Gyllenhaal Enterprise, Nova York – Estados Unidos – 6:17PM
Da janela do escritório no penúltimo andar do prédio
de quarenta pavilhões, Demi aproveitava para admirar o pôr do sol fantástico no
horizonte da cidade à praticamente 50 metros de altura do solo e quando o sol
já não brilhava mais no céu que se alternava entre o azul claro e o azul forte,
o movimento daquela rua lhe chamou a atenção. As pessoas não paravam por um
segundo apressadas para atravessar a rua, entrar em táxis ou sair com seus
carros. E os carros que saiam das garagens subterrâneas causaram o pequeno
engarrafamento que começava com o sinal vermelho onde tinha pelo menos cinco
carros amarelos um atrás do outro. Deveriam ser táxis, suspeitou Demi.
O engarrafamento seguia até a garagem do prédio da frente,
todos pareciam tão impacientes e loucos para descansar em casa depois de uma
segunda-feira quente e carregada de trabalho. Com ela não era diferente. Quando
chegou a Gyllenhaal as três e pouca da tarde, Jason a recebeu com um abraço
apertado, o que a deixou intrigada. Não por Jason ter a abraçado, aquilo era
mais que normal. O que a intrigou foi a forma como ele a tratou como um pai
preocupado e não o chefe de um império do mundo das empresas de tecnologia e
informação. Então ela deu continuidade ao projeto do comercial da empresa que
havia começado na noite passada.
Estava tão concentrada, a imaginação a mil e a
sua equipe de mulheres não a decepcionou, bem pelo contrário, Selena a ajudava
com as cores já que aquela não era bem a sua área, Linda, uma estagiária mais nova tanto no quesito idade quanto no tempo que trabalhava junto no setor deu algumas dicas de como ela poderia melhorar ainda mais os personagens e Demi
ouviu todas as outras três mulheres e acrescentou ao projeto os detalhes que fariam
daquele comercial um dos mais famosos de todo o país. O dia tinha sido
cansativo, mas muito proveitoso. Pensou respirando fundo. O que era bom, o
excesso de trabalho não a permitiu pensar nem por um segundo na bomba que
Dianna havia jogado em suas mãos na noite passada, nem mesmo a noite quente
com Jake, houve tempo para Demi pensar.
- Demi? Nossa eu
estou morta. – Demi se virou quando escutou a voz de Selena e o som que os
sapatos de salto dela faziam contra o porcelanato assim que a amiga adentrou o
escritório carregando consigo uma pilha de pastas e a bolsa grande de couro
negro debaixo do braço direito. – Vamos passar na Rocco’s para comprar cannolis,
depois passamos na minha casa, preciso de roupas para passar a noite na sua
casa. – Selena colocou as pastas sobre a mesa de Demi e caminhou até estar ao
lado da amiga. – Também está cansada? – Perguntou Selena apoiando os cotovelos
no batente da janela.
- Estou. – Demi
suspirou e forçou um sorriso para Selena. Cansada era pouco, ela pretendia
dormir cedo para ajudar o psicológico esgotado a se recuperar para o dia
seguinte.
- Ah Dem, eu
odeio te ver quieta desse jeito. – Murmurou Selena de cara feia. Se tinha algo
que estava errado, era todo aquele silêncio de Demi. Ela costumava ser tão comunicativa
que às vezes chegava a ser muito irritante.
- É só o cansaço
Sel. – Murmurou como Selena imitando a cara feia da amiga, o que as fez rir. –
Ao menos o projeto está quase pronto, quero trabalhar em outros. – Selena
assentiu sorrindo quando Demi a abraçou de lado.
- O que nós
estamos mesmo fazendo aqui? Todos já estão em casa. – Demi riu assentindo e
buscou pela bolsa em uma das divisórias da prateleira. O escritório não era
muito grande, porém nem muito pequeno. Havia a mesa de vidro onde Demi
realmente trabalhava, uma cadeira confortável e giratória, a estante carregada
de livros e todos os assessórios que eram necessários para a sobrevivência de
uma mulher, e um pequeno sofá branco e confortável onde podia
discutir os seus objetivos com os colegas de trabalho ou escutar os clientes.
- Você tem
roupas no meu apartamento. – Disse Demi trancando a porta do escritório.
- Não quer ir lá
em casa? – Perguntou Selena caminhando pelo corredor cheio de minissalas onde
trabalhava um esquadrão de mulheres e homens.
- Não é isso, eu
só estou cansada e louca para tomar um banho. – Demi chamou pelo elevador no
final do corredor e não demorou muito para o mesmo chegar. – A sua casa é
longe, são quase seis e meia da tarde. Imagina o trânsito como não deve estar. –
Desculpou-se quando a amiga a olhou franzindo o cenho. Demi adorava visitar a
casa de Selena e passar a noite conversando com os pais dela quando elas faziam
noite do pijama, e agora não queria ir a casa de Selena? Estranho.
- Você está
literalmente estranha. – Disse Selena ainda a olhando como se ela fosse um ser
de outro planeta e Demi engoliu em seco bloqueando os pensamentos das
lembranças do dia passado. O elevador ainda estava no trigésimo sétimo andar e
o silêncio entre elas marcava presença. Selena se olhava no enorme espelho e
Demi cochilava em pé cansada, mais alguns andares a baixo e a porta do elevador
se abriu para pegar passageiros do oitavo andar.
- Boa noite
meninas. – A voz suave e masculina do magnata assustou Demi que tinha os olhos
fechados, mas assim que os abriu sorriu ao ver Jason, o dono da Gyllenhaal. – O
que fazem aqui há essa hora? – Perguntou o homem elegante mais velho olhando
diretamente para os olhos de Demi, que franziu o cenho tendo a impressão de ver
olhos tão azuis como os de Jason em outra pessoa. Pareciam tão familiares..
- Tive um pequeno
problema para imprimir alguns documentos, mas já está tudo em ordem e no
escritório da Srta. Lovato. – Disse Selena apontando para a amiga. – Vou tomar
conta dessa criança essa noite. – Brincou e Jason riu fitando admirado as duas
amigas.
- Nós ficamos
preocupados! – Disse Jason lançando a Demi um olhar preocupado. – Não nos deixe
sem noticiais como aconteceu hoje. – Demi assentiu um pouco envergonhada e
engoliu em seco. Não tinha sido uma opção deixar que aquilo acontecesse, só
estava cansada psicologicamente e a noite com Jake não aliviou o cansaço, bem
pelo contrário.
- Obrigada por
se preocupar, não acontecerá novamente. – Quando o elevador pousou no hall do
prédio, Jason se despediu com um beijo na testa de Selena e de Demi e cada um
seguiu o seu caminho. – Prometa que não vai demorar na Rocco’s. – Resmungou
Demi assim que fechou a porta do carona e Selena deu partida no carro.
- Quem sempre
fica indecisa é você. – Disse sem olhá-la e Demi revirou os olhos fivelando o
cinto de segurança.
- Até parece que
você também não fica indecisa. – Retrucou arrumando a bolsa no colo relaxando o
corpo no banco do carro.
- Eu sempre me
resolvo primeiro, você fica enrolando e até a composição dos alimentos você lê.
– Resmungou Selena e Demi revirou os olhos mais uma vez.
- Lógico, não
quero correr risco de vida ou sei lá, nunca se sabe o que pode ter num
delicioso cannoli. – Selena aproveitou o sinal vermelho para lançar um olhar
incrédulo a Demi. – Só não enrola Sel, quero ir para casa descansar. –
Descansando a cabeça no vidro da janela do carro, Demi sentiu o celular vibrar
dentro da bolsa e não demorou nada para que ele estivesse em suas mãos.
“Está
anoitecendo e a nossa noite maravilhosa não saí da minha da minha cabeça,
aliás, nem você e nem ela. Nosso encontro ainda está de pé? Espero encontrá-la
o mais breve possível, sinto saudade do seu beijo e dos seus olhos marrons. Adoraria
acordar por muitas manhãs ao seu lado, receber um beijo como o que você me deu
assim que acordou linda, manhosa e preguiçosa e desfrutar dos seus dotes
culinários. Tenha uma excelente noite Demi. Jake.”.
Demi mordeu o lábio inferior, mas não conseguiu conter o
sorriso que insistiu em nascer nos seus lábios. Encontro! Existiam tantas
palavras que poderiam substituir aquela.. Encontro! Encontro na cabeça de uma
mulher era uma palavra perigosa e a chave fundamental para um futuro
relacionamento. Então porque Jake a usou? Ele tinha sido gentil e fofo? Pelo
que a mensagem deixava claro, ele queria encontrá-la não só uma vez. O coração bateu
forte cogitando a possibilidade. Será?
- Nome,
endereço, idade, profissão. – Selena a assustou, mas ela riu ainda não
acreditando que Jake havia mandado uma mensagem como aquela.
- Não me lembro
exatamente do endereço, mas não é muito longe do meu apartamento. Vinte e oito anos.
Hum.. Eu não sei com o que ele trabalha, mas ele está de férias e quer muito me
encontrar. – Selena franziu o cenho, desviou os olhos por uma fração de
segundos da rua a sua frente para fitar Demi que relia a mensagem.
- Vocês.. Hum..
Transaram? – Perguntou mesmo sabendo a resposta.
- Selena! – Demi
automaticamente corou e sorriu sem graça fitando a tela do celular ainda na
mensagem de Jake pensando no que ela poderia escrever. – Jake. Ele é bonito,
engraçado e muito inteligente. – Comentou se lembrando da conversa animada com
Jake no pub barulhento. Tinha sido tão engraçado um cochichando no ouvido do
outro frases bobas e sem muito sentido. – E sim, a gente transou.. A noite foi
muito quente! – As duas riram quando trocaram olhares mal intencionados.
- Muito quente?
– Selena perguntou quando estacionou o carro na primeira vaga da rua da Rocco’s.
- Muito quente.
– As delicias da Rocco’s eram de deixar qualquer ser humano com água na boca.
Tudo era tão caprichado e Selena e Demi já tinham comprovado que cada um
daqueles alimentos era um sonho de sabor. Uma verdadeira tentação, na verdade.
Comprar apenas os cannolis foi um obstáculo para as duas amigas que desejavam
levar também um belo pedaço de cada bolo de encher os olhos, as rosquinhas, os
biscoitos que tinham acabado de sair do forno que cheiravam absurdamente bem e
as outras delicias que enfeitavam o balcão. – Toda vez que nós saímos daqui, eu
me sinto pelo menos dez quilos mais pesada. – Comentou Demi se abanando e
suspirando por várias vezes.
- Eu pensei que
era só comigo. – Selena gargalhou quando a amiga mordeu o lábio inferior quando
elas adentraram o carro. – Eu sei! Eles são tão gatos. – Disse concluindo a
linha de raciocínio de Demi. Elas não iam a Rocco’s praticamente todos os dias
depois do trabalho só porque o lugar vendia as melhores deliciais da cidade. Os
irmãos Rocco, ah! Um era o padeiro sexy de olhos castanhos, cabelos negros e o
rapaz era muito alto e forte. Esse era o mais velho e ele se chamava Mike Rocco.
Já o mais novo, Johnny, era da mesma estatura do irmão e forte, tinha olhos
castanho claros, um sorriso meigo e uma bunda tão redonda que toda mulher
gostaria de apertar.
- Ah Sel! Eles
são tão gostosos, eu juro que se eu pudesse escolher entre o Mike e o Johnny,
eu ficaria com os dois. – Selena tornou a gargalhar e assentiu. Não havia como
escolher um daqueles dois. – Eles ainda sabem cozinhar! Não tem como ter algum
defeito. – Murmurou pensativa.
- Só se.. –
Indagou Selena e as duas riram. – E eu pensei que você estava com o Jake, Lovato. Deixa de ser egoísta! – Demi
revirou os olhos e mostrou língua para a amiga.
- Tamanho não é
documento, e eu poderia ficar com os três. O Jake também não fica para trás. –
A conversa seguiu animada entre risadas moderadas e gargalhadas exageradas.
Aquela era simplesmente uma das melhores partes de ser amiga de Selena, ela a
fazia se esquecer dos problemas sempre com um sorriso na face e com muito bom
humor. E naquela curta viagem ao apartamento de Demi não foi diferente, o que
era bom já que a lembrança que queria vir à tona não a perturbou por momento
algum.
(...)
A lua brilhava no céu escuro e estrelado, no interior do
apartamento de Demi, as luzes estavam apagadas e na sala o silêncio entre as
duas amigas era absoluto. Por mais cansada que Demi estivesse, a ideia de
assistir algum filme qualquer na TV a animou, e Selena adorou quando a amiga
apareceu na sala com uma bacia cheinha de pipoca, dois hambúrgueres, os
cannolis e suco natural.
- Dem? – Selena
chamou quando o filme acabou e como sempre acontecia quando assistia a um filme
de terror, Selena estava morrendo de medo.
- O que foi Sel?
– Perguntou Demi lançando um rápido olhar a amiga enquanto recolhia os copos,
pratos e a bacia de pipoca. – Vampiros não existem. – Disse a Selena quando
percebeu que a amiga a seguia apressadamente até a cozinha.
- Você sabe que
eu sou paranoica. – Selena automaticamente buscou pela toalha para secar a
louça quando Demi começou a lavá-la.
- Eu sei que é.
– Demi lavou e Selena secou, tudo feito em silêncio.
- Dem? – Selena
tornou a chamá-la se sentindo terrivelmente desconfortável com o comportamento
diferente da amiga. – Eu estou preocupada com você. – Disse de cenho franzido e
o coração apertou no peito no momento em que Demi a olhou como uma menina
assustada e desviou o olhar para um ponto qualquer não podendo suportar toda a
dor acumulada em seu peito que ela insistia em ignorar. – O que ela fez? – Os
olhos castanhos de Demi se arregalaram e as lágrimas rolaram molhando o rosto
bonito e a camisa que Selena usava. – O que aquela filha da mãe fez? – Tornou
Selena a perguntar abraçando forte a amiga contra o peito. Ela simplesmente
odiava como Dianna era insensível, falsa e uma terrível mãe. Como aqueles
malditos homens sempre machucavam a sua melhor amiga. Eles não enxergavam como
Demi era especial? Como ela precisava ser amada e como ela amava a todos de
todo o coração mesmo que eles não merecessem? Quando a conheceu há muitos anos
atrás, Demi preencheu o lugar da irmã que Selena nunca teve. E ninguém iria
machucá-la, não enquanto Selena estivesse ali para protegê-la. – Meu Deus, não
chora Demi. – Pediu de coração partido.
Sem muita dificuldade Selena levou Demi aos prantos para
o quarto. Pensar em Dianna machucava o coração de Demi. E quando Selena
perguntou o que a mãe tinha feito, a noite passada veio a mente em borrões
e tudo que ela ouvia era a voz da mãe constantemente naquelas palavras que
destruía tudo o que ela era. O sentimento era tão forte e doloroso. Nunca teria
o amor de Dianna e do homem que a gerou da pior forma que um homem pode agredir
uma mulher. Ela sempre seria aquela garotinha sozinha e sem afeto.
- O seu porteiro
me contou que ela esteve aqui ontem. – Disse Selena acariciando os cabelos da
amiga que tinha a cabeça apoiada em seu colo e quando Demi, que já não chorava
mais como há uma hora, a agarrou assustada e de olhos arregalados, Selena
comprovou a teoria de que Dianna tinha aprontado alguma coisa grave demais. – Você
está parecendo uma criança assustada. – Comentou puxando o cobertor para cobri-las da melhor forma que podia. – Não guarde tudo para si mesma, não
fará bem. – Demi fechou os olhos respirando fundo por diversas vezes, segurou a
mão de Selena e tornou a desabar em choro quando abriu os olhos e fitou os de
Selena. Era tão duro e sufocante. Jamais tinha imaginado em toda a vida que
o pai, o homem que nem mesmo conhecia, mas que nutria amor, era um monstro
que destruiu a vida de Dianna e que agora, mesmo adulta, a traumatizou
severamente.
- Sel. – O
apelido carinhoso saiu por seus lábios num sussurro. Selena derramou as suas
primeiras lágrimas sentindo o coração apertado por saber que a amiga sofria e a
abraçou confortando-a.
- Odeio quando
você chora assim. – Disse de cenho franzido lutando contra as lágrimas
teimosas. – Está melhor? – Perguntou quinze minutos mais tarde e Demi não disse
nada, estava devastada por dentro e Selena não podia fazer nada.
- Eu.. – Começou
a dizer escondendo o rosto com as mãos. – A minha mãe.. A minha mãe esteve aqui
ontem. – Demi respirou fundo, apertou as pálpebras e tentou organizar os
pensamentos sem muito sucesso. – Ela queria que eu me encontrasse com um dos
clientes dela, nós discutimos e.. – Uma lágrima solitária rolou pelo rosto de
Demi e aquele velho aperto que a incomodava desde o dia passado veio com tanta força
envolvendo o seu coração que Demi pensou que morreria naquele mesmo instante. –
Ela disse que deveria ter interrompido a gravidez enquanto ainda era tempo. –
Os olhos de Selena se arregalaram de pavor e os de Demi tornavam a derramar
lágrimas grossas e incontroláveis. – Eu.. Eu disse que ele não permitiria,
mas.. mas.. Ele a estuprou. Eu sou fruto de um estupro. – Selena a abraçou
forte contra o peito completamente assustada. Tinha que ser mais uma das
mentiras de Dianna, não era possível... Admitir em alto e bom som foi ainda
pior, Demi se deixou ser abraçada por Selena enquanto chorava silenciosamente
se sentindo como um nada.
- Eu aposto que
ela está mentindo. – Disse Selena a beijando na testa. Uma vez Dianna havia
mentido sobre o pai de Demi para tentar convencê-la a se encontrar com homens
que estavam “apaixonados” pela filha, mas não era mais que uma mentira suja, o
que não demorou muito para Demi descobrir e novamente ficar no escuro a respeito
do pai.
- Não está. – Disse
Demi limpando as próprias lágrimas que rolavam pelo rosto. – O jeito que ela me
olhou e disse que.. que ele a estuprou e a espancou no chão frio de um banheiro.
Eu nunca a vi com tanto ódio nos olhos, ela parecia tão quebrada e vulnerável. –
Quando se ergueu recostando as costas na cabeceira da cama, Demi gemeu de dor.
A cabeça estava pesada e o corpo reclamava de cansaço.
- Você bebeu e
passou a noite com o Jake para esquecê-la, não foi? – Demi assentiu abraçando
os joelhos com os braços fitando um ponto qualquer do seu cobertor. Estava tão
envolvida naquela história e com a cabeça a ponto de explodir que acabou não
respondendo a mensagem de Jake.
- Eu me sinto
doente. – Disse se abraçando com mais força. – Agora eu entendo porque ela
nunca me deu carinho, porque ela preferiu passar mais tempo fora de casa a
minha companhia. O jeito que a vovó me olhava e me tratava como se eu fosse um
grande problema. – As lembranças das noites sozinhas encolhida na cama ainda
quando era pequena, as reuniões de pais e professores que Dianna sempre
faltava, os aniversários que passaram em branco, a confusão que ficava a mente
da pequena Demi ao encontrar um homem diferente em casa a cada dois dias e
quando questionava a mãe se aquele era o seu pai, dormia assustada com a bronca
que ganhava da avó ou com o rosto dolorido dos tapas que ganhava da mãe. – Seria
tão melhor se ela tivesse acabado com isso enquanto ainda tinha tempo.. Ninguém
sofreria, seria apenas uma lembrança ruim, eu não seria um fardo pesado na vida
dela e não me sentiria como um lixo. – Selena engoliu em seco completamente em
estado de choque, abraçou a amiga de lado rezando para que aquela história
fosse apenas um pesadelo.
- Não diga
bobagens. – Disse secando a lágrima que rolava pelo rosto de Demi. – Se você
está aqui é porque Deus tem um propósito, não se culpe Dem. Ninguém nesse
planeta tem o direito de te tirar a vida ou te culpar só porque as coisas não
aconteceram como deveriam. Você é uma mulher incrível com um coração tão
grande, não um fardo pesado. Ninguém é. – Demi fitou os olhos de Selena
carregados de amor e tanta bondade. Sabia que Sel estava certa, mas doía tanto,
era tudo confuso e embaraçoso.
- Do que
adianta? Eu não fui desejada e muito menos amada durante todos esses anos, eu
destruí a vida dela. Isso me machuca tanto, eu a amo Selena. Sei que ela nunca
gostou muito de mim ou sei lá, mas eu tinha esperanças que fosse apenas o jeito
dela, que chegando ao fundo do poço ela me amasse como uma mãe ama a filha, mas
como ela pode me amar? Ela era só uma menina de dezessete anos quando ele a.. a
machucou. Dezessete anos. – Repetiu imaginando Dianna uma jovem bonita e
assustada carregando no ventre um bebê que não desejava. – Todos os sonhos dela
foram destruídos, a adolescência roubada por um monstro e um bebê.
- Você não tem
culpa. – Abraçando-a contra o peito, Selena deixou que Demi chorasse em seu
colo por toda a noite até que a amiga finalmente adormeceu cansada.
Continua... Oi! Estou passando aqui rapidinho só para postar para vocês. Obrigada pelos comentários do capítulo passado, vou respondê-los no próximo capítulo. ps. Gente! O Joe já vai aparecer, só tenham calma.. essa parte da história com o Jake é muito importante, beijos!