1.10.17

Capítulo 49

Viajar não estava sendo uma experiência agradável. O enjoo persistiu até que a face estava pálida e cansada. Foi necessária a ajuda de Tony, que assim que Demi bateu à porta zonza, ele a ajudou a sentar-se a cama e a acalmou. A situação não era a das melhores. Ninguém sabia ao certo o que fazer, então impulsionados pelo desespero, compraram um medicamento para cortar o enjoo. Como estava ansiosa para voltar para casa, Demi insistiu para que fossem embora.

 Eram quase dez horas da noite e por conta do horário, Tony estava com receio, mas Demi insistiu tanto e tinha as orientações de Marcus, então eles saíram. A volta para Nova York não foi turbulenta e foram quase quarto horas de viagem devido a velocidade moderada da condução do carro, e durante todo o caminho Demi estava dormindo profundamente por causa do efeito do medicamento. O trabalho mais pesado e complicado foi para acordá-la. A mulher tinha o sono pesado e chamou por Joe de cenho franzido ainda durante o sono. Quando acordou, Demi estava mais zonza e confusa que antes, o corpo mole e ela precisou da ajuda de Tony para deixa-la no apartamento em que morava e acomodada na cama. Não deu tempo para nada, ela simplesmente deitou com a roupa que tinha usado no evento, fechou os olhos e dormiu sem saber o que estava acontecendo e onde estava. Para deixa-la segura, Tony desmembrou a chave do chaveiro o deixando sobre a mesinha, saiu do apartamento e o trancou por fora logo jogando a chave por debaixo da porta.

Nos primórdios da manhã o frio estava presente como sempre. O céu acinzentado e mesmo assim a cidade não parava por um segundo. Nas ruas ainda tinham pessoas da noite passada saindo dos clubs e pubs, alguns ambulantes e artistas já estavam na Time Square prontos para montarem o palco de trabalho. Algumas quadras dali, Demi dormia de qualquer jeito. O braço estava para fora da cama, as pernas meio cruzadas e ela não tinha acertado se cobrir durante o sono. A reunião de estratégia que tinha sido marcada às sete da manhã. Quando marcou sete horas, tudo que Demi fazia era suspirar fundo ainda dormindo. Então meia hora mais tarde o celular tocou. Era o de costume. Tocava sete, depois sete e meia, sete e trinta e cinco, sete e trinta e nove, e quando dava sete e quarente não tinha jeito, a única saída era acordar. Mas quando o celular tocou dentro da bolsa, não era o despertador. E sonolenta Demi buscou pela bolsa e desligou o celular sem saber que quem ligava era Marcus. Então ela voltou a dormir, quando o celular tocou novamente, ela percebeu que a música era diferente. Não era o despertador e ela franziu o cenho ao ver o Número Desconhecido na tela do celular, porém atendeu a ligação com um sonolento Alô.

   - Bom dia. Lovato, onde você está? – De quem era mesmo aquela voz? Demi franziu o cenho, adentrou o cabelo com os dedos constando que os fios estavam uma bagunça e só segundos depois ela conseguiu processar de que era Marcus.

   - Estou em casa. – Murmurou e daí se lembrou da reunião marcada às sete. – Eu chego em vinte minutos! – Quando Marcus começou a falar a ligação foi interrompida porque o celular tinha desligado. Tinha como ser pior? Era o chefe dela!

Não dava para ficar lamentando uma situação que não tinha como reverter. A única coisa que Demi poderia fazer era agilizar para conseguir chegar o quanto antes à Gyllenhaal. E foi o que ela fez. Tomou um rápido banho que não durou cinco minutos, pegou qualquer roupa sem se atentar ao que estava vestindo, escovou os dentes, passou a mão no cabelo decidindo que o pentearia dentro do táxi que pegaria. A pressa era tanta que ela pegou uma maçã, atrapalhou-se quando foi destrancar o apartamento e não encontrou a chave, só depois de muita analisar que percebeu o que Tony tinha feito. O elevador estava andares acima, então descer de escada foi a melhor opção devido ao tempo.

Gritar Táxi! numa rua de Nova York poderia causar um caos no trânsito. E foi o que aconteceu quando Demi gritou aquela palavrinha com um pedaço de maçã na boca. Três carros amarelos tinham parado para atendê-la, e ela pediu desculpa aos outros dois taxista ao entrar no carro que estava mais a frente. Dizer o destino foi complicado, então ela engoliu um pedaço inteiro de maçã o sentindo rasga-la por dentro. O percurso foi rápido até determinado ponto, e quando o táxi estava parado Demi observou o movimento das pessoas já naquele horário da manhã e entre toda a multidão ela avistou Joseph caminhando. Ele estava voltando à pé para casa, só poderia ser! À vontade era de descer do táxi e abordá-lo, pois ela não tinha se esquecido da conversa com Laura no dia passado. Porém o táxi avançou com tudo e Joe estava longe.

O plano de pentear o cabelo e passar batom dentro do táxi tinha falhado, pois o carro chegou à Gyllenhaal quando Demi ainda comia a maçã. A pressa foi tanta que o taxista ficou com uma enorme gorjeta e Demi se xingou mentalmente porque ela teria que ir ao banco sacar mais dinheiro para se manter.

Resto da maçã na lixeira, passos largos, mão suja limpa na blusa. Por um pouco ela perdeu o elevador, e quando o adentrou estava ofegando por conta dos passos rápidos. O sapato de salto que usava era elegante, porém Demi se lembrava de que era justamente aquele par que machucava o pé. Diabos. Discretamente ela arrumou o cabelo usando os dedos como pente e quando percebeu que o elevador estava chegando a sala de reuniões, o desespero a dominou e ela buscou pelo batom mais discreto que tinha passando-o aos lábios com ajuda do espelho do elevador. Não estava ruim.

Não era como se Demi nunca tivesse participado de uma reunião de estratégia, bem pelo contrário, ela estava em todas e sempre ouvia tudo atentamente ajudando os colegas a estudar o atual mercado para conseguir encaixar a Gyllenhaal no topo. Então porque ela estava nervosa? A barriga com uma estranha sensação e a breve tontura foi motivo para se apoiar a parede e respirar fundo repetindo com ela mesma que estava tudo bem.

A ideia de empresas do porte da Gyllenhaal era que tudo deveria ser clean e sofisticado. As duas atribuições caracterizavam o aspecto físico dos departamentos do prédio com tudo em perfeita ordem, nada exagerado e nem muito colorido. As cores que predominavam pairavam entre o branco, tons de cinza, azul metálico e preto. Tudo muito elegante e caro. A sala onde aconteceria a reunião era isolada por paredes de vidro e como era em um dos últimos andares, a vista panorâmica de Nova York era de tirar o fôlego.

   - Bom dia. – Não core, não core. Por que tantas pessoas olhavam para ela? Demi não retribuiu os olhares que literalmente a seguiam como se ela fosse anormal. A vergonha foi tanta e o silêncio absoluto quando ela murmurou um: desculpem o atraso.

   - Então, como nós podemos ver... – Disse Marcus. Ele apresentava slides e tinha interrompido a fala apenas para lançar um estranho olhar a Demi primeiramente não aprovando o atraso e outro detalhe que ela estava inconsciente. O desgosto de Marcus estava claro para todos, e seguir em reunião foi uma negação.

Demi tentou opinar algumas vezes, e em todas, a quantidade de olhares que ela atraiu só ajudou a ficar nervosa e se complicar, porém depois de muito custo e bochechas coradas, ela conseguiu reverter a situação.

O tempo não passava, só podia ser! Foi angustiante os setenta e oito minutos que ficaram confiados um na companhia do outro, e quando a reunião acabou, foi um alivio!

   - Srta. Lovato, na minha sala antes do almoço. – Por que diabos Marcus estava tão bravo? O olhar rude e zangado a examinando. Ele não a esperou, saiu da sala sem ao menos pedir licença e Demi respirou fundo porque estava sozinha. Que começo horrível de dia! Ela só queria estar dormindo agarrada a Joe debaixo da coberta com Lucy aninhada ao peito.

Observando a cidade, Demi franziu o cenho e de tão sem graça que estava, não sabia o que pensar e como agir. Ela estava simplesmente de mente vazia e sem saber o que fazer. Então o pensamento veio: escritório. Era onde ela deveria estar até às cinco horas da tarde. Deveria ser daquele jeito se ela quisesse ter um futuro, até porque a vida não era fácil para quem nascia sem muitos recursos. Estudar era o caminho certo, porém mesmo depois de graduada, a vida continuava complicada e dando rasteiras em quem permitisse.

Ao se levantar, Demi apoiou uma mão a enorme mesa de vidro, respirou fundo e caminhou sem pressa para fora da sala, cumprimentou a secretária e adentrou o elevador. Eram tantos andares! Ela digitou o número do departamento de Design e esperou pacientemente o elevador subir para pegar passageiros que o solicitaram para depois distribuir aos pouquinhos as pessoas que estavam ali nos andares desejados por elas. E o sobe e desce foi desconfortável. Demi sentiu a mesma sensação de calor e desconforto do dia passado e quando o elevador parou no departamento de Design, ela ficou aliviada por não estar mais sujeita à sensação horrível que era estar naquele lugar fechado.

O enjoo não foi embora, Demi agilizou os passos e conforme se aproximava do escritório, a vontade de vomitar só aumentava, razão da qual ela acabou correndo para o banheiro adentrando o primeiro box livre onde vomitou até que a barriga doeu.

   - Demetria. – Nem mesmo a voz de Selena foi o suficiente para animar a Demi. Por não estar se sentindo bem, ela estava chorosa e assustada já que eram raras as vezes que ela passava por aquela situação. – Respira fundo. – Selena pediu a guiando em direção a pia e Demi o fez assustada. – Ei, está melhor? – Sel perguntou apoiando a mão ao ombro de Demi que tinha os olhos fechados se controlando para conseguir colocar tudo no devido lugar.

   - Acho que sim. – Murmurou num fio de voz segurando a mão da amiga que a abraçou de lado. – Eu vou escovar os dentes. – Disse envergonhada e Sel assentiu dando o espaço que Demi precisava.

   - Lava o rosto. – Disse e Demi o fez e buscou a toalha de rosto que carregava na bolsa. – Você quer ir para o seu escritório? – Disse fitando os olhos de Demi que negou prontamente.

   - Preciso de alguns minutos. – Murmurou recostando-se na pia e Selena assentiu respeitando a decisão.

   - Você não respondeu as minhas mensagens e nem atendeu as ligações. Eu estava preocupada. – Disse Sel quebrando o silêncio entre elas. – E que diabos de roupa é essa? Eu não queria comentar, mas você está me obrigando. – Demi franziu o cenho quando olhou para Sel e logo se olhou no espelho. As bochechas coraram que ficaram vermelhas! O sutiã preto com a estampa do batman em amarelo estava bem explícito até porque a blusa branca com estampa de rosas vermelhas era um pouco transparente. E bem, a saia marrom não combinava com nada! Vermelho, marrom, branco e sutiã de super-herói. Estava tudo explicado! Sem contar que o cabelo tinha um bolo de fios emaranhados na nuca e algumas plumas.

   - Eu.. – Demi massageou o cenho já imaginando que provavelmente ela seria despedida por aquele trágico senso de moda. Que roupa louca! – Aconteceram tantas coisas. – Disse a Selena demonstrando como ela estava cansada e desconfortável com a situação.

   - Tudo bem, nós teremos tempo para conversar. – Disse Sel colocando uma mecha do cabelo de Demi atrás da orelha. – Mas você está bem? Sem enjoos? – Foi tão absurdamente tenso o olhar que elas trocaram. Demi engoliu em seco e assentiu corada desviando focando em outra coisa. – Então vamos para o seu escritório. Eu tenho uma blusa preta na bolsa que vai amenizar essa.. O seu look. – Bem, não tinha o que fazer. Demi assentiu novamente e quando saiu do banheiro, enlaçou os dedos aos de Selena que sorriu e a abraçou brevemente de lado percebendo como a amiga estava tensa e uma pilha de nervos.

   - Sel, para onde você vai? – Perguntou Demi claramente constrangida com os olhares que recebeu ao cruzar o departamento até que tinha chegado a porta do escritório. Ela sempre se vestia muito bem para ir trabalhar, e o fato de passar correndo em direção ao banheiro também somava para mais conversas.

   - Buscar a minha bolsa. – Disse Sel.

Como não queria continuar recebendo aqueles malditos olhares, Demi destrancou o escritório e quando o adentrou deixou a porta recostada para Selena e enquanto a amiga não vinha, ela fechou as persianas que permitiam que ela pudesse ver o que acontecia no resto do departamento.

   - O Ed mandou um oi. – Disse Selena adentrando ao escritório. Demi assentiu timidamente acomodada ao sofá. Ela estava quieta e sonolenta. – Dem, que cara é essa. – Selena se sentou ao lado de Demi e para tentar animá-la, sorriu.

   - Acho que as coisas não estão boas para mim. – Comentou puxando a blusa que vestia para tirá-la por cima, e quando ela ficou apenas de sutiã, Selena a observou discretamente sem saber ao certo o que fazia. – Sel, a blusa. – Disse envergonhada e Sel assentiu um pouco desconcentrada buscando pela peça de roupa dentro da bolsa.

   - Ficou melhor. – A cor da saia não colaborava muito com as cores, mas ainda sim a blusa de cor preta tinha ficado melhor que a florada. – Posso pentear o seu cabelo? – Perguntou e Demi assentiu buscando pelo pente na bolsa.

   - Sel, eu fiquei enjoada durante todo caminho. – Murmurou Demi completamente manhosa quando Sel adentrou uma mecha de cabelo com o pente e a penteou gentilmente. – Nunca vomitei tanto em toda minha vida. Foi desconfortável. Viajar é tão ruim. Tudo me deixou enjoada, e quando eu dormi, foi de mau jeito. Palestrar foi muito legal, mas o John estava lá.

   - O John? O seu ex? – Selena estava de olhos arregalados porque John não era sinônimo de boa coisa. Ele tinha machucado muito Demi, e vê-la sofrer era de partir o coração.

   - Ele mesmo. Mais arrogante e convencido do que posso me lembrar.. Ele queria ficar comigo, ele chegou a me abordar, mas o Tony o impediu.

   - O que você quer dizer com abordar? – Perguntou Selena de sobrancelha arqueada e Demi umedeceu os lábios.

   - Ele me levou para um corredor vazio e tentou me beijar contra minha vontade.

   - Por que diabos eles acham que podem nos dominar? – Resmungou Selena claramente irritada e Demi assentiu de cenho franzido. – Que idiota! Ele terá que ter sorte para não me encontrar, porque caso aconteça, vou ficar muito feliz em chutar as bolas dele com muita força.

   - Você não se sujará com um cara como ele. – Demi deitou a cabeça no colo da amiga e forçou um pequeno sorriso observando os traços delicados de Selena e gostando muito de sentir o cheiro leve de perfume a envolvê-la. – Obrigada por ser a melhor amiga que uma mulher poderia ter. Sem você, eu estaria completamente perdida. – Selena sorriu de orelha a orelha e abraçou Demi da melhor forma que conseguiu, o que foi engraçado devido as posições.

   - Você é uma pirralha, Demetria. Sempre foi e sempre será. – Pirraçou e Demi revirou os olhos, mas não negou. – E eu amo cuidar de você, meu anjo. – Elas sorriram cumplices e não foi nada estranho quando Selena distribuiu beijinhos no pescoço da amiga e Demi se ergueu para conseguir abraça-la como gostaria.

   - Deita, chata. – Pediu e quando Sel o fez, ela se acomodou repousando a cabeça acima dos seios.

   - Então, termina de contar.

   - Depois que o John me abordou, eu voltei para o hotel. Comecei a passar mal vomitando. Só melhorou quando dormi no carro por conta do dramin. Chegamos tarde, aliás, eu nem sei a hora e muito menos como fui parar na minha cama. Acordei com o Marcus me ligando. Eu estava tão cansada e me sentindo péssima. Vesti a primeira roupa que encontrei e acabei de colocar para fora a minha maçã de café da manhã.

   - Dem.. – O tom de Selena denunciava tudo que ela queria dizer, e Demi franziu o cenho e se ergueu. – Você está tendo relações com o Joe sem usar proteção, e está enjoada.

   - Minha menstruação foi embora não tem duas semanas e eu estou tomando o anticoncepcional.

   - Falta de menstruação não quer dizer nada. Há mulheres que continuam menstruando grávidas. E o anticoncepcional não é total certeza.

   - Selena, eu não estou grávida. – Ao pensar na possibilidade, Demi sentiu um estranho frio na barriga, as bochechas coraram e logo ficaram pálidas porque o enjoo a pegou desprevenida, e como não tinha nada para vomitar, restou apenas fazer força sentindo pontadas no pé da barriga.

   - Você está tonta? – Perguntou Sel preocupada.

   - Não tonta.. Só me sinto fraca e cansada. – Murmurou Demi um pouco ofegando se acomodando ao sofá da melhor forma que podia. – Eu não estou grávida, eu não posso estar. – Os olhos de Demi estavam marejados e Selena sentiu que o coração poderia parar a qualquer segundo devido à situação, pois ela não sabia o que dizer.

   - Dem... Se você estiver. – Ela não terminou de falar porque estava assustada e Demi engoliu em seco.

   - Se eu estiver, vou tê-lo... É só que. – Disse se ajeitando ao sofá. Os olhos marejados, a face pálida e o coração apertado no peito. – O Joe me faz querer ter uma família com ele toda vez que tocamos no assunto. É que eu não estou preparada, psicologicamente preparada.. Não agora. E eu não sei se um dia eu vou estar. – Selena assentiu envolvendo os dedos aos dela e a olhou nos olhos.

   - Nenhuma mulher nesse mundo está psicologicamente preparada para ser mãe, mesmo as que planejam. Acredito que é uma sensação surpresa, boa é claro. – Demi assentiu se sentindo mais confortável com Selena.

   - A história da minha mãe é tão triste, a minha história também. Eu só tenho medo de..

   - Ei! Agora são histórias completamente diferentes. – Disse Selena colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. – Você tem um homem que te ama e juntos vocês são tão fofos. Não pense no passado, Dem. Você tem um futuro tão lindo a caminho. E tudo vai dar certo, tenha fé! Você não é a Dianna e o Joe é muito especial. Acredite nisso. – O olhar de Selena era verdadeiro e através dele, Demi sabia que sempre poderia esperar coisas positivas da melhor amiga.

   - Eu quero muito acreditar nisso e vou tentar. – Demi forçou um sorriso e elas trocaram aquele velho olhar confidente, porém o celular de Selena começou a tocar.

   - Eu estou com ela. Um minuto. – Disse Sel ao celular logo o passando para Demi, que se atentou em ver quem era antes de atender.

   - Oi. – Disse Demi de bochechas coradas e Sel aproveitou para arquear as sobrancelhas. Era Joe quem estava ligando.

   - Eu estava preocupado! Você não atende o celular e nem responde as mensagens. Pensei que tinha acontecido alguma coisa.

  - Amor, o meu celular está descarregado. Foi tudo muito corrido de ontem para hoje. Agora com a Sel é a primeira vez que estou dando uma pausa. Eu já iria te ligar. Você está bem? Chegou que horas? – Demi deu de ombros quando Selena franziu o cenho e lançou a ela um olhar reprovador.

   - Eu estou bem e com muitas saudades de você. Não tem duas horas que cheguei. Recebi um email mais cedo de uma escola. Eles estão precisando de um professor de geometria para reforço, fiquei tão animado que acabei pegando o metrô errado e tive que descer no ponto da Time Square. Vou a escola agora pela manhã fazer a entrevista e nós podemos almoçar juntos. E você? Está tudo bem? – Joe.

   - Essa é simplesmente a melhor notícia do dia. Eu te vi caminhando. Pensei que você estava voltando do trabalho para casa à pé. Na internet tem o mapa das rotas das linhas de metrô. É bom você sempre olhar. Eu estou cansada e acho que comi alguma coisa estragada ontem, mas estou melhor. A Sel está aqui para cuidar de mim.

   - Você não está se sentindo bem? Eu estou a caminho! – Demi franziu o cenho sem saber o que dizer para Joe. Se ela contasse que estava vomitando ele iria surtar.

   - Eu estou melhor. A Selena está aqui comigo. Então está tudo bem, não se preocupa, você tem uma entrevista agora pela manhã, então foque nisso, ok? Qualquer coisa fora do comum e você saberá, meu amor.

   - Eu realmente não me importo com a entrevista. Só quero assegurar que você ficará bem.

  - Eu já estou melhor, Joe. Estou falando sério. Quero que você descanse um pouco antes de sair para entrevista. E não se esqueça de se alimentar e de cuidar da Lucy.

   - Ela está aqui me lambendo. Eu ainda sinto que preciso ir à Gyllenhaal checar como você está.

   - Estou bem amor. Por favor, descansa. No horário do almoço nós conversamos. Faça uma boa entrevista.

   - Dem..

   - Joseph, você é um amor, mas confia em mim, ok?


***

Descansar e focar na entrevista. Era o que Demi queria que ele fizesse. Porém o intervalo de tempo não permitia. Eram nove horas da manhã e dormir estava fora de cogitação já que a entrevista era às onze. Joe até tentou cochilar um pouquinho, mas sem sucesso. Ele se sentou a beirada da cama e massageou o cenho sem saber por onde poderia começar.

   - Você pode ficar aqui dormindo, ok? Só não rasgue nada e não faça xixi na cama. – Disse a Lucy quando ela se deitou a cama colada à perna dele. – E quando eu voltar, a mocinha vai tomar banho. – Ele riu com o baixo murmuro e de como a cadelinha tinha se encolhido ao ouvir a palavra banho.


 Uma entrevista de emprego exigia excelente aparência. Joe se olhou no espelho por algum tempo analisando o recente corte de cabelo e a barba que tinha passado a usar. Ele já não se via mais sem barba, mas sabia que para entrevista deveria estar mais formal. Aparar um pouco dos pelos os deixando baixinhos levou muito tempo, mas o resultado o agradou. Logo em seguida foi o banho demorado.

Quanto tempo ele não se vestia daquela forma? A camisa branca estava impecável assim como a calça e o sapato social. Ele ajustou a gravata com todo cuidado que exigia e demorou-se em pentear o cabelo no penteado clássico com um leve topete.

   - Lucy, não morde o travesseiro. – Joe franziu o cenho quando caminhava do banheiro para o closet e avistou a pequena Lucy brincando na cama e mordendo o travesseiro. – Ei, vem aqui. – Chamou-a e a cadelinha pensou que ele estava brincando. Lucy sacodiu a cabeça, balançou o rabinho e latiu fitando o dono. – Vem cá. – Chamou todo carinhoso se agachando e foi aí que Lucy correu até ele que a abraçou contra o peito. – Vamos tirar uma foto para mandar para Dem, pequena? – Ele sorriu fitando os olhos cor de mel dela e sorriu ainda mais quando Lucy o lambeu no queixo. – Eu também amo você. – Como alguém abandonava um animal tão indefeso e inocente como aquele? Joe observou a felicidade de Lucy apenas por estar nos braços dele recebendo atenção e carinho. E ele ficou satisfeito e realizado por saber que estava cuidando da cadelinha e a fazendo feliz como ela merecia ser.

Como já estava pronto, Joe focou em cuidar de Lucy no tempo que ainda tinha. Alimentou a pequena com ração e generosos pedaços de carne, trocou a água e enquanto preparava uma breve refeição, ele brincava com Lucy e tirava fotos enviando-as para Demi.

Alguns minutos mais tarde ele teve que passar a mão na camisa branca para tirar os pelos que estavam grudados. Para conseguir sair do apartamento foi uma luta já que Lucy chorou manhosa e tentou escapar algumas vezes, mas nada que não conseguisse contornar. Ele tinha enviado uma mensagem para Demi avisando que já estava saindo e perguntando onde poderia encontra-la para o almoço, porém Demi não recebia as mensagens, o que era estranho.

A localização da escola estava fora da área de conhecimento de Joe, pois não ficava em Manhattan ou no Brooklyn. O celular o guiou até certo ponto, e como estava quase na hora da entrevista, recorrer a um táxi foi a única opção.

O lugar era imenso e pelo visto tudo parecia muito rígido, porém agradável. Era impressionante a quantidade de árvores distribuídas na área principal, a grama bem cuidada e a estrutura elegante do colégio. Foi apenas necessário apresentar o documento e dizer que estava lá para seleção de vagas para que o segurança o liberasse.

Há quanto tempo Joe não pisava numa escola? Foi uma mistura de sentimentos que o fez franzir o cenho e ficar na defensiva. Na época em que estudava as coisas não eram nada fáceis. Começava por ele mesmo. Ser tímido a ponto de gaguejar nunca tinha somado, apenas o afastado dos colegas e até mesmo ser usado como referência para apelidos maldosos. A pior parte era definitivamente o relacionamento. Já a melhor era o fato dele ter aprendido o que mais gostava de fazer na escola e na faculdade. Uma coisa compensava a outra.

Observando os adolescentes, Joe sorriu um pouco nervoso quando avistou Hannah com duas das meninas que ele tinha visto algumas vezes nos jogos de futebol. Automaticamente ele se lembrou de Demi e de toda a história de Inácio e Dianna.

   - Joseph?! O que você está fazendo aqui? – Que droga! Tudo tinha sido tão rápido e no final das contas a única coisa que ele sentiu foi as bochechas corando porque Hannah tinha o beijado no rosto como forma de cumprimento. Se ele não tivesse ficado envolvido demais pensando na semelhança da menina com Demi, com certeza não teria que topar com ela no corredor.

   - Oi Hannah. – Ele disse envergonhado arrumando a alça da bolsa no ombro e então a olhou nos olhos. – Olá meninas. – Cumprimentou brevemente as outras duas garotas que olhavam para ele. – Eu vou fazer entrevista para professor de reforço de geometria. – Disse todo corado e a menina sorriu de orelha a orelha animada com a ideia.

   - Nós realmente estamos precisando de um bom professor de reforço. Você sabe onde é a diretoria? – Disse Hannah. Ele não iria negar a ajuda da menina já que a escola era realmente grande.

A diretoria ficava no segundo andar. Hannah o acompanhou no tempo que podia vez ou outra tocando em alguns assuntos aleatórios e também respeitando a timidez de Joe. Quando chegou exatamente o horário da entrevista, Joe se despediu da menina com um breve abraço e adentrou a sala. Não havia outra pessoa para disputar com ele o cargo, não que ele soubesse. Conversar com a diretora não foi ruim. A sala era bem arrumada e a mulher certamente tinha engolido um dicionário já que dizia muitas palavras intelectuais. O diálogo aos pouquinhos foi tomando forma e Joe se sentiu a vontade para expor as dificuldades que tinha enfrentado na escola e a força de vontade de aprender que tinha usado para conseguir contornar os obstáculos. Acabou que ficou combinado que ele treinaria por duas semanas dando aula de esforço em três dias da semana que já estavam definidos pelo calendário acadêmico.

Como qualquer pessoa, Joe tinha objetivos. E era pensando em realizar cada um deles que o rapaz estava tentando arrumar mais um emprego. Só com muito esforço que conseguiria comprar o sonhado carro e quem sabe um lugar para morar. Usar táxi sempre ficava um pouco caro, mas como a escola não ficava perto, Joe adentrou o primeiro carro amarelo que parou e passou o endereço da Gyllenhaal. A ansiedade para ver Demi era tanta que ele sorriu enquanto buscava o celular na bolsa. Por segurança, Joe preferiu manter o aparelho desligado, e assim que o ligou, o rapaz franziu o cenho com a quantidade de chamadas perdidas e mensagens. Tinham algumas de Laura, Derick e Ed. Estranho.. Selena tinha ligado a pouquíssimos minutos e Demi também, só que mais cedo.

   - Sel, tudo bem? – Disse Joe ao celular. Ele tinha discado o número de Selena que atendeu no primeiro toque. – Acabei de sair do colégio, o celular estava desligado, por isso não atendi.

   - Eu estou no hospital. – Disse Selena e o coração de Joe quase saiu boca a fora de tanta preocupação. – A Demi não está se sentindo bem, ela vomitou tudo que comeu agora pela manhã e estava tonta. Você pode vir para cá? A Dianna está aqui com um homem, estou sozinha. O Ed não pode vir porque teve que tomar conta do departamento.

   - É claro! Eu estou a caminho. Onde vocês estão? – De uma hora para outra ele tinha ficado nervoso e preocupado com o estado da namorada. Demi sempre pareceu muito saudável e ao contrário dele, não tinha que ficar internada ou dependente dos serviços prestados no hospital.

Quando Selena informou o endereço do hospital, Joe o emitiu no mesmo instante ao taxista e pediu que o homem fosse o mais rápido possível. Joe estava tão impaciente que batia a ponta dos dedos contra a perna que tremia de nervoso. O que diabos tinha acontecido com Demi? No fundo ele tinha vontade de dar uma senhora bronca na namorada já que ela tinha garantido que estava bem quando mais cedo ele apenas queria cuidar dela.

Levou aproximadamente vinte e cinco minutos para chegar ao destino final e a valor da corrida levou todo o dinheiro que Joe tinha na carteira, mas o que o preocupava de fato era a saúde da namorada. Na recepção ele foi informado onde ficava a sala de espera e para lá Joe caminhou às pressas até que avistou Selena sentada e próximo a ela estava Inácio com cara de poucos amigos.

  - Sel, tudo bem com a Demi? O que aconteceu? – Ele perguntou assim que Selena o abraçou e de bom grado ele retribuiu o abraço confortando a amiga.

   - Não é nada grave. – Disse Selena puxando o namorado da amiga pela mão para que ele pudesse se acomodar ao banco onde ela estava sentada. – Ela estava vomitando tudo que comia e tendo tonturas. – Joe a olhou com certa curiosidade e receio e Selena deu de ombros. – A Dianna está com ela. Quando a Demi começou a passar mal depois do café da manhã na empresa, eu a levei para casa para tomar um banho e trocar de roupa para virmos ao hospital. Ela não quis que eu te avisasse antes porque você estava na entrevista. Então na saída do prédio nós encontramos a Dianna com esse homem. – Murmurou Selena lançando um rápido olhar para Inácio que parecia apreensivo e ansioso por notícias.

   - Quem está passando as informações sobre a Dem? – Joe perguntou de cenho franzido a Selena.

   - Nós perguntamos a uma enfermeira, mas tudo que sabemos é que não é nada grave e que a Demi estava sendo atendida. – De tão tensa que tinha ficado, os ombros de Selena tinham os músculos rígidos e tensos. Ela observou Inácio se aproximar sem nem mesmo prestar atenção em Joe, e quando o homem parou próximo, ela umedeceu os lábios sem saber o que fazer. Dianna sempre a intimidou desde novinha com o descaso e implicância com a amizade com Demi. Então Selena já pensava que de Dianna não dava para esperar boa coisa, e se Edward estava junto com a mulher, ele também não deveria ser uma pessoa boa.

   - Joseph. – A voz soou grave e tensa. Joe olhou para cima e não engoliu seco para não mostrar como ele estava intimidado. Inácio estava rígido, tenso e parecia muito mal-humorado. O tamanho do homem era realmente desanimador, mas mesmo assim Joe se levantou e estendeu a mão que com muito custo foi literalmente apertada pelo pai de Demi.

   - Edward. – Disse Joe sustentando o olhar de Inácio juntando toda a coragem para não correr dali, e ele não o faria. Uma das coisas que Demi tinha o ensinado era que ele era um homem, não um garoto. E fugir de Inácio não era atitude de um homem.

   - Se você engravidou a minha filha, você é um cara morto. – O choque foi tão grande tanto para Joe quanto para Selena. Ninguém esperava que Inácio fosse curto e grosso daquela forma. E ele não parecia se importar com o fato de ter dito a verdade bruscamente como tinha feito. – O aviso está dado. – Completou claramente irritado, e com um olhar assassino, ele voltou para onde estava sentado deixando um Joe gelado e infelizmente com feições espantadas.

   - Joseph. – Selena o chamou e quando Joe a olhou, ela estava pálida e de olhos arregalados. – Eu entendi errado ou ele é o pai da Demi? – Perguntou lançando um rápido olhar a Inácio que tinha o olhar sobre Joe.

   - Ele é o pai da Dem. – Disse Joe num murmuro e o coração de Selena se agitou no peito e os pensamentos estavam confusos.

   - Nós não deveríamos chamar a polícia? – Murmurou Selena apenas para o amigo, mas os três perderam a concentração quando ouviram o barulho dos saltos de Dianna. Ela estava arrumada demais para estar num hospital, e jamais perdia a pose.

   - Joseph, bom dia. – A mulher o cumprimentou com um sorriso e Joe não retribuiu porque Inácio tinha se aproximado trazendo consigo toda aquela carga intimidante. – A Demi está bem, o médico explicou que é apenas uma virose. Ela está tomando soro na veia com medicamento e daqui a pouco poderá ir para casa. – Era tão bom saber que tudo estava bem com Demi que Joe e Selena puderem respirar fundo aliviados.

   - Eu posso vê-la? – Joe perguntou a Dianna sem se importar com Inácio e a carranca dele.

   - É claro, ela não para de perguntar sobre você. – Disse Dianna a Joe esboçando um pequeno sorriso.

   - Você vem, Sel? – Joe perguntou a Selena e ela não soube o que dizer. Todos sabiam que o paciente podia receber apenas uma visita por vez. Então Selena olhou para Inácio sem conseguir disfarçar o espanto e surpresa e assentiu voltando a olhar Joe.

   - Nós temos que contar para Demi, tipo agora! Eu só não sei como contar porque ela está doente e eu não quero prejudica-la ainda mais. – Disparou Selena a dizer caminhando ao lado de Joe que preferiu ficar calado. – Nós temos que contar Joe! Ela precisa saber. – Joe franziu o cenho e quando Selena parou de caminhar, foi inevitável não olhá-la com cara de culpa.

   - Selena.. – Ele começou a dizer e Sel assentiu negativamente.

   - Você sabia esse tempo todo e não teve coragem de contar para ela? – Selena o olhou indignada e Joe franziu o cenho sem saber o que poderia dizer. – Que tipo de namorado você é? Deus! Você tem noção de como isso é importante para Demi? Tem noção de como isso vai devasta-la?

   - Sel, eu tentei contar ontem, mas... Não contei antes porque pensei que é coisa da família dela, eu não queria me intrometer. – Ele disse baixinho porque estavam no corredor de um hospital.

   - Você faz parte da família dela, eu faço parte da família dela! Nós somos as únicas pessoas que a Demi pode contar nesse mundo! Você acha que aqueles dois se preocupam com ela? Nunca se preocuparam! Eles só sabem magoa-la e eu não vou fazer o mesmo por mais que a situação é delicada. – Selena massageou o cenho e respirou fundo tentando se controlar. Ela sempre ficaria preocupada com Demi e cuidaria da amiga da melhor forma que podia porque a amizade que elas tinham era preciosa demais para se jogar fora. – Eu não esperava isso de você.

   - Eu vou contar, só deixe-a melhorar. – Ele estava tão aflito com a forma que Selena o olhava e com medo do que aquilo poderia significar para o relacionamento com a namorada. Joe massageou o cenho e o franziu levemente. – Eu sei que errei, só que é complicado. – Disse e Selena o olhou com bastante atenção e negou com um balanço de cabeça.

   - A Demi está nos esperando. – Ela disse e saiu caminhando na frente sem espera-lo. O que ele poderia fazer? Conforme se aproximavam do quarto o medo de que Selena contasse exatamente naquele momento a verdade para Demi o deixava cada vez mais nervoso e os pensamentos iam a mil com a quantidade de coisas que ele pensava que poderia arruinar o namoro.

O coração de Joe partiu-se e a preocupação com o que tinha acontecido agora pouco sumiu quando ele a viu. A pele de Demi era clara e rosada, porém agora estava pálida meio amarelada, tonalidade típica de pessoas doentes. Os olhos demonstravam como ela estava cansada e abatida. Os lábios semelhantes ao tom da pele: pálidos. No braço esquerdo, especificamente na dobra, havia um esparadrapo e uma mangueira fina escondida por debaixo dele. Deveria ser o soro com a medicação, pensou Joe observando a namorada pela parede de vidro.

   - Selena. – Com muito custo Joe desviou a atenção da namorada para olhar para Selena que também observava Demi. – Por favor, hoje não. – Pediu sustentando o olhar de Sel que o desviou para Demi.

   - Eu não vou fazer parte dessa traição. – Deus! Ela estava indignada, como estava. Joe arregalou os olhos quando Selena se ajeitou para abrir a porta do quarto, e com sorte, o celular dela começou a tocar alto, o que fez com que Sel se apressasse para atender o aparelho já que no hospital não era permitido.

E bem, no pequeno alvoroço, eles acabaram chamando a atenção de Demi. Não teve saída, a única opção foi adentrar o quarto sobre o olhar carente e cansado da namorada.

   - Oi amor. – Disse Joe um pouco emocionado e literalmente de coração partido por ver a mulher que amava tão frágil e abatida. – Princesa, você está bem? – Ele perguntou se acomodando a poltrona ao lado da cama tendo que se esticar para que pudesse enlaçar os dedos aos de Demi.

   - Joseph, eu estou bem. – Demi forçou um sorriso ao olhá-lo. Uma coisa ela sabia: jamais ficaria doente novamente. Era horrível se sentir exausta e enjoada. – Eu senti sua falta. – Choramingou o olhando e Joe mordeu o lábio inferior e se curvou para conseguir abraçar a namorada.

   - Eu também senti a sua falta anjo, e muita! – Ele a beijou na testa e logo nos lábios arrancando um sorriso cansado de Demi. – Princesa, você está melhor? – Perguntou voltando a se acomodar a poltrona observando a quantidade soro que ainda faltava.

   - Eu só estou cansada. – Murmurou Demi tentando se ajeitar a cama e Joe se apressou para ajuda-la arrumando o travesseiro da melhor forma possível. – Eu não quero mexer o meu braço. Está doendo. – Reclamou aflita com a agulha fincada na veia. Tinha doído tanto! As veias de Demi eram finas e consequentemente difíceis de encontrar. – Eles furaram quatro vezes, é horrível e está me incomodando.

   - É só ficar quietinha que passa, bebê. – Joe sorriu para Demi e o coração disparou quando ela sorriu de volta. – Quando a Sel falou que você estava vomitando, pensei que estava grávida. – Comentou a pegando desprevenida e Demi corou a ponto de dar vida a pele pálida.

   - Nós também pensamos. – Disse envergonhada gostando da forma como Joe brincava com os dedos dela e a olhava tão intensamente.

   - Fiquei preocupado, mas.. – Ele sorriu cabisbaixo e logo a olhou nos olhos. – Eu adoraria ter um bebê com você agora. – Joe não podia dizer aquelas a olhando nos olhos e logo esboçando aquele sorriso charmoso que era capaz de mexer com o interior de uma mulher.

   - Você está tão bonito. – Disse observando como a camisa branca ficava bem no corpo forte e moreno. – Daqui alguns anos nós podemos ter o nosso bebê, combinado? – Quando ele assentiu esboçando um sorriso tímido, Demi sorriu de orelha a orelha e não soube disfarçar e nem queria, ela olhou para o namorado demonstrando como o amava e enlaçou mais os dedos aos dele. – Como foi na entrevista? – Perguntou toda carinhosa e Joe se curvou para beijá-la na bochecha.

   - Tranquilo.. – Murmurou de cenho franzido e Demi arqueou uma sobrancelha. – Eu me lembrei da época da escola, me senti um pouco sufocado com a quantidade de alunos.. Fora isso foi tudo muito bem, a diretora foi muito simpática e nós conversamos sobre a minha vida acadêmica e profissional. – Joe engoliu em seco quando bateram levemente à porta e logo adentraram o quarto. Era Selena.

   - Como você está? – Sel perguntou se aproximando de Demi sem dar muita atenção para Joe.

   - Eu estou melhor Selly. Só odeio essa agulha na minha veia. – Demi adorava ter a atenção e receber todos os cuidados da amiga. E quando Sel tocou superficialmente sobre o esparadrapo, Demi fez careta e murmurou: - Não toca, está doendo.

   - Você é a mulher de vinte e três anos mais manhosa que eu conheço. Nem os sobrinhos do Eden são assim. – Disse Selena arqueando uma sobrancelha e Demi riu. – Então, aconteceram algumas coisas na Gyllenhaal e eu tenho que ir. O Marcus ligou. – Selena franziu o cenho, arrumou a bolsa no ombro e olhou brevemente para Joe que estava cabisbaixo completamente sem jeito. – Você vai ficar bem? Posso tentar sair mais cedo para leva-la para casa. – Disse e Demi umedeceu os lábios.

   - A minha mãe disse que me levará para casa. – Disse Demi feliz porque ficaria sobre os cuidados da mãe pela primeira vez depois de bebê. – Obrigada Sel, eu não sei o que faria sem você. – Ela disse e Selena se aproximou para abraça-la.

   - Eu estou aqui para cuidar de você, ok? É o que as irmãs fazem. – Disse a olhando nos olhos e Demi assentiu emocionada. – Sempre, sempre vou cuidar de você e não deixarei que ninguém nesse mundo te machuque. – Joe franziu o cenho porque ele queria poder se defender, porém a situação era complicada demais e todos os argumentos que ele tentava usar, Selena rebatia facilmente o fazendo se sentir culpado e um péssimo namorado.

   - Eu também estou aqui para cuidar de você. – Demi sorriu fitando os olhos de Selena ainda abraçada a ela se sentindo feliz e segura por estar na companhia da melhor amiga e do namorado.

   - Hum, eu tenho que ir agora, tudo bem? – Disse Sel e Demi assentiu a olhando. – Mais tarde passo no apartamento da sua mãe para te ver. Precisamos conversar sobre algumas coisas. – Joe gelou na mesma hora e ele não soube o que fazer quando Selena o olhou brevemente.

   - Está tudo bem? – Demi perguntou olhando da amiga para o namorado e como Selena não disse nada, Joe franziu o cenho e assentiu balançando a cabeça. – Vocês estão estranhos. – A voz dela soou tão cansada que Joe murmurou baixinho um palavrão porque ele não queria que Demi passasse por aquela situação. Não tinha nada que ele poderia fazer, aliás.. Tinha como pedir socorro para Ed que poderia tentar impedir a namorada.

   - Só estamos preocupados com você. Você nos deu um susto, princesa. – Disse Joe forçando um sorriso e Demi relaxou um pouco mais.

   - É que, se não me falha a memória, você queria me contar alguma coisa importante ontem. – Disse Demi fitando os olhos de Joe. – E agora você também quer conversar, Sel. Você nunca diz que quer conversar porque nós sempre conversamos normalmente sobre tudo. Por isso eu acho que tem alguma coisa de errado acontecendo com vocês. – Ela olhou da amiga para o namorado e franziu o cenho.

   - Não tem nada de errado acontecendo entre a gente. – Disse Selena fitando os olhos de Demi que assentiu alguns segundos depois. – Só quero conversar sobre uma coisa que considero importante. Não pense nisso agora, ok? Apenas descanse para melhorar.

   - Você não pode atiçar a minha curiosidade dessa forma, Selena. – Murmurou Demi não gostando nada de quando Sel se levantou. – E ainda vai embora. – Resmungou observando a amiga buscar pelo celular na bolsa que começou a tocar. – Por que você está tão sem graça? – Perguntou a Joe que olhava para um ponto qualquer sem saber exatamente o que fazer e como reagir.

   - Eu não estou. – Disse Joe enlaçando os dedos aos de Demi. – Só estou pensando em algumas coisas. – Ele forçou um sorriso e Demi desviou o olhar do dele apenas para fitar Selena.

   - Eu estou indo, ok? Era o Marcus, então eu tenho que ir. – Sel estava tão incomodada por estar escondendo de Demi algo tão importante. Tudo que ela queria era poder falar de uma vez a verdade. – Eu amo você Dem, espero que fique bem logo.  Até mais tarde. – Elas se abraçaram e sussurraram palavras que Joe não conseguiu ouvir. Selena beijou a testa de Demi e ela a bochecha da amiga. O olhar confidente estava lá arrancando lindos sorrisos das duas amigas.

   - Obrigada Sel. Também amo você. Até mais tarde. – Selena não se despediu de Joe com o típico abraço, nem mesmo sorriu. Murmurou um tchau e ajeitou a bolsa no ombro saindo do quarto sem olhar para trás. – O que aconteceu com ela? – Demi perguntou a Joseph intrigada com a maneira que Selena estava se comportando.

   - É melhor você descansar. – Disse Joe sem saber o que deveria dizer e foi aí que Demi franziu o cenho não gostando nada do que estava acontecendo.

   - Eu só estou preocupada. Não gosto de quando a Sel se comporta desse jeito. – Ela queria insistir em sondar o que estava acontecendo com Joe e Selena, mas o cansaço era absurdo. O corpo simplesmente pedia por repouso e paz de espírito. 

   - Agora você só tem que descansar, ok? Logo o soro acabará e nós vamos cuidar de você em casa. – Joe cobriu a mão dela com a mão livre e sorriu fraco quando Demi fechou os olhos e respirou fundo.

   - Joe, eu conversei com a sua tia. – A voz soou baixa e fraca minutos mais tarde quebrando o silêncio do quarto, e Joe que começava a cochilar olhou para namorada e bocejou porque ele estava cansado, preocupado e com medo do que poderia acontecer quando Selena contasse a Demi a verdade sobre Edward.

   - A tia Laura? – Perguntou a acariciando na mão e no braço e Demi assentiu se virando de forma que a agulha não a machucava para poder dar mais atenção a Joe.

   - Por que você não me contou que as tonturas e os desmaios eram frequentes no Texas? – Perguntou sustentando o olhar dele que brevemente o desviou.

   - Isso não era importante. Eu não estou ficando mais tonto. E os desmaios não eram tão frequentes. – Ele murmurou receoso.

    - Nós estamos falando da sua saúde. É claro que é importante. Desmaiar mais de uma vez durante um ano não é normal. A sua tia disse que você desmaiou três vezes durante dois meses. E quando você chegou aqui, você desmaiou duas vezes, sem contar as tonturas. Nós temos que procurar um médico com urgência.

   - Dem.. Eu estou bem. – Ele insistiu e Demi franziu o cenho não concordando.

   - Eu não quero te perder, Joseph. – Por minutos eles seguiram em silêncio apenas trocando olhares e perdidos em pensamentos aleatórios. Alguns deles era sobre o futuro e o presente. Demi estava preocupada com o estado de saúde de Joe e ele com a reação dela quando soubesse sobre o pai.

   - Você não vai. – Disse Joe tirando os óculos de grau para que pudesse se curvar e dar um beijo demorado e delicado nos lábios da amada. – Agora descansa meu anjo. – Pediu e como Demi já não aguentava mais lutar contra o sono, ela assentiu cedendo.

À tarde pareceu se arrastar. E de tão longa, foi difícil para Joe encontrar alguma coisa para entretê-lo, pois Demi tinha adormecido. Restou seguir o mesmo, ele pensou sobre os desmaios, Inácio e Dianna que não tinham dado as caras e então recostou a cabeça na beirada da cama onde o colchão podia abriga-lo e adormeceu sentado de mau jeito e ainda com os dedos enlaçados aos da namorada.

   - Joseph? – Era mais tarde. Demi sorriu enlaçando os dedos ao cabelo escuro de Joe para acaricia-lo. Ela tinha saudade de dormir com aquele homem. E mesmo que eles tinham dormido juntos naquela tarde ela numa cama de hospital e Joe na cadeira, tinha sido gratificante. – Amor, acorda. – Disse quase que cantarolando e então sorriu para Dianna que a observava da porta do quarto. – Ei gatinho, acorda. – Sussurrou e sorriu quando Joe murmurou alguma coisa e aos pouquinhos mostrou os lindos olhos verdes e um pequeno e sonolento sorriso.

   - Princesa. – O apelido e o beijo que Joe depositou na bochecha a fez sorrir de orelha a orelha e corar muito por saber que a mãe estava vendo. – Eu dormi muito? – Ele perguntou se espreguiçando mostrando como os músculos eram bonitos mesmo por debaixo da camisa social.

   - Eu tive que pedir a enfermeira para não te acordar. – Disse Demi claramente mais animada e melhor depois das horas de sono e do soro. – Está na hora de ir para casa amor. – Ela riu quando Joe corou bruscamente ao olhar para trás encontrando Dianna.

   - Está tudo bem querido, não vou brigar com vocês. – Agora sim as bochechas de Joe ficaram vermelhas arrancando uma risada alta de Demi que deu um jeito de abraçar o namorado e beijá-lo exageradamente na bochecha.

   - Coisa fofa! – Disse Demi esboçando aquele sorriso lindo logo em seguida e Joe murmurou todo envergonhado, mas a abraçou da forma desajeitada que conseguiu. Só era bom demais estar nos braços da mulher que ele amava.

   - Você está melhor? – Perguntou Joe e Demi assentiu tirando a coberta fina de hospital que a cobria nas pernas. – Nada de enjoo? – Tornou a perguntar e Demi assentiu se levantando.

   - Só quero ir para casa. – Quando Joe se levantou, Demi fez careta porque ele era relativamente grande em relação a ela. Então ela o abraçou e o beijou no peito se sentindo bem nos braços dele.

   - O que acha da gente cozinhar uma sopa cheia de legumes para o jantar? – Joe não soube o que dizer quando Dianna fez aquela proposta. Mas ele tinha respondê-la.

   - Sopa? – Resmungou Demi e foi impossível não rir da carinha dela.

   - Nós podemos. Fará bem para Dem comer uma sopa recheada de legumes e carne. – Disse Joe olhando brevemente para Dianna para depois para a namorada aproveitando para acariciar a bochecha dela e tocar a ponta do nariz com o indicador.

   - Não é que eu não quero comer sopa. – Disse Demi fitando os olhos da mãe quando ela se aproximou para colocar uma mexa do cabelo dela atrás da orelha. E por mais que o gesto tenha sido simples, Demi sentiu borboletas no estomago. – Eu só estou com medo de vomitar de novo. – Explicou-se envergonhada ainda agarrada a Joe que não queria soltá-la por nada.

    - Você está medicada, princesa. E nós vamos tomar todas as providências para sua melhora. – Disse Joe deslizando as pontas dos dedos nas bochechas de Demi quando ela o olhou. – O médico passou algum medicamento? – Perguntou a Dianna.

   - Para apenas para cortar o vômito e febre. – Disse Dianna colocando uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha. – Soro, capsulas para recompor a flora intestinal e vitaminas. – Joe assentiu e Demi fez careta porque não entendia muito do que se tratava.

   - Nós passamos para comprar quando estivermos indo para casa. – Comentou Joe e Dianna umedeceu os lábios um pouco envergonhada.

   - Nós já estamos providenciando.. – Disse e quando Demi a olhou com curiosidade, ela completou: - O Edward saiu para comprar. – Demi riu porque para ela, o tal de Edward estava fazendo de tudo para conquistar a mãe. Prova disso era a preocupação dele quando ela começou a passar mal.

   - Olá, boa tarde. – Quando a médica adentrou o quarto, Dianna e Joe receberam uma pequena bronca porque o quarto era exclusivo para o paciente e apenas uma visita. Porém como o caso não era grave, os dois permaneceram para ouvir as recomendações e ajudar a Demi para que pudessem ir embora.

Estava estranhamente bom andar de mãos dadas com Joe com Dianna ao lado vez ou outra investindo numa conversa. Demi estava satisfeita e gostava de ver o namorado e a mãe tentando interagir. Como ainda não estava completamente melhor, ela preferiu prender o cabelo num coque alto, vestir a camisa com estampa do símbolo da mulher maravilha que tanto gostava e jeans. Selena tinha a obrigado a levar pelo três mudas de roupas já que não sabiam a quantidade de tempo que ficariam no hospital. Quando passaram pela recepção, Dianna informou que o hospital também já tinha sido pago e eles continuaram a caminhar em direção a saída.

   - Eu vou chamar um táxi. – Disse Joe a Dianna e Demi já se preparando para buscar o celular no bolso da calça. Ele não sabia como pagaria a corrida e torcia para que aceitassem cartão de crédito.

   - Nós já temos carona Joe. – Disse Dianna e foi absurdamente desconfortável quando eles deram mais alguns passos e avistaram Inácio conversando com um homem.

   - Dem. – Joe chamou baixinho a namorada quando Dianna avançou na frente. E quando Demi o olhou, ele umedeceu os lábios. – Você quer ir com a sua mãe? Eu posso cuidar de você no meu apartamento ou se você preferir, podemos ir para o seu. – Ele não queria ter que dizer aquelas palavras a Demi, mas além da situação ser complicada, Joe também tinha medo do que Dianna poderia fazer.

   - Eu juro que adoraria ficar com você. – Ela disse observando a mãe para depois fitar os olhos de Joe. – Mas eu quero ficar com a minha mãe, pelo menos por essa noite. – O que ele poderia fazer? Demi sempre iria ceder a Dianna mesmo sabendo de todos os riscos que corria de acabar com o coração machucado.

   - Tudo bem. – Disse Joe sem conseguir disfarçar como ele estava preocupado, principalmente quando Dianna e Inácio começaram a caminhar na direção onde estavam. O que ele faria? Joe olhou dos dois adultos mais velhos para Demi e se sentiu nervoso.

   - Você está melhor? – Inácio era um pai preocupado e ele observou Demi de cima a baixo procurando por alguma coisa anormal.

   - Estou. – Disse Demi tímida porque estranhos não costumavam se preocupar. Principalmente estranhos que eram amigos de Dianna. Ela olhou para Inácio e franziu o cenho levemente pensando em como ele era gentil e protetor. Era difícil não gostar dele, pois até mesmo um sorriso de Inácio a fazia se sentir confortável e acolhida.

   - Vamos? – Disse Inácio fitando Demi e depois Joe não muito feliz por ele estar com os dedos enlaçados aos da filha. – Você não deveria estar trabalhando? – Perguntou a Joe dispensando as gentilezas e o rapaz corou.

   - Eu só entro mais tarde. – Disse tentando soar confiante e normal, porém o olhar que Inácio lançou a ele foi o suficiente para Joe querer fugir correndo o mais rápido possível.

Ninguém disse mais nada e até mesmo Demi estava intimidada. Eles caminharam para fora do hospital num clima desconfortável que só melhorou quando estavam no ambiente externo. A cidade e o movimento inacabável era o suficiente para entreter cada um deles. Demi estava tão distraída que era preciso Joe guia-la. A beleza dos arranha-céus com o pôr do sol a encantava de tal forma que Demi viu-se sorrindo para o nada fitando o céu. Ela gostou quando a leve brisa tentou desarrumar o cabelo preso e a refrescou, Demi olhou para Joe e também sorriu porque gostava de como ele estava bonito vestido socialmente e a barba bem feita.

    - Lovato, quanto tempo! – Ao ouvir a frase, o coração de Demi bateu um pouco mais rápido e ela olhou atentamente aos arredores para saber quem a abordava. Algumas pessoas tinham o costume de chama-la pelo sobrenome, mas o homem sorridente não a olhava, certamente ele nem mesmo notou que ela existia. E Edward a olhava fixamente. Demi sustentou o olhar dele durante algum tempo e depois olhou para Dianna de coração disparado. – Eu gostaria de parabeniza-lo. Anna é a minha melhor aluna e será uma excelente médica. Inácio, está tudo bem? – O homem continuava a insistir, Joe estava desesperado e Dianna massageava o cenho. Demi olhou para os três tão assustada quanto uma criança, sustentou o olhar do pai e logo olhou para mãe.

   - Nós podemos conversar depois? – Disse Inácio para o coordenador de curso da filha mais velha que se formaria daqui alguns meses no curso que tanto amava. Agora a única prioridade era Demi.

   - Dê um oi para as garotas. – Inácio apenas retribuiu o aperto de mão e quando o homem os deixou a sós ele olhou para Dianna como se perguntasse o que deveria fazer, porém ela parecia mais perdida que ele.

   - Demetria.. – A voz grossa dele soou e Inácio se aproximou da filha de olhos marejados. – Demi, querida, eu e a sua mãe iríamos contar. – Disse e Demi o olhou com tanto desespero e medo.

   - Contar o que? Não tem explicação o que você fez. – Não era para ter soado agressivo daquela forma. Demi cobriu o rosto com as mãos tentando se controlar e nem mesmo quando Joe se aproximou e a chamou, ela respondeu.

   - Não tem um mês que eu sei sobre você. – Disse Inácio tão inocentemente tentando contornar a situação sem nem mesmo saber o que estava acontecendo. – O David, o seu tio, descobriu sobre você e entrou em contato com a sua mãe que me contou tudo que aconteceu. Eu realmente sinto muito por você ter crescido sem pai, mas agora eu estou aqui para cuidar de você filha. Nós podemos recuperar o tempo que perdemos. – Quando Inácio deu um passo em direção a Demi, ela deu um para trás e fitou os olhos da mãe.

   - Cuidar de mim? Não me chama de filha. – As lágrimas rolaram que ela não percebeu. O sentimento era horrível! Toda vez que Demi olhava para o homem que a gerou, ela se lembrava de que era por causa dele que a vida tinha sido difícil para Dianna e para ela. – Você é um monstro e eu não vou deixar você machucar a minha mãe de novo. - Demi olhou para mãe assustada e pensando no porque de Dianna estar próxima do homem que a violentou. - Por favor, vá embora antes que eu chame a polícia.

   - Eu não estou entendendo o que está acontecendo. – Inácio olhou para Dianna e depois para Demi confuso.

   - Você estuprou e depois espancou a minha mãe no chão frio de um banheiro. – Ela falou tão alto que as pessoas que passavam olharam assustadas. As veias chegaram a saltar e Demi sustentou o olhar de Inácio pelo tempo que conseguiu tentando não desmoronar em lágrimas.

   - Dianna? O que está acontecendo? – A voz de Inácio foi o único som naquele estacionamento. E de repente toda atenção estava voltada para Dianna.

   - Demi. – Os lábios avermelhados pelo batom foram umedecidos e Dianna respirou fundo derramando algumas lágrimas. – Eu sinto, de verdade, muito. O seu pai nunca me machucou dessa forma. Filha, eu queria contar, mas.. – As lágrimas rolaram pelo rosto de Dianna. Demi que não acreditava no que tinha acabado de ouvir. O sentimento que crescia no peito era de pura revolta e desgosto. – Mas a cada dia que nós ficávamos juntas, eu me apaixonava um pouquinho mais por você e quando descobri que te amava, eu não queria te perder para minha mentira.

   - Eu não acredito. – Os olhos estavam carregados de lágrimas e magoa. Demi mordeu o lábio inferior e começou a chorar deixando as lágrimas rolarem livremente pelo rosto. – Já percebeu que você sempre me machuca? Por quê? O que eu fiz para merecer? – Demi limpou as lágrimas com as mãos e balançou a cabeça em negação. – Amor, me leva para casa. – Pediu ao namorado sem olhar para os pais. Joe assentiu lançando um rápido olhar para Dianna e depois Inácio que a olhava sem acreditar em toda história inventada.

   - Demi! Por favor, me dá uma chance. – Quando percebeu que Dianna não falaria nada, Inácio conseguiu alcançar Demi que já caminhava para longe e a tocou no ombro. – Eu não sabia sobre você. – Ele disse ofegando, mas Demi estava abalada demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse a mentira da mãe.

   - Outra hora, por favor. – Disse Joe e pela primeira vez o homem não o olhou com raiva, apenas assentiu e deixou a filha partir nos braços do namorado.

Por que Dianna sempre mentia? Por que ela sempre encontrava uma forma de estragar tudo? Foram horríveis as noite em claro pensando e se julgando por ser fruto de um estupro, um estupro falso! Por conta daquela maldita mentira tanta coisa ruim tinha acontecido. A vulnerabilidade tinha crescido assim como a insegurança e carência. Tudo desandou quando Dianna contou aquela maldita mentira que a fez enxergar um mundo diferente, sentir-se culpada por algo que nem mesmo era verdade e abrir mão de sonhos e vontades.

Não foi ruim o percurso que fizeram a pé até encontrar um táxi disponível. E durante todo o caminho as lágrimas de Demi rolavam sem piedade. O choro não cessou dentro do táxi e a camisa de Joe já estava molhada, porém ele não se importava. Chorar não é ruim Joseph, e às vezes nós precisamos colocar tudo pra fora através das lágrimas. É como lavar a alma, filho. Tinha sido aquela frase que Clara tinha dito a Joe anos atrás quando o menino desabou em choro ao visitar os pais no cemitério. E foi pensando no significado dela que Joe preferiu ficar calado deixando Demi chorar até que estava soluçando.

   - Nós chegamos. – Disse baixinho a namorada ao mesmo tempo em que entregava o cartão de crédito para o taxista que tentava manter a posição profissional, porém era difícil não se comover com o choro de Demi. – Obrigado. – Agradeceu ao homem que entregou o cartão com a nota e se oferecer para abrir a porta do táxi. – Dem, olha para mim. – Pediu e quando Demi o olhou, os olhos marrons dela estavam avermelhados e inchados. – Respira fundo, vamos. – Ela assentiu um pouco desnorteada e fez os exercícios de respiração junto com Joe que tinha as mãos no maxilar dela. – Vamos tomar um pouquinho de ar antes de entrar. – Demi assentiu porque sentia a cabeça latejar de tanta dor, e ficar confinada no apartamento sem poder respirar um ar puro só pioraria.

   - Top of the Rock. – Disse e Joe entendeu que ela queria ir ao observatório do outro lado da rua.

Chorar era bom, porém as consequências eram desgastantes. Começava pela dor de cabeça e mal estar. Misturado a virose só piorava. Demi se sentia péssima. Tudo estava doendo. Começava do alto da cabeça até a planta dos pés. O desconforto era tanto que quando ela viu o elevador do prédio, preferiu subir de escada.

Estar num dos arranha-céus mais altos da cidade era de tirar o fôlego. A vista de Nova York era incrível, mas Demi não se atentou a ela por muito tempo. Sentou-se ali mesmo no chão e fitou o céu por alguns minutos.

   - Ei. – Joe a chamou estendendo a mão para ela enlaçar os dedos e alguns segundos depois Demi o fez deitando a cabeça no ombro do namorado que estava sentado ao lado. – Eu sinto muito por ter que ser assim. – Disse Joe acariciando a bochecha dela e Demi nada disse. Ele não queria magoa-la, porém precisava contar que já sabia sobre Inácio a certo tempo.

   - Eu sempre a amei de todo o meu coração. – Disse Demi baixinho o pegando de surpresa. – Eles são o que eu mais amo nesse mundo, mas dias atrás eu passei a odiá-lo com tanta força por causa de uma mentira. Eu só estou cansada Joseph. Será que é muito querer ser feliz?

   - Demi. – Chamou e ela o olhou. Era de partir o coração o estado de Demi. – Eu iria te contar, tentei algumas vezes. – Ele disse e Demi franziu o cenho e se ajeitou para se levantar. – Espera! Eu acabei descobrindo sem querer. Eu não queria me meter num assunto tão delicado e que eu não sabia ao certo o que era verdade ou mentira. – Tentou se explicar, mas Demi não disse nada, apenas se aproximou da proteção do observatório para fitar a cidade. – Eu não sabia que a sua mãe estava mentindo, eu suspeitei que tinha algo de errado, mas não era nada definido.

   - Joseph, vai embora. – Pediu sem olhá-lo e Joe respirou fundo nervoso com a situação.

   - Desculpa, eu sei que não fiz certo. – Ele tentou se aproximar e estranhou quando Demi não recuou, mas também não o olhou.

   - Só vai embora, por favor. – Tornou a pedir baixinho. – Eu não quero falar com você, com a minha mãe, com... Com ele. Não quero falar com ninguém. Quero ficar sozinha, eu preciso ficar sozinha. Só vai embora, por favor. – Tinha saída? Joe a analisou. Demi não estava bem, parecia um pouco fora de si, mas ainda tinha juízo e ele sabia que ela não faria besteira.

   - Por favor, não me ignora. – Pediu e ela negou balançando a cabeça.

   - Você tem que trabalhar. Vai embora Joseph. – Não tinha jeito. Demi observava a cidade sem lágrimas nos olhos. O rosto com uma expressão vazia e os olhos carregados de mágoa e decepção.

   - Eu vou. – Ele disse e mesmo assim ela não o olhou. – Se você precisar de qualquer coisa, entre em contato. – Será que ela tinha ouvido o que ele tinha dito? – A minha intenção não era machuca-la. Nunca foi. Eu te amo Dem. – Com muita coragem Joe a puxou para os braços feliz por Demi não ter o esmurrado ou algo do tipo, mas ela também não o abraçou de volta. – Eu vou comprar os seus remédios e deixarei na porta do seu apartamento. Desculpa amor. – Ele disse fitando os olhos dela e logo a beijou na testa demoradamente. – Eu te amo.

   - Eu também te amo. – Ao menos ela murmurou aquelas palavras baixinho fazendo o coração de Joe bater mais rápido. Ele se curvou e tomou os lábios dela num leve beijo.

Quando o viu partir, Demi umedeceu os lábios e logo voltou a fitar a cidade sem olhar para trás. Ela não queria chorar, não queria sentir, porém a conturbação de sentimentos a pegou desprevenida e as lágrimas rolaram sem parar.



Continua... Oi. Tudo bem com vocês? Eu estou bem. Como estão reagindo ao novo álbum da Demi?? Eu não consigo parar de ouvir Tell me you love me, que música apaixonante! Enfim. Espero que vocês tenham gostado desse capítulo. Não sei se acertei. Tentei fazer um bom capítulo, mas sinto que tem algumas partes repetitivas demais.. Porém não sei como consertar. Então, o que vocês acham que vai acontecer de agora para frente? A Demi vai perdoar a Dianna de novo? Ela vai aceitar o pai e conviver bem com as irmãs? E o Joe? Como ficará a saúde dele? Semi? O Jake? O assassino do Jason? Comentem a opinião de vocês! Obrigada a todos pelas visualizações e incríveis comentários! Obrigada também a Brunna por me ajudar sempre a desenvolver as ideias dessa fanfic. E a Roberta também que às vezes me manda directs no ig. Beijos a todas!

5 comentários:

  1. Ainnn, é de partir o coração saber que a Demi foi pega de surpresa com essa notícia do pai e da mentira da mãe... E mais doloroso é o casal Jemi assim nesse clima. Eu acho que ela vai da um tempo da Dianna. Até pq saber mais uma mentira da Dianna não é fácil, quem sabe com um tempo ela perdoe o Inácio. O Joe vai ficar preocupadissimo tadinho, mas poderia tá livre dessa kkkk. E a Selena provavelmente vai conversar com a Demi. O jake já pode morrer se quiser! Ninguém se importa. O assassino fica o mistério kkkkk
    Bjos até a próxima em breveeee

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  2. aaaaaaaa ansiosa pro próximo

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  3. Mano MANO MANOOOOOOOOO Pq vc faz isso comigo que capítulo devastador é esse? Meu Deus a Demi deve estar se sentindo traída de todos os lados. Mas o capítulo foi perfeito, até a próxima.

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  4. Eu resolvi comentar de novo pq li as notas finais do cap dps do outro comentário.

    Sobre a Dianna é complicado pq a Demi já foi muito machucada por ela, mas acho que agr ela só queria continuar vivendo bem com a Demi. Mas foi errado.
    Sobre o Inácio, o coitado n tem culpa de nada ela deveria se dar uma chance de conhece-lo ela vai amar ter uma família grande com tantas irmãs.
    Sobre Semi eu acho que sei lá elas deveriam conversar sobre esses climas estranhos que há entre elas, elas são amigas e sabem que se rolar algo, vai atrapalhar não só os relacionamentos delas, mas a amizade tbm.
    O Jake o caminhão pode passar por cima dele, ngm vai ligar. Antes de matar o Jake pode dizer quem é o diabo desde assassino. TO AMANDO A FIC


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