- Mamãe?
Por favor, não vai embora. Eu preciso de você. – A fala estava tão embolada por
conta do choro. Se Dianna receberia o recado, era outra história. As mensagens
não chegavam, o celular deveria estar desligado, por isso não recebia ligações.
Se tudo que estava escrito naquela carta fosse realmente verdade, Demi tinha a
perdoado. Aliás, não tinha como ser mentira, os fatos se encaixavam
perfeitamente.
Não
tinha como mudar o passado e nem esquecer os momentos ruins que tinha vivido
por culpa de Dianna. Porém existia a possibilidade de juntas, construírem um
presente e futuro diferente onde poderiam finalmente assumir os papeis de mãe e
filha sem mágoas ou ressentimentos.
A
cabeça de Demi doeu insuportavelmente, ela se sentou ao sofá discando mais uma
vez o número do celular da mãe. Estava desligado. O sentimento era sufocante,
pois ela tinha medo de perder Dianna para sempre. Não tinha como enganar a si
mesma. Dianna sempre a deixaria sem jeito e de coração acelerado. Enquanto
estava acomodada no apartamento ali em Manhattan, Demi tinha a segurança de
poder ignora-la porque sabia que ela sempre estaria ali vivendo a mesma vida,
mas fora do pais? Como funcionaria? Não tinha como saber se Dianna estava bem e
se precisava de ajuda com as despesas da casa.
- Eu juro que entendo tudo que você passou.
– Disse mais calma ao celular gravando uma mensagem de voz que tinha a
esperança que Dianna fosse ouvir. – Eu estou magoada com você, sempre estive.
Mas eu te amo e tenho fé que nós duas podemos superar o nosso passado, eu não
posso viver sem você. Quando você estava aqui no apartamento da vovó, mesmo
chateada eu sabia que você estava bem e segura, que eu poderia te ver na hora
que eu quisesse. O que vou fazer com você longe? Eu estou te dando mais uma chance para você ser a minha mãe, não vá embora.
Por favor. – As botas foram calçadas de qualquer jeito, Demi guardou o
celular dentro da bolsa, respirou fundo de olhos fechados cobrindo o rosto com
as mãos e se levantou determinada. Estava nevando, o que significava que existia
uma grande possibilidade de os voos atrasarem, e se ela tivesse sorte e fosse
rápida, poderia impedir a mãe de sumir no mapa a deixando com o coração
despedaçado mais uma vez.
As
mãos estavam tremulas que o copo com água quase foi ao chão. Demi limpou as
lágrimas tentando se controlar e se preparou para sair do apartamento às
pressas, a bolsa estava no ombro e ela tentava pegar o celular e a chave.
- Selena? – Demi engoliu em seco quando
Selena a abraçou. Ela mal tinha aberto a porta e como não sabia o que dizer,
abraçou Selena de volta procurando nela forças para não desabar em choro.
- Eu preciso de você, Dem. Preciso muito. –
Murmurou Selena descansando a cabeça no ombro de Demi. – Eu sinto tanta a sua
falta. – O plano era não deixar mais lágrimas rolarem, porém Demi falhou.
- Eu também sinto a sua. – Demi apertou mais
o abraço aproveitando para sentir o cheiro do cabelo da amiga e como as mechas
expostas estavam geladas.
- Ei, você estava chorando? – Selena perguntou
quando elas romperam o abraço e se olharam nos olhos. Ainda rolavam algumas
lágrimas dos olhos de Demi, mas estava evidente que a ponta do nariz vermelha e
os olhos irritados não era de agora.
- É uma longa história. – Demi forçou um
sorriso porque estava feliz por Selena estar ali com ela. – Eu tenho que ir ao
aeroporto agora. A minha mãe está indo embora e... eu preciso impedi-la.
- Indo embora? Para onde? Dem, você não vai
trancar a porta? – Disse Selena quando Demi começou a caminhar apressadamente a
segurando pela mão pelo corredor. – Eu estou confusa.
- Você pode me levar ao aeroporto? –
Perguntou apressadamente trancando a porta do apartamento e quando Selena
assentiu, Demi envolveu os dedos aos dela e a puxou para que caminhassem na direção
do elevador.
- Você pode me explicar o que está
acontecendo? – Bem, Demi estava nervosa, ansiosa e aflita acomodada ao banco do
carona. Os dedos ainda estavam enlaçados aos de Selena sobre a marcha do carro
e o lábio inferior era mordido com força. – Ei, para de tremer a perna. – Pediu
observando que Demi estava ansiosa a ponto de tremer a perna esquerda
incansavelmente.
- Minha
mãe deixou uma carta contando que está indo embora para o Reino Unido e
explicando tudo que ela passou. – Comentou se sentindo ainda mais ansiosa. – Eu
não posso deixa-la ir. Preciso dela aqui comigo, Sel.
- Dem... – Se tratando de Dianna, o receio
sempre estaria estampado no rosto de Selena, ela não podia evita-lo porque
desde que a conhecia, sabia que a mulher era uma caixinha de surpresas. Não era
de se esperar boas coisas de alguém, principalmente uma mãe, que maltratava e
enganava o filho com naturalidade e sem culpa. – Você não está se precipitando?
– Perguntou com receio da reação de Demi. – Olha, eu não consigo confiar
nela... Não consigo pensar numa justificativa plausível para o que ela fez com
você durante toda a sua vida. – Disse focada no transito. – É absurdo.
- Eu sei que é, mas há motivos, Sel. Ela não
escolheu ser assim. – Era verdade? Demi franziu o cenho pensando a respeito. Dianna
tinha se moldado a situação, tinha se entregado de cabeça. A culpa era dela por
não poder lutar?
- Ela escolheu. No dia que ela resolveu te
tratar como um lixo, ela escolheu ser assim. Você não tem culpa. – Selena tinha
razão, ela sempre tinha. Demi a observou calada dirigir pacientemente pelas
ruas cobertas de neve já à noite. As expressões sérias e o cenho as vezes franzido.
- O meu a.. o pai do meu pai a estuprou. Ela
estava grávida. – Disse um pouco nervosa e Selena desviou o olhar do transito
para olha-la. – Era uma menina de apenas dezessete anos quando se apaixonou,
engravidou e foi violentada. Os sonhos, a felicidade, a segurança, a dignidade.
Ela perdeu tudo quando... quando aconteceu. E teve que lutar para cuidar de uma
criança praticamente sozinha. – Sel não disse uma palavra e Demi não a julgou.
Não era como se ela não tivesse abalada, bem pelo contrário, as feições estavam
ainda mais sérias e os pensamentos comprometidos em estudar as palavras de
Demi.
O
aeroporto internacional John F. Kennedy era o lugar mais provável onde Dianna
poderia partir para outro continente. Lá fora nevava e o escuro da noite era
quebrado pela luz dos postes que iluminavam o local. Demi e Selena caminharam
agarradas para combater o frio no estacionamento a céu aberto, e quando
passaram pelas portas de vidro, os olhares perderam-se na multidão. Dianna
poderia estar em qualquer lugar e entre as milhares de pessoas que ali estavam.
- É melhor nós procurarmos na área de
embarque. – Disse Selena ainda perdida observando a quantidade absurda de
pessoas. Demi assentiu porque era o mais inteligente a fazer. Elas caminharam
por entre a multidão, subiram de escada rolante para o andar de cima e
apressadamente caminharam quando ouviram a chamada de um voo.
- Mãe?
– Demi se precipitou, desenlaçou os dedos dos de Sel e abordou a mulher
loira vestida de preto que se preparava para embarcar. Não havia muita
semelhança com Dianna, apenas as roupas luxuosas. – Desculpa. – Disse
educadamente a mulher quando ela se virou para olha-la surpresa e assustada. Demi
olhou atentamente para o máximo de mulheres que conseguiu sem sucesso.
- Vamos pedir informação. – Selena
gentilmente a tocou no ombro e enlaçando os dedos como elas tinham feito mais
cedo, puxou-a em direção a área central onde havia funcionários do aeroporto.
O tom usado foi impecável. Sel conversou com a
recepcionista sobre os voos para o Reino Unido, já que tinha notado que Demi
estava incapaz de administrar uma conversa. Era agonizante como ela estava
nervosa e ansiosa. Três voos já tinham saído em direção a Londres e um a
Dublin. E não havia mais voos agendados para aquele dia.
- Eu estou aqui. – Carinhosamente Selena
beijou o topo da cabeça de Demi quando ela a abraçou e chorou como uma criança
perdida e amedrontada. Era exatamente aquele ponto que Selena não conseguia
entender. Se Dianna tinha deixado uma carta antes de partir, era porque ela se
arrependia. Mas porque continuar machucando Demi? Ela não merecia mais sofrer. –
Ei, meu amor. Eu sei que as coisas nunca são como nós desejamos, isso dói, mas
nós precisamos ser fortes para continuar. Ela foi embora. Não sabemos ao certo
os motivos, mas vamos pensar que isso pode ser bom para ela. Pensa que... que
você pode ter uma nova Dianna daqui
alguns anos.
- Eu não sei. – Murmurou chorava desviando o
olhar de Selena para fitar as mulheres loiras na esperança de encontrar Dianna.
– Ela me pediu para ser feliz, para encher a casa de netos que ela nunca vai
conhecer. Eu não posso permitir isso, Sel. – Selena limpou as lágrimas que
rolavam pelo rosto de Demi e a beijou na testa. – Ela passou por tantas coisas
ruins, estou começando entende-la.
- Não se deixe enganar por palavras.
Atitudes são atitudes. – Disse Selena fitando os olhos de Demi que a abraçou
procurando por conforto e segurança. A movimentação naquela área não permitia a
privacidade adequada que elas precisavam. Selena limpou as lágrimas de Demi,
envolveu os dedos aos dela e sem pressa, guiou-as para uma cafeteira ali mesmo
no aeroporto. – Um Baunilha Latte para
viagem. – Disse a atendente escorada no balcão da cafeteria. – Você vai querer
alguma coisa para comer? – Perguntou a Demi que estava perdida em pensamentos,
tanto que fitava o piso de madeira alheia ao ambiente. – Dem, você vai querer
comer alguma coisa? – Tornou a perguntar e Demi franziu o cenho voltando o
olhar na direção da porta que foi aberta fazendo com que o barulho agudo do
sininho soasse.
- Biscoitos doces ou muffins de chocolate e
canela, eu não sei, escolhe você. – Ela acabou abraçando Selena de lado e
choramingou no pescoço da amiga.
- Vou escolher os muffins só porque sei que
são os seus favoritos. – Disse Selena envolvendo Demi num abraço apertado sem
se importar se algumas pessoas acomodadas as mesas lançavam a elas um olhar
curioso.
- Minha cabeça está doendo, Sel. –
Resmungou. Demi franziu o cenho porque Selena tinha pagado a conta e ao invés
de se acomodar a uma mesa ali dentro mesmo onde estava quente e confortável, a
amiga a puxava pela mão para fora do estabelecimento.
- O que foi? – Perguntou Selena percebendo o
olhar de Demi. – Comprei café e biscoitos para você. – Explicou-se. – Você
queria comer na cafeteria? Pensei que você poderia comer dentro do carro...
Teríamos mais privacidade. – Estavam próximas a escada rolante ali perto da
cafeteria. Selena estava tão sem jeito, que ela colocou uma mecha do cabelo
atrás da orelha e desviou o olhar de Demi.
- Selena, o que está acontecendo? –
Perguntou juntando toda a coragem para sustentar o olhar da amiga. – Eu estou
preocupada, o Ed está preocupado, e até o Joe que é um pouco lerdo percebeu que
você não está bem.
- Nós conversamos no carro, ok? Prometo que
vou explicar tudo. – Demi assentiu só porque Sel não tinha desviado o olhar, e
ela ainda ofereceu a mão que elas pudessem enlaçar os dedos. E assim foi feito,
desceram a escada rolante lado a lado, o que não era uma ideia muito agradável
e nem inteligente, mas era daquela forma que elas faziam as coisas. Quando
saíram do aeroporto, o vento soprou frio que doeu na alma. Agarradas,
caminharam para o carro uma ajudando a outra a administrar toda a neve.
- Por favor, liga o aquecedor na temperatura
máxima. – Demi bateu os dentes. Agora sim com a chegava da noite estava frio,
muito frio e ela temeu por Joe. Ele estava um pouco longe de Nova York, o sítio
de Steve ficava a mais ou menos quarenta minutos de carro. As estradas estavam
perigosas e Demi não fazia ideia de como seria o trabalho que o namorado tinha
para fazer, só esperava que ele ficasse bem e aquecido.
- Não seja exagerada. – Selena forçou um
sorriso enquanto ligava o carro para depois o aquecedor. – Está melhor? –
Perguntou e Demi assentiu se acomodando mais ao banco.
- Você pode falar? Eu estou curiosa. – Disse
sem nem mesmo se interessar no café e muffins que Selena entregou para que ela
segurasse.
- Você não vai comer? – Selena relaxou no
banco mantendo as mãos no volante o apertando para tentar dissipar o nervoso
nele.
- Sel.. – Murmurou Demi de cenho franzido e
quando Selena arqueou uma sobrancelha, ela se deu por vencida começando a abrir
a embalagem onde estavam os muffins e tirando a proteção do canudo do café. –
Eu sei, tomar café com canudo é uma droga. – Disse assim que deu a primeira
sugada. – Você quer? – Ofereceu um pouco constrangida e Selena negou balançando
a cabeça. – Não é como se nós nunca tivéssemos compartilhado algo tão íntimo
como um canudo. – Comentou pensando no beijo que elas tinham trocado e a risada
fraca de Selena a surpreendeu.
- Se você está insinuando que eu estou com nojo, não é isso, eu realmente não quero
comer ou beber. – Explicou-se colocando
uma mecha do cabelo atrás da orelha. – Estou falando sério. – O bom era que o
estacionamento era iluminado o suficiente para que Sel pudesse enxergar os olhos de
Demi no interior do carro. – Não comi nada hoje. – Falou e Demi que mordia um
muffin franziu o cenho. – Aliás, levei café da manhã para o Ed na cama. O que
eu comi, coloquei para fora. O almoço também. Desde então, preferi evitar me
alimentar. Eu estou me sentindo estranha, Dem. Não suporto a ideia de comer, e
fico enjoada com alguns cheiros. – Selena encostou a cabeça no volante e
fechou os olhos quando as primeiras lágrimas rolaram. Já Demi sentiu o coração
bater mais rápido e as bochechas esquentarem.
- Ei, Sel. Eu estou aqui. – Ela deu um
jeitinho de colocar o café no suporte da porta do carro junto com os muffins. –
Você está.. está grávida? – Perguntou timidamente tocando a coxa de Selena que
abriu os olhos e piscou algumas vezes.
- Não sei. Tem dois testes na minha bolsa,
não tive coragem de fazê-los sozinha. Não quero falar com o Ed sobre e nem com
a minha mãe. Eu só precisava de você. – Demi a puxou para um abraço e dessa
vez, foi ela quem consolou Selena dizendo que tudo ficaria bem independente do
resultado dos testes.
- O que você está sentindo além de enjoos? –
Demi perguntou depois de acariciar o rosto da amiga e secando as lágrimas.
- Estou sonolenta, algumas vezes fico
irritada e emocionada. Tem uma semana que estou assim, mas só hoje fiquei
enjoada. – Explicou e Demi assentiu pensando no que elas fariam.
- Você está bem para dirigir? – Perguntou
preocupada. – Eu posso guiar o carro, você pode me ajudar com a marcha. –
Sugeriu tímida e Sel riu se acomodando melhor a poltrona.
- Estou bem. Não é hoje que você vai nos
matar. – Brincou para descontrair o clima e Demi revirou os olhos com vontade.
Da última vez que ela tinha tentado dirigir, quase resultou numa tragédia, mas
no final de tudo, as duas gargalharam de nervoso.
- Vamos para o meu apartamento. Você pode
fazer os testes lá.. E depois nós decidimos se vamos ou não a festa. – Selena
assentiu concordando com a ideia, mas ainda sim estava nervosa. – Eu estou
aqui, ok? – Demi enlaçou os dedos as de Selena e se curvou a beijando
demoradamente na bochecha direita. – Seja qual for o resultado, nós ficaremos
juntas. – Sel assentiu apertando os dedos aos de Demi e respirando fundo
pensando nas palavras que tinha ouvido.
Os
pensamentos de Demi se alternavam entre Dianna e Selena. As duas estavam a
preocupando ao extremo, mas infelizmente sobre o caso da mãe, Demi estava de
mãos atadas, só restava esperar. Então Selena tinha prioridade total, Demi
conversou com a amiga para distrai-la e observou como Nova York ficava linda
debaixo de neve. Nem mesmo à noite conseguia escurecer por completo aquela
cidade. Os letreiros luminosos ficavam ainda mais vivos e era fascinante como
os arranha-céus refletiam as luzes deles e as dos postes tornando o momento
mágico. Quando passaram pelo complexo do Rockefeller, Demi sorriu observando as
crianças brincando na pista de patinação e a enorme árvore de natal estava
começando a ser montada.
- Se não estivesse nevando, nós poderíamos
ir ao Top of the Rock. – Comentou
Demi olhando para trás para poder ver o prédio enquanto Selena guiava o carro
para a garagem subterrânea do prédio.
- Da última vez que inventamos de subir
septuagésimo terceiro andar nevando, nós quase morremos congeladas, Demetria. –
E na época elas tinham apenas dezessete anos e nenhum um juízo. As duas ficaram
resfriadas por uma semana inteirinha sobre os cuidados e broncas de Mandy.
- Eu sei, não precisa ficar brava comigo. –
Demi riu do olhar feio de Selena e para pirraça-la, acariciou-a no braço e
disse: - Boa garota, boa garota.
- Piralha! Você é uma peste, Dem. – Reclamou
mal-humorada parando o carro na vaga livre. – Às vezes tudo que eu queria era
dar umas boas palmadas no Ed e em você. – Comentou tirando o cinto de segurança
e Demi fez o mesmo logo saindo do carro com um sorriso sapeca nos lábios.
- Não fica brava, ok? – Com muito custo ela
pegou o café já morno e os muffins. Ruim foi para fechar a porta do carro já
que as duas mãos estavam ocupadas. – Eu estou preocupada com a minha mãe. – Não
tinha como se esquecer de Dianna. Demi enlaçou o braço ao de Selena para que
elas caminhassem em direção ao elevador. – Será que ela tem dinheiro ou um
lugar para morar? Ela está indo viver em outro país! Estou com medo por ela.
- Se ela foi, é porque já tinha tudo
planejado. – Disse Selena com receio de falar coisas sobre Dianna que poderiam
magoar Demi. – Talvez ela tenha algum amigo ou conhecido que vai ajudá-la a se
estabelecer.
- O lugar dela é aqui, comigo, em Nova York.
Mas espero que sim, ela não merece passar por coisas ruins. A vida já foi cruel
o suficiente. Eu só espero que ela seja feliz. Vou sentir muita saudade. Vou
tentar entrar em contato, quem sabe ela responde. – Era o mínimo que ela
esperava. Dianna poderia pensar que ela estava magoada porque era verdade, mas
se pensasse que ela não se importava, estaria muito enganada. O elevador logo
chegou, e Demi deu graças a Deus por estar vazio. Ninguém merecia ter que
dividir o espaço já pequeno com vizinhos malcriados.
- Eu acho que ela entrará em contato. – Murmurou Selena. Para ela, na primeira dificuldade que Dianna encontrasse, ligaria para Demi para pedir dinheiro. Se era assim em Nova York com a vida fácil, imagina no outro lado do mundo... – Não se precipite, ok? – Demi assentiu puxando Selena para fora do elevador quando chegaram ao andar onde ela morava. Foi complicado não ficar nervosa ou tensa.
- Eu acho que ela entrará em contato. – Murmurou Selena. Para ela, na primeira dificuldade que Dianna encontrasse, ligaria para Demi para pedir dinheiro. Se era assim em Nova York com a vida fácil, imagina no outro lado do mundo... – Não se precipite, ok? – Demi assentiu puxando Selena para fora do elevador quando chegaram ao andar onde ela morava. Foi complicado não ficar nervosa ou tensa.
- Vai dar tudo certo, Sel. – Disse
calmamente abrindo a porta do apartamento e dando passagem para Sel adentra-lo.
– O que você quer fazer agora? – Perguntou toda carinhosa e esboçando um
sorriso verdadeiro para Selena. Demi levou o café e os muffins para mesa da
sala os deixando lá junto a bolsa.
-
Eu não sei, estou com medo. – Selena se acomodou ao sofá repousando os
cotovelos nas coxas para sustentar a cabeça com as mãos. – Eu não sei se estou
preparada para ser mãe de verdade. Está
tudo acontecendo tão rápido. Parece que terminamos a escola ontem, depois veio
a faculdade, os vinte e um anos.. E agora talvez um bebê? Acho que eu preciso
que as coisas aconteçam mais devagar. – Demi a abraçou de lado envolvendo os
dedos aos dela.
- Um bebê seu e do Ed. Não poderia ser
melhor. Ele é o cara certo, é o cara que você ama, não é? – Perguntou baixinho
e quando Sel a olhou, assentiu. – Não tem porque ter medo. Se realmente tiver
um bebê na sua barriga, nós vamos cuidar muito bem de você, vamos enchê-la de
mimos e quando completar os nove meses, prometo que vou estar ao seu lado na
sala de parto segurando a sua mão. – Demi sorriu fitando os olhos de Selena que
derramou algumas lágrimas, mas que também sorriu emocionada. – Vou ser a melhor
madrinha desse mundo, prometo. Quero que você saiba que eu vou, sempre e
sempre, estar aqui para você.
- Não tenho dúvidas que você será a melhor
madrinha. – Selena sorriu gostando da ideia. Quando mais novas, elas já tinham
conversado sobre a época que encontrariam um cara legal para casar e ter
filhos, e ficou combinado que uma seria madrinha do filho da outra. – E se o Ed
não gostar? – Perguntou com receio. – Ele já tem duas crianças para cuidar.
- Se ele não gostar, ele estará sendo um
babaca. Vocês estão namorando, a gravidez
sempre será, mesmo que pequena, uma possibilidade. Nenhum método é
completamente confiável.
- Tudo bem, você tem razão. – Selena fechou
os olhos e respirou fundo. – Eu estou com medo, mas sei que você está aqui
comigo. – Demi assentiu e como sabia que Selena precisava de tempo para
processar o que faria, preferiu ficar calada a enche-la de medos e dúvidas.
- Você pode usar o banheiro do meu quarto. –
O nervoso foi tão grande quando Selena abriu a bolsa e pegou os dois testes de
gravidez. Era uma sensação sufocante misturada a ansiedade e uma felicidade
oculta. Quando Sel ofereceu a mão a Demi, ela a segurou e as conduziu para o
quarto principal do apartamento. – Eu estarei aqui para você, e o Ed também,
tenho certeza que estará. – Parecia que quem iria fazer aquele teste gravidez
era ela. Demi se sentou a cama, pegou a pelúcia que tinha ganhado do namorado e
descontou a ansiedade a apertando. Foram incontáveis os minutos de silêncio
absoluto. Demi umedeceu os lábios e de tão ansiosa que estava, fitou diferentes
pontos do quarto até que Selena a chamou baixinho e chorosa.
- Positivo. – A prova estava lá. Aliás, as
provas. Demi nem se importou com os testes, agachou-se e abraçou Selena que
estava sentada sobre a tampa do vaso sanitário.
Elas
ficaram em silêncio compartilhando do abraço que Selena precisava. Ter um bebê
não era fácil, Demi se lembrou das palavras de Dianna naquela carta e prometeu
para si mesma que cuidaria de Selena, que não deixaria que a melhor amiga
passasse por dificuldades e nem por situações absurdas. Uma cuidava da outra.
Sempre foi daquele jeito e não mudaria agora que a pequena família que elas
tinham aumentaria.
- Vem, aqui está ficando frio. – E Selena a
acompanhou sem dizer uma palavra. Demi a ajudou a tirar as botas e a deitou na
cama logo buscando a coberta no closet para protege-las.
- Você pode me abraçar? – Sel perguntou
chorosa e Demi o fez sem pensar duas vezes. Acolheu o corpo delicado em seus
braços e beijou a testa de Sel carinhosamente deixando que ela descansasse. – Eu...
Eu não sei como me sinto. – Disse Selena minutos mais tarde e Demi umedeceu os lábios
e mordeu o inferior para conter o sorriso.
- Eu estou muito feliz. – Comentou sem
conseguir se controlar. – Vou ser a melhor dinda
desse mundo. – Selena riu olhando para Demi e foi aí que ela percebeu do
que se tratava. Uma criança estava a caminho. Foi de surpresa, sem qualquer
planejamento, mas não importava. O significado era tão grande e especial. Era a
prova viva do amor dela e de Ed. E estava ali crescendo timidamente no
interior.
- Eu vou ser mãe. – Disse desacreditada e
sorridente. Demi sorriu de orelha a orelha e envolveu Selena num abraço
exagerado e sufocante, beijou-a nas bochechas e fitou a barriga lisa da amiga
com um sorriso de orelha a orelha.
- Eu já te amo, bebê. – Sel chorou quando a
barriga foi beijada e então ela levou a mão para acaricia-la sentindo o coração
bater mais rápido em ansiedade e felicidade. – Eu nem acredito. – Demi sorriu
fitando os olhos de Selena. – Parabéns, Sel. Você será muito feliz. – O sorriso
não saía dos lábios dela, e ao fita-la, Selena também sorriu contagiada
deixando algumas lágrimas rolarem enquanto a mão acariciava a barriga que nem
dava sinal que crescia por aqueles nove meses.
Dentro
de mais ou menos uma hora, foi o tempo suficiente para Demi conseguir tirar
Selena do sério. Elas riram, discutiram, mas no final estavam felizes e
praticamente coladas. Demi deslizou a mão pela barriga da amiga e sorriu como
uma criança feliz logo acomodando a cabeça no peito de Selena que riu.
- Dem.. – Chamou e quando Demi a olhou, as
duas ficaram um pouco nervosas. Era necessário tomar atitude para resolver aquela
situação. Joe tinha razão, ela deveria abrir mão do orgulho e fazer o que era
necessário para que elas ficassem bem.
- Sobre aquela noite. – Tomar atitude era
uma coisa e as bochechas coradas era outra. Demi se deitou a cama e fitou o
teto para que conseguisse organizar os pensamentos. – Eu não queria ficar longe
de você por todo esse tempo. – Comentou arriscando olhar Selena que assentiu se
erguendo.
- Eu também não. – Murmurou fitando os
próprios dedos. – Eu não sei como chegamos a esse ponto. Confesso que depois eu
fiquei com muito receio e medo do que poderia significar.
- Na hora, eu não consegui pensar em nada. –
Disse Demi se lembrando do momento. – Eu.. eu gostei, gostei muito. – Ela se
ergueu e umedeceu os lábios fitando os olhos de Selena. – Vou ser sincera com
você, Sel. Meus sentimentos por você continuam os mesmos. O nosso beijo não significou nada.
- Eu também gostei. – Selena sorriu e Demi
também mesmo envergonhada. – E os meus sentimentos continuam os mesmos. Tanto
em relação a você quanto ao Ed. Sabe, eu acho que nós finalmente matamos a
nossa curiosidade. Confesso que sempre pensei em como seria te beijar.
- O ruim foi o que veio depois. Não quero
ficar mais esse tempo todo longe de você. – Disse Demi. – Eu também. Acho que
nós fizemos tempestade num copo d’água porque gostamos do que aconteceu, e tem
os meninos. Eu contei para o Joe.
- Você contou? – Selena arregalou os olhos e
Demi arqueou as sobrancelhas. – O que ele disse? – Perguntou colocando uma
mecha do cabelo atrás da orelha e sustentando o olhar de Demi.
- Nada exatamente. Ele não ficou bravo, só
surpreso e perguntou o que significava para mim. Ele disse que só entendia
porque era você. – Demi sorriu fraco pensando em Joe. Ela já sentia falta de
sentir o olhar penetrante e das bochechas coradas de Joe.
- Eu não contei para o Ed. – Disse mais
calma. – Você sabe, ele é escandaloso. Sinceramente, não sei como ele reagiria.
Ele sempre me importunou sobre nós duas.
- Eu acho que ele vai surtar, ou talvez não.
Já o pirracei sobre isso, disse que eu te tomaria dele, se ele não cuidasse bem
de você.
- Vocês dois são bobos. – Selena se mexeu
com receio. Ela ainda estava assustada com a ideia de estar carregando uma
vida. – Então nós estamos bem sobre isso?
- Estamos. – Demi sorriu para Selena e a
atacou com um abraço exagerado que resultou em tantas reclamações, sem contar
que ela quase foi esbofeteada pela amiga. – O que foi? Deixa de ser chata, eu
não posso te abraçar e ficar agarrada a você? Senti sua falta e te amo. –
Ronronou manhosa e Selena revirou os olhos, mas abraçou Demi com a mesma força que
era abraçada.
- Eu também amo você, piralha. É só que eu
estou com receio de me mover. – Demi franziu o cenho e quando entrou no campo
de visão de Selena, o cabelo estava uma bagunça e os olhos marrons expressavam
felicidade e inocência.
- Você não está falando sério, está? –
Perguntou achando graça e Selena a acertou com um tapa no traseiro. – Chata.
Nós vamos a festa? – Sair do conforto que o apartamento oferecia era uma
péssima ideia. Demi não conseguia pensar numa forma daquela festa ser
divertida. Joe não a acompanharia. Selena precisava de alguns dias longe do
trabalho e eventos como aquele para organizar a vida com a família que estava
construindo ao lado de Ed. Ou seja, os dois amigos estavam ocupados e o
namorado trabalhando.
A
decisão foi baseada tanto na opinião de Demi quanto na de Selena. Ficou combinado
que elas iriam à festa da Gyllenhaal em consideração ao trabalho que tiveram para organizar
o evento e em memória de Jason.
O
resultado de duas mulheres juntas dentro de um closet era simplesmente o caos. Havia
tantos itens de beleza esparramados. Os sapatos também faziam parte da bagunça.
Era muito barulho para apenas duas pessoas. A música que vinha do celular de
Selena se misturava a conversa ora calma ora conturbada. A amizade era
simplesmente sustentada por amor e ódio. Quando Demi não implicava com Selena e
a pirraçava, era Sel que o fazia com Demi.
- Quase oito e meia. – Demi odiava pressão,
principalmente quando estava se arrumando. Pegando o potinho do rímel, ela se
sentou de lado no colo de Selena e ordenou que o rosto fosse direcionado para a
luz e que Sel não piscasse. – Eu quero delineado gatinho, ok? – Como não se
lembrar de Joe? Demi murmurou um “aham” e começou o trabalho.
- Hum.. acho que alguém está faminta. –
Cantarolou quando o ouviu o barulho que vinha da barriga de Selena justamente
no início de uma música. – Você quer uma fruta? Acho que não terá problema. –
Disse gentilmente depois que tinha traçado a linha escura na borda da pálpebra
direita.
- Obrigada, mas eu prefiro ficar sem comer.
Vomitar é horrível. – Demi cerrou os olhos quando Selena abriu os dela piscando
algumas vezes.
- Você precisa se alimentar, mamãe. Tem um bebezinho que precisa que
você fique fortinha para ele crescer saudável. – Ela estava tão animada com a
ideia de Sel ter um bebê que levou a mão a barriga da amiga e a acariciou
sorrindo feliz.
- Dem! Pelo amor de Deus, vai devagar. –
Reclamou Selena corada e ainda digerindo a descoberta da gravidez. Ficar ao
lado de Demi era tão bom que ela tinha esquecido a história, até então. – Eu
ainda não me acostumei.. É estranho. – Disse fechando os olhos para que a
segunda pálpebra fosse traçada com o delineado.
- Quando você vai contar para o Ed? –
Perguntou curiosa ignorando as reclamações de Selena.
- Eu não sei.. – Resmungou franzindo o cenho
sentindo o gelado do líquido do delineador irritar os olhos, mas logo ela se
acostumou. – E não conta para ninguém, nem para o Joe.
- Sel, eu não posso esconder nada do meu
amor. Eu simplesmente não consigo. E o Joe não é fofoqueiro, ele sabe guardar
segredo.
- Nós sabemos que ele sabe guardar muito bem
um segredo. – Reclamou Selena se referindo a Inácio e Dianna, e Demi revirou os
olhos porque já tinha perdoado Joe e Ed.
- Por que você guarda tanto rancor? Já
passou, e ele só não me contou porque estava com medo. Eu o entendo. –
Explicou-se agora buscando pelo rímel para alongar os cílios e dar volume a
eles.
- Você perdoa tão rápido. – Comentou e Demi
arqueou as sobrancelhas quando a olhou. – Estou falando sério. Isso não se faz.
O Joe deveria ter contado sobre o seu pai assim que ficou sabendo. Odeio
segredos e mentiras. – Resmungou e Demi tentou associar o mal humor a gravidez.
- Ele deveria, mas ele não sabia o que era
verdade e nem o que era mentira. Tente entende-lo. – Disse se levantando e
Selena negou balançando a cabeça. – E eu não aguento ficar muito tempo longe
dele, agora mesmo estou morrendo de saudade. Eu só queria estar na cama com o
meu bebê o mimando e fazendo amor com ele.
- Estou tentando, e tudo que eu consigo
pensar é em como ele vacilou. – Era mal humor. Demi revirou os olhos para
Selena e quando tocou no vidro do perfume, desistiu de usá-lo porque certamente
causaria enjoo na amiga. – Hum, ao menos vocês estão bem? – Perguntou mais
amigável.
- Muito bem. Eu cuido dele, e ele de mim. Eu
o amo, Sel. Nesses últimos três meses, nós estamos mais familiarizados um com o
outro, conversamos abertamente sobre praticamente tudo e passamos boa parte do
nosso tempo brincando com a Lucy, assistindo desenho e namorando.
- Só vocês para assistir desenho. – Reclamou
e Demi riu se lembrando das vezes que ela e Joe assistiam desenho...
- Assistir desenho tem lá suas vantagens. –
Um sorriso malicioso dizia tudo. Demi riu logo em seguida buscando por um par
de brincos.
- Você acabou com a inocência do coitado,
Demetria. – Demi riu alto, mas também corou.
- Nós estamos apaixonados, o que tem de
errado? E eu não acabei com a inocência dele. – Resmungou e Selena arqueou uma
sobrancelha abraçando Demi por trás.
- Não tem nada de errado. Eu só estava
pensando: eu estava preocupada com você o tempo todo sobre camisinha e
anticoncepcional, e eu que fiquei grávida. – Demi riu alto e fitou os olhos de
Selena pelo espelho.
- É, eu e o Joe nos protegemos, só quando
estamos desesperados que não usamos preservativo. Quando ele vai tomar a
insulina, eu tomo a pílula. Você acha que o anticoncepcional falhou? –
Perguntou a Selena desfazendo do abraço para terminar de se arrumar com um
sutil batom vermelho.
- Eu não sei, não faço a mínima ideia. É
muito complicado para nós, as crianças não dão sossego à noite e de dia nós
estamos trabalhando. Provavelmente foi numa rapidinha no chuveiro ou quando
transamos no estacionamento da Gyllenhaal algumas semanas atrás. – Demi arqueou
uma sobrancelha e riu conferindo se o batom estava bom.
- Eu e o Joe temos sorte, só que quando
estamos no apartamento dele, temos que despistar a Lucy ou tranca-la na área de
luz. – As duas acabaram rindo e em meio as conversas, finalizaram a maquiagem e
a roupa.
- Não fica nervosa. Se você se sentir mal, é
só me falar que voltamos para casa. – Disse Demi a Selena aproveitando para
colocar uma mecha do cabelo pesado da amiga atrás da orelha. – Eu estou bonita?
– Perguntou a Sel.
- Está linda. – Selena sorriu arrumando a
jaqueta de couro ao torso de Demi. – Sempre está. – As duas sorriram felizes
por estarem juntas. – Dem, não conta para o Ed, ok? Eu ainda estou me
preparando para contar. Estou com medo da reação dele.
- Não contarei. Você sabe que ele ficará
feliz, isso é especial para vocês. – Demi forçou um sorriso porque ela se
lembrou de Dianna. Pelas palavras escritas na carta, ela realmente estava feliz
por descobrir que estava grávida. Era uma nova perspectiva de futuro, até que
os sonhos foram destruídos.
- Ele pode ficar bravo, não estava nos
nossos planos. – O olhar tristonho Demi não aceitava. Guiou a mão ao rosto de
Selena para ergue-lo e franziu o cenho ao olha-la nos olhos.
- Se ele ficar bravo, só mostra que ele é um
idiota que não merece você e nem o bebê que você está esperando. Você tem a
mim, e eu vou estar ao seu lado para te apoiar e cuidar de vocês. – Um abraço tornava tudo mais especial e real. Demi
acariciou as costas de Selena e fechou os olhos sentindo o coração transbordar
de felicidade e amor. Já Sel se sentiu segura e mais calma por saber que alguém
estava torcendo por ela. – Vamos? Quero ficar só um pouquinho lá, se quiser,
nós podemos vir para cá e passar a noite juntas.
- Se eu me comportar mal com o Ed, fico aqui
com você. Agora que eu tenho certeza que estou
grávida, não sei se vou conseguir controlar as minhas emoções perto dele. –
Disse chorosa e Demi sorriu achando que Selena estava simplesmente fofa, manhosa
e grávida.
- Está tudo bem. Você pode ficar aqui o dia
que quiser. – Agora Sel era prioridade e o único motivo que Demi deixaria de passar
a noite nos braços de Joe.
Simplesmente
estranho. Mudanças de humor repentinas era normal na gravidez? Demi não sabia,
pois só tinha visto mulheres grávidas na rua. Nunca tinha convivido com uma. O
processo de caminhada até o carro na garagem subterrânea foi uma aventura cheia
de surpresas. Uma hora Selena a agarrou pelo braço e ficou calada, simplesmente
não dava para identificar o que ela estava sentindo. Já quando estavam
acomodadas dentro do carro, Sel começou a falar sem parar sobre Ed e como os
pais surtariam quando soubessem que ela estava grávida.
- Sel, não é como se eles não soubessem que
o seu namoro com o Ed é sério. –
Comentou mais envolvida em trocar mensagens com Joe do que nas reclamações de
sel. – Hum.. No fundo eles sabem que pode acontecer. Quando nos envolvemos com
alguém com esse nível de intimidade, estamos
sujeitas a engravidar e tudo mais. – Demi colocou uma mecha do cabelo atrás da
orelha e antes de fitar a tela do celular, ela olhou para Sel porque ela tinha
parado o carro numa sinaleira.
- Demetria, você sabe que eu odeio conversar
com alguém que não está prestando atenção em mim. Você escolhe: eu ou o
celular. – Demi franziu o cenho e arregalou os olhos.
- Dá para parar de ser chata? – Resmungou
bloqueando o celular. Aquilo não era gravidez. Selena realmente sempre
implicava quando Demi ficava no celular e mantinha aquela conversa sem emoção. –
Você deveria relaxar. Quando não está mal-humorada ou chata, está preocupada.
Isso não faz bem para o bebê e nem para você. – Demi engoliu em seco quando viu
os raios de luz que cruzavam o céu, eles vinham dos canhões de luz que
sinalizavam o local onde estava acontecendo a festa da Gyllenhaal a poucas
quadras de onde elas estavam.
- Eu sei. Não consigo evitar, ok? Estou
nervosa, é muita coisa acontecendo na minha vida. – Demi assentiu e apertou os
dedos aos dela sobre a marcha do carro.
- Tenta pensar em outra coisa. – Comentou
louca para desbloquear o celular e continuar conversando com Joe, se bem que as
vezes ele sumia porque a internet no sítio não estava funcionando bem e também
o trabalho era árduo, as fotos estavam lá para comprovar. – Sei lá, você
assistiu algum desfile nesses últimos dias? – Perguntou e Selena franziu o
cenho.
- Ah,
não. – Disse mais relaxada procurando por um lugar para estacionar o carro. – Estou
sem companhia, a Mary sumiu tem mais
ou menos umas duas ou três semanas. Ela não atende ligações, não responde
mensagens e eu não a vi no trabalho. – Demi mordeu o lábio inferior
estranhando. Naqueles três meses, ela via com certa frequência Selena e Mary
juntas.
- Estranho. Não há registro de faltas. Ela
está batendo o ponto normalmente e o trabalho está sendo feito. Eu também não a
vi. – Comentou forçando a memória e nada de Mary, aliás, não tinha muito do que
se lembrar. Nas últimas semanas Demi estava envolvida com o trabalho da empresa
e o adicional da festa. Ela entrava e saía do escritório tão envolvida que nem
tinha notado a falta de Mary ou qualquer outra pessoa.
- Isso é completamente bizarro porque a mesa
dela está intacta. Ela não apareceu, Dem. – Selena arregalou os olhos ao olhar
para Demi que não soube o que dizer. – Você tem certeza que esses registros
existem e que são dela? – Perguntou concentrada em encaixar o carro numa vaga
complicadíssima porque ficava entre dois carros que eram maiores.
- Sel, quando alguém falta sem ter um
atestado ou qualquer justificava, o pessoal me chama para saber o que está
acontecendo. Eu sou a responsável pelo nosso departamento, se a Mary estivesse
faltando, eu saberia. – Era difícil estar naquele cargo. Orientar e gerir
pessoas era uma atividade que exigia muito mais que um diploma e conhecimento
técnico e acadêmico.
- Eu não estou maluca. Alguma coisa de
errado está acontecendo. – Disse Selena tirando o cinto de segurança e Demi
assentiu calada pensando na situação.
***
A cobertura do prédio estava projetada para
enfrentar qualquer uma das estações do ano. Mesmo com a neve caindo sutilmente
lá fora, a vista da cidade ainda era um charme e de tirar o fôlego. Vinho caro,
comida de nome complicadíssimo, música tocada por uma banda, um punhado de
mesas impecáveis espalhadas, garçons bem alinhados e educados servindo, gente
bonita, rica e de nariz em pé. Dava para ser mais chato? Demi tinha sido recebida
com uma chuva de flashes. Já Selena não teve tanta atenção como a amiga, e
agradecia, pois, sentia que se ficasse sobre um flash novamente, vomitaria.
Não foi como Demi tinha pensado. Bem, por algum
tempo ela teve certa atenção, a atenção que tanto temia. Algumas pessoas
cochicharam com os seus acompanhantes sobre quem ela era. Não tinha como não
perceber, porém passou tão rápido quanto começou.
- Você está falando com o Joe? – Demi desviou
o olhar da tela do celular para fitar os olhos verdes de Ed. Ele estava sentado
ao lado de Selena e a abraçava de lado descontraído e relaxado degustando a
bebida cara que era servida.
- Tentei falar com ele, mas acho que agora a
internet não está funcionando mesmo. – Comentou tristonha porque as mensagens
eram enviadas, mas nem mesmo chegavam para Joe.
- Entendi. O que vocês estão achando? –
Perguntou Ed terminando a primeira taça e Demi fez como o amigo, bebeu o
líquido cor de champanhe em alguns goles porque não tinha nada melhor para
fazer. – Até que não está o ruim, digo, o clima. Acho que eu nunca estive numa
festa cara como essa. – Comentou observando a taça vazia apostando que ela era
de cristal.
- Se o Joe estivesse aqui, até que eu
poderia dizer que está sendo legal, mas como eu estou segurando vela para
vocês, está chato e eu não vejo a hora de ir embora. – Brincou Demi para tentar
ajudar Selena a relaxar, mas ela só negou com a cabeça claramente neurótica com
Ed que se curvou para beija-la. – Obrigada. – Disse quando o garçom encheu mais
a taça dela e a de Ed.
- Sel, você não vai beber nada? – Perguntou
o rapaz fitando o rosto da namorada e Demi preferiu não olha-los porque queria
dar privacidade para o casal.
Com
o dinheiro de toda aquela gente, dava para colocar comida em muitas mesas e
educar muitas crianças e jovens. Demi fitou as pessoas conversando e rindo
alto, cada um mais elegante que o outro em suas roupas caras. Enquanto muitos
tinham dinheiro de sobra, outros não tinham o que comer. Foi de uma família
pobre que ela veio. De duas mulheres que chegaram ao fundo do poço para
continuar vivendo. Pensando na história que contava na carta da mãe, Demi bebeu
o líquido da taça e respirou fundo de cenho franzido. Será que Dianna estava
bem? Será que ela teria o que comer e onde dormir assim que chegasse a Deus
sabe onde? Aquilo não se fazia! Definitivamente não. Sumir no mapa era a pior
decisão que Dianna poderia tomar. Quando Demi olhou para Selena e Ed,
encontrou-os trocando um beijo que era sutil mesmo na mesa mais afastada onde
estavam. O celular vibrou e estranhando o nome na tela, Demi se levantou sem
chamar a atenção de Selena e nem a de Ed. Poderia ser Dianna, o número era
diferente e ela não se lembrava de ter visto número semelhante nos Estados
Unidos.
- Demi! Eu gostaria que a Srta. me acompanhasse em algumas mesas.
Estão comentando sobre você, querida. – Marcus estava bêbado ou quase perto de
estar. Demi não teve como negar, o então presidente da maior empresa
tecnologias do país a conduziu nas respectivas mesas que tinha citado.
Era constrangedor e desconfortável estar no
meio de pessoas tão importantes. Eram acionistas, fornecedores, concorrentes e
até mesmo artistas. Demi tentou ser o mais natural e discreta possível, porém
algumas pessoas já estavam afetadas pelo álcool e tinham reações claramente
exageradas que eram o suficiente para deixa-la sem jeito. O celular tocou
novamente e aproveitando que o assunto não a englobava, Demi conseguiu escapar
daquele grupo e respirar aliviada. Infelizmente ela não conseguia driblar
facilmente as pessoas. O sapato de salto alto não ajudava muito e também não
dava para sair esbarrando em todos. Só foi uma pena que o celular parou de
tocar quando ela finalmente focou toda atenção nele.
Os olhos de Demi arregalaram e ela não moveu um
músculo. Aliás, pareceu que todas as pessoas da festa estavam tão chocadas
quanto ela. Que tipo de justiça era aquela? O lugar de Jake era atrás das
grades, não ao lado de Susan e de seus três filhos. Era demais para Demi. A
sensação era horrível e desconfortável. Jake a fez passar por uma situação
realmente ruim, assim como ele tinha feito com Selena e outras funcionárias da
Gyllenhaal. Porém ele parecia arrependido? Culpado? Constrangido? Claro que
não! Demi acompanhou o caminhar dele e da família, e quando o olhar cruzou com
o de Jake, ele simplesmente o desviou como se não a conhecesse, como se não
tivesse feito da vida dela um inferno.
Impotente
e sem graça, Demi caminhou sobre o olhar de algumas pessoas se sentindo
envergonhada, principalmente dos colegas de trabalho. Ela era a amante, melhor,
a ex-amante. Quase ninguém a conhecia como a usada, ou a assediada. As
pessoas tinham o poder de pegar uma informação pura e manipula-la a ponto de
inverter todos os papeis: a vítima passava ser o agressor e o agressor a pobre
e inocente vítima.
- Demi? Onde você estava? – Por que diabos
Selena estava pálida? Demi se sentiu péssima ao fitar o claro desespero de Sel
estampado nos olhos e nas feições assustadas.
- Eu precisava atender uma ligação. – Disse
abraçando Selena de lado porque ela estava com medo da amiga desmaiar ou algo
do tipo. – Onde está o Ed? – Perguntou preocupada ajudando Selena caminhar para
a mesa onde eles tinham se acomodado.
- Ele foi buscar um copo com água. – Selena
não podia desmaiar, Demi enlaçou os dedos aos dela e a observou atentamente.
- Você está passando mal. – Disse e Selena
negou engolindo em seco.
- Eu só não consigo ficar no mesmo ambiente
que ele. – Era claro que era Jake. Ele tinha a enganado, mas com Selena, ele
foi bruto e intimidante até mesmo a ameaçando.
- Desculpa por te fazer passar por isso. –
Disse Demi preocupada com Selena e o bebê, e se sentindo culpada porque se ela
tivesse acreditado nas palavras de Sel, muita coisa seria diferente. – Não vou
deixar que ele te machuque, eu estou aqui por vocês. – Ao menos um sorriso, mesmo que forçado, Sel esboçou. Demi
também tinha medo de Jake, porém a raiva era maior e para proteger Selena, ela
faria de tudo.
- Oi meninas. – O instinto de proteção de Ed
estava em alerta. Ele se acomodou na cadeira que permitia a observação de tudo
que acontecia com Selena e Demi. Se Jake lançasse um olhar na direção daquela
mesa, ele estaria seriamente encrencado. – Você também quer água, Dem? –
Perguntou observando Selena beber a água com certa rapidez para depois fitar os
olhos de Demi.
- Eu estou bem. – Disse Demi enlaçando os
dedos aos de Selena. – Vamos para casa? – Perguntou para Selena depois de
trocar um breve olhar com Ed.
- Eu só preciso de um pouco de ar. Você pode
ir ao banheiro comigo? – Era uma droga não poder contar para Ed o que estava de
fato acontecendo, aliás, nem mesmo Demi sabia ao certo. Selena estava pálida e
assustada. O bebê tinha que estar bem! Demi queria perguntar se havia alguma
dor ou desconforto, mas Ed estava tão preocupado que ele não dava espaço para
elas.
Preocupada,
Demi assentiu balançando a cabeça dando alguns minutos a amiga e a Ed, que
trocou de cadeira se sentando ao lado de Selena para poder conversar e
examina-la melhor. Agoniada com a situação, Demi sentiu a cabeça doer e o nervoso
toma-la. Sem querer ela procurou olha-lo entre as tantas mesas. O cenho
enrugou-se e os pensamentos fugiram num piscar de olhos. Ninguém deveria se
deixar levar por um sorriso, principalmente aquele sorriu que a seduziu meses
atrás. Jake conversava com um dos acionistas da Gyllenhaal, Demi conhecia o
homem de uma das reuniões de semanas atrás e se perguntava se as notícias
estampadas no jornal não eram o suficiente para que as pessoas se revoltassem
contra homens como Jake. Homens que não tinham a decência de respeitar uma
mulher. Susan estava lá, jovem, bonita e graciosa com o caçula nos braços
e olhando para o marido com admiração.
- Demi? Vamos? – Desviando o olhar de Jake,
Demi franziu o cenho quando fitou os olhos abatidos e cansados de Selena, mas
assentiu se preparando para se levantar.
- Eu vou espera-las aqui, quando vocês voltarem,
nós vamos para casa. – Disse Ed fitando precisamente os olhos de Selena. – Se acontecer
alguma coisa, é só me ligar, ok? – Disse para Demi que assentiu.
Desconcentrada,
Demi envolveu o braço ao de Selena e começou a caminhar as guiando sem nem saber
a direção do banheiro. Com a presença de Jake, as pessoas pareciam nota-las a
ponto de Demi conseguir sentir os olhares que recebia conforme caminhava
desorientada. Na mão livre estava o celular, e quando ele começou a tocar, Demi
só percebeu porque o aparelho vibrava, porém não passou do primeiro toque e o
número ainda era o desconhecido.
Como
o lugar era grande, elas tiveram que recorrer a pedir informação primeiro para o
garçom e depois para o segurança que estava na saída do salão. Conforme
caminhavam na direção do banheiro, o barulho da festa ficava para trás assim
como a movimentação.
- Selena, tem alguma coisa de errado com o bebê?
– Perguntou preocupada assim que elas adentraram o banheiro vazio. O lugar era
enorme e tão luxuoso quanto o resto do salão, com direito a paredes espelhadas
e torneiras carregadas de detalhes em pedras e material cor de ouro.
- Não, Dem. Eu acho que ele está bem. –
Comentou Selena se recostando no balcão da pia e levando a mão ao ventre
realmente preocupada com a saúde do bebê já que ele era pequenino e precisava
que ela ficasse bem para se desenvolver. – Eu acho que estou fraca. Estou sem
comer desde o almoço, mas também não sinto vontade.
- Sel. – Repreendeu-a a olhando e Selena
franziu o cenho desviando o olhar. – Você tem que contar para o Ed logo, ele só
quer cuidar de você, não percebeu como ele estava preocupado?
- Eu sei, Dem. Eu vou contar, só me dê
alguns dias. – Disse e Demi assentiu porque era a decisão de Selena e ela
deveria respeitá-la mesmo não concordando.
- Então nós podemos pelo menos ir ao
hospital para saber como cuidar de você nesses meses de enjoo? Você não pode
continuar sem comer. – Cansativo era quando Selena não queria colaborar. Demi
deu alguns minutos para amiga e também se recostou na bancada da pia fitando o
lustre luxuoso e de luz baixa até que a resposta veio num murmuro esticado e
dengoso. – Você tem que colaborar, mamãe,
nós só queremos cuidar de você. – Ela sorriu de orelha a orelha abraçando
Selena que também a abraçou murmurando um “Aham”. – E você não tem que ficar
preocupada com o Jake, ele não pode fazer nada conosco. Me promete que vai
relaxar e sair daqui com um sorriso lindo nos lábios? O Ed está preocupado e
imaginando coisas que jamais estariam acontecendo. – Colocando uma mecha
castanha do cabelo de Selena atrás da orelha, Demi sustentou o olhar da amiga
até que ela assentiu.
- Tudo bem. Eu preciso... – Disse apontando
para uma cabine e Demi assentiu rindo observando a amiga caminhar elegantemente
até uma daquelas divisórias do banheiro. Suspirando, Demi também adentrou uma
das cabines quando sentiu que a bexiga poderia estourar a qualquer momento. Consumir
bebidas alcoólicas sempre era um problema.
- Selena? – Chamou assim que ouviu uma porta bater. O baque foi estrondoso
e brusco que o coração disparou no peito e o sangue pareceu congelar nas veias. –
Selena?! – Chamou novamente vestindo a calcinha tão agilmente que a peça ficou
mal encaixada ao corpo. O que mais a desesperava era que Selena não respondia e
aquilo não tinha como ser um bom sinal bem pelo contrário, era muito ruim.
Continua... E aí? Estão apostando em quem ou no que? Gostaram da gravidez da Sel? Pois é, atentem-se aos detalhes... Obrigada pelos comentários, um abraço e até mais!
Continua... E aí? Estão apostando em quem ou no que? Gostaram da gravidez da Sel? Pois é, atentem-se aos detalhes... Obrigada pelos comentários, um abraço e até mais!