9.4.19

Capítulo 22



   - O que? Sou apenas eu, a irmã favorita de vocês. – O sorriso de Megan ia de orelha a orelha, o brilho nos olhos e as feições sorridentes mostravam como ela estava entusiasmada e feliz com a situação. – Vocês viram um fantasma? – Resmungou se espreguiçando ainda com um modesto sorriso nos lábios. – Eu queria muito comer esse Bis, mas não posso comer chocolate por um bom tempo, não ajuda o piercing e muito menos a tatuagem. – O problema todo girava em torno de Megan ser apenas uma menina de recém quinze anos completos! A tatuagem não era mentira, como as mais velhas pensaram, ao erguer a blusa, abaixo do seio esquerdo estava tatuada a pele clara rosada uma pequena palavra: Ohana. – Significa família, eu fiz em homenagem a vocês! Nunca assistiram Lilo e Stitch? – Hannah foi a única que se aproximou de Megan para olhar a tatuagem de perto ainda com o plástico filme e o lugar rosado comprovando que era real.

   - Você está ferrada, Megan. – Hannah umedeceu os lábios, franziu o cenho e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. Quem era a marquinha vermelha no pescoço que sairia em poucos dias perto do que Megan tinha aprontado? Ela adorava implicar com a irmã, só que daquela vez não era uma brincadeira ou mera implicância. Inácio faria um escândalo.

   - Você não podia deixar para fazer isso depois do natal? – Anna não conseguiu esconder como estava chateada, o tom de voz soou elevado. O cenho franzido, o olhar preocupado e a mão a cintura indicava como a moça estava a um passo de perder a paciência. – Megan! Ao menos você foi a um lugar seguro? – Perguntou um pouco mais baixo porque não queria que o pai descobrisse.

   - Anna, a pergunta correta é: onde ela conseguiu? Você é menor de idade, mocinha. – Disse Isabella longe de estar calma e paciente como sempre se mostrava. – Megan, explique-se! – Por trás da moça paciente, escondia-se um general autoritário e impaciente. Bella cerrou os dentes e engoliu em seco quando Megan sorriu porque adorava um desafio, e ela não deixou barato. – Estamos esperando, ou o gato comeu a sua língua enquanto você aprontava Deus sabe onde e com quem?! – Não deu tempo de Megan abrir as sacolas para pegar algo para comer na tentativa de irritar ainda mais as irmãs porque Isabella puxou a menina pelo braço obrigando-a a sentar-se.

   - O que foi? Não é como se nós fossemos santas. – Resmungou Megan umedecendo os lábios porque a brincadeira estava começando a perder a graça. – Tirando a Alicia, é claro. Isabella passou um ano dormindo com um cara sem compromisso. Amber quebrou o relógio do papai e o estetoscópio digital da Annie. O Augusto está em algum lugar dessa casa provavelmente só de cueca e olhe lá. Nossa menina prodígio e ex-santinha virgem, Annie, está grávida. E vocês estão me julgando por causa de um piercing e uma pequena tatuagem? O corpo é meu e eu faço o que eu quiser. – Momento errado, momento errado! Não deu nem tempo de Anna surtar porque o estetoscópio tinha custado muito caro e muito menos de Megan provocar a Demi, que observava tudo calada e pálida.

Existia tensão maior? Os rostos estavam quentes e elas se sentiam vulneráveis e envergonhadas como se estivessem nuas! Mas apesar de cada uma ter aprontado algo, o olhar de Inácio estava fixo em Anna. Os segundos pareceram virar horas e aquele momento doeu na alma. Anna não conseguiu sustentar o olhar do pai, não quando ele carregava decepção e tristeza. Foi exatamente o que Inácio demonstrou.

    - Isabella, cuida da sua irmã. Eu vou para o meu escritório, não estou me sentindo bem. – Ninguém esperava por toda aquela indiferença de Inácio. Ele entregou Alicia nos braços da filha mais velha sem conseguir olha-la nos olhos, e antes de sair da cozinha teve que se apoiar a parede de entrada e respirar fundo se segurando para não perder a controle.

   - Você está bem? – Amber foi a única que teve coragem de se aproximar do pai, até porque Inácio sempre era muito gentil e carinhoso com ela, as broncas sempre ficavam para as mais velhas.

   - Estou bem, anjinho. Só preciso de um tempo. – A voz soou calma. Os olhos de Inácio estavam marejados, por isso ele não conseguiu sustentar o olhar da filha por muito tempo e saiu às pressas em direção ao escritório.

   - Megan, qual é o seu problema? – As lágrimas rolavam sem cessar pelo rosto de Anna. Ela não podia ficar nervosa como estava, não faria bem para o bebê.

   - Respira fundo. – Disse Demi agilizando um copo com água natural para Anna. – Por favor, fica calma. – Demi colocou uma mecha do cabelo de Anna atrás da orelha, e quem realmente fez com que a moça se acalmasse foi Isabella. Ela abraçou a irmã gêmea e sussurrou que tudo ficaria bem.

   - Hannah! – Gritou Inácio. Agora sim a fera que elas conheciam estava a solta! Hannah até fechou os olhos sentindo o coração ir à boca e uma forte sensação de frio no estomago tomava conta da moça a cada segundo. As pernas perderam a força e o pensamento veio: Sentir adrenalina não era tão bom como ela tinha pensado. Não quando Augusto foi descoberto.

   - Meu Deus! – As mãos de Hannah estavam tremulas e o coração podia deixa-la surda porque as batidas frenéticas ficavam ainda mais aceleradas e ela podia ouvi-las. O pior de tudo era que a menina estava estática e não conseguia pensar em nada, tudo por conta do nervoso.

   - Hannah, o que você está esperando? O papai vai matar o Augusto se você não subir logo. – Reclamou Megan assustada com a situação que tinha criado. Se ela soubesse que causaria tanto caos, ainda sim teria feito a tatuagem, colocado o piercing e feito uma mecha cor de rosa no cabelo, só não seria arrogante com as irmãs como tinha feito.

   - Hannah! Vai! – Disse Isabella e Hannah quase chorou olhando para as irmãs, ela estava com muito medo da bronca que iria levar, claro, se tivesse a sorte de ser uma bronca! O que aconteceria se Inácio perdesse de vez a paciência e a expulsasse de casa?

Naquele instante o medo limitava Hannah até mesmo a andar, ela tinha vontade de correr para salvar o namorado, mas os pés pareceram cimentados ao chão. Tudo melhorou quando Isabella tomou a frente junto a Demi, as duas saíram correndo para fora da cozinha e foi aí que um pouco de coragem surgiu para influenciar Hannah a fazer o mesmo.

O barulho que vinha do escritório era de objetos se chocando contra o chão e as falas ofensivas de Inácio. Pobre Augusto! O rapaz vestia nada mais que os jeans e estava descalço. A feição era de puro apavoramento enquanto ele driblava o sogro usando a única mesa no escritório como barreira para fugir de seja lá o que Inácio faria.

   - Pai, eu.. eu.. eu.. eu.. eu posso explicar! – Quantas vezes Hannah tinha piscado e embolado a fala? As mãos continuavam trêmulas e o rosto tinha ficado pálido de medo do pai. – Por favor, não me bate. – Pediu baixinho de olhos fechados sentindo o coração quase parar quando Augusto passou para trás dela usando-a como escudo no mesmo instante que Inácio avançou na direção dele.

   - O que diabos vocês acham que estão fazendo da vida de vocês? – Disse Inácio nervoso que as veias do pescoço saltaram e o rosto estava avermelhado. – Eu coloco tudo que vocês precisam dentro dessa casa, não deixo faltar nada e faço o impossível para ser um bom pai! Qual é o problema de ouvir o que eu ouço?! Eu não estou falando porque odeio vocês, bem pelo contrário, eu sei muito bem que esse inferno de namoro imprudente, descontrolado e sem regras não leva ninguém a nada além de muita dor de cabeça! – Foi preciso Isabella passar para frente de Hannah e parar o pai o empurrando pelo peito. Não que ela achasse que ele fosse ser agressivo fisicamente, pois Inácio jamais o faria.

   - Respira fundo, você vai passar mal. – Disse Isabella tentando usar o dom de acalmar as pessoas que tinha herdado da mãe, só que o olhar que ela recebeu do pai a fez estremecer.

   - O que esse moleque está esperando para ir embora?! – Gritou Inácio tentando partir para cima de Augusto ao conseguir facilmente passar por Isabella. – É melhor você sumir da minha frente antes que eu perco de vez o controle! – Tornou a gritar a todos os pulmões, e dessa vez quem o parou foi Demi.

Pobre Augusto! O rapaz estava trêmulo, os olhos castanhos arregalados e as feições mostravam como ele estava assustado e quase desmaiando de medo! Como não ficar? Inácio tinha mais de um metro e oitenta de altura e possuía um porte físico consideravelmente forte, pelo menos o peito era largo e os braços torneados. Com toda a raiva o acompanhado, um rapaz como Augusto ficaria inconsciente com um soco só de Inácio.

   - Pai, por favor, fica calmo. – Pediu Isabella se aproximando do pai o tocando nos braços e o conduzindo para trás porque Inácio estava próximo demais a Demi, aproveitando para olhar para Augusto demonstrando como ele estava enfurecido. – Hannah! – Disse Bella como se perguntasse a irmã o porquê dela não ter tirado Augusto ainda daquela sala. Ah! Não tinha ninguém mais pálido que Hannah! A boca chegava estar esbranquiçada e os olhos um pouco arregalados de medo do pai, tanto que Hannah só entendeu o que Bella quis dizer quando recebeu um segundo olhar da irmã.

   - Me solta. – Inácio não foi rude, e também estava longe de ser gentil. Quando ele pediu que Bella o soltasse, a moça olhou para Demi com preocupação porque tinha medo do pai sair às pressas atrás de Augusto e Hannah. – Eu quero ficar sozinho. – Murmurou Inácio apoiando as mãos à mesa e respirando fundo consecutivamente para tentar não fazer uma besteira. Se fosse mais cedo, o relógio quebrado sobre a mesa o deixaria possesso de raiva, mas agora o objeto com o visor de vidro quebrado não significava nada perto de como o coração estava machucado.

   - Pai, você quer água? – Perguntou Demi sendo o mais cautelosa possível até quando o tocou no braço. Ela estava com muito medo da reação do pai ao descobrir que ela também estava grávida, era como Anna tinha dito mais cedo: uma hora Inácio iria descobrir porque a barriga iria crescer. Agora o plano era desenvolver uma estratégia para contar que estava grávida.

   - Eu quero ficar sozinho. – Inácio continuou da mesma forma que estava: as mãos apoiadas à mesa, a cabeça baixa e o cenho franzido. – Sozinho! – Daquela vez ele foi rude quando percebeu que Bella se preparava para falar, e o resultado foi o esperado: Isabella e Demi o deixaram sozinho.

O que estava mesmo acontecendo? Os objetos sobre a mesa saltaram num pequeno pulo com o impacto do soco. Os dedos de Inácio doeram, mas não era nada que o incomodava. A raiva crescia dentro do peito toda vez que ele se lembrava do rosto de Rick, e naquele momento estava acontecendo com bastante frequência! Anna tinha acabado de receber o diploma! Ela era praticamente uma menina e estava grávida! A vida mal tinha começado e a responsabilidade mais séria que uma pessoa poderia assumir estava batendo à porta de Anna, aliás, já estava tomando chá da tarde com a moça. Uma criança não era brincadeira! A vida que ele tinha só era boa e feliz por pura sorte, e não foi fácil, nem perto de ser. O maior medo e receio de Inácio era que as filhas passassem o mesmo que ele, Caroline e Dianna. Que uma criança inocente sofresse com a ausência do pai e passasse por poucas e boas como Demi. Filhos deveriam ser planejados, romances eram deliciosos de se viver, mas tudo deveria ser muito bem dosado e administrado para ninguém sofrer com qualquer escolha mal planejada e executada. Anna tinha tudo para aproveitar o máximo da vida, era jovem, teve acesso a boa educação, tinha se formado, em pouco tempo ela caminharia com as próprias pernas e seria independente, agora grávida, o que aconteceria?

   - Respira fundo. – Sussurrou levando as mãos ao rosto e respirando fundo. O aperto no peito esquerdo era um sinal que ele não deveria se exaltar, caso contrário passaria muito mal, porém já era tarde demais.

   - O que foi? Não é como se nós fossemos santas. – Resmungou Megan umedecendo os lábios porque a brincadeira estava começando a perder a graça. – Tirando a Alicia, é claro. Isabella passou um ano dormindo com um cara sem compromisso. Amber quebrou o relógio do papai e o estetoscópio digital da Annie. O Augusto está em algum lugar dessa casa provavelmente só de cueca e olhe lá. Nossa menina prodígio e ex-santinha virgem, Annie, está grávida. E vocês estão me julgando por causa de um piercing e uma pequena tatuagem? O corpo é meu e eu faço o que eu quiser. – Momento errado, momento errado! Não deu nem tempo de Anna surtar porque o estetoscópio tinha custado muito caro e muito menos de Megan provocar a Demi, que observava tudo calada e pálida, a risadinha de Alicia ecoou e o silêncio foi absoluto.

O que diabos tinha acontecido com aquelas garotas? Inácio cerrou os dentes ao se lembrar do que Megan tinha dito. O caos era muito maior do que ele tinha focado. Anna grávida era só a ponta do iceberg, Megan tinha apenas quinze anos e tinha... Que Deus o controlasse! Violência não era a saída! Só que daquela vez Inácio pensou em dar boas palmas em Megan! Piercing e tatuagem? Com permissão de quem? Hannah sempre cruzou todas as linhas disponíveis, só que trazer Augusto para dentro de casa era passar do limite dos limites! E bem, o que era um relógio quebrado por Amber perto de Isabella passar um ano todo mentindo que iria dormir na casa das amigas enquanto estava com um homem? Será que tinha como coloca-las de castigo para o resto da vida?

   - Respira fundo.. – Disse a si mesmo fechando os olhos sentindo a dor no peito esquerdo ficar um pouco mais forte. Ele até pensou em gritar por uma das meninas, Anna em específico, mas a vontade de vê-la era nula!

“Você pode vir aqui? Eu não estou me sentindo bem, preciso de você” – Inácio.

A mensagem tinha sido enviada para Dianna, e logo depois Inácio se acomodou a cadeira e fechou os olhos recostando a cabeça à mesa sentindo a dor ficar mais forte e intensa.

***

   - Se a sua intenção era matar o papai, parabéns, eu aposto que você está conseguindo. – Desde que Isabella e Demi tinha subido atrás de Hannah para controlar Inácio, Anna estava calada. As lágrimas já estavam secas e a moça, que estava pensativa segurando a pequena Alicia no colo, fixou o olhar em Megan e umedeceu os lábios. – De verdade, qual o seu problema, Megan? – O cenho de Anna estava levemente franzido mostrando como ela estava séria e impaciente. – Você adora ser o centro das atenções e causar, mas você não passa de uma adolescente chata que só sabe ser inconveniente e insuportável. – O silêncio na cozinha foi carregado e desagradável a ponto de ser palpável. Demi e Isabella que chegavam ao cômodo chegaram engolir em seco.

   - Eu adoro ser o centro das atenções, senhorita perfeitinha? – Muito orgulhosa e afetada com as palavras de Anna, Megan manteve a postura e não deixou que as lágrimas rolassem. Anna nunca tinha sido tão dura e séria como agora. – Quem sempre viveu para puxar o saco do papai e ser mimada foi você. Você é tão falsa, Anna. Deus! Eu não sei como a minha ficha nunca caiu, só agora que eu consigo enxergar como você é manipuladora, egoísta e adora que te idolatramos só por causa da porcaria de um diploma de medicina. Meu faro de cobras nunca falha.. – Quem estava mais perplexa e assustada com as farpas que Megan e Anna trocavam? Amber tinha os olhos arregalados e as bochechas estavam coradas denunciando como a menina estava tensa e envergonhada. Demi pensava num emaranhado de coisas: gravidez, Joseph, Inácio e agora aquela discussão das duas irmãs. Não fazia sentido elas brigarem, pois não havia um motivo sequer que era válido.

   - Vocês podem parar com isso? Não está ajudando em nada. – Disse Isabella odiando ter que ouvir todos aqueles falsos absurdos. Megan e Anna se amavam e não fazia sentido o que elas queriam debater.

   - Agora pronto! Juntou a outra certinha para querer da lição de moral. – Resmungou Isabella. – Anna, você é tão egoísta que você privou a mamãe só você! – Doeu no peito de Megan dizer aquelas palavras porque ela admitia que sentia ciúmes de Anna, pois a irmã mais velha passou muito mais tempo com Caroline do que qualquer outra pessoa.

   - Talvez se você não tivesse gasto todo o seu tempo com videogames e com coisas ridículas, você teria passado muito mais tempo com a mamãe. Não vem colocar a culpa em mim, Megan. Você sempre deixou a mamãe de lado para alimentar esse seu vício maldito. – Anna engoliu o choro quando Megan se levantou bruscamente e saiu correndo da cozinha, certamente porque não queria que ninguém a visse chorar.

   - Anna! Pelo amor de Deus! – Resmungou Isabella se acomodando a cadeira ao lado da irmã gêmea. – Você sabe muito bem que não dá para levar tudo que a Megan diz a sério. Ela ficou magoada. – Disse olhando a irmã nos olhos.

   - Ela não pode simplesmente sair por aí aprontando e depois achar ruim as consequências. Se ela está magoada, o problema não é nosso, é todo dela. Na hora de aprontar e deixar todo mundo de cabelo em pé ela assume a responsabilidade, mas na hora de ouvir algumas verdades não? Complicado, Bella. – Anna se levantou com Alicia nos braços para buscar por um copo com água, e depois respirou fundo tentando se acalmar. Ela não podia ficar nervosa porque não faria nada bem para o bebê. – Como ele está? – Perguntou se recostando ao balcão.

   - O Augusto estava vestindo apenas calça jeans. O papai ficou furioso. – Comentou Demi sentindo as bochechas corarem só por lembrar da cena. Ela tinha ficado com vergonha por Hannah, e se pudesse não tinha presenciado a cena porque foi desconfortável.

   - Hannah desceu com ele. – Disse Bella e depois suspirou pensando que Hannah jamais deveria arriscar com Augusto dentro de casa justamente pelo que tinha acontecido. Será que a menina não tinha noção do perigo que ela corria? Aliás, ela e Augusto? – Nós precisamos dar um tempo para o papai digerir todas essas informações. Hoje quando saímos para as compras de natal, eu tive que contar aos poucos e com muito cuidado a minha história com o Scott até a parte que eu decidi sair de casa, e mesmo assim ele ficou super magoado. Imagina então ouvir pela boca de Megan tudo que nós fizemos? – Até mesmo para Bella conseguir conversar com o pai sobre o namorado foi complicado, ela precisou elaborar todo um contexto e ser muito paciente até chegar a hora certa de contar a Inácio que estava saindo de casa.

   - Bell, o papai precisa entender que nós crescemos. – Disse Anna entregando Alicia nos braços de Isabella para procurar por alguma coisa para comer na geladeira. – Não somos mais menin... – O estrondo vindo da sala foi assustador e uma surpresa que as deixou de olhos arregalados, até Alicia estava assustada.

O barulho foi estrondoso e semelhante a de um disparo de arma de fogo. O medo era tanto que elas ficaram em silêncio pensando em tantas possibilidades, e a que mais tinha destaque era: Será que Inácio tinha atirado em Augusto? As mais velhas pensaram, não que elas sabiam que o pai tinha arma de fogo, mas do jeito que Inácio era ciumento e preocupado, não era de se duvidar. O murmuro vindo da sala foi o primeiro sinal de vida humana, então as irmãs se olharam ainda na cozinha e agilizaram o passo em direção a sala: Amber preferiu ficar perto de Bella, que segurava Alicia. E Anna, que tomava iogurte de ameixa deixou o alimento sobre o balcão e saiu às pressas assim como Demi.

Um desastre! Não dava para acreditar no que Megan tinha aprontado! O barulho estrondoso foi o resultado de uma mala que provavelmente caiu dos primeiros degraus da escada que levava aos quartos. O zíper tinha se rompido da mala de rodinhas e então as peças de roupas estavam espalhadas na proximidade da mala, Megan estava estirada sobre o carpete e o cenho franzido indicava que a menina tinha se machucado.

O som da queda tinha sido alto o suficiente para fazer Inácio descer a escada às pressas porque ele jamais se perdoaria se algo de ruim acontecesse as garotas, e Hannah, que estava no quarto envergonhada pelo que tinha acontecido com Augusto, também desceu para sala assustada. A família Lovato estava reunida esperando por uma explicação de Megan, entretanto, o perfume favorito da menina, que também estava na mala, tinha pulado para fora quando o zíper se rompeu e então o vidro estava estraçalhado e o líquido de aroma doce tomava toda sala. O cheiro era enjoativo, doce e concentrado numa essência de baunilha. O almoço de Demi foi todo para fora. Ela nem mesmo conseguiu se esforçar para correr em direção ao banheiro. A tontura enfraqueceu as pernas, e até o aperto da mão no músculo do braço do pai foi fraco. O vômito parecia não acabar. Chegou uma hora que doeu fazer força para vomitar, até porque não tinha mais nada para colocar para fora. Demi até soluçou.

   - Demetria? Você está tonta? – Quem se importava se o sapato estava todo sujo de vomito? A saúde de Demi era muito mais importante para Inácio. Ele a guiou a filha para se acomodar ao sofá com a ajuda de Hannah, e ansiosamente olhou para as garotas a procura de Anna. Só que a menina não estava mais na sala, o banheiro mais próximo era no primeiro andar e era onde Anna estava vomitando.

   - Esse cheiro.. – Resmungou Demi sentindo a vontade de vomitar voltar. – Eu preciso sair daqui. – Demi não tinha condições de caminhar sozinha porque estava tonta e fraca, tanto que na hora que ela se levantou Inácio se apressou para segura-la porque ela iria desfalecer.

   - Anna! – Foi um grito de desespero. Quando alguém passava mal ou ficava doente, Anna era a primeira a ser solicitada. O ruim era quando a moça ficava doente.. Inácio não teve paciência de acompanhar os passos fracos de Demi, agilmente ele passou um braço por trás dos joelhos da filha para levá-la a cozinha onde não havia o cheiro de perfume, aliás, não estava tão forte como na sala. – Anna! – Gritou impaciente porque ele estava preocupado com Demi. Mesmo Bella sendo cuidadosa, só Anna poderia dar um pré-diagnóstico do que estava acontecendo com Demi.

   - Eu estou aqui, pai. – Para não sentir o cheiro do perfume Anna havia pegado uma toalha e a segurava contra o nariz e a boca, e carregava consigo a maleta de primeiros socorros. Mas no caso de Demi já havia um diagnóstico. – Vocês podem nos dar espaço? – Pediu de cenho franzido porque aquela quantidade de gente não ajudava em nada a Demi se recuperar da crise de enjoo. Anna sabia que o que Demi precisava era de repousar num ambiente tranquilo longe da onda de stress que elas estavam enfrentando, alimentar-se para não deixar o estômago completamente vazio e consumir água. Mesmo assim ela aferiu a pressão arterial, verificando que estava baixa e receitou que Demi descansasse.

   - Não é preciso levá-la ao hospital? – Inácio olhava diretamente aos olhos de Anna, e era a terceira vez consecutiva que ele fazia a pergunta porque estava realmente preocupado.

   - Não acho necessário. – Anna sabia exatamente o que os médicos diriam. – Se ela piorar, nós vamos levá-la. – Não havia muito que dizer, aliás, Anna não podia dizer ao pai o que realmente estava acontecendo.

   - Você tem certeza? – Que homem insistente! Anna olhou para Isabella e depois para o pai assentindo. – É qu...

   - Eu estou me sentindo melhor. – Murmurou Demi de olhos fechados se sentindo ela mesma pela primeira vez depois do enjoo. Era muito ruim ficar zonza e enjoada. – Não precisamos ir ao hospital. – Demorou alguns segundos para ter a coragem suficiente para abrir os olhos e sustentar o olhar do pai.

   - Mas e se.. – Eram tantas teorias que se passavam na mente de Inácio, e só agora ele tinha conseguido entender o porquê de Demi ter vomitado. Ninguém ficava enjoado com o cheiro de perfume, a não ser uma mulher grávida. – Você está grávida? – Era uma pergunta terrível de se fazer, mas respondê-la ainda era pior.

Naquele momento Demi sentiu todos os olhares das irmãs, sentiu-se como se estivesse nua e exposta a uma multidão. A sensação era de o coração estar quase saindo boca a fora, e o frio violento na barriga era o motivo de toda ansiedade e apreensão. Para quem ela podia olhar e pedir por socorro? Ela enlaçou os dedos da mão direita aos da mão esquerda, engoliu em seco, franziu o cenho apreensiva e assentiu cabisbaixa. Tinha pior silencio que aquele e sensação de julgamento?

   - Aquele moleque... – A raiva estava exposta na voz de Inácio. O punho cerrado e o cenho franzido mostravam como ele estava irritado e quase explodindo. – Eu.. – Inácio levou as mãos ao rosto e respirou fundo logo cerrando os pulsos. – Eu não consigo acreditar nisso. – Esbravejou nervoso andando de um lado para o outro. – Alguém tem mais alguma coisa a me dizer? – Perguntou sério e impassível olhando para os olhos de cada uma das filhas. – Tem mais alguma coisa que vocês querem contar para o pai idiota de vocês? – Inácio se controlava para não mostrar como estava realmente bravo, e já era assustador. Caso perdesse o controle, ele assustaria as filhas.

O silêncio foi absoluto e duplicamente desconfortável! Inácio olhava para cada uma das filhas de cenho franzido e até mesmo Alicia recebeu um olhar rude. A situação era simplesmente uma droga! Hannah sentiu as bochechas esquentarem com o olhar demorado do pai sobre ela. Não havia espaço para gravidez com preservativo e anticoncepcional, assim a menina esperava. Só não era preciso Inácio ter ciência de um detalhe íntimo como aquele.

    - Eu quebrei o seu relógio, mas foi sem querer. – Amber tinha juntado muita coragem para conseguir dizer aquelas palavras em meio ao silêncio desconfortável. Ela era a única que ousava dirigir a palavra ao pai no momento delicado porque era apenas uma criança que não tinha noção da gravidade da situação, mas que se sentia terrivelmente culpada por quebrar umas das peças de maior valor sentimental do pai.

   - Está tudo bem, Amb. – Disse Inácio se surpreendendo com o quão normal ele conseguiu soar. – Vocês duas estão de castigo até o dia que morarem nesta casa. – Anna e Demi sentiram o coração quase parar, então perceberam que a referência não era a elas. Alguém batia a porta e Inácio se ajeitou para abri-la. – Se aquele moleque encostar em você, eu vou chamar a polícia. Você é menor de idade e eu sou o seu responsável. – Disse a Hannah. – Você vai tirar esse piercing exatamente agora. Não me importo se vai doer ou sair sangue, se você não estiver sem essa porcaria dentro de trinta minutos nós vamos para o hospital e eles vão tirar lá. E sobre essa tatuagem... – Inácio cerrou os dentes e resolveu que dar umas palmadas na filha não era a solução mais racional, se bem que a vontade não faltava. – Quando cicatrizar, eu faço questão de pagar a remoção e o melhor advogado dessa cidade para ferrar com a vida do infeliz que te tatuou sem a minha permissão. – Encrencada era pouco. Megan adorava desafiar o pai e tira-lo do sério, aliás, ela gostava de deixar qualquer pessoa de cabelos em pé, só que daquela vez a sensação da adrenalina estava minúscula perto do medo.

O silêncio na cozinha passou a ser menos sufocante quando Inácio saiu para abrir a porta, mas mesmo assim as garotas continuaram caladas processando toda informação dos últimos dez minutos. Só que a movimentação do pai não passou por despercebido, justamente porque havia uma voz feminina diferente das conhecidas.

   - Boa tarde, meninas! – Demi engoliu em seco porque aquele momento por si só já era delicado, juntando com Dianna, era para deixá-la aflita e muito receosa. Tanto que apenas Bella e Anna responderam ao cumprimento, as outras continuavam caladas, mas agora observavam Dianna caminhar em direção a Demi com um sorriso de orelha a orelha no rosto. – Você está bem, meu anjo? – Anos atrás ouvir a pergunta seguida de um abraço e um beijo teria sido muito bom, mas agora Demi não queria que Dianna estivesse exatamente ali na casa do pai porque era estranho.

   - Estou bem. – Disse sustentando o olhar da mãe por um tempo a mais que o de costume rezando para que Dianna entendesse que ela não queria falar sobre o assunto.

   - Dianna, vamos subir. – Inácio sequer a olhou, ele só tinha foco em Dianna. O que aconteceu a seguir foi mil vezes mais tenso a ponto de deixar Demi literalmente corada nas bochechas. Ela queria sumir do mapa! “Por que você tinha que fazer isso logo aqui na frente delas?” A pergunta mental não serviria de nada, muito menos desejar ser uma avestruz. Inácio calçava apenas as meias brancas e vestia o mesmo mau humor de minutos atrás, o cenho franzido era a prova. Ele não olhou para nenhuma das filhas, enlaçou os dedos aos direitos de Dianna e a guiou para fora da cozinha.

Continua.. Olá! Tudo bem com vocês? Eu estou bem! Capítulo mega pequeno, mas depois dele muitas coisas estão por vir.. Provavelmente não foi o que vocês imaginaram, mas lembrem-se que por mais pequeno que esse capítulo foi, ele é um gancho importante para os próximos.. principalmente essa parte da Dianna com as irmãs da Demi, e o poder que ela tem de controlar o Inácio. Beijos e desculpem a demora!