrindo porque Alicia também sorria toda sapeca. – Ela vai ajudar. – Demi beijou a testa de Alicia e abraçou mais contra o corpo quando a pequena fechou os olhos e bocejou cansada descansando a cabeça no peito da irmã. Era como se ela tivesse sido feita para ser mãe. Demi nem percebeu quando começou a zanzar com Alicia suavemente, disse palavras suaves a garotinha completamente apaixonada por ela.

   - Jessie, Bella. – Murmurou Alicia tentando lutar contra o sono e Isabella se aproximou de Demi para mimar a irmã.

   - Você quer que eu a segure? Ela está com sono, mas também está ansiosa para brincar. – Disse Isabella puxando uma cadeira para que Demi se sentasse já que demoraria para que o caos na cozinha acabasse.

   - Está tudo bem. Gosto de segura-la. – Disse Demi arrumando a touca de Alicia aproveitando para deslizar a ponta dos dedos no couro cabeludo da nuca.

   - Ela vai dormir em pouco tempo. Vou buscar a boneca, se não ela vai chorar. – Demi não a imaginava chorando por uma boneca, Alicia parecia ser uma menina tão tranquila e feliz. Segurar a irmãzinha era tão bom que a fez pensar em Selena que teria um bebê dentro de alguns meses, e bem, ela e Joe também poderiam ter uma coisinha fofa daquela. Até mesmo o cheiro de Alicia era irresistível.

   - Ela está quietinha agora por um milagre de Deus, mas essa pequena dá trabalho. – Comentou Megan se acomodando a cadeira vizinha a de Demi.

   - Eu acho que ela é uma boa garota. – Disse Demi tocando a bochecha de Alicia.

   - Ela é sim, mais comportada que Meggy quando era bebê. – Disse Hannah para implicar com a irmã, porém era realmente verdade. Megan sempre foi muito comunicativa e esperta desde pequena. – Ok, pessoal. Nós precisamos pensar no que vamos comer. – Disse quando viu que Bella voltava para cozinha trazendo a boneca de Alicia.

   - O jantar está fora de cogitação. – Disse Anna e Meggy riu junto com Hannah. – Nós pensamos em pedir comida. – Disse a Inácio que se acomodou também a mesa ao lado de Demi.

   - Como vamos fazer? Bom senso ou o papai vai escolher? – Disse Inácio. Demi franziu o cenho com o repente barulho. Elas falavam ao mesmo tempo e era tão difícil para saber do que se tratava.

   - Garotas! – Disse Isabella tentando acalmar as irmãs. – A Demi deveria escolher. – Demi respirou fundo quando teve todos aqueles olhares sobre si.

   - Eu não sei. – Murmurou envergonha e tentando não se mexer muito para não acordar Alicia. – Pizza é uma opção? – Perguntou olhando para Inácio e antes que ele pudesse falar alguma coisa, a discussão novamente: de queijo ou frango? Sem cebola! Com azeitona, sem azeitona. Sem palmito! Com palmito. Era difícil administrar aquelas meninas, Inácio acariciou o cenho e respirou fundo. Ele deveria ser paciente, muito paciente.

   - Todas estão de acordo com pizza? – Perguntou Inácio e antes que as garotas começassem novamente, ele pediu por silêncio erguendo a mão. – Vocês tem dez minutos para decidir o sabor das quatro pizzas grandes que nós vamos pedir e levar o cachorro embora. – Inácio sorriu para Demi levando a mão a dela. – Vou segurar Alicia enquanto vocês decidem. – Participar daquela discussão foi complicado, o ponto que favorecia Demi era que ela gostava dos sabores mais comuns de pizza e de todos ingredientes, exceto a cebola. Pizza sempre seria bem-vinda. Os dez minutos de Inácio estenderam-se para quinze, e foi divertido. Enquanto elas decidiam o que queriam, acabaram conversando sobre assuntos aleatórios que também englobava Demi que já não se sentia tão estranha. E quando Anna vestiu o casaco do pai para levar Pluto? Foram tantas as indiretas que as bochechas da moça ficaram coradas.

Por conta do barulho, Alicia não dormiu por muito tempo. A garotinha acordou nos braços do pai, que observava com orgulho e emocionado as filhas, uma hora mais tarde quando as pizzas tinham acabado de chegar. A cozinha foi substituída pela sala, onde elas poderiam ficar mais à vontade esparramadas no tapete felpudo comendo pizza e concentradas num jogo de tabuleiro que estava empatado com Demi e Megan na frente.

   - Quantas horas? – Demi perguntou a Inácio que cochilava com Alicia no colo. A menina tinha aproveitado para descansar mais cedo para brincar com os bonecos Woody e Jessie sentada no colo do pai.

   - Meia noite. – Murmurou Inácio e Demi arregalou os olhos. Joe estava a esperando e estava absurdamente tarde.

   - Eu tenho que ir para casa. – Disse verificando o celular que não pegava desde que tinha chegado. Joe tinha deixado mensagem, ele e Selena.

   - Não mesmo. – Pronunciou-se Megan estudando como faria para conseguir ultrapassar Demi, ela já tinha usado todas as melhores habilidades, mas continuava empatada. – Está nevando lá fora. – Murmurou mordendo o lábio inferior mais concentrada no jogo.

   - Você pode dormir aqui com a gente. – Disse Hannah bocejando. – Vai ser legal. – Será que era muito muito precipitado? A vontade de Demi era de ligar para Selena perguntando o que ela deveria fazer. Como ela podia dizer não? Demi fitou os olhos de cada uma delas para depois fitar os olhos de Inácio como se pedisse permissão.

   - Tudo bem querida. – Ele disse sorrindo e Demi se sentiu tão feliz e acolhida e parte daquela família. As garotas a receberam com tanto carinho e atenção. E de tão envolvida que Demi estava, ela esqueceu de ligar para Joe para avisar que dormiria na casa do pai.

   - Por que nós temos que dormir na cama de Bella? – Comentou Hannah fazendo careta ao fitar a cama de casal da irmã, e Isabella revirou os olhos e acertou Hannah com um travesseiro.

   - Tem tantos livros na cama da Anna, e ela jamais vai coloca-los em outro lugar. – Disse olhando brevemente para irmã que continuava a digitar incansavelmente no notebook. Era claramente perceptível que Anna estava cansada, mas ela continuava trabalhando na monografia.

   - Onde está a Amber? – Megan perguntou a Hannah que deu de ombros.

   - Vocês podem se acomodar. Nós temos bastante espaço. – Disse Isabella e Demi assentiu se sentando a cama. Ela tinha tomado banho, limpado a maquiagem e agora estava agasalhada com uma calça de moletom de Hannah, duas blusas de moletom, uma de Anna e a outra de Bella. Megan tinha emprestado o cachecol e Amber prometeu uma de suas toucas.

   - Eu vou avisar para o Joe que vou dormir aqui. – Disse Demi depois de um bocejo. Ela estava cansada e sabia que no momento que estivesse acomodada a cama, iria dormir.

   - Demi. – Demi sorriu quando fitou Hannah deitada ao lado dela, a garota a olhava nos olhos e tinha um sorriso tímido nos lábios. – Thaisa não é minha amiga. É só uma colega que ficou para aula de reforço. – Comentou e Demi arqueou uma sobrancelha. – É sério. – Murmurou envergonhada e Demi riu.

   - Ela me irritou. – Na verdade Demi não sabia se quem tinha a irritado mais era Joe com toda a paciência e vergonha, ou se era Thaisa se atirando para cima dele na maior cara de pau. – Às vezes eu tenho vontade de bater no Joe. Ele é tão inocente. – Murmurou e Hannah riu alto. Na sala de aula, Joe tentava ser o mais sério possível, só que às vezes a timidez o pegava de jeito e ele começava a gaguejar, o que deixava as meninas encantadas com o professor de geometria.

   - Homens são idiotas. – Comentou Megan se jogando ao lado de Hannah, e ela fez careta porque Isabella jogou uma coberta ainda dobrada sobre ela. – Não importa a idade, eles sempre serão bocós e nos colocarão em problema. – Megan olhou para Hannah, para depois Isabella e Anna sentada a outra cama. – Aqui nós temos três clássicos problemas. – Disse a Demi. – Bryan, Augusto e Ricardo. Três idiotas. – Disse e Hannah a acertou com um tapa, Bella deu de ombros corada e Anna nem mesmo olhou para irmã.

   - Eu juro que eu queria entender o porquê de vocês implicarem tanto com o Augusto. – Disse Hannah de cenho franzido. – Ele me faz feliz, é que importa.

   - O papai não gosta dele. – Disparou Megan.

   - O papai não gosta de nenhum garoto. – Disse Hannah sustentando o olhar da irmã. – Ele não gosta do Augusto, não gosta do Joe e nem do Ricardo, e bem, ele odeia o Bryan. – Demi, Megan e Hannah fitaram Bella que umedeceu os lábios se acomodando a cama, até mesmo Anna tinha olhado, e as garotas suspeitaram que ela tinha o feito só porque ouviu o nome “Ricardo”.

   - Ok! Eu conto. – Apressou-se Megan se sentando a cama de pernas cruzadas.

   - Relaxa Bella, nós estamos aqui para corrigi-la, caso ela conte algo diferente ou exagerado. – Disse Hannah a Isabella que assentiu.

   - Bryan é o ex-namorado de Bella. – Começou a dizer Megan toda espirituosa.

   - Antes de começar. – Disse Hannah atraindo os olhares das irmãs. – Antes do Bryan, o papai até que tolerava os meninos.

   - Porque a mamãe o obrigava. – Murmurou Isabella. Demi observou como elas se olharam tristes e distantes.

   - Continuando... Bryan é o ex-namorado de Bella, eles se conheceram na faculdade. Nossa mocinha ficou tão apaixonada que era insuportável conviver com ela. – Demi riu de como Megan narrava a história e prendia a atenção com direito a entonações diferentes e gesticulação de mãos. – O rapaz era bonito, intensos olhos negros, moreno e só sabia pentear o cabelo como o do príncipe da Daniel da Barbie Lago dos Cisnes. Ele era bom de papo, inteligente e o papai apoiou o namoro. Ah, tinha tudo para dar certo se o Bryan não fosse um vagabundo de pior categoria. Ele mentiu que era rico, não que isso fosse importante, quase sujou o nome de Bella, contou tantas mentiras que nós nem sabemos se ele realmente se chama Bryan. Depois que ele e a mocinha fizeram coisas de adulto, ele sumiu no mapa. – Isabella ficou tão vermelha que Hannah gargalhou escondendo o rosto com as mãos porque Amber tinha acabado de entrar no quarto.

   - O que são coisas de adulto? – Perguntou a pequena e Demi arqueou uma sobrancelha e mordeu o lábio inferior para conter o riso. – E..eu encontrei apenas essa, acho que vai ficar bom em você. – A touca era cor de rosa e tinha estrelinhas cor de ouro. Era um pouco menor que o tamanho que Demi costumava usar, mas serviu.

   - O que são coisas de adulto? – Disse Demi quando Amber se sentou ao lado dela ainda tímida. – Bem, pagar contas, ter que cozinhar sozinha, lavar roupas, dormir muito tarde estudando para as provas da faculdade, acordar cedo para o estágio e pagar mais contas, muitas contas. – Demi deu de ombros quando Isabella arqueou as sobrancelhas a olhando.

   - Por isso que eu gosto de ser criança. – Disse Amber arrancando sorrisos das irmãs. – O que vocês estão conversando? – Perguntou se deitando a cama de barriga para cima.

   - Sobre namorados. – Disse Hannah adentrando o cabelo de Amber com os dedos para acaricia-la no couro cabeludo como sabia que a irmã gostava desde bebê. – Então é como nós combinamos, vamos avisar quando é para você tampar os ouvidos. – Disse e a pequena assentiu fechando os olhos.

   - E é por isso que o papai odeia os garotos, por culpa de Bella. – Disse Megan e Isabella franziu o cenho.

   - A culpa não é minha, o que eu poderia fazer? Eu não sabia que ele estava mentindo e nem que seria tão canalha. – Disse Isabella.

   - A culpa é sua por se apaixonar. Se você não ficasse tão cega de paixão, nada disso teria acontecido. – Disse Megan.

   - Ninguém tem o poder de controlar o coração. – Disse Demi pensando em como ela tinha ficado cega para o mundo quando conheceu Jake. – Seria tão bom se nós pudéssemos escolher quem vamos amar, mas não acontece assim, você tem que passar por coisas ruins primeiro para depois encontrar alguém especial. – E a lembrança do rosto de Joe a fez sorrir. Até mesmo o coração batia mais rápido.

   - Ou ser muito sortuda para encontrar alguém especial na primeira tentativa. – Comentou Hannah pensando em Augusto.

   - Demi, nos conte mais sobre o seu namorado. – Demi sorriu fitando os olhos de Megan. Ela tinha tanto para contar sobre Joe, e por mais que tinha poucas horas que estava longe dele, já sentia saudade.

   - O Joe é um amor. – Disse um pouco envergonhada e as garotas riram. – Ele é do Texas, tem a minha idade e é analista de redes. Ele veio para Nova York em junho para trabalhar na Gyllenhaal. Eu o conheci na noite que saí com a minha melhor amiga para comer pizza. Ele estava na pizzaria e eu topei com ele. Ele era tão tímido que gaguejava, eu o achei fofo e um pouco cafona. – Demi riu se lembrando das roupas que Joe usava naquela noite. – Eu não esperei a Sel para ir para casa. Não estava muito tarde quando saí da pizzaria, eu queria chegar logo em casa e peguei um atalho. Um cara me abordou com uma faca, tomou a minha bolsa e me levou para um beco escuro. – Ela fitou o rosto de cada uma das irmãs estudando a reação delas. – Ele me violentaria se o Joe não tivesse aparecido. Ele lutou com o homem até que eu consegui chamar a polícia. Ele apanhou um pouco e o homem o atingiu na barriga com a faca, não foi nada muito sério, mas foi o suficiente para ele ser hospitalizado. Quando eu o visitei, foi difícil fazer com que ele interagisse. Ele era muito tímido, gaguejava e as bochechas ficavam coradas fácil. Nós começamos a conversar aos poucos e descobrimos que tínhamos muito em comum. Ele gosta de animações, HQs e filmes como eu. Foi o que nos uniu. Nós ficamos amigos em pouco tempo, e eu estava saindo um cara. – Demi se perguntou se elas sabiam sobre Jake, pois quando ele a expos na internet, a notícia se espalhou tão rápido nas redes sociais, jornais e canais de “entretenimento”. Provavelmente Megan sabia. – Eu acabei entrevistando o Joe sem saber que ele estava concorrendo a vaga de analista de redes para Gyllenhaal. Ele era bom e nós o contratamos. Nós começamos a trabalhar juntos no mesmo departamento, íamos embora juntos, estávamos conversando o tempo todo e eu o convidei para assistir desenho comigo algumas vezes. Ele se apaixonou primeiro e eu demorei um pouquinho porque eu estava meio que comprometida. – Murmurou a última parte com raiva de si mesma por ter perdido tempo com Jake. – Ele me fazia bem, e eu adorava passar o meu tempo livre com ele. Nós fazíamos coisas simples, mas que eram tão especiais. Eu ficava ansiosa para dar a hora da gente assistir desenho, conversar ou dar voltas em quarteirões. Nós adotamos uma cadelinha, o que nos uniu mais. Escolhemos um apartamento para ele alugar perto do meu e conforme o tempo, eu preferia ficar com o Joe a com o cara que eu estava saindo. Eu o beijei no Central Park. – Disse sorrindo. – Não me perguntem o porquê, foi um impulso e especial. Não comentamos sobre o beijo por um tempo, mas continuamos ficando até que ele se declarou e eu decidi que era melhor pararmos porque eu ainda estava com o cara. Era errado, eu sei e eu machuquei o Joe. Ele se afastou e eu senti muito a falta dele e descobri que estava apaixonada. Não foi fácil terminar com o outro cara, mas valeu a pena. Eu e o Joe estamos juntos há quase cinco meses. Nós já estamos pensando em casamento. – Tinha sido tão difícil resumir tudo que ela tinha vivido sem citar o nome de Jake, o de Dianna e as confusões que ela tinha se metido. Demi não sabia se as irmãs tinham conhecimento sobre os vídeos, então preferia evitar cita-los.

   - Casamento é um passo muito grande. – Anna as assustou já que todas estavam concentradas na história de Demi. – Mas eu os acho perfeitos juntos, dá para sentir que tem algo especial apenas em olhar para vocês. – Demi sorriu de orelha a orelha. Joe era simplesmente o cara perfeito para ela, e sem ele, Demi já não se imaginava.

   - Bem, quando eu os vi, acho que você estava brava com o Joe. – Disse Hannah fazendo careta quando Anna se deitou entre ela e Amber.

   - Eu realmente estava. Ele ainda é muito tímido e não sabe sair de algumas situações, mas eu estou o ensinando a ficar longe das garotas atiradas.

   - É necessário, elas dão trabalho. – Comentou Hannah suspirando. – O meu problema é diferente. O Augusto é muito simpático, e às vezes as pessoas o interpretam errado. Eu não posso fazer muita coisa porque é o jeito dele.

   - É mais complicado, usar aliança pode ajudar, mas não é uma solução que funciona cem por cento. – Disse Demi ao perceber que a menina não usava aliança de compromisso.

   - Eu usava, mas como o meu namoro foi proibido e agora é às escondidas, não posso usar aliança.

   - Nunca passei por isso, no máximo a minha mãe não gostava dos meus namorados, ela nunca chegou a proibir. – Dianna não gostava de André porque ele não tinha dinheiro, e ela não teve muito tempo para conhecer os outros namorados já que estava envolvida com homens e luxo. – Mas eu acho que você e o Augusto deveriam conversar com o Inácio. Uma conversa séria e objetiva, pode ter efeito positivo.

   - Por que você não chama o papai de pai? – Amber perguntou e Demi umedeceu os lábios sem saber ao certo o que deveria responder.

   - É complicado, Amb. A Demi conhece o papai tem pouco tempo, ela ainda não se acostumou com ele. Quando ela estiver pronta, ela vai chama-lo de pai. – Disse Anna olhando para Demi que assentiu.

   - Ele nunca nos dá oportunidade para conversar. – Disse Hannah. – Tem muito tempo que o Augusto veio aqui.

   - Você deveria tentar, acho que ele vai ceder se perceber que você não vai desistir e que é realmente sério o que vocês tem. – Era o que ela iria fazer caso Inácio implicasse com Joe.

   - Ele vai ficar bravo. – Comentou Hannah pensando nas palavras de Demi.

   - Ele vai, mas faz parte. – Demi franziu o cenho e se deitou entre as irmãs porque ela começava a ficar com sono. – Você terminou? – Perguntou a Anna. Ela parecia tão cansada. Tinha olheiras, a expressão cansada, mas não cochilava, estava perdida em pensamentos e franziu o cenho quando fitou os olhos de Demi. – Terminou? – Demi tornou a perguntar e Anna assentiu esboçando um pequeno sorriso.

   - Vocês estão com sono? – Megan perguntou observando que Amber já estava dormindo e Bella cochilava.

   - Acho que eu tomei muito café, estou morta e sem um pingo de sono. – Disse Anna. – Terminei e enviei com quarenta minutos de atraso. – Resmungou e Demi franziu o cenho.

   - Vamos continuar conversando, está divertido, só vamos nos organizar. – Disse Hannah. Não tinha como seis pessoas dormirem numa cama de casal. Ficaria desconfortável e quando elas estivessem dormindo, corria o risco de uma bater acidentalmente na outra. – Vamos levar Amb para o quarto dela, depois nós decidimos como vamos fazer para dormir. Aqui tem duas camas de casal, Annie só tem que colocar os livros na prateleira. – Bella e Megan levaram Amber para o quarto e a acomodaram na cama, já Demi, Anna e Hannah cuidaram dos livros e organizaram as camas para que elas pudessem dormir aquecidas e confortáveis.

   - Eu quero saber sobre o Ricardo. – Disse Demi a Anna que franziu o cenho e se agarrou mais a coberta.

   - Posso contar? – Disse Megan e Anna arqueou uma sobrancelha. Não era como se ela tivesse opção. Megan contaria de qualquer forma. – Rick é o nosso vizinho e Annie está apaixonada por ele desde sempre. Ele é mais velho quatro anos e as meninas cresceram com ele. Ele era o tipo de garoto que está à frente de todas as brincadeiras, acho que ele era um pouco rebelde, eu deveria ser um bebê na época, não me lembro direito.

   - Você era um bebê, pequena fofoqueira. – Disse Hannah apertando as bochechas de Megan. – Mas eu me lembro. Bella e Annie viviam atrás do Rick, eles cresceram juntos, mas quando ele ficou mais velho, começou a andar com uns garotos idiotas até que o pai o obrigou a estudar. Ele virou outra pessoa em todos os aspectos e hoje é médico no mesmo hospital que Anna faz estágio.

   - A mamãe o ajudou com algumas matérias, ela era professora na faculdade que ele estudava e chefa da área de pediatria do hospital, se não fosse ela, o Rick não teria conseguido emprego. – Disse Megan e Anna arqueou uma sobrancelha.

   - Ele conseguiria, Meggy. Ele é bom no que faz, a mamãe só facilitou as coisas para ele. – Disse Anna e Megan revirou os olhos.

   - Ela deu aula para ele aqui dentro de casa. Aulas de reforço porque mesmo na faculdade, ele ainda era um idiota que não conseguia se concentrar nas aulas porque provavelmente ficava pensando e fazendo besteiras. Eles tiveram sorte de ter a mamãe para ajudar aquele idiota, e ele ainda te beijou na cozinha e Bella te deu cobertura porque se o papai descobrisse, o Rick estaria ferrado. – Como Inácio tinha dito, Megan era comunicativa, inteligente e bem, ela tinha a língua afiada e parecia não ter medo de dizer o que pensava.

   - Você é tão linguaruda. – Resmungou Anna cobrindo o rosto e Megan deu de ombros. Ela era impossível e discutir não adiantava, pois era desgastante.

   - Ela é. – Disse Hannah observando Megan e quando a irmã a olhou, ela piscou para provoca-la. – Não confie os seus segredos nessa pequena fofoqueira, Dem. – Brincou e Megan a acertou um tapa no braço.

   - Eu sei guardar segredos, ok? Só não acho devemos ter segredos entre nós. Somos irmãs. Uma deve cuidar da outra, e se tiver segredo, como vamos fazer isso? – Megan franziu o cenho quando as irmãs olharam para ela e depois sorriram.

   - Você é terrível, Meggy. Mas sabe ser um amor às vezes. – Disse Isabella enrolando uma mecha do cabelo de Megan no dedo.

   - Você está exagerando Bell, ela só é um amor uma vez por ano. Agora só no ano que vem. – O comentário de Hannah foi motivo de riso e da careta de Megan.

   - Eu só falo a verdade. E eu sei que vocês adoram me ouvir. – Megan sorriu, ela estava deitada entre Hannah e Demi, e Isabella e Anna. – Nós deveríamos entrar numa missão especial para ajudar Annie desencalhar. Eu não acho justo ela passar o natal sem beijar o Rick, por mais que eu o ache um idiota e desmerecedor da nossa menina prodígio. Você entende de garotos, Demi e isso vai nos ajudar bastante.

   - É uma situação complicada. Pelo que percebi, ele é do tipo que está flertando o tempo todo, mas não tem atitude. Não dá para saber o que ele quer. – Disse Demi se esforçando para se lembrar de como Rick tinha tratado Anna. – Ele é assim com todas as mulheres? – Perguntou a Anna.

   - Ele é muito variável e como todos homens quando tem uma garota legal por perto, mas geralmente ele é normal. Não percebo nada especial na forma que ele trata as mulheres do hospital. – Participar de cirurgias, partos, presenciar cenas desgastantes e de partir o coração fazia rotina do hospital e consumia boa parte dos pensamentos de Anna, e nos corredores, a tarefa era vigiar Rick e atender as exigências dele. – Às vezes ele é muito sério, às vezes ele me elogia e me olha diferente. Ele dá sinal que quer algo, só que é apenas isso.

   - Anna, pelo amor de Deus. Você já abriu uma pessoa viva, fez partos e um monte de coisa que pessoas normais não fazem. Você deveria tomar atitude, deixar apenas para ele não é justo. Talvez ele é mole assim só porque você não o corresponde à altura. – Disse Megan.

   - Você deveria ser tão variável quanto ele. Mostra que se importa, mas depois seja um pouco mais ousada e o ignore. Ele vai tomar um choque de realidade e você vai tê-lo na palma da sua mão. – Disse Hannah e Megan se ergueu para olha-la nos olhos.

   - E comece a sair com um cara, isso seria legal. – Disse Megan pensando em milhares de teorias que poderiam ajudar a irmã. – Droga Annie, você é a única universitária que não vai às festas da faculdade. E você não tem amigos. – Anna corou, mas não negou porque para ela o que de fato importava era aprender e terminar o curso. Com todo o trabalho que era a faculdade e hospital, não existia tempo para festas. O que sobrava, ela investia na família que sempre tinha cuidado dela. – Demi, você tem algum amigo para Annie?

   - Não tenho muitos amigos, os que eu tenho são comprometidos. – Disse Demi pensando em André e Ed. – Vou conversar com o Joe, ele conhece alguns rapazes do trabalho, mas eu não acho uma boa ideia envolver outra pessoa, alguém pode acabar com o coração partido. Tudo que Anna precisa fazer é demonstrar um pouco mais de interesse. Continue sendo discreta e demonstre que você quer algo a mais nos pequenos detalhes. Você pode chama-lo para tomar café dentro do hospital. Converse com ele, mas não o deixe guiar a conversa sempre e jamais deixe que ele te intimide. Tenha controle e atitude, os homens gostam de mulheres decididas. E nós precisamos de um encontro duplo, o que você acha?

   - Ele é meu orientador e supervisor, tenho medo de ter algum problema. – Comentou Anna e Megan revirou os olhos com vontade.

   -  Annie, não senhora. Você não vai estragar o plano. É perfeito. Você e o Rick, a Demi e o namorado dela. – Disse Megan. – Vão ao cinema, e Demi, você tem que sair mais cedo para deixar a Anna sozinha com o Rick.

   - É mais ou menos esse o plano. – Disse Demi sorrindo. – Só que tem que ser essa semana, eu vou para o Texas com o Joe no final de semana, ele vai a formatura da prima. – Comentou desanimada.

   - Eu iria dizer para vocês marcarem para amanhã à noite, mas amanhã é o aniversário do papai. – Disse Bella abraçando Anna por trás e Demi franziu o cenho ao olha-las. Se as vozes não fossem diferentes, não daria distinguir quem era quem porque apenas a luz do abajur estava acesa.

   - E se ele disser não? – Perguntou Anna.

   - Ele não tem essa opção. Nós podemos marcar para depois de amanhã com a condição que temos que convida-lo amanhã. – Demi riu quando Megan a olhou e assentiu impressionada.

   - Eu não vou saber o que fazer quando nós ficarmos sozinhos. – Disse Anna olhando para Bella sobre o ombro. Demi mordeu o lábio inferior entendendo qual era o problema. Anna não tinha experiência com garotos, dava para perceber pela forma que ela estava insegura e pelo olhar que tinha trocado com Bella.

   - Faça apenas o que te deixar confortável e segura. – Disse Demi fitando os olhos de Anna. – Se você não estiver confortável com a situação, não tem problema. Acontece. Às vezes acontece de uma forma completamente diferente do que pensamos, e é frustrante, mas às vezes não. O segredo é não criar muita expectativa. Deixa acontecer. – Anna sorriu assentindo, mas logo a atenção foi desviada para Megan que tinha suspirado fundo já dormindo.

   - Vamos dormir? Amanhã o dia será longo. – Só ficaram as mais velhas acordadas. Anna e Bella foram dormir na cama vazia e Demi ficou com Hannah e Megan. O dia foi tão cansativo e cheio de surpresas que Demi se sentia feliz e tão cansada.

“Amor, estou preocupado, está tudo bem?” – Joseph.

“Me avisa a hora que é para te buscar” – Joseph.

“A Lucy está chorando, ela está sentindo a sua falta. Mostrei uma foto nossa para ela e o meu celular está todo babado. Sinto sua falta amor” – Joseph.

“Estamos acomodados na cama esperando a sua ligação. Espero que esteja se divertindo” – Joseph.

“Dem?” – Joseph.

“Acabei de falar com o seu pai, liguei para ele. Acho que você está muito envolvida com as garotas para me responder, bebê. Tenha uma boa noite de sono, estou muito feliz porque está dando tudo certo para você. Você merece o melhor, meu anjo. Vou sentir saudade porque você não estará aqui comigo para me abraçar. Vou dormir com a Lucy. Até amanhã. Nem toda a soma das estrelas é maior que o meu amor por você. Dorme bem, gatinha” – Joseph.


Tinha sensação melhor? Demi estava tão realizada e feliz. Ela tinha Joe, Selena, Ed, seis irmãs maravilhosas e um pai. Demi sorriu quando sentiu os braços de Hannah, que a abraçou por trás. Megan estava próxima e por mais que a garota tinha a língua afiada, era gentil e carinhosa. Arrumando a coberta do corpo da garota, Demi relaxou na cama e fechou os olhos deixando que a sensação maravilhosa do descanso a tomasse aos poucos. Bella e Anna eram garotas sonhadoras como ela e mereciam o melhor. Alicia era de tirar o fôlego, literalmente. A pequena a fazia sorrir e se derreter toda só com um sorriso. Inácio era o melhor pai que uma mulher poderia ter. Ele era cuidadoso, protetor e um amor. Só faltava Dianna para fazê-la sorrir com mais vontade.


Continua.. Oi! Tudo bem com vocês? Feliz natal um pouquinho atrasado. Era para ter postado no dia vinte e quatro, mas eu fiquei sem ideias e só consegui desenvolver a maior parte do capítulo no dia vinte e cinco. Espero que vocês tem tido um natal maravilhoso! Bem, um feliz ano novo para todas, cheio de paz, saúde, amor e todas as coisas boas que Deus possa nos oferecer. Um abraço apertado! ps. Ainda postarei a sinopse dessa segunda temporada e farei a apresentação dos personagens, desculpem pela bagunça :D