Geralmente
no final de Junho havia sol e calor em Nova York, às pessoas andavam pelas ruas
com roupas de verão, óculos de sol e abusavam dos sorvetes e picolés. Porém
naquele dia as nuvens do céu estavam escuras apesar de ainda ser exatamente uma
hora da tarde, o sol pouco brilhava e tudo parecia muito errado. O tempo
simplesmente parecia que nunca iria passar, para que o ponteiro do relógio
desse um giro completo marcando um minuto a mais demorava séculos! Lá fora tudo
estava chato, monótono demais para ser Nova York. O sentimento era tão
agonizante, a cabeça das duas mulheres que estavam em silêncio há tempo demais
parecia latejar, ninguém sabia o que pensar, o que fazer.. Era só a dor viva as
consumindo aos poucos.
Morto. Jason
Gyllenhaal estava morto.
Os
olhos inchados e avermelhados. A angustia tomando todo o peito, Selena estava
deitada no sofá de Demi quieta demais, a ponta do nariz estava vermelha e os
pés e as mãos gelados. Demi tinha a cabeça escorada no batente da janela de
vidro da sala, suspirava vez ou outra, os olhos ardiam, a cabeça doía e as
lágrimas vinham quando a sua memória a obrigava a se lembrar do sorriso de
Jason, de como ele era gentil e generoso, de como havia a acolhido como um
verdadeiro pai. Quem seria capaz de fazer tal atrocidade com um homem como
Jason? Demi estava tão aterrorizada, o nervoso havia a sufocado quando Selena
contou o motivo de tantas lágrimas. O seu amigo estava morto. Era
inacreditável, as palavras de Jason ainda tão frescas em sua mente:
“Você é muito jovem.
Nem sempre você e a sua mãe vão se entender, será assim com ela e com muitas
outras pessoas. Só não vale a pena ficar triste, tudo bem? Gaste o seu tempo
sorrindo e sendo feliz, aproveite o máximo de tudo que você tem e das pessoas
que te cercam porque nem todos que você ama estarão aqui para sempre, ok? –
Demi assentiu sorrindo e de coração apertado por saber que Jason falava da
esposa e dos tantas pessoas amadas que já tinha perdido. Era por isso que ela
adorava conversar com ele. – Agora vá mocinha, quero o seu departamento
trabalhando a todo vapor. – Demi riu e fez questão de caminhar até Jason para
se despedir com um caloroso abraço logo sendo expulsa do escritório do chefe
pelo mesmo.”
Mentira!
Mentira! Ele não está morto! Uma voz gritou em sua mente e o coração apertou no
peito. Não era mentira, a morte de Jason era o principal assunto dos
noticiários e na internet. O mundo estava um caos e todos assustados. Aliás?
Quem queria tirar Jason da linha? A pergunta fez Demi franzir o cenho. Jason
não tinha inimigos, não que era de seu conhecimento.. O que havia acontecido? Quem iria matá-lo com um tiro certeiro no
peito? O medo a assombrou e novas lágrimas rolaram molhando o rosto
delicado. Seja lá o que tenha acontecido, Jason não merecia um fim como aquele,
ninguém merecia.
- Selena? – Chamou limpando as lágrimas e
caminhando até o sofá onde a amiga estava deitada e de olhos assustados fitando
o teto. – Nós.. Nós não almoçamos. – Disse engolindo em seco secando as
lágrimas que continuavam a rolar pelo rosto e Selena também derramou as
lágrimas dela. – Você não está com fome? – Perguntou respirando fundo tentando
ser forte por ela e Selena, mas não conseguia.
- Desculpe Dem. – Murmurou Selena se
erguendo e limpando as lágrimas que molhavam o seu rosto. – Eu definitivamente
estou sem fome. – Respondeu arrumando as mechas do cabelo atrás das orelhas.
- Eu também. – Demi limpou novamente as
lágrimas nas mangas de sua jaqueta jeans. – Mas nós deveríamos comer alguma
coisa. – Disse fitando os olhos de Selena tão carregados de dor quantos os
seus.
- Quase coloquei pra fora o meu café da
manhã.. – Resmungou Selena. – Hum.. Você não comeu hoje? – Selena olhou para a
amiga e franziu o cenho. – Você não passou a noite em casa, certo?
- Ontem foi um desastre. – Disse sentindo a
cabeça doer ainda mais ao se lembrar de Dianna. – Ela só queria dinheiro,
enfim, eu acabei encontrando o Jake quando
saí do restaurante, ele me ajudou a esquecê-la mais uma vez, nós conversamos e comemos hambúrguer. Ele me pediu
para passar a noite com ele.
- Eu sinto muito por tudo Dem. – Demi não
esperava por um abraço de Selena, mas sentiu a esperança que tudo acabaria bem
quando Selena a abraçou. – Não vamos deixar
que ela destrua tudo o que você lutou para ter, tudo bem? – Apesar de ser
triste, o sorriso de Selena aqueceu o coração de Demi. – Vamos preparar alguma
coisa para você comer? Não quero que o meu bebê fique de estômago vazio. – Demi
revirou os olhos com tanta vontade que Selena não pode deixar de rir e apertar
as bochechas da amiga.
- Eu juro que eu queria saber o que eu fiz
de errado para ter duas mães malucas. – Por um momento elas riram como se uma
tragédia não tivesse acontecido naquele dia. Mas também foi só por aquele
momento, o silêncio na cozinha seria sufocante para qualquer um que estivesse
ali com Demi e Selena, não para as duas que estavam envolvidas nos próprios
pensamentos enquanto comiam em silêncio a macarronada que prepararam.
- O que nós vamos fazer? – A voz de Selena
quebrou o silêncio da cozinha e Demi olhou para a amiga engolindo em seco.
Selena nunca perguntava, pois era ela quem sempre coordenava situações chatas
como aquela.
- Eu não sei. – Respondeu e bebericou o suco
de uva concentrado. – Acho que nós teremos que esperar. – Comentou desviando o
olhar de Selena e respirou fundo. – O.. O corpo deve estar sendo examinado.. Eu
não sei. – Disse contra a vontade e se levantou para levar o prato a pia já que
não tinha mais fome. – Por que você não liga para o Ed? Ele deve saber de
alguma coisa. – Selena franziu o cenho cogitando a ideia de ligar para Ed, um
dos assistentes do pessoal da administração que resolvia todos os problemas de
todos os departamentos e que inclusive vivia tentando flertar com ela.
- Não acho que seja uma boa ideia. –
Resmungou Selena levando a louça suja que estava sobre a mesa para a pia. – Como
foi com o Jake? – Selena buscou por uma toalha para secar a louça quando Demi
começou a lavá-la.
- Nós transamos de novo, foi muito bom. – As
bochechas de Demi nunca coravam à toa.. Os olhos nunca ganhavam aquele brilho
especial.. Selena a analisou e grunhiu baixinho. Mais um cara não! Demi era um imã
de caras estúpidos.
- Você está se prevenindo? - Perguntou Selena
sem ousar desviar o olhar do de Demi.
- Estou. – Murmurou Demi desviando o olhar
de Selena. – Ele está saudável. – Comentou brevemente.
- Eu sou nova demais para ser titia. – As
duas acabaram rindo por alguns instantes e Demi ficou a pensar em um bebê.
Deus! Como ela havia pensado dias atrás que não queria ter um bebê por medo de
tornar a vida sentimental dele tão frustrante quanto a dela? Iria amá-lo com
todo o coração, moveria céu e terra para garantir a felicidade do filho.
- Você não acha errado que eu esteja
dormindo com o Jake? – A perguntou foi de repente, Demi tinha acabado de lavar a
louça e Selena guardava o último prato no armário.
- Errado? – Perguntou de cenho franzido e
Demi assentiu se recostando na bancada. – Acho que uma mulher solteira pode
dormir com quem ela quiser. Que seja solteiro. Sem julgamentos, ora não tem nada de errado em fazer
sexo. – Selena prendeu o cabelo longo num coque despojado e desfez do blazer
que usava já que não iria trabalhar.
- É estranho, o Jake me deixa de pernas
bambas. – O comentário lhe causou calor em lugares sensíveis e Selena não
deixou de perceber e riu das feições da amiga.
- Está na hora da gente marcar um almoço,
você só fica com ele se eu aprovar. – Demi revirou os olhos e as duas começaram
a velha brincadeira estúpida de adolescente se empurrando enquanto caminhavam
para a sala.
- Está
na hora da gente marcar um almoço, você só fica com ele se eu aprovar. –
Imitou a amiga. - Você é tão chata! – Resmungou Demi empurrando Selena que a
empurrou de volta.
- Você
é tão chata! – Selena também a imitou e as duas trocaram olhares
ameaçadores quando se olharam. Mas antes que a pirraça prosseguisse, o celular
de Demi começou a tocar dentro da bolsa jogada no sofá e Demi mostrou língua
para Selena e correu para pegar o celular dentro da bolsa. – Demi? – Sel conhecia muito bem aquele olhar de menina assustada que Demi lhe lançou e
quando Sel se sentou ao lado de Demi não pode deixar de escutar a pessoa do
outro lado falar:
- Demetria! Você por acaso está me achando
com cara de palhaça? Fui ao banco duas vezes e o dinheiro não está lá. – Era Dianna, Selena
percebeu ao fitar Demi de cenho franzido e com o olhar perdido em tristeza.
- O dinheiro estará na sua conta até o final
do dia. – Disse Demi respirando fundo vez ou outra para não perder o controle e
descontar tudo em Dianna. – Estamos com problemas na empresa, o meu chefe foi assa..
assassinado na noite passada, então eu vou depositar apenas o suficiente para pagar
as contas e comprar comida, nós compramos algumas roupas novas depois. – Dianna
não reclamou, não depois de escutar que a filha lhe compraria roupas novas.
- Estou
esperando. – Então a ligação foi encerrada e Demi amoleceu no sofá sentindo
a tensão se esvaziar do seu corpo.
- Ela é tão grossa! – Comentou Selena
distraída e só deu conta do que havia dito segundos depois. – Desculpe, não
quis ofendê-la. – Murmurou e Demi a olhou.
- Não, ela é realmente grossa, mas por mais
grossa e interesseira que ela seja, eu ainda a amo tanto. – Selena assentiu e
confortou a amiga com um abraço. – Eu queria poder arrancar esse amor de dentro
de mim, Sel. Mas eu não consigo.
- Tudo vai ficar bem, tenha fé. – O beijo
que Selena depositou no topo de sua cabeça a fez respirar fundo e se envolver
mais no abraço. - É melhor a gente ligar para o Ed para saber como as coisas
estão. – Disse minutos mais tarde quebrando o silêncio entre elas.
- Tudo bem, eu preciso de um banho. –
Resmungou Demi se levantando e caminhando para o quarto sendo seguida por
Selena.
O
banho de Demi foi longo e libertador, ao menos a água morna que lhe lavava o
corpo dos pés a cabeça levou todos os problemas ralo a baixo. O que estava
acontecendo? Dentro de uma semana ela tinha descoberto quem era o pai, tinha se
decepcionado com a mãe mais uma vez e Jason estava morto. Poderia ficar pior?
Sua vida estava definitivamente de cabeça para baixo!
- Você está com uma cara péssima. – Selena
respirou fundo e seguiu a amiga em direção ao closet. – O que o Ed disse? –
Perguntou Demi procurando por suas roupas íntimas e as vestiu quando Selena se
sentou no puff de costas para ela.
- Eles examinaram o corpo, não há nenhum
sinal de violência ou algo do tipo, um tiro o acertou no peito e ele não
resistiu, sofreu paradas cardiorrespiratórias e morreu.. – Disse Selena de
cenho franzido. – O assassino não deixou muitas pistas, o único material que a
polícia tem é das câmeras de segurança, e pelo que o Ed disse foram dois
homens. – Seja lá o que tinha acontecido, Jason não merecia morrer daquele
jeito. Demi suspirou se lembrando do sorriso do velho amigo, sentiria tanta
falta dos seus abraços calorosos e dos seus conselhos de pai. – O enterro será
agora à tarde já que o corpo foi liberado.
- Pensei que demoraria mais.. – Murmurou
Demi.
- Eu também. – Disse Selena se virando para
fitar a amiga que estava vestida apenas de calcinha e sutiã a procura de uma
roupa. – Mas ele foi assassinado ontem à noite. – Os suspiros das duas foram
pesados e a conversa encerrou ali. Selena ajudou Demi a secar o cabelo e
escolher roupas de cor preta, tudo feito em silêncio com pouquíssimos
comentários. Acabou que Demi estava pronta vestida em sua saia, camisa e blazer
preto calçada em seu scarpin também preto.
O
clima continuou carregado e triste. A cidade estava tão monótona e o tempo
parecia que nunca iria passar no interior do carro de Selena. Tudo estava
terrivelmente sem graça, sem cor e vida, o céu continuava carregado de nuvens
escuras que denunciavam a futura chuva que deveria cair no final da tarde.
- Quer passar no banco? – Perguntou Selena
ao se lembrar que tinha uma agência bancária um quarteirão de onde estavam.
- Prefiro fazer a transferência online, não
estou com muita paciência para enfrentar uma fila enorme. – Assentindo, Selena
continuou a dirigir e logo estava destrancando a porta de casa com Demi a sua
cola.
- Selena? – A mãe de Selena, Mandy,
assustou-se a deparar com a filha e Demi com aquelas carinhas desamparadas e os
olhares tristes. – Eu vi na TV, o
Jason era um bom homem e não merecia morrer assim. – Mandy abraçou Selena e deu
um abraço apertado em Demi. – Você nunca mais veio aqui, nós sentimos a sua
falta no domingo! – Demi corou sem saber o que falar a Mandy, pois o domingo
que ela se referia era o domingo em que Dianna tinha dito coisas horríveis a
ela.
- Mãe, deixa a Dem. – Resmungou Selena
descalçando os sapatos de salto que usaria para trabalhar naquela manhã.
- Está tudo bem Sel. – Disse Demi sorrindo
sem graça. – Eu só não estava muito disposta, obrigada pelo convite. – Selena
percebeu o quanto Demi estava nervosa quando a viu mordeu o lábio inferior e
colocar uma mexa do cabelo atrás da orelha. Deus! Aquela semana deveria estar
sendo péssima para Demi.
- Me ajuda a escolher uma roupa? – Demi não
recusou ajudar a amiga e a seguiu em direção ao quarto de Selena e Mandy
prometeu que prepararia o lanche da tarde para as suas meninas mesmo contra a
vontade delas. – Eu não contei a ela. – Disse Selena assim que fechou a porta
do quarto. – Tudo bem? – Disse assim que se virou e fitou os olhos de Demi.
- Não tem problema, é só a verdade. – Selena
franziu o cenho em uma careta ao ver o sorriso triste de Demi, odiava vê-la
daquele jeito.
- Você sabe que eu te amo, não sabe? – Demi
assentiu emocionada e abraçou Selena calorosamente dizendo que também a amava.
Enquanto
Selena tomava banho Demi estava sentada a cama da amiga e sorria para a imagem
do porta-retratos em suas mãos. Quanto tempo àquela foto tinha? Deveria ser de
pelo menos seis anos atrás. Deus! Ela e Selena ainda estavam no colegial, eram
tão meninas e inocentes. Aquele dia tinha sido tão divertido, a escola levaria
os alunos para conhecer uma das maiores industriais de agricultura do país.
Depois do passeio, Mandy e Selena levaram Demi para casa, mas ao encontrar
Dianna bêbada e com um homem aparentemente perigoso, Mandy achou melhor que a
amiga de Selena passasse a noite segura sobre o seu teto.
- Demi? – A mão de Selena a tocando no ombro
foi o suficiente para que Demi arregalasse os olhos em susto. – Desculpe, mas
eu já estou parada aqui há pelo menos três minutos te chamando. – Demi respirou
fundo e colocou o porta-retratos em seu lugar no criado-mudo.
- É melhor a gente se apressar, eu quero me
despedir dele. – Selena assentiu com pesar. O fato de Jason estar morto ainda
não era aceitável para nenhuma delas.
***
Entrar
naquela floricultura não tinha sido fácil. Não quando aquele lugar significava um
dia que tinha acontecido há dois anos e poucos meses. Um dia terrível e infeliz
que parecia que nunca iria acabar. Demi ainda se lembrava da textura das
pétalas do buquê de lírios em suas mãos. Os olhos estavam inchados de tanto
chorar, o coração doente de tristeza só de olhar para a Dianna. A mulher estava
irreconhecível, devastada e fora de controle. Os gritos eram insuportáveis,
Dianna havia tirado toda a paz daquele ambiente com o seu egocentrismo e a sua
dor. Amélia estava morta e dentro de um caixão esperando para que a filha e a
neta se despedissem dela. Apenas as duas. A jovem Demi queria abraçar a mãe e
dizer com todas as letras que a amava e que tudo ficaria bem, ao menos ela
tentaria. Mas Dianna não permitia, não dava espaço para a menina, mal a olhava,
mal direcionava a palavra a ela, mal tentava consolar a filha que também estava
triste pela perda.. Tudo que a mulher egoísta fez naquele final de dia foi
marcar o rosto da filha com um tapa que doeu na alma quando a menina tentou
abraçá-la.
- Perdão Srta. com licença, preciso levar
essas flores antes que o sol acabe com tudo. – Selena que percebia a confusão
de Demi, pediu desculpas para o rapaz que carregava um carrinho pesado de terra
e flores e puxou Demi sutilmente envolvendo o braço ao dela.
- Se quiser a gente pode ir embora. – Disse
quando viu a amiga tirar os óculos de sol os colocando na blusa. – Você não
está bem, não adianta mentir. – Demi massageou as têmporas e respirou fundo se
controlando.
- Não estou. – Disse fitando os olhos de
Selena. – A vovó está enterrada aqui, e eu não consigo parar de pensar naquele
dia. – Selena assentiu entendendo o que Demi queria dizer. Ela conhecia muito
bem aquela história e imaginava como deve ter sido traumatizante para Demi ter
que lhe dar com Dianna naquele estado.
- Eu não importaria de ter ficado, mas você
insistiu para que eu fosse embora. – Comentou Selena.
- Você não merecia ser humilhada por ela. – Demi
engoliu em seco e arrumou as mechas do cabelo quando o vento as bagunçou.
- O que vai comprar? – Perguntou finalmente
adentrando a loja tentando bloquear as lembranças do enterro de Amélia que
insistiam em assombrá-la.
- Rosas para o Jason e tulipas para a vovó. –
Selena assentiu de coração partido algo flagrar o olhar distante e vazio de
Demi, mas não disse nada, juntas elas escolheram as flores e dez minutos depois
estavam caminhando em direção à capela do cemitério onde o corpo de Jason
estava sendo velado.
O local estava tão cheio. Eram fãs,
paparazzi, os funcionários da Gyllenhaal mais próximos e Demi não sabia se
havia algum parente de Jason, na verdade ela estava tão perturbada com os
últimos acontecimentos que não havia respondido as perguntas que várias pessoas
faziam a ela por conta da sua amizade com Jason. Deus! Jason estava morto!
Morto! A ficha caiu assim que ela o viu pálido e como se estivesse dormindo
profundamente. As lágrimas rolaram grossas e rápidas molhando o rosto delicado,
Demi agarrou o braço de Selena e deitou a cabeça no ombro da amiga sendo
abraçada calorosamente pela mesma.
- Ele está num lugar bem melhor Dem. –
Selena sussurrou chorosa tentando ser forte por ela e por Demi. Sempre era
daquele jeito, Demi desabava e Selena a amparava.
- Selena? Você está bem? – Havia um bom
tempo em que Selena abraçava Demi que já não chorava tanto, ambas estavam
quietas e perdidas em seus pensamentos. Selena olhou para o lado e assentiu com
pesar ao fitar os olhos verdes de Ed. Se fosse em outra ocasião ela o ignoraria
como sempre fazia, mas ele era tão doce e parecia realmente se importar com
ela. – Você precisa de alguma coisa? – O rapaz perguntou sem conseguir desviar
o olhar do de Sel, e Demi, que desfez o abraço de Selena se sentindo extremamente
tonta e fraca, flagrou o jeito como Selena olhava para Ed.
- Eu vou caminhar um pouco, preciso de ar. –
Demi não deu tempo para Selena responder, caminhou o mais rápido possível para
fora daquele lugar sufocante. Caso ela ficasse ali mais um segundo sequer
cairia dura no chão.
Demi
estava tão atordoada, tentava passar pela multidão que cercava a capela sem
sucesso algum, eram tantas pessoas e ela estava mentalmente distante daquele
lugar que nem percebeu quando esbarrou em um homem que deveria ter pelo menos
vinte centímetros há mais de altura que ela. Demi só não imaginava que aquele
era Jake tão atordoado quanto ela.
- Respira Demi. – Disse para si mesma
caminhando sem pressa alguma pelo cemitério. Aquele lugar era tão cheio de paz
ao mesmo tempo em que era triste. Demi fitou as pétalas da rosa vermelha em sua
mão e deixou uma lágrima rolar. Não estava sendo fácil viver naqueles últimos
dias, não quando o mundo estava simplesmente desabando sobre a sua cabeça. As
pernas pareciam ter vida própria e a guiava por aquela imensidão onde havia
milhares de pessoas enterradas, Demi só foi se dar conta de onde estava quando
parou em frente a sepultura de Amélia. – Vovó. – Sussurrou umedecendo os lábios
com a língua e automaticamente ela colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
– Agora eu entendo.. E eu.. eu sinto tanta a sua falta. – Disse derramando as
incansáveis lágrimas. – Queria que tudo fosse diferente entre a gente, mas.. Deus
sabe o que faz. – Demi fechou os olhos e pode se lembrar da feição enigmática
de Amélia sempre que a olhava.
– Eu estou com medo.
– O ursinho de pelúcia estava envolto pelos braços da garotinha espremido
contra o peito dela. Os olhos castanhos cheios de vida e inocência fitavam a
mulher loira sentada ao sofá nos braços de um homem moreno e forte que sorria
sugestivamente para a mulher. – Mamãe, eu estou com medo. – A voz indefesa da
pequena Demi soou pela sala despertando a atenção dos dois adultos. Dianna se
levantou num pulo, os olhos bem delineados estavam cerrados e a feição da
mulher não era nada boa. – Está chovendo. – Sussurrou Demi como se justificasse
o fato de estar acordada àquela hora da noite e ainda por cima implorando por
um pouco de carinho da mãe.
- O que você está fazendo fora da cama? –
Esbravejou Dianna largando o copo de whisky e caminhando furiosamente na
direção da pobre menina. – Eu já disse que não é para você me perturbar
pestinha. – O rosto ardeu como uma queimadura quando os dedos de Dianna se
chocaram contra o rosto delicado, a gargalhada masculina preencheu a sala e o
pequeno coração da menininha saltou no peito.
- Dianna! – Por um pouco o outro lado do
rosto de Demi não ficou vermelho. Amélia, que havia acabado de chegar, segurou
o braço da filha e lançou a ela um olhar severo que a pequena Demi não
entendeu, mas foi o suficiente para que ela agarrasse a perna da avó e olhasse para
cima com os seus olhos encantadores de menina completamente marejados. – É só
uma criança. – Disse Amélia engolindo em seco ao ver a aquela criaturinha
encolhida em sua perna. – Você não quer perder um dos seus melhores clientes. –
Disse a Dianna que assentiu respirando fundo e lançando um olhar mortal a Demi.
– Vou levá-la para a cama, faça o que for necessário, nós precisamos de
dinheiro. – A pequenina não soube o que fazer quando a avó lhe ofereceu a mão,
estava apenas assustada com a repentina atenção que havia recebido em pouco
mais de cinco minutos, mas acabou agarrando a mão da avó que a guiou para longe
daquele cômodo.
- É o papai? – Perguntou a menina se
lembrando de flagrar a mãe sorrir para o homem e beijá-lo antes de Amélia
levá-la para o quarto.
- Você tem que dormir, a escola começa
amanhã cedo. – A menina franziu o cenho e bocejou cansada e assustada demais
para insistir em perguntar sobre o pai. A escola tinha sido um sonho para a
pequena Demi que iria se realizar na manhã seguinte graças a Amélia que tinha
um amigo que havia conseguido encaixar a pequenina na primeira classe infantil...
Claro, Demi não podia ficar sem estudar e a vizinha assistente social infantil
estava de olho em Dianna desde que a adorável Demi havia sido flagrada com
algumas manchas roxas pelo corpo enquanto brincava no playground com as outras
crianças. Amélia e Dianna não precisavam de mais problemas.
- Eu estou com medo. – Disse a menina quando
Amélia a cobriu com a coberta e caminhou em direção ao interruptor da luz. – Porque
a mamãe não dorme comigo, vovó? Eu estou com medo, está chovendo. – O coração quase
saiu pela boca da pequenina quando o quarto de repente ficou escuro e a porta
foi fechada.
- Prometa que você vai ficar quietinha que
eu passo a noite com você. – O sorriso nasceu no rosto da menina que assentiu
balançando a cabeça quando a luz do abajur foi acesa e a avó se sentou a cama
perto o suficiente para que Demi a abraçasse calorosamente e erguesse o seu
rosto redondo cheio de sardas fofinhas.
- Eu te amo vovó. – Mesmo a olhando com os
olhos castanhos brilhando, Amélia não teve corajem de dizer que também a amava,
abraçou a garotinha um tanto sem jeito, beijou-lhe a testa e lançou o seu olhar
mais doce à pequena Demi que esboçou o sorriso mais lindo mesmo que faltasse um
dentinho.
- Eu também. – Sussurrou quando a menina já
estava de olhos fechados e dormia serenamente.
A
lembrança daquela noite foi um golpe duro. Demi pôs-se de joelhos diante do
tumulo da avó e chorou descontroladamente, chorou tanto que a maquiagem negra
de seus olhos derreteu e a ponta de seu nariz estava vermelha. Se havia alguém
no mundo que ela desejava abraçar esse alguém era Amélia. Sentia tanta falta
daquela mulher que havia sido uma péssima mentirosa durante todos os dias que
lhe lançava olhares rudes e palavras negativas. Demi a amava porque sabia que
por baixo daquele tanto de rancor e egoísmo Amélia a amava de verdade, caso não
a amasse não teria a olhado daquele jeito tão doce como havia feito naquela
noite.
- Eu sinto tanta saudade vovó. – Disse num
fio de voz limpando as lágrimas e se levantando. – Nunca vou deixar de amá-la.
– As tulipas cor-de-rosa, as favoritas de Amélia, foram colocadas delicadamente
ao lado do nome da mesma. – Prometo vir mais vezes. – Esboçando um sorriso
triste, Demi limpou mais algumas lágrimas e começou a caminhar pela grama
despreocupadamente vez fitando o céu nublado e as rosas em sua mão.
- Demi! – A voz de Selena a despertou de
seus pensamentos, Demi limpou as poucas lágrimas e alcançou à amiga e Ed que
estavam a bons metros de onde ela estava.
- Eu precisava visitar a vovó. – Disse assim
que estava ao lado de Selena.
- Tudo bem. – Selena a abraçou de lado e
Demi retribuiu o abraço se sentindo mais calma e segura só por estar nos braços
da amiga. – Está na hora de despedir do Jason. – Demi engoliu em seco ao
entender o que Selena dizia. O coração quase saiu pela boca em desespero.
- Não está tudo acontecendo muito rápido? –
Comentou desvinculando do abraço de Selena para olhar para Ed.
- Não há muito que fazer, o corpo foi
examinado e a polícia já tem tudo que precisa. – Disse o rapaz fitando os olhos
de Demi. – E o neto do Jason prefere assim. – Demi assentiu. Ela nem sequer
podia imaginar como era perder uma pessoa amada para um assassino, mas ainda
sim não entedia o porquê de tanta pressa.
- Você está bem? Parece distante. –
Perguntou Selena quando já se aproximavam do local onde Jason seria enterrado.
- Não estou bem. E você? – Selena respirou
fundo e negou balançando a cabeça. Não havia como estar bem, não depois de
Jason ser assassinado e tudo estar uma bagunça na vida de Demi.
A
pior parte estava simplesmente por vir. O silêncio era absoluto entre a
multidão, apenas a voz do pastor quebrava o clima pesado e triste daquela tarde
nublada nova-iorquina. Demi estava cabisbaixo ao lado de Selena, preferia estar
perdida em seus próprios pensamentos a deixar a tristeza consumi-la. Logo que o
pastor encerrou o discurso, as pessoas se aproximaram para jogar as suas flores
para Jason e dizer as suas últimas palavras. Demi o fez tímida e quieta demais,
jogou as suas rosas e disse adeus a Jason prometendo a ele que nunca se
esqueceria de como ele tinha sido um amigo maravilhoso para ela. A pressa e a
agonia eram tão grandes para sair dali que Demi puxou Selena pelo braço assim
que a amiga se despediu de Jason, engraçado foi que nesse exato momento Jake
Gyllenhaal começava o seu discurso, mas Demi já estava longe o suficiente para
saber que o neto de Jason era o homem com que ela havia compartilhado a cama
por duas vezes naquela mesma semana.
Hospital
Central de Austin, Texas, 07:15PM.
- Oh meu menininho. – A voz embolada da velhinha soou. Quem
olhasse para a pele branca e enrugada de Clara, pensaria que ela não passava de
uma simpática e rude senhora de pouco mais de setenta anos de cabelo grisalho e
que usava saiões. Mas Joseph sabia muito bem que a aparência não dizia um por
cento do que as pessoas eram. O rapaz estava pálido, os lábios esbranquiçados e
os olhos verdes não tinham o típico brilho inocente de sempre. Tudo fruto das
vertigens de mais cedo. Joseph havia feito muito esforço enquanto trabalhava no
celeiro da avó polindo as selas dos cavalos e limpando todo o feno. Agora ele
estava deitado na cama de um hospital de Austin sobre os cuidados de médicos e
da avó. – Como você se sente? – O rapaz fitou os olhos verdes da avó e esboçou
um pequeno sorriso quando a velha Clara lhe segurou as mãos.
- Eu estou bem. – Ele disse baixinho e
tímido como sempre. Joseph sempre foi o mais tímido e isolado da família,
ninguém sabia o que lhe passava na cabeça, a não ser Clara, quem o criou desde
os pais do rapaz faleceram num terrível acidente rodoviário. Havia sobrado
apenas o pequeno e assustado Joseph enrolado numa manta branca entre as
ferragens do carro. Nem mesmo estando assustado o pequeno chorou, havia ficado
quietinho nos braços de um bombeiro até que Clara e o falecido avô Marcus
chegaram desesperados e arrasados com a notícia da morte da filha e de Antônio, o pai de Joseph.
- Quero você longe do trabalho da fazenda,
os seus primos cuidarão de toda aquela bagunça. – Ralhou a velha franzindo o
cenho. – E nada de ficar naquele computador até mais tarde, você descansará durante
toda a semana Joseph! – Ele queria responder a avó dizendo que não poderia
ficar de repouso, pois ele tinha um voo marcado ainda para aquela noite em
direção a Nova York, até porque não era todos os dias que alguém como ele
conseguia ser chamado para trabalhar na Gyllenhaal Enterprise depois de quase
seis meses de espera, mas Joseph engoliu em seco e piscou algumas vezes
envergonhado quando flagrou a doutora Harley olhá-lo sobre os óculos de grau e
sorrir genuinamente. Controle-se, controle-se. Pediu a si mesmo mentalmente.
Ele não era bom com as pessoas, definitivamente não era bom. Era tímido, ficava
tão nervoso quando estava com algum desconhecido que começava a gaguejar e
derrubava as coisas caso estivesse praticando alguma tarefa.
- Foi apenas a pressão que estava alta
demais, senhora Jonas. – A mulher disse caminhando sobre os seus sapatos de
salto até que estava próxima de Clara e Joseph. – O nível de glicemia está
normal, o senhor não está tomando os remédios para controlar a pressão? – Diabetes
e a hipertensão faziam parte de Joe desde muito cedo. A hipertensão era herdada
dos pais e a diabetes estava no gene e se desenvolveu na adolescência do rapaz.
- Es..estou. – Ele disse envergonhado quando
a médica se sentou na beirada da cama para lhe aferir a pressão. – Estava muito
quente. – Joseph não havia gaguejado, mas o rosto estava quente e ele fitava o
próprio braço sendo envolvido pelo manguito e as mãos delicadas da médica tocando os
seus músculos.
- Nessa época do ano os termômetros estão
para explodir. – Comentou a médica olhando para Clara e assim que olhou para
Joseph, ela tornou a sorrir encantada com a beleza do rapaz e voltou à atenção
para verificar a pressão. Por conta da hipertensão e do diabetes, Joseph
vivia uma vida limitada e seguida de regras. Não eram todos os alimentos que
ele poderia comer, ele tinha que tomar insulina todos os dias e visitar o
consultório médico frequentemente. A melhor parte eram as atividades físicas
que ajudavam bastante a melhorar o aproveitamento na glicose nos músculos,
diminuía a dose dos medicamentos e prevenia futuros problemas associados ao
diabetes.
- Está tudo normal? – A avó de Joseph
perguntou preocupada e de orelha em pé em relação a aquela médica que não
tirava os olhos de seu neto.
- A pressão está voltando ao normal, você
está liberado, mas se estiver se sentindo mal para passar essa noite em casa
nós o manteremos aqui sobre observação. – A moça puxou o velcro do manguito
liberando o braço do rapaz e o olhou profundamente quando Joseph ocasionalmente
a olhou.
- Ele está tão pálido, você prefere passar a
noite aqui ou em casa Joseph? – Clara perguntou levando as mãos ao rosto do
rapaz como quem verifica se há elevação de temperatura corporal.
- Em casa. – Joe sorriu timidamente ao olhar
para avó que o olhava toda preocupada.
- Uma maçã fará mal? – Clara perguntou a
médica.
- Claro que não, frutas são sempre bem
vindas. – Joe se viu completamente tenso quando a avó prometeu que buscaria uma
maçã para ele e disse que quando voltasse arrumaria as coisas para levá-lo para
casa. O problema era: porque a médica não acompanhou a sua doce avó para fora
do quarto?
Com
toda a coragem do mundo Joseph se levantou e mesmo envergonhado demais para
fazê-lo, ele guardou os pertences dentro da mochila e corou ao buscar pelas
peças de roupa que teria que vestir assim que descartasse a roupa do hospital.
- A sua avó é um amor. – Umedecendo os
lábios, o rapaz pegou os óculos de grau sobre o criado-mudo e assentiu sem
saber como pediria licença para trocar de roupa. Por que as mulheres sempre
agiam com ele daquela forma? Pareciam selvagens e descontroladas, já ele
ficava nervoso e não sabia reagir a elas. – A gente podia marcar para sair, que
tal amanhã à noite no meu apartamento? – Joe arregalou os olhos, coçou a nuca e
quase derrubou o abajur de tão nervoso que estava. – Não precisa ficar nervoso,
é só um jantar. – A doutora Harley era realmente bonita com seu cabelo loiro e
olhos azuis, mas Joseph tinha sérios problemas em se relacionar com mulheres,
nunca dava certo porque ele nem sequer se permitia tentar.
- Eu.. eu.. Estou a caminho de Nova York. –
Ele disse engolindo em seco e arrumando os óculos de grau ao rosto ao perceber
a proximidade da mulher.
- Quando você voltar, o que acha? – As mãos
dela estavam no peito dele! Foi o suficiente para que o rapaz quase tivesse um
colapso de nervos.
- Eu não sei. – Joseph desviou a tempo dos
lábios da doutora Harley selar os seus, o beijo acidentalmente acertou a
bochecha do rapaz que se atrapalhou todo deixando a mochila cair no chão junto
aos óculos de grau.
- Joseph?– Clara surgiu no quarto trazendo
consigo uma maçã e biscoitos integrais. – Você ainda não se vestiu? – Negando
balançando a cabeça, Joseph pediu licença e caminhou para o banheiro do quarto
a passos largos.
- Oh meu Deus. – Ele sussurrou assim que
fechou a porta do banheiro. Por que ele sempre ficava nervoso daquela forma?
Deus! Ele era normal, bonito e tão inteligente. Franzindo o cenho e olhando-se
no espelho o rapaz engoliu em seco e desfez da roupa do hospital para vestir as
suas calças jeans desajeitas, a sua camisa xadrez larga demais e penteou o
cabelo escuro e liso. Ele tinha vinte e dois anos e mal sabia conversar com uma
mulher e nunca, nunca mesmo havia beijado uma. – Calma Joseph. – Respirou fundo
algumas vezes e finalmente abriu a porta do banheiro para encontrar a avó sozinha
no quarto.
- Está tudo bem querido? – Clara perguntou
quando o rapaz se aproximou aliviado.
- Está, eu só quero ir para casa. – Disse
Joe sem gaguejar ou qualquer constrangimento.
***
Fazenda Jonas, Marble
Falls, Texas – USA, 10:30PM
Durante
todo o caminho para a fazenda que ficava pouco mais de três horas e meia de
Austin Joe preferiu ficar calado no banco do carona observando o céu escuro e
as estrelas que brilhavam nele. Como ele explicaria para a avó que estava de
partida para Nova York? Há dois dias havia recebido um email da Gyllenhaal que
dizia que ele havia sido selecionado para trabalhar na empresa. E que ele
queria muito ir para Nova York conhecer gente nova e quem sabe até se
socializar com elas... Quando chegaram à fazenda, Joe foi estranhamente
recebido com o calor da preocupação das tias que perguntavam a todo momento se
ele estava bem e os seus primos não deixaram de zoá-lo e fazer piadas
constrangedoras.
- Joseph? – Debruçado sobre o parapeito da
varanda do quarto, Joseph continuava a fitar o céu e admirar as três estrelas
que brilhava mais entre todos aqueles pontinhos brilhantes. Ele sempre foi um
grande fã das Três Marias porque a avó havia contado a ele que todas as noites
Antônio, o seu falecido pai, o punha no colo e dizia que aquelas três estrelas representavam
ele, o pequeno Joseph e Juliana, a sua mãe e que um dia elas representariam a
família que ele formaria com a mulher que amasse. E desde então sempre que as
olhava antes dormir Joseph pensava em seus pais e como ele queria que eles
estivessem vivos.
- O que foi Rose? – Ele perguntou sem sequer
olhar para trás para encontrar a sua prima emprestada se aproximar e se
debruçar como ele sobre o parapeito da varanda.
- Eu fiquei preocupada. – Rose deitou a
cabeça no ombro do rapaz e aproveitou para beijá-lo na bochecha sem despertar o
Joseph atrapalhado e nervoso. Rose era seis anos mais nova que Joseph e
completamente apaixonada por ele, porém o rapaz só a considerava como uma boa e
velha amiga e a única mulher que não o deixava atrapalhado e constrangido.
- Todos ficaram. – Joseph a olhou e
beijou-lhe a testa demonstrando carinho e respeito.
- Você está pensando nos seus pais? – Rose
perguntou minutos mais tarde observando como Joseph era bonito e diferente de
todos os homens que ela já havia conhecido, porém ele não a olhava, continuava
a fitar as três estrelas como fazia todas as noites.
- Também. – Tirando os óculos de grau,
Joseph os limpou na barra da camisa de algodão e olhou para a prima.
- Eles estão te protegendo. – Joseph
assentiu engolindo em seco e abraçou a menina de lado. – Eu estava pensando.. Esse
é o meu último ano no colegial. – Tomando coragem, Rose respirou fundo e fitou
os olhos verdes com os seus negros. – Você quer ser o meu par no baile de
formatura? – Joseph arqueou as sobrancelhas em surpresa e desviou o olhar da
menina. – Tudo bem, você não quer, eu.. eu.. Eu vou perguntar ao Matt se ele
quer ir comigo. – Rindo do desespero da prima que já desfazia do abraço, Joseph
assentiu, mas Rose não viu pois estava ocupada demais pensando no porquê que
Joe não a amava como ela queria.
- Eu vou com você. – Ele disse para a
surpresa da menina que sorriu de orelha a orelha e o abraçou.
- Obrigada, obrigada! É por isso que eu te
amo tanto, você é o melhor amigo que toda garota deveria ter. – No final das
contas Rose corou, arrumou as mechas do cabelo escuro atrás das orelhas e a pele
branca assumiu um leve tom rosado. – O que foi? Você não quer ir? – A menina
perguntou quando percebeu que Joe parecia desanimado.
- Eu vou para Nova York, Rose. – Joseph
disse se sentindo culpado por ter que deixar a avó e Rose, ele sentiria tanta a
falta delas.
- Tudo bem, a formatura é daqui a seis ou
cinto meses, você não vai ficar seis meses em Nova York Joseph. – Rose forçou
uma risada, mas franziu o cenho diante da feição séria de Joseph.
- Eu vou trabalhar lá, o meu voo é dentro de
poucas horas.
- Não é possível que Nova York te
sobrecarregará a ponto de você não ter um dia livre para ficar comigo. –
Resmungou a menina cruzando os braços sobre o peito. – Tem a faculdade, e as
aulas de geometria? Você é o melhor professor substituto da escola. E eu pensei
que você estava me ensinando a ordenhar o leite da Kelly, você definitivamente
não pode ir para Nova York. – Joseph riu do drama da prima ao citar Kelly, uma
das vacas da fazenda da qual usava para ensinar Rose a ordenhar o leite. Era
uma pena que ele já havia descoberto que Rose já sabia ordenhar o leite de uma
vaca há muito tempo e que ela fingia não entender nada do que ele estava
falando só para que eles ficassem mais tempo juntos.
- Os meus estágios acabaram e eu já tenho o
meu diploma Rose. – Joseph sorriu ao ver a carranca da menina e a abraçou de
lado. – O Derick pode te ajudar a ordenhar o leite da Kelly. – Ao escutar o
nome de Derick, Rose cerrou os olhos e balançou a cabeça em descrença.
- Você sabe que eu não o suporto! Nada contra
homossexuais, mas o Derick é o mais chato que eu conheço de norte a sul, de
leste a oeste. – O rapaz riu e sentiu o peito apertar de uma saudade
completamente precipitada.
- Você e ele são os meus melhores amigos,
vou sentir tanta a falta de vocês. – Novamente Joseph fitou o céu e suspirou.
- Amigos.. – Joseph fechou os olhos por
alguns segundos e quando os abriu eles sustentavam o olhar intenso de Rose.
- Um dia você vai encontrar um homem que vai
te amar como você merece. – Ele disse sabendo que não poderia simplesmente
ignorar os sentimentos de Rose como sempre tentava fazer.
- Eu queria tanto que esse homem fosse você.
– Disse a menina suspirando com pesar e abraçando o corpo de Joseph até que sentiu
que o frio havia passado.
- Eu te amo, mas não dessa forma Ro. – Joseph
sorriu para a menina lhe acariciando as bochechas.
- Por quê? Eu vou crescer e virar uma
mulher. – Joseph arqueou as sobrancelhas, mas riu assentindo.
- Eu sou seis anos mais velho que você, eu
te vi nascer e te segurei no colo quando você era bebê. – Rose suspirou e
abraçou mais o corpo de Joseph. – Você é a irmã que eu nunca tive. – Ele concluiu
abraçando a menina com todo carinho que tinha por ela.
- Vou sentir a sua falta, esse lugar não
será o mesmo sem você. – Tornando a olhá-la nos olhos, Joseph lhe beijou a
testa e confortou a prima nos braços.
- Rose, está na hora de ir para casa. – Apenas
assentindo para a mãe de Rose, Joseph deixou que Rose o beijasse no rosto e o
abraçasse calorosamente desejando a ele um boa sorte choroso.
- Eu também vou sentir a sua falta. – Joseph
disse assim que a prima o deixou sozinho com as estrelas, e quando ele fitou as
três Marias, um sentimento forte lhe passou pelo peito como se algo bom fosse
acontecer. Só era uma pena que Joseph não ligava a TV ou acessava a internet nas praticamente vinte e quatro horas em que Jason Gyllenhaal, o homem que o chamou para trabalhar, estava morto e enterrado.
***
Top
of the Rock, Manhattan, Nova York – USA, 10:49PM
O
dia não tinha sido nenhum pouco fácil para Demi. O enterro de Jason tinha sido
tão desgastante, mas tudo poderia piorar, e foi o que aconteceu. Quando chegou
ao apartamento complemente exausta debaixo da chuva violenta junto a Selena e Ed, Demi teve que enfrentar
a fúria de Dianna que a esperava impacientemente. Havia estado tão envolvida
que não tinha depositado o dinheiro da mãe, e estava tão nervosa que foram
notas há mais para a conta de Dianna, mas não era nada que ela se importava,
era melhor ter paz de espírito que alguns dólares.
- Você sabe mesmo montar essa coisa? – Agora na cobertura do GE
Building a toalha xadrez estava estendida com a cesta de piquenique estava
sobre ela. Demi estava deitada de qualquer jeito sobre a toalha. Ora fitava o
céu limpo depois da chuva da tarde, ora fitava o visor do Iphone e ora fitava Selena e Ed que montavam o
telescópio que o rapaz trouxera.
- É claro que sei Selena. – Disse Ed um
pouco impaciente com as perguntas que Selena lhe fazia para tentar deixá-lo sem
graça e ir embora. Demi que observa tudo riu sozinha apostando que Selena e Ed
acabariam ficando juntos.
- Tudo
bem, você sabe de tudo Jesse Eden Metcalfe. – Ironizou Selena mal humorada
deixando Ed sozinho para se deitar ao lado de Demi. – Por que a gente deixou
esse cara vim para o nosso lugar? – Pelo tom de Sel, Demi apostava que ela
estava entrando na fase da TPM.
- Por quê? Olha só para ele. – Disse Demi e
Selena ergueu a cabeça e franziu o cenho ao fitar Ed trabalhar na montagem do
telescópio. – Dá uma chance para ele, ou ao menos nos deixe relaxar por algumas
horas Sel, foi um dia difícil e tudo que eu quero é descansar sobre a luz das
estrelas. – Selena assentiu a contra gosto e não criticou quando Ed disse que o
telescópio estava pronto.
- Demi, por que você não vem aqui ver que essa coisa funciona de verdade? – Demi riu
da careta de Selena e se levantou depois de beijar a amiga na bochecha apenas
para pirraçá-la. – Você poderia hum.. fingir que está envolvida demais com as
estrelas? Eu queria um tempo com a Sel. – Demi arqueou as sobrancelhas e levou
as mãos à cintura.
- Ela está de TPM, se você tentar beijá-la é
capaz dela fazer um escândalo. – Disse Demi esboçando um sorriso zombeteiro. – Estou brincando, ela é a minha irmã, se você
pisar na bola com ela, eu vou te quebrar no meio, ouviu? – Demi não
brincava, Ed lhe apertou a mão e ela o observou caminhar até Selena que revirou
os olhos, mas não expulsou o rapaz da toalha xadrez. Tudo bem, ela não os
vigiaria, Demi caminhou até onde o telescópio estava montado e olhou
pela lente. A imagem era desfocada, mas aos poucos Demi conseguiu ajustá-la e
sorriu emocionada ao ver as estrelas de um modo bem diferente. Parecia mágica
ou algo do tipo, mas era apena a beleza do universo. Demi apontou para vários
lugares do céu e sorriu maravilhada ao encontrar as três estrelas mais
brilhante da constelação de órion. As três Marias. Eram tão bonitas e
brilhantes, Demi não conseguiu deixar de fitá-las por bons minutos sentindo o
coração acelerar.
Continua.. Para quem queria o Joe, olha ele ai a caminho de NY.. E teve um momento "Jemi", os dois estavam vendo as três marias ao mesmo tempo se quiserem saber... hehe. Gente, demorou para o Joe aparecer, mas foi necessário.. Espero que vocês gostem do capítulo e eu peço desculpas pela demora, confesso que eu não tinha muita ideia do que fazer, mas eu tive várias ideias enquanto escrevia a parte do Joe no começo dessa semana. Obrigada pelos comentários do capítulo passado, vou respondê-los no próximo post, beijos!
nossa coitada da demi, só sofre :(
ResponderExcluirachei que ela ia descobrir que o Jake é neto só Jason fui otaria
o ed eu achei que era o ed sheeran bsmsnsks
esse enterro foi doloroso, estou sofrendo
falando em sofrer eu sofri a semana toda esperando pelo capítulo
eu amo a maneira que você escreve e da todos os detalhes, parabéns ❤
poste logo, mocinha.
bjsss
awnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn, que lindo... Amei o capítulo e estou ansiosa para o próximo
ResponderExcluirAeeee Joe chegouuu sambando na cara da sociedade -yn ta parei jdjdjd
ResponderExcluirGenteee só eu achei o Joe tão fofinho sendo tímido? Da vontade de guardar num potinho de taaaao amorzinho que ele ta aí *----*
Concordo a Demi só sofre a coitada mas ela ainda vai ser muicho feliz eu espero
Jasoooon se foi e agora como fica? :(
Postaaa logo amando essa historia