15.2.18

Capítulo 5

Suspiros. Dar um tempo. Suspiros. Dar um tempo. Era naquele ponto onde eles realmente tinham chegado? Demi não conseguia raciocinar direito, a frase “Dar um tempo” ecoava na mente desde que Selena a acolheu nos braços e a levou para dentro de casa onde estava quente e confortável. Simplesmente tinha sido a maior briga que ela poderia se lembrar. E com apenas uma briga, o coração estava em pedaços! Doía horrores e Demi sentia que o “dar um tempo” poderia realmente ser algo mais grave e sério.

   - Ei, por favor, não chora. – Não era a melhor forma de consolar do mundo, porém Selena já não sabia mais o que poderia fazer com Demi. Chorar era normal, mas não era a pior situação do mundo. E Demi já o fazia há tempo demais, os olhos até avermelhados e inchados estavam. – Ei, Dem, não. – Quando Selena pensava que Demi estava ficando bem porque o choro diminuía, os suspiros aumentavam...

   - Vamos? – A situação com Inácio estava o incomodando e não seria legal seguir a noite daquela forma. – Demi, nós precisamos conversar. – A frase era clássica e a mais temida entre os casais: nós precisamos conversar. Nunca acabava bem, e quando Demi a ouviu, foi um choque de tensão e nervoso!

   - Tudo bem. – A voz que escapou por entre os lábios soou tremula e sem confiança. A mecha do cabelo castanho foi posta atrás da orelha e o coração estava disparada no peito.

O silêncio não foi nada cômodo, e pelo que ambos se recordavam, o mais constrangedor e desconfortável entre eles. Até mesmo fitar os dedos envolvia mais que começar uma conversa. Foram quase quinze minutos de total silêncio, e ambos já estavam sufocados.

   - Esqueci o meu notebook no meu apartamento hoje à tarde. – Quem era aquele homem? O coração de Demi bateu mais rápido porque Joe nunca tinha usado aquele tom. Não era ofensivo, agressivo ou algo semelhante. Só era absurdamente sério, firme e másculo. – Eu precisava dele para trabalhar. – Joe umedeceu os lábios e quando olhou para Demi, encontrou-a cabisbaixa. – Quando eu estava saindo, dei de cara com o seu pai. – Foi a primeira vez que ela teve coragem para olha-lo mais tensa que antes e com medo do que a revelação poderia significar. – Eu juro para você que eu tentei! Até me culpei pensando que eu estava exagerando ou que a minha timidez era o problema, mas quando fui ameaçado, percebi que eu não sou o problema. O seu pai bateu à porta do meu apartamento, mal me cumprimentou e disse que iria me quebrar em dois se eu levasse você e a Anna para qualquer lugar com o Rick. Qual o problema dele? Não tem seis meses que vocês se conhecem e ele age como se fosse o seu dono! – Joe tinha perdido a paciência porque para ele, a situação estava absurda.

   - Eu sinto muito, Joe! Mas você tem que entender. – Murmurou Demi sem jeito. – Ele não está agindo como se fosse o meu dono, isso é grosseiro. O que ele está tentando fazer é me ajudar de alguma forma, ele está cuidando de mim como ele faz com as garotas.

   - Eu não tenho que entender. Eu poderia ter desmaiado ou algo do tipo. Fiquei tão nervoso e em choque com a situação que precisei descansar por alguns minutos. Se não fosse a Lucy para me acalmar, eu não sei o que teria acontecido. Se você quer defendê-lo, quem sou eu para te julgar? Só acho que as coisas não funcionam assim e não aceito ser maltratado dessa forma. O que eu fiz de errado? Sempre respeitei você e faço o mesmo com as garotas. Já deixei claro que as minhas intenções com você são as melhores e elas são verdadeiras, o que mais eu tenho que fazer? Alugar um prédio caro? Comprar um carro? Arrumar um emprego que o agrade? Ficar rindo e concordando com tudo que ele fala?

   - Você poderia tentar ser mais simpático, ele não vai te agredir. – Murmurou Demi fitando os vidros já embaçados.

   - Ele deveria tentar entender que eu sou assim e deveria me respeitar. Ninguém tem o direito de sair por aí tentando mudar a forma que as pessoas são, é para isso que existe o respeito e a compreensão. – Disse um pouco nervoso. – E ele não vai me agredir? Céus, eu já fui até ameaçado. – O sorriso irônico foi o motivo para Demi murmurar um palavrão com raiva.

   - Você deveria compreende-lo! Eu contei sobre o namoro de Bella para você, isso não justifica a situação? É super normal um pai querer proteger a filha, ele não te conhece direito Joe, é só receio. Nós não precisamos discutir por isso.

   - E nós vamos fazer como? Não tem uma semana que nós o conhecemos e nem por isso eu estou sendo um sem educação, grosso e ignorante. Não vou ser humilhado, eu não mereço isso, ok? O que eu fiz de errado? Decidi que não vou passar vergonha e situações desconfortáveis por causa do seu pai. Você fala com ele ou eu.. eu.. eu.. – Ele estava indo tão bem, e gaguejar não estava nos planos! Joe piscou algumas vezes sem saber o que deveria falar e engoliu em seco.

   - Você o que? – Ela não queria saber o que ele iria fazer, mas de tão nervosa que estava, não perdeu a postura nem mesmo quando o coração bateu mais rápido. – Você deveria ter vergonha de me colocar contra o meu pai. Você não entende que ele é importante para mim? Eu pensei que ele era um cara ruim, mas ele é uma das melhores pessoas que eu já conheci depois de anos! Eu não vou ficar longe dele.

   - Eu não estou te colocando contra o seu pai! – Joe franziu o cenho e cobriu o rosto com as mãos cansado. – Se você for parar para pensar, parece que é ele quem está nos manipulando sempre tentando me colocar pra baixo na sua frente para você terminar comigo.

***
 
   - O gato comeu a sua língua? – Não tinha mais graça jogar a bolinha de tênis para Ed, aliás, nunca teve graça, porém era melhor distrair a mente a pensar em Demi. – Cara, brigas acontecem o tempo todo entre casais, mesmo os unidos, é normal. Vocês vão superar com o melhor sexo de toda a sua vida. – Joe não sorriu e nem demonstrou bons sentimentos. Franziu o cenho e respirou fundo pensando na briga com Demi.

   - Eu não estou te colocando contra o seu pai! – Joe franziu o cenho e cobriu o rosto com as mãos cansado. – Se você for parar para pensar, parece que é ele quem está nos manipulando sempre tentando me colocar pra baixo na sua frente para você terminar comigo.

   - Sabe de uma coisa? Você é tão imaturo e inexperiente, é por isso que as coisas estão assim. Se você soubesse onde está se metendo, saberia que não precisa ter medo do meu pai, é só colocar a droga de um sorriso no rosto, conversar sem ficar gaguejando e largar essa vergonha estúpida de lado! Esse seu jeito de menino inocente não vai te levar a lugar algum! Cresce Joseph, o mundo precisa de homens de atitude. – As palavras dela foram o suficiente para Joe franzir o cenho completamente magoado, e no mesmo instante que Demi ouviu o que disse, se arrependeu.

   - Ótimo, é muito bom ouvir essas palavras da sua boca, agora eu sei exatamente onde estou me metendo. – A voz não falhou em nenhum momento. Joe se sentia tão magoado, e não conseguia acreditar que era culpa de Demi. – Eu estou fora. – Disse com lágrimas nos olhos sem olhar para Demi. – É melhor dar um tempo para colocar a cabeça no lugar antes que... Eu estou dando um tempo, ok? – O couro do volante foi abraçado pelas mãos de Joe e ali mesmo ele descansou a cabeça deixando que as lágrimas rolassem sem que Demi as visse. Já ela não fazia questão de esconder as dela que rolavam livremente.

   - Joseph.. – Com muita coragem ela o tocou no braço e Joe se esquivou do toque. Ele estava triste por não ter o apoio que precisava, parecia que Demi o enxergava como o errado em toda a história e ainda por cima o chamava de imaturo depois de tudo que eles viveram juntos. Ela sabia como ser um homem independente era importante para ele.

   - Eu não vou voltar atrás. Eu não estou errado. Você e a Anna me enfiaram nessa situação. Se eu tenho que crescer, você também tem. Não é porque você já saiu com metade dessa cidade que significa que tem maturidade. – Ele tinha entrado num caminho sem volta. E ele sabia que tinha pegado pesado, mas não deixou de sustentar o olhar de Demi que chegava ofegar de raiva.

   - Ao menos eu assumo com muito orgulho que dormi com metade dessa cidade. E quer saber? Eu não me arrependo, eu faria tudo de novo com um sorriso no rosto! Já você? Pensa que eu não sei sobre a vagabunda da sua prima? Você é homem, Joseph! Pelo amor de Deus! Quem você queria enganar durante meses com essa falsa inocência? Está achando que eu tenho cara de idiota? Confessa logo, já perdeu a graça. – Joe cerrou os olhos e respirou fundo para não perder a paciência.

   - Não chama a minha prima de vagabunda! Você não a conhece e eu não vou permitir essa barbaridade. – Rose tinha muitos defeitos, e ela tinha o magoado muito, mas Joe jamais deixaria a menina passar por situações como aquela. – Eu não tenho nada para confessar. Se você não acredita, o problema é todo seu! Se vira.

   - Lindo você! Defende a priminha, mas quando ela acabou comigo, você não teve coragem para dizer um A! – Foi uma mistura de ciúmes e raiva, Demi gesticulou as mãos e as veias do pescoço saltaram. – Você merece aquela vadia, e quer saber? Fica com ela e com o seu maldito tempo, ok? Eu não quero mais saber de você. – Foram meses usando a aliança de namoro, e quando Demi a tirou para entrega-la para Joe, foi a primeira vez que ela a tirou.

   - Vai ser ótimo ficar com a droga do meu tempo, vou aproveitar para descansar porque eu estou cheio de ter que cuidar de uma criança mimada e egoísta! – Gritou pela janela do carro quando Demi saiu às pressas.

   - Meu namoro acabou. – Durante toda noite, Joe não disse muitas palavras, tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e cobria o rosto com as mãos.

   - Vocês não estão dando um tempo? – Ed se acomodou ao sofá ao lado de Joe se deitando de lado. Estava ficando tarde e ele estava cansado de tentar arrancar um sorriso de Joe.

   - Eu não sei! No começo era apenas um tempo, depois nós começamos a discutir e falar besteiras. Ela devolveu a aliança, então eu acho que nós terminamos. – Ele nem sabia se era verdade, e mesmo assim estava acabado de tristeza.

   - A Demi é maluca por você, foi só uma briga, vocês vão ficar bem. – Será que iriam? Joe fitou os olhos de Ed e logo desviou o olhar encontrando Lucy deitada no tapete da sala. Ela ainda estava arrumadinha com a roupa de capuz, e ao olha-la, Joe podia se lembrar de Demi mimando a cadelinha nos braços.

   - Eu não sei. Quero ir para casa o mais rápido possível, preciso esvaziar a mente dos problemas para conseguir pensar com clareza. – No Texas ele teria toda a paz que precisava para refletir sobre a situação com Demi e tomar as decisões necessárias.

   - Se você acha que é o melhor no momento, então vai. Nunca tome uma decisão de cabeça quente, principalmente uma que não pode ser desfeita. – Ed tinha razão. Se Inácio batesse mais uma vez à porta para falar desaforos, Joe não se seguraria. E se Demi defendesse o pai, ele ficaria chateado e diria muitas coisas a ela.

   - Eu sei. Eu a amo, Ed. Mas eu decidi que não quero passar por esse tipo de situação. Eu me sinto desconfortável e reprimido, não me faz bem e ela não consegue enxergar isso. – Murmurou de cenho franzido fitando um ponto qualquer.

   - Ela está envolvida com a família, Joe. Ela está curtindo toda atenção que nunca recebeu. E não importa se é algo negativo ou positivo, ela precisa dessa atenção porque ela nunca teve alguém da família que se importou com ela. Não interprete o tempo que você pediu como algo ruim, vai ajuda-la a refletir sobre a situação e organiza-la. Quando ela começar a sentir falta dos amigos e de você, a ficha vai cair que ela não pode nos deixar de lado.

   - Ela realmente precisa fazer isso. E eu vou para casa, não quero correr o risco de encontrar o pai dela por aí e ainda apanhar porque dei um tempo no meu relacionamento. – Do jeito que Inácio era, Joe não duvidava nada que ele bateria à porta pedindo por explicações, e agora que Demi estava brava, ela não o pouparia de forma alguma de uma senhora bronca.

   - Se você acha que o melhor é ir para o Texas, não duvide do seu instinto. Você tem que ser firme nas suas decisões sem dúvidas. Se não for o melhor, você vai aprender com o erro. É assim que funciona a vida, Joe. Errando e aprendendo. – Joe fitou os olhos de Ed e assentiu. Ele deveria ser mais pulso firme e decidido.

   - Eu estou preocupado com essa pequena. – Disse se referindo a Lucy que se aproximou do dono para se roçar a perna pedindo por carinho. – Quem vai cuidar dela? Ela precisa de atenção, cuidado e carinho. Não posso deixa-la sozinha, ela vai ficar com medo e triste. – Lucy sempre ficava agitada quando Joe chegava ao apartamento depois de um dia inteirinho fora, e quando ele dormia no apartamento de Demi e voltava só no dia seguinte, a cadelinha ficava mais carente de atenção e carinho que o normal.

   - Eu posso levá-la para o meu apartamento. Quando você pretende ir? – Perguntou Ed também acariciando Lucy.

   - Vou tentar trocar a minha passagem para amanhã e vender a outra. – Estava em cima da hora, mas era o que ele queria fazer. – Ela vai dar trabalho quando juntar com as crianças.

   - Acho que não. – Ed sabia que Lucy era uma bagunceira nata de quatro patas, e junto com as crianças, seria muito divertido. Claro que Selena surtaria, mas ele tinha certeza que os sobrinhos iriam amar ter um cachorro por alguns dias. – Quanto tempo você vai ficar? – Perguntou puxando Lucy para o colo.

   - Eu não sei. Uma ou duas semanas. – Ele tinha uma vida em Nova York, e não era porque tinha brigado com Demi que largaria tudo para voltar a ser o mesmo cara de seis meses atrás só porque iria para o Texas. – Eu.. – A ideia era improvável e cheia de falhas, mas Joe estava a considerando. – Eu posso leva-la de carro. – Disse e quando olhou para Ed, deu de ombros. – Ed, minha avó cuidou de mim durante toda a minha vida, mas os meus pais não me deixaram numa situação ruim... – Se ele estava considerando mexer na herança, era porque não existia mais opções que o favorecia. E ficar sem Lucy por uma semana seria horrível! – Eles deixaram uma casa no campo, terras e uma boa quantia. – Murmurou desconfortável e olhando para as próprias mãos. – Eu nunca mexi em nada e nem tenho coragem de visitar a casa dos meus pais... Sei que está tudo intacto porque a vovó manda um empregado limpar... Meu plano sempre foi viver do meu próprio trabalho, eu tenho vontade de doar tudo que eles tinham... Mas acho que eu poderia tirar uma quantia o suficiente para comprar um carro.

   - Joseph, você vai levar quase um dia e meio de carro para o Texas. É muito perigoso e você não tem experiência com estradas. – Ed franziu o cenho um pouco irritado com a decisão do amigo. – Não tem problema essa pequena ficar comigo, eu gosto muito dela e prometo que vou protegê-la como se ela fosse minha.

   - O problema é que eu vou sentir saudade. – Foi uma disputa por Lucy. Joe tentou pega-la do colo de Ed e franziu o cenho quando o amigo também franziu o dele. – Vou sentir saudade da minha cadelinha. – Resmungou olhando feio para Ed e aos pouquinhos ele conseguiu pegar Lucy que se aninhou toda nos braços dele. – Eu preciso dela comigo, já estou sem a minha gatinha e não vou aguentar ficar sem a Lucy.

   - Você é tão trouxa pela Demi. – Tinha como negar? Joe revirou os olhos e logo a tristeza o consumiu. Nem mesmo quando Lucy o lambeu no queixo e ficou em pé balançando o rabinho Joe sorriu. Ele sentia a falta de Demi e odiava estar brigado com ela.

***
   No dia seguinte...

   - Onde está a Demi? – Estar grávida não era um  absurdo. Selena ignorou o olhar do pai e concentrou toda atenção na mãe.

   - Ela está dormindo. – Disse cansada cortando uma fatia do bolo confeitado. – Por favor, não me peça para acorda-la. Ela passou a noite toda chorando. – Era impossível dormir com Demi naquele estado porque Sel estava preocupada e o choro a atrapalhava. – Eu estou morrendo de fome. – Murmurou comendo o bolo com tanta vontade e paixão. Selena até fechou os olhos enquanto saboreava e quando os abriu, franziu o cenho com os olhares que recebeu. – O que? – A boca estava cheia de bolo e Selena se sentiu um pouco envergonhada, mas voltou a comer no segundo seguinte.

   - Tudo que nós queremos que você entenda é que não estamos bravos, só estamos preocupados porque ter um bebê é uma benção, mas também é uma responsabilidade. – A mesma conversa de novo! Só que dessa vez, ninguém estava nervoso. Selena fitou os olhos da mãe e depois assentiu. – E você ainda é muito menina para ter um bebê. – O abraço foi tão reconfortante que os olhos de Selena ficaram carregados de lágrimas.

   - Eu sei, mãe. É por isso que eu preciso de vocês. – O melhor de tudo foi quando Sel teve o pai e a mãe para abraça-la. Eles simplesmente não conseguiam brigar por muito tempo. Eram uma família pequena, unida e que se amava acima de tudo.

   - Agora você vai ser mãe e vai saber como é ruim ver o seu bebê crescer num piscar de olhos. – Uma lágrima rolou pelo rosto de Selena e ela fez questão de abraçar o pai com força. Ela sabia que ele tinha ficado assustado porque ela também ficou quando descobriu que estava grávida. – Ainda quero o casamento para ontem, ouviu mocinha? – Selena assentiu ainda abraçada ao pai porque ela sentia que estava mais que pronta para dar aquela passo com Ed. – Demetria brigou com o namorado?

   - É! O pai dela é.. difícil. – Selena falou baixinho porque sabia que se Demi a ouvisse, ela ficaria sem melhor amiga por dias! – Ele é muito protetor e não gosta dos namorados das meninas. A Demi ajudou a irmã com um cara, e o Inácio acabou descobrindo... Sobrou para o Joe. – Era difícil decidir o lado que ficava, Selena entendia que Demi só queria o carinho do pai e que o entendia, mas Joe não estava errado. Estar no lugar dele era uma posição desagradável e constrangedora.

   - A Demi é apaixonada pelo rapaz, daqui a pouco eles estão bem. – Selena queria acreditar nas palavras do pai. Ed estava mantendo contato desde o dia passado e Demi não ficaria feliz quando descobrisse que Joe realmente iria para o Texas sozinho.

   - Está quase na hora do almoço. – Vinte e três anos e ela ainda era tratada como uma criança. Selena resmungou um palavrão e saiu da cozinha porque a mãe tinha tomado a outra fatia do bolo confeitado, mas também não fazia mal, o sono começou a domina-la no instante seguinte. Sel bocejou e se espreguiçou antes de subir a escada que levava para o quarto. Era o que ela mais fazia ultimamente: dormir e comer.

Na cama, havia três cobertas e o fato de ter alguém para ajudar a aquecer era ótimo. Preguiçosa, Selena fechou as cortinas para impedir que a luz do dia clareasse o quarto e se enfiou debaixo das cobertas abraçando Demi por trás para que elas pudessem dormir agarradas como sempre. Ela só não esperaava acordar a amiga.

  - Joseph? – Murmurou Demi sonolenta se virando para abraçar Selena ainda pensando que era Joe. – Amor, onde você estava? Senti a sua falta, querido. – Selena riu alto quando Demi a beijou no pescoço antes de se aninhar e até levou a mão ao bumbum para aperta-lo.

   - Eu não acredito que você aperta o bumbum do Joe. – Foi um choque de realidade! Demi se ergueu descabelada e franziu o cenho, mas logo se lembrou de tudo que tinha acontecido.

   - Ah não! – Murmurou chorosa cobrindo o rosto com as mãos e se deitou ao lado de Selena sentindo o coração voltar a doer. – Ah não, ah não! – Os olhos estavam marejados e Selena se sentiu mal por não poder fazer nada para melhorar o dia de Demi. – Eu estava jurando que era um pesadelo daqueles horríveis. – Ela se virou e abraçou Selena.

   - Dem, sem choro. – Não funcionou! Selena limpou as lágrimas da amiga e a abraçou forte contra o corpo. Era apenas uma briga e Demi já estava sofrendo antecipadamente! Ela não chorou como tinha chorado nas últimas horas nem quando terminou com André. – Me fala o motivo do choro. – Resmungou autoritária empurrando Demi para o lado. – Vamos Demetria, por que diabos você está chorando? – As mudanças de humor pegavam até mesmo Selena de jeito.

  -  Ah, Sel! – Com muita preguiça Demi se ergueu limpando as lágrimas. – Ele deu um tempo no nosso relacionamento, e para completar, eu entreguei a minha aliança para ele. Eu acho que nós terminamos. – Ao menos ela tinha conseguido falar a última frase sem que o choro a impedisse. Demi abraçou os joelhos e fez o melhor biquinho que podia. – Como eu vou ficar sem o meu bebê? – Murmurou como uma criança carente quebrando o mau humor de Selena.

   - Meu anjo, vocês não terminaram. – Selena limpou as lágrimas que voltaram a rolar no rosto da amiga e a abraçou de lado. – Tente entendê-lo. A situação com o seu pai é chata e desgastante, Dem. – Era melhor falar a verdade a ficar enrolando Demi. – Imagina só se fosse você no lugar dele? Sabia que existem mães que implicam com a namorada do filho? Imagina como deve ser chato! Ele não está sendo um covarde, ele respeitou o seu pai até onde conseguiu, mas depois de ontem, até eu concordo com o Joe. Ele não tem a liberdade para ficar à vontade perto de você, das suas irmãs e com certeza ele deve se regular o tempo todo para não fazer nada que o seu pai considera errado. É chato, desconfortável e injusto. O Joe é um bom cara. Eu, como a sua protetora e melhor amiga, devo dizer que você está jogando na lata do lixo um cara incrível. – Selena assentiu quando Demi franziu o cenho. – Escuta, Dem. Fala com o seu pai sobre o Joe, explica como ele é especial para você e como você o ama. Tenho certeza que no momento que você deixar claro como o Joe te faz bem, o seu pai vai entender a situação. Explica tudo sem vergonha, medo ou culpa. Explica como esse menino é especial, Dem. Você tem o poder de mudar toda essa situação tanto para você quanto para suas irmãs. Todas nós merecem ter a liberdade para encontrar um parceiro ou parceira.

   - Sel, eu não quero brigar com o meu pai. – Demi desviou o olhar de Selena e respirou fundo. Inácio era tudo que ela sempre quis durante anos! E perdê-lo não era uma opção. – Eu gosto tanto do meu pai e das minhas irmãs. Tudo que eu quero é poder ficar com a minha família, os meus amigos e o meu namorado. E pedir demais?

   - Não é, Dem. – Sel acariciou a bochecha de Demi aproveitando para colocar uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha. – Pensa comigo, ok? – Pediu tocando a ponta do nariz de Demi para fazê-la sorrir. – Anjinho, você tem esse comportamento de criança na maioria das vezes e de tarada em outras. – Foi a primeira risada que Selena ouviu desde o dia passado, e de tão apegada que ela era a Demi, envolveu a amiga num abraço. – Mas o que nós duas sabemos e concordamos, é que você é uma mulher. Uma mulher muito forte que lutou a vida toda para conseguir.. para conseguir. – Selena sustentou o olhar de Demi e respirou fundo. – Para conseguir se sentir amada. – Não era mentira. Demi assentiu com um aceno e sustentando o olhar de Sel. – E agora você tem muitas pessoas para amar e te amar. Dem, conversar com o seu pai sobre o Joe não vai mudar em nada na forma como ele gosta de você. Você não deve deixa-lo, desculpa a forma de dizer, mas é a verdade, acabar com o seu relacionamento só porque ele não confia em outros homens. Faça como eu disse. Converse com ele sobre o Joe, mostre a verdade para ele. Uma coisa nós duas não podemos discordar: o Inácio é um bom pai, e um bom pai sempre vai apoiar o que faz bem aos filhos. – E como sempre Selena tinha razão. Ter uma conversa séria com Inácio mudaria toda a situação.

   - Estou entrando.. – Foi apenas uma batida à porta e logo a voz de Mandy soou. As duas amigas ficaram de bochechas ruborizadas porque se lembraram de quando Mandy quase as flagrou aos beijos. – A senhorita não levantou para tomar café. – Disse a Demi. Tinha como ficar mais sem jeito?

   - Obrigada, tia Mandy. – Demi ficou toda vermelha porque a mãe de Selena tinha uma bandeja com o café da manhã em mãos! E era para ela. – Não precisava, eu já iria descer, não é Sel?

   - Precisava sim, mãe! Acredita que a barriga dela estava roncando agora mesmo? – Pra que inimigos quando existia Selena? Demi quis matar a melhor amiga ao mesmo tempo em que queria sumir do mapa de tanta vergonha que estava sentindo. – Ela ainda disse que estava esfomeada, que até comeria dois cavalos sozinha e ainda repetiria. – Selena gargalhou de como Demi estava sem jeito cabisbaixa.

   - Não dê ouvidos para essa boba. – Disse Mandy se sentando a beirada da cama para poder abraçar a filha. – Ela estava agora mesmo na cozinha devorando o bolo confeitado. Tive que salvar um pedaço para você. – Demi se sentiu melhor quando a mãe de Selena sorriu a encorajando a começar a comer. Não tinha motivo para sentir vergonha porque Mandy era a única referencia de uma verdadeira mãe que Demi conhecia. – Vamos, deite-se. – Pediu a Selena que o fez sem pestanejar gostando de ter a atenção da mãe.

   - Come logo, Dem. – Sel sorriu quando Demi a olhou com cara de poucos amigos. – Eu só estou brincando. – Ela ainda mostrou língua para Demi, e se Mandy não estivesse com elas, as duas sairiam no tapa.

   - Você é uma chata, Selly. – Chamar Sel de chata não deixaria Mandy brava, deixaria? Ao contrário do que Demi tinha pensado, o comentário melhorou o clima entre elas. Sel e Mandy riram e com muita coragem, ela começou a comer timidamente.

   - Vocês duas cresceram rápido. – Disse Mandy. Selena murmurou um “Ah não, mãe!” porque sabia que acabaria chorando sem nem mesmo ter um motivo. Mandy olhou para a filha e depois para Demi se lembrando de quando as duas eram meninas e viviam juntas na escola, depois na faculdade até que se tornaram mulheres. – Deixe-me ver o meu neto. – A frase roubou toda a atenção de Demi. Ela observou atentamente Mandy erguer o moletom de Sel deixando visível a barriga. Não era torta de chocolate e nem bolo, como Sel costumava dizer. Estava crescendo! O coração de Demi quase saiu boca a fora de tanta emoção e felicidade, e quando ela flagrou o olhar que Selena trocou com a mãe, o peito doeu de saudade de Dianna e Demi se perguntou se um dia ela teria o mesmo momento com a mãe.

   - Querida, telefone para você! – O pai de Sel não adentrou o quarto. A voz vinha do andar de baixo e quebrou o clima entre as três.

   - Vocês duas: juízo! – Era a frase que elas sempre ouviam antes de Mandy deixa-las a sós. – E você, não quero ver comida nessa bandeja. – A melhor parte para Demi era receber um beijo na testa como Sel recebia. – E não vale ajudar, Selena Marie.

   - Você é uma chata, Selena! – Resmungou Demi assim que estava sozinha com a amiga.

   - E você me ama. – Se a bandeja não estivesse ali e se Sel não estivesse grávida, seria Demi quem começaria a falsa briga. – Come logo, sua lerda. Não vou deixar você passar o dia chorando, nós vamos sair e fazer alguma coisa legal.

O toque longe do celular renovou todas as esperanças de Demi, ela até sorriu e para atender antes que o celular parasse de tocar, entregou a bandeja para Selena e descalça, correu até onde a bolsa estava. O pior de tudo era a decepção ao ver que o número não pertencia a Joe. A chamada era de um número estranho e Demi voltou para cama desanimada.

   - Demi? É a mamãe. – Era mesmo o que ela tinha acabado de escutar? Num pulo Demi se ergueu atenta e de coração acelerado.

   - Mãe? – O sorriso foi de orelha a orelha, e Selena que a observava, franziu o cenho pensando que Demi não precisava de mais um problema.

   - Sim, meu amor. Sou eu. Desculpa por não entrar em contato antes, tive problema com o meu antigo número. Está tudo bem com você? – Dianna.

   - Estou viva. Você está bem? Sinto a sua falta, quando você volta para casa? – Demi. O peito chegava a doer de saudades de Dianna. Elas tinham tantas coisas para viver juntas e Demi sentia que agora que ela sabia de toda verdade, juntas elas poderiam construir uma família como mereciam.

   - Eu estou bem. Estou numa cidade pequena poucas horas de Londres. Eu não sei quando voltarei para casa, mas estou ansiosa para te abraçar. – Do outro lado da linha, Dianna limpou as lágrimas e se permitiu sorrir e amar aquela garota.

   - Então volta logo! Eu preciso muito de você aqui comigo. – Murmurou manhosa agarrando um travesseiro.

   - Você não está bem, o que aconteceu? – Demi não esperava que a mãe fosse notar, e no decorrer da conversa, contou tudo que tinha acontecido para Dianna desde a descoberta sobre Mary a briga com Joe na noite passada.

***

O dia não estava sendo ruim, não depois da ligação de Dianna. Demi estava feliz e não conseguia esconder o sorriso, e nem deveria. Conversar com a mãe foi como tirar um enorme peso dos ombros e era o motivo para toda a felicidade que Demi sentia mesmo quando ouvia o nome de Joe. Naquela tarde a neve parecia estar duplicada em relação ao dia anterior. Demi observou o monte de gelo branco acumulando no batente da janela do estabelecimento e o balançar de uma árvore do outro lado da rua. Dezembro estava chegando, era a razão para o inverno estar mais rigoroso. A sorte era que dentro do bar rústico, ela poderia ficar livre do casaco pesado e das luvas. O lugar não estava lotado como o de costume, e Demi podia se lembrar que ali já tinha vivido muitas experiências. Foi onde ela conheceu Jake e muitos outros caras. O Café Wha?.

   - Eu não acredito que vocês também frequentam esse bar. – Bella mal tinha tocado no copo com cerveja gelada, Demi também não tinha o feito. Só Selena que já estava no segundo copo do suco natural. – Na época da faculdade, às vezes eu vinha aqui com as minhas amigas. – Segundos depois Demi a olhou e assentiu um pouco alheia. O foco era Selena que pedia hambúrgueres no balcão.

   - É um bom lugar. Não venho aqui desde que comecei a namorar. – Não era porque Demi estava feliz que ela deixaria de suspirar fundo por Joe. – O papai não reclamava? – Perguntou com certo receio por estar chamando Inácio de papai e Isabella apenas sorriu e bebericou a cerveja como quem toma chá quente.

   - Ele nunca soube. – Bella sorriu de lado e cobriu a mão de Demi com a dela quando viu a careta da irmã. Se tinha uma coisa que ela tinha aprendido desde pequena, era que existiam assuntos que Inácio não precisava ter conhecimento. – Dem, tem coisas que você deve contar e tem coisas que você jamais deve contar. – Explicou porque sabia que Demi não tinha experiência com uma figura masculina como um pai. – É assim que funciona se você quiser namorar, sair com seus amigos para um bar ou fazer qualquer outra coisa que o papai não faz desde os vinte anos.

   - Advinha! O gatinho do bar está perguntando se você tem namorado. – Selena se aproximou tão silenciosamente que o coração de Demi quase saiu pela boca de susto. E Bella franziu o cenho se perguntando se Sel estava falando mesmo com ela.

   - É sério? – Perguntou Bella e Selena assentiu. Elas não deveriam olhar ao mesmo tempo! E foi um desastre total porque chamaram a atenção do barman que sorriu. – Eu estou com o Scott. – Soou como um lamento e Demi riu da careta de Bella.

   - Nós iríamos ganhar um hambúrguer extra. – Resmungou Selena saindo para buscar os hambúrgueres.

   - Quando eu vou conhecê-lo? – Perguntou curiosa colocando uma mecha do cabelo de Bella atrás da orelha.

   - Vamos esperar o papai ficar mais calmo. É a primeira vez na história que ele fica furioso com a Anna. – Foi uma surpresa para todas quando Inácio e Anna começaram a discutir em pleno jantar na noite passada.

   - Eu acho que a culpa é toda minha. – Murmurou Demi pensando também na situação com Joe.

   - Claro que não, Dem! Relaxa! – Bella tornou a segurar a mão de Demi e a abraçou de lado. – Olha, o papai está bravo porque é a Anna. Ela é o orgulho dele porque ela nunca fez nada de errado, entende? Ela sempre seguiu todas as regras, ela e a Amber. Ele esperava o comportamento rebelde vindo da Hannah, da Megan e eu também estou inclusa na lista negra. – Havia uma lista negra? Demi franziu o cenho quando olhou para a irmã e Bella riu assentindo.

   - Me explica direito? Eu não entendo muito sobre essas coisas. – Ela estava envergonhada, mas também queria saber como funcionavam as coisas entre os pais, filhos e irmãos porque agora ela tinha aqueles vínculos.

   - Tudo bem. – Bella se acomodou ao banco e só esperou Selena se aproximar com os hambúrgueres para inclui-la a conversa.

   - Vocês estão conversando sobre o que? – Sel mal tinha colocado a bandeja sobre a mesa e já tinha o maior e mais generoso hambúrguer em mãos pronta para mordê-lo.

   - Sobre o papai. – Disse Bella e Demi ao mesmo tempo e Selena arqueou uma sobrancelha. – Posso começar? – Perguntou e Demi assentiu prontamente ansiosa. – As mais teimosas são Megan e Hannah. Hann é uma boa garota em todos os aspectos, mas quando se trata do Augusto, ela faz loucuras. Ela já fugiu de casa à noite para dormir com ele, às vezes mata aula e some em todas as oportunidades que tem. É por isso que o papai fica bravo com ela. Bem, não sei se posso dizer que Megan é uma boa garota. – O comentário foi motivo para risos. – Ela é muito inteligente e a única que tem coragem de desafiar o papai, às vezes ela dá trabalho na escola porque não são todas as pessoas que conseguem conviver com a personalidade forte e a língua afiada. Por enquanto a escola é o único problema, não em relação às notas... Mas eu tenho a impressão que ela vai dar o triplo de trabalho quando começar a se interessar por garotos. Então vem a Anna e a Amber, acho que elas têm a personalidade parecida. São obedientes, esforçadas e comportadas. Às vezes o papai fica bravo com a Amber, mas a culpa não é dela. – Bella suspirou fundo porque quando as irmãs aprontavam, Inácio ficava uma fera. – Megan sempre tenta arrasta-la para o lado sombrio da força. E às vezes Hannah também. Agora que a Anna está brava pela primeira vez na vida, as únicas que estão ilesas são: você e a Alicia.

   - E você? – Perguntou Selena nas mordidas finais do hambúrguer.

   - Eu estou namorando escondido tem meses. Lá em casa só contei para Anna porque não quero ser chantageada por Megan ou Hannah. – Bella riu assentindo. Conviver com adolescentes não era nada fácil. – Eu não brigo com o papai, às vezes acho que ele exagera e às vezes que tem razão, mas prefiro ficar na minha, sabe? Sei que tudo que ele faz é para nos proteger porque ele tem medo de alguém nos machucar como aconteceu comigo.

   - Você acha que ele vai ficar bravo se eu falar sobre o Joe? – Perguntou Demi sustentando o olhar de Bella. Ela mal tinha tocado no hambúrguer.

   - O seu caso é muito especial e diferente do nosso, mas eu acho que você deve tentar. Agora você faz parte da nossa família, mas não quer dizer que você tem que mudar a sua vida para se encaixar. Você ama o Joe, todas nós sabemos. Não o deixe ir porque o papai é muito protetor. – Bella tinha razão. Demi a abraçou de lado e se sentiu protegida nos braços da irmã. – E não fica brava, ele só nos ama muito, ok? – Será que Inácio a amava? Demorou um pouco para Demi assentir porque ouvir aquelas palavras tinha desencadeado uma série de pensamentos aleatórios que faziam o coração bater mais rápido de felicidade.

   - Então eu vou falar com ele e pedir desculpas para o Joe. – Demi estava mais confiante da decisão depois da conversa com Bella. E agora, refletindo a respeito do assunto, fazia mesmo sentido. Inácio não deixaria de gostar dela por causa de Joe.

   - Sem medo, ok? – Disse Bella e Demi assentiu. – Vamos terminar de comer? Tenho que buscar as meninas na escola. – E foi o que elas fizeram. Comeram e conversaram sobre os namorados, uma mais apaixonada que a outra.

 Eram raras as vezes que Selena falava bem de Ed porque quase sempre ela estava brava com ele, então Demi sorriu observando como a amiga estava apaixonada e feliz. Bella não estava diferente de Sel, ela mostrou fotos de Scott e contou como eles se conheceram. O rapaz era um moreno de tirar o fôlego, o que foi motivo para risos. Já Demi estava desanimada porque ela queria que não existisse uma situação chata como a que estava acontecendo entre ela e Joe.

   - Anna me ligou mais cedo. – Bella segurou a mão esquerda de Selena e Demi ficou responsável pela direita porque caminhar num montueiro de neve não era uma missão fácil. – Ela e o Rick vão acabar fazendo uma besteira dentro do hospital. – Demi arqueou uma sobrancelha e Selena riu da careta de Bella.

   - Então eles estão se pegando? – Perguntou Sel enlaçando o braço ao de Demi.

   - Eles estão se devorando. – Bella riu se lembrando de como a irmã estava ofegante e desesperada por uma solução quando ligou mais cedo. – Eu só estou confiando na Anna, sei que ela é responsável e não vai ultrapassar os limites.

   - É difícil entender o significado de não ultrapassar os limites quando estamos apaixonadas. – Comentou Demi e Selena arqueou uma sobrancelha porque se tinha alguém que era expert em não se importar com os limites quando estava apaixonada, esse alguém era Demi.

   - Só espero que ela não esqueça o preservativo. – Murmurou Selena.

   - Eu também! O meu maior medo é de o Rick estar se aproveitando. – Uma vez que Anna estava apaixonada e nos braços do homem que amava, estava difícil tentar convencê-la de alguma coisa porque tudo que ela dizia era sobre Rick e como era bom estar com ele.

   - Espero que ele nem pense nisso. – Demi assentiu com os olhares que recebeu. – Se ele machucar a Anna de alguma forma, ele está ferrado. – E realmente estava ferrado. Havia um pai protetor e seis irmãs. O homem que resolvesse enganar qualquer uma delas, estava numa encrenca enorme!

   - Você fica tão fofa quando está brava. – Disse Selena a Demi. Era um momento que apenas as duas entendiam, e quem de fora presenciava a cena, geralmente pensava em outra coisa. Bella não as julgou quando elas pararam de caminhar para trocarem um abraço apertado e olhares confidentes porque acontecia o mesmo com ela e Anna.

   - Releva. – Disse Demi a Bella sem olha-la porque estavam atravessando a rua. Ela ainda estava abraçada a Selena e não tinha planos para desfazer do abraço tão cedo. – Você acha que hoje é um bom dia para conversar com ele? – Perguntou se referindo a Inácio.

   - Não quero te assustar. – Bella destravou o carro e o adentrou. – Dem, nunca é um bom dia para conversar sobre garotos com o papai, tudo vai depender da forma que você vai administrar a situação. – Como não queria ficar longe de Selena, Demi se acomodou com a melhor amiga nos bancos de trás.

   - É assim mesmo, o meu pai é um amor, mas se não fosse a minha mãe, eu não teria namorado. – Resmungou Selena. A conversa no carro surgiu naturalmente. Bella e Selena compartilhavam das experiências com os pais e Demi apenas escutava calada porque ela não sabia como aquele mundo funcionava. A esperança era que Inácio realmente a entendesse como Selena tinha dito mais cedo.

­“Só passei para dizer que estou indo para casa agora, já estou no aeroporto. A Lucy ficará com o Ed, se você puder visitá-la, ficarei agradecido.” – Joseph.

Como diabos uma mensagem tinha o poder de mudar todo o curso do dia? As lágrimas começaram a rolar livremente pelo rosto de Demi, e para esconder o choro, ela as limpou com a manga do moletom e preferiu olhar a cidade sobre a neve pela janela do carro. Ele estava indo embora? O que diabos estava acontecendo? Joe estava sem a foto do perfil e não havia mensagem no status.

   - Bell, você pode me deixar no aeroporto? – Droga! A intenção não era assustar Bella e muito menos Selena com a voz chorosa, mas Demi não pode evitar. Ela deu de ombros quando a irmã a olhou preocupada. O carro estava parado em pleno trânsito e os carros logo atrás começavam a buzinar.

   - O que aconteceu? – Perguntou Selena tão assustada quanto Bella, e Demi respirou fundo limpando as lágrimas.

   - O Joe está indo para o Texas agora. Sel, eu não quero perder o meu amor. – Ronronou chorosa abraçando Selena de lado. Logo o carro estava em movimento novamente, e durante o caminho até o aeroporto, Demi chorava que chegava a suspirar acabando com as chances de Selena ou Bella de consola-la.

   - Primeiro, vamos parando com esse choro. – Resmungou Selena já cansada e Demi franziu o cenho. – Você não quer que o Joe te veja acabada assim, quer? – Demi negou balançando a cabeça e limpou as lágrimas rapidamente. – Você pode ligar a luz? – Perguntou a Bella. O carro já estava parado no estacionamento do aeroporto John F. Kennedy.

   - Sel! Eu tenho que me apressar, não sei que horas é o voo. – A última coisa que Demi esperava era que Selena começasse a maquia-la. E não teve choro, resmungo ou explicações para conseguir escapar da situação. Sel pegou o kit de maquiagem que sempre carregava na bolsa e começou o serviço.

   - Um pouco de contorno vai ficar bom. – Selena e Bella compartilhavam dos mesmos gostos. Era o motivo da repentina amizade.

Foram dez ou quinze minutos? Demi quase perdeu a paciência. Ela não se importava se o rosto estava pálido sem maquiagem, Joe já a viu em estado pior e mesmo assim dizia que ela estava linda. No final das contas, Demi tinha certeza que borraria o rímel mesmo Selena insistindo que a máscara para cílios era a prova d’água... Dentro do aeroporto, os passos de Demi eram largos que até mesmo as batatas das pernas doíam, nada que ela se importava, o que não deveria acontecer era Joe partir para o Texas antes de vê-la.

   - Vai devagar, baixinha. – Disse Selena logo atrás e Demi continuou no mesmo ritmo, e ela não pararia até que estivesse na área de embarque e de preferência nos braços de Joe.

Deveria acontecer como nos filmes de romance: o voo seria cancelado por conta da nevasca e a mocinha passaria o resto da noite nos braços do amado. Porém estava longe de acontecer daquela forma, ao chegar na área de embarque, Demi olhou na direção da pista de voo procurando por algum avião parado porque o voo seria cancelado, e ao contrário do que tinha pensado, havia uma aeronave levantando voo. Estava tudo funcionando normalmente! Olhando para os lados a procura dele, Demi o avistou sentado numa das cadeiras de espera. O coração até bateu mais rápido de felicidade, amor e medo. E como se Joe pudesse sentir que estava sendo observado, ele olhou na direção da namorada e sustentou o olhar dela sem ousar em desvia-lo.

Quem se aproximaria primeiro? Demi deu os primeiros passos sem saber ao certo se deveria, e Joe se levantou colocando a bolsa sobre a cadeira para marcar o lugar. Ele estava absurdamente lindo. O novo corte de cabelo deu um ar diferente do inocente ao rapaz. Geralmente Joe mantinha o cabelo com certo volume, nada muito exagerado e nem muito baixo. Era a primeira vez que ele cortava o cabelo baixinho, quase raspado, só tinha mesmo volume na frente onde estava espetado.

   - Demi. – O rapaz adentrou os bolsos da calça jeans com as mãos e não sorriu para namorada como gostaria.

   - Joseph. – E como sempre, o suéter verde ficava muito bem no torso forte de Joe. Estranho era que o rapaz não usava mais roupas de frio, porém Demi suspeitava que por baixo do suéter tinham mais camisas.

O silêncio não combinava com os dois e não existia o clima que os faziam esquecer o resto do mundo. Olhavam-se estudando o que eles poderiam fazer. Demi sustentou o olhar de Joe o tempo que conseguiu e não se importou se estavam brigados ou não, abraçou o namorado com força olhando para cima porque ela era baixinha demais perto dele.

   - Você vai mesmo? – Perguntou se sentindo protegida quando Joe a abraçou alguns segundos depois.

   - Vou. – Ele só não continuou a olhando nos olhos porque sabia que acabaria a beijando na boca, então olhar para qualquer outro ponto que não fosse os lindos olhos marrons de Demi estava valendo. Joe observou as outras pessoas e quando Selena e Bella estavam em seu campo de visão, o rapaz sorriu e acenou.

   - Joe. – Por que ela tinha que afeta-lo? Joe olhou para os lados se sentindo confuso e de mãos atadas com a situação. Ele só a olhou nos olhos quando Demi o chamou novamente. – Eu não queria brigar com você. – A voz soou baixa e mostrava como Demi estava sensível, mas mesmo assim ela continuou sustentando o olhar e levou as mãos para o rosto do namorado o acariciando no maxilar onde a barba já crescia. – A culpa é toda minha e eu v... – Pelo olhar de Joe, o voo que tinha acabado de ser anunciado era o dele.

   - Tenho que ir agora. Conversamos quando  eu voltar, tudo bem? – Doía o coração ter que deixa-la. Joe franziu o cenho incomodado com a situação e beijou a testa de Demi. – Eu estou fazendo o meu melhor para entender você, e tenho certeza que você terá tempo suficiente para me entender, aproveitar a sua família e entender o que isso tudo significa para nós dois. –  Não tinha como resistir, e ele não queria. Os lábios foram roçados aos dela num breve beijo que doeu na alma.

   - Quanto tempo você vai ficar no Texas? – Perguntou Demi de olhos fechados e cabisbaixa sentindo o coração acelerar só porque os lábios de Joe beijavam-na a testa.

   - Uma ou duas semanas. – Parecia que ele ficaria o resto da vida longe dela... Joe a abraçou com força e umedeceu os lábios. – Eu tenho que ir agora, ok? Cuida da Lucy. – Disse forçando um sorriso e se segurando para não derramar lágrimas como Demi fazia.

   - Tudo bem. – O sorriso que Demi esboçou foi porque Joe a ajudou a limpar as lágrimas e depois a envolveu num abraço de urso como ele sempre fazia. – Faça uma boa viagem, querido. Vou estar te esperando. – Era a última chamada do voo para Austin. Demi sorriu em meio as lágrimas e envolveu o pescoço de Joe para beija-lo mais uma vez.

   - Obrigado. Aproveita essas semanas para se organizar. Vamos fazer tudo no nosso tempo sem pressa. – Como ela ficaria tantos dias sem ter Joseph por perto? Ele nem tinha ido, e Demi já sentia saudade. – Tenha cuidado, meu anjo. – Antes de partir o abraço, Joe umedeceu os lábios e sorriu lindamente observando as sardas salpicadas no rosto da namorada e como os olhos dela eram lindos e femininos. – Agora eu tenho mesmo que ir. – Não tinha opção, ele iria mesmo. Demi assentiu calada e com lágrimas molhando o rosto enquanto Joe se despedia de Selena e Bella com um abraço apertado.

   - Nós vamos cuidar dessa chorona e da Lucy. – Era pura ironia já que Selena também derramava lágrimas e abraçava Bella.

   - Eu sei que vão. Tchau garotas. – Se ele não fosse logo, perderia o voo. O problema era que Joe se sentia péssimo por ver Demi chorar, mas ele também tinha decidido que não deixaria de fazer o que queria. – Você pode me acompanhar? – Perguntou a namorada oferecendo a mão para que ela segurasse e Demi assentiu também notando que Joe não usava a aliança. Eles caminharam lado a lado até que estavam em frente à cadeira onde estava a bolsa que marcava o lugar do rapaz. – Tchau princesa. – Dali para frente Demi não poderia acompanha-lo. Joe a beijou na bochecha e sorriu para ela.


   - Tchau amor. – Demi não disse as três palavrinhas que ela tanto queria ouvir porque ele também não tinha dito, e no instante que Joe virou as costas e passos depois sumiu do campo de visão, ela se arrependeu.

Continua... E aí? Tudo bem com vocês? Eu estou bem! Como foi o feriado de carnaval? Curtiram, descansaram? Agora o ano finalmente pode começar kkkkk
Sobre o capítulo, eu não sei se era isso que vocês esperavam, confesso que eu pensei numa briga mais séria, só que acabei pensando também que o nosso casal já não está muito bem desde que a Demi descobriu a verdade sobre o pai, então para não ficar mais desgastante e repetitivo, saiu isso. Espero que gostem. Agora nós teremos o tão esperado Texas e a queridíssima Rose & Cia para "alegrar" os nossos capítulos :D Abraço para vocês e até o próximo capítulo!

5 comentários:

  1. Awnnn, esse capítulo me partiu o coração... #Rumoaotexas

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  2. mulher posta logo, eu estou ansiosa pra saber o que vai acontecer com meu casal favorito, meu deus, tenha piedade de nois... capítulo perfeito

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  3. Cadê o capítulo daqui??? Tô com saudades

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