Estranho como o tempo parecia
demorar a passar quando o que Joe mais queria era ir embora. O silêncio
absoluto às vezes o assustava porque aquele lugar tinha metros e metros
totalizando quase num quarteirão!
Será que tinha sido uma boa ideia
trabalhar como vigilante noturno? Era cada susto que o deixava de cabelo em pé
e coração para sair boca a fora!
À noite o lugar não ficava bem
iluminado e como era enorme com todos os seus corredores com toneladas de
cargas de navios do lado de fora, o ruído do vento batendo na lona e os gatos
que perambulavam pela área faziam com que o coração acelerasse, a mão suada
chegava agarrar a lanterna com mais força e a tremer e a que segurava a pistola
abraçava mais o material gelado e rígido.
O bom era que o trabalho não era
apenas dele. Dois cães da raça rottweiler circulavam na área aberta onde dava
acesso ao prédio da empresa que tinha o contratado. Porém os cães eram grandes
e ainda não tinham se acostumado com o novo vigilante.
Arrumando o boné a cabeça, Joe
caminhou um pouco até que estava próximo a grade que isolava aquela área. Ele observou
a estátua da liberdade com certa curiosidade e esboçou um pequeno sorriso
quando de repente os olhos estavam com o olhar fixo na ponte do Brooklyn. Estar
ali com Demi, Selena e Ed era uma das melhores lembranças do dia do
aniversário. Quando ele ainda morava no Texas, era bom ser mimado por Clara,
Laura e Rose, mas ali em Nova York tinha acontecido diferente de tudo que ele
conhecia. Os amigos eram adultos como ele e o entendiam. E o que ele sentia por
Demi era diferente e novo, o sentimento de tê-la era sem igual e o emocionava. Naquela
noite, a cada vez que ela tinha segurado a mão dele, tinha o beijado e
sussurrado palavras apenas para ele, Joe se sentia mais apaixonado e sortudo
por ter encontrado aquela mulher.
Quando o vento soprou um pouco
mais forte que o de costume, os óculos tiveram as lentes embaçadas pelos pingos
fracos de chuva que começavam a molhá-lo. Dando um último olhar à ponte se
lembrando de como Demi tinha sido paciente e tornado a primeira vez a data mais
especial da vida dele, Joe virou as costas e caminhou a passos largos para a
área coberta onde dava acesso ao prédio.
A cadeira de madeira o abrigou
bem, e mais familiarizado Joe se sentiu aliviado para limpar os óculos para
poder observar atentamente se tinha algo de anormal acontecendo. Ele dividiria
as rondas de uma e uma hora como o Sr. Potter tinha o orientado. Quando mais
tarde os pingos de chuva engrossaram e o barulho deles se chocando contra as
cargas era intrigante, e bem, estava frio. Pensando em quantas horas faltavam
para ir embora, Joe deu uma olhada demorada aos arredores e então sentiu que
poderia pegar o celular sem grandes problemas. Onze e meia da noite. A vontade
era de chorar! Parecia que tinha uma eternidade que ele estava ali sozinho tendo
minis ataques cardíacos.
“Não conseguimos
dormir sem você” – Demi.
O tédio e o medo foram embora
para dar lugar a felicidade que o fez sorrir de orelha a orelha. Elas eram
lindas! Simplesmente lindas e Joe sentiu uma saudade inconsolável. Demi estava
deitada na cama dele vestindo nada
mais que uma das camisas dele e com Lucy
deitada sobre a barriga e a cabeça aninhada entre os seios que marcavam a
camisa. Como ele queria estar ali com elas para mimar Lucy e beijar Demi como
se não houvesse o amanhã.
“Meu Deus! Eu amo
muito vocês! E eu queria muito estar aí para mimá-las. Tenta dormir princesa,
amanhã cedo você tem trabalho.” – Joseph.
“Também amamos muito
você, amor. Eu não deveria ter dormido mais cedo depois que fizemos amor, agora
eu estou sem sono e completamente carente”- Demi. Joe sorriu. Ele tinha passado a tarde toda com Demi na Gyllenhaal,
e quando eles chegaram ao apartamento só deu tempo de alimentar Lucy e então a
cama foi a próxima parada.
“Gatinha, nós vamos
fazer amor quando estivermos em casa. Quer que eu fique aqui até você dormir?” – Joseph.
“Jooooe! Você não vai
ficar comigo na Gyllenhaal, amor? Nós podemos fazer amor no meu escritório. Na
minha cadeira, de preferência e se aguentarmos, na mesa. Não vou te atrapalhar?
A Lucy está começando a pegar no sono” – Demi. Então a foto que Demi enviou de Lucy de olhos fechados o fez
sorrir.
“Você nunca
atrapalha. Cuida do meu bebê. Acho que não posso ir muitas vezes na semana
ficar com você no escritório. Um dia sim, um dia não. Não todos os dias gatinha”
– Joseph.
“Ps. Vou cuidar do nosso bebê. Eu quero ficar com você
Joseph. Não me importo com o que as pessoas vão dizer, nós não estaremos
fazendo nada de errado... Depende do ponto de vista.. Mas no final do dia o meu
trabalho estará feito como sempre” – Demi.
“Não é que eu não
quero, bem pelo contrário, eu quero muito! Só não quero prejudica-la” – Joseph.
“Eu amo quando você
diz que quer transar comigo.” – Demi.
“E quando você fica
excitado e de bochechas coradas eu fico maluca de tesão”- Demi.
“Gostoso!” – Demi.
“Princesa, eu estou
aqui sozinho, por favor, não diga essas coisas porque eu não quero ficar
daquele jeito sem você” – Joseph.
“Prometo que vou me
comportar, Sr. Delícia. Amanhã estarei esperando ansiosamente para nós ficarmos
sozinhos” – Demi.
“Huumm Joseph.. Você
comeu as maçãs e o sanduíche? Está tudo bem?” – Demi.
“Amanhã na nossa
cama.” – Joseph.
“Ainda não.” – Joseph. Enviou e então olhou atentamente procurando por algo suspeito.
“Tudo bem. Estou
fazendo a ronda de uma e uma hora, então só tenho que ficar observando tudo” – Joseph.
“Tenho a sensação que
estou te atrapalhando. O seu chefe não vai gostar nada de saber que o novo
vigilante gostoso está trocando mensagens durante o expediente com a namorada
carente e abandonada.” – Demi.
“Trocando mensagens
com a namorada carente, manhosa e muito gostosa. O seu bumbum estava fantástico
naquela saia de hoje à tarde” – Joseph. As bochechas dele tinham corado, mas o
sorriso estava nos lábios e o coração levemente acelerado porque ele sabia que
Demi estava sorrindo como ele.
“Você estava olhando
o meu bumbum, Joseph? Confesso que o seu bumbum também estava fantástico nos
jeans. Sei que eu já disse isso hoje milhares de vezes, e quero que saiba que
não é clichê, só me deu vontade de dizer, de novo, que eu te amo muito” – Demi.
“Nunca será clichê,
meu anjinho. Eu adoro sentir o meu coração bater descontroladamente de amor por
você. E bem.. Eu sempre estou olhando para o seu bumbum... E admirando o seu
sorriso também, princesa. ” – Joseph.
“Estou quase pegando
um táxi para ficar aí com você te ajudando a proteger esse lugar. Por favor
querido, tenha cuidado” – Demi.
A conversa com Demi durou até que
a chuva passasse. Ela o fez sorrir, rir e querer estar desesperadamente na cama
entre as pernas daquela mulher tendo as mãos delicadas acariciando os músculos
e puxando o cabelo da nuca. Então Joe se alternava entre vigiar e mandar
mensagens. Quando Demi parou de responder por volta de meia noite e meia, Joe
soube que ela tinha adormecido já que não existia pessoa no mundo mais
sonolenta que a namorada dele.
Espantar o sono era uma das
tarefas mais difíceis que qualquer pessoa poderia enfrentar, prova disso era que
vez ou outra, Joe tinha que sacudir a cabeça e caminhar para não adormecer.
Porém mesmo caminhando o sono queria consumi-lo, mais parecia um peso que só
aumentava o esmagando a cada segundo. Era um pacote completo: o sono falava
mais alto que a parte racional. Mais horas se passaram e a cada segundo Joe se
sentia mais sonso e zonzo. Ele viu a noite ir embora tão devagar para dar lugar
aos primeiros raios de sol. Infelizmente o celular estava descarregado e não
era possível ter noção da hora, mas pelo frio que fazia ainda deveria ser cedo.
Fazer a última ronda foi um
verdadeiro sacrifício. Parecia que alguma coisa tinha mudado. O corpo estava
tão absurdamente cansado, os músculos doloridos e cansados como se ele tivesse
feito uma série de exercícios físicos que exigiam muita energia. Dando os
últimos passos a força, Joe se sentou a cadeira de madeira e lutou para não
dormir. Ele tirou os óculos para limpá-los e se endireitou na cadeira fitando a
frente depois que colocou os óculos. Bocejar foi inevitável, ele tentou se
manter firme olhando para os lados e foi daquele jeito durante alguns minutos.
- Filho! – O que estava acontecendo? Joe franziu o cenho e quando abriu
os olhos, ele tinha visto a imagem borrada do corpo de um homem. Então fechou
os olhos de novo franzido o cenho porque o cansaço estava instalado em cada
pedacinho do corpo. – Filho, acorda. – O coração quase saiu pela boca quando a
parte racional o avisou que ele estava trabalhando e que aquela voz pertencia
ao Sr. Potter, o homem quem tinha o contratado.
O pânico foi tão grande que Joe
quase caiu da cadeira atrapalhado arrumando os óculos ao rosto e piscando uma
série de vezes assimilando melhor o que estava acontecendo.
- Desculpe! Eu posso explicar. – O que diabos ele diria? Quando fitou os
olhos escuros em meio aos traços marcados e expressivos do rosto do Sr. Potter,
as bochechas coraram bruscamente e Joe travou como acontecia meses atrás. A
única coisa que ele queria fazer era ir embora e se xingar por ter estragado
tudo.
- Vamos tomar café da manhã? Você deve estar faminto. – Será que o Sr.
Potter tinha se esquecido de que ele estava dormindo, melhor, cochilando? Os
olhos verdes de Joseph estavam levemente arregalados, então ele assentiu
arrumando o boné a cabeça e engoliu em seco fitando o chão de concreto escuro.
- Só preciso pegar a minha mochila. – Ele estava tão envergonhado que
caminhou o mais rápido possível para dentro do prédio adentrando a sala onde
havia os armários dos funcionários. Não era inteligente deixar o Sr. Potter o
esperando, e quando ele voltou, chegava ofegar.
- Como foi a noite, filho? – Joe não estava acostumado com abraços
masculinos, se é que podia ser considerado como um abraço o braço do Sr. Potter
nos ombros dele.
- Bem.. – Murmurou envergonhado preferindo fitar o chão ainda úmido a
fitar os olhos do chefe. – Sem movimentação suspeita.. – Disse baixinho. – Fiz
as rondas como o senhor recomendou: de uma e uma hora.
- E você cochilou que horas? – Era uma brincadeira? Joe sentiu as
bochechas corarem ainda mais com o sorriso no rosto do chefe. Ele não parecia
bravo, pelo menos se estava, sabia disfarçar muito bem. A caminhonete os
esperava do outro lado da rua e conforme caminhavam até lá, os funcionários
chegavam cumprimentando o Sr. Potter com intimidade e certa euforia. Adentrando
o veículo, o corpo de Joe se moldou ao banco do carona e foi aí que os músculos
expressaram como estavam absurdamente cansados.
- Eu.. eu cochilei depois que o dia amanheceu, não sei ao certo quando, mas
não tem mais de uma hora. – E era verdade. Ele cochilou assim que o dia
amanheceu e a cada dez minutos ou perto disso, o rapaz abria os olhos um pouco
assustado porque o consciente o lembrava de que ele não deveria dormir.
- Está tudo bem, filho. – Ele tinha olhado brevemente para Joe apenas
para dizer aquela frase. – Você nunca trabalhou nesse turno? – Perguntou
parando a caminhonete em frente a uma lanchonete que não ficava distante do
porto.
- Não. Sempre dormi cedo para acordar cedo, então não tenho costume em
dormir muito tarde ou ficar sem dormir. – Comentou tentando ser o mais claro
possível como vinha percebendo que as outras pessoas faziam.
- Nós ainda vamos ajustar melhor o seu horário e contratar outro rapaz
para revessar as rondas. – Joe assentiu, ele estava mais preocupado era com a
forma que pagaria o que consumiria na lanchonete. Não tinha como dizer que
estava sem fome porque o estomago fazia tanto barulho. – Vamos filho, um café
forte vai te ajudar a ficar acordado. – Não deu tempo de processar a situação
direito, o Sr. Potter saiu da caminhonete e só restou Joe acompanha-lo mesmo
estando cansado e com sono.
A chuva não tinha dado trégua,
estava fraca e o sol escondido atrás de nuvens carregadas. As pessoas vestiam
roupas de frio e mesmo sendo cedo, o movimento delas já era grande. A
lanchonete estava cheia e parecia agradável. Joe apenas acompanhou o chefe sem
dizer muitas palavras, ele cumprimentou a atendente quando foi apresentado como
vigilante noturno e então eles se acomodaram a uma mesa logo sendo servidos com
café e exageradas fatias de bolo.
- Venho aqui há mais de vinte anos. – Comentou o Sr. Potter tirando o
boné preto com o logo da empresa mostrando o cabelo escuro com alguns fios
grisalhos aos arredores da cabeça já que a parte de cima dessa era careca. – Eu
adoro o bolo deles. – Joe não soube o que dizer. Não era que ele não podia
comer aquele tipo de comida, só não era de costume e muito menos recomendável.
– Não está com fome? – Os olhos escuros fitaram os verdes de Joe que coçou a
barba um tanto sem jeito. Quem os visse juntos daquele jeito juraria que eram
pai e filho tendo um café da manhã agradável. O Sr. Potter era um pouco mais
moreno que Joe, era um homem maduro e até mesmo charmoso com a barba cheia e
baixa e o porte físico aparentemente definido por baixo da jaqueta, camisa
xadrez de flanela, jeans escuros e bota de operário.
- Eu sou diabético e hipertenso. Não posso comer sem que antes eu tenha
tomado insulina. – Murmurou envergonhado procurando não fitar os olhos do
chefe. – E o café aumenta a minha pressão arterial.
- Não pode nenhum pedacinho do bolo? – Perguntou atentamente e Joe
balançou a cabeça negando. – Meu Deus, filho! O que eu vou fazer com você?
- Obrigado pelo café da manhã. Eu vou para casa para me organizar.
- Você nem comeu. Onde você mora? Vou leva-lo para casa.
- Nã..Não precisa. Eu não quero atrapalhá-lo. – Murmurou se ajeitando
para se levantar um tanto nervoso, prova disso era que a xícara com café quase
caiu.
- Não vou deixa-lo ir para casa com fome e quase dormindo em pé. – O
objetivo não era deixa-lo bravo. Joe engoliu em seco quando o homem abriu a
carteira deixando algumas notas sobre a mesa e então se levantou lançando um
olhar duro a ele. – As suas condições não impedem que você trabalhe como
vigilante? – Perguntou quando eles saíram da lanchonete o mais pacificamente
possível.
- Não. Contando que eu me alimente direito. – Disse Joe com um pouco de
receio. Ele só teria mudar toda a rotina para conseguir da conta do trabalho.
Ser diabético e hipertenso exigia uma organização detalhada e especial do
cotidiano, até mesmo os horários para dormir deveriam ser respeitados com mais
rigor. – Minha namorada arrumou a
minha mochila, mas nós acabamos esquecendo a caneta para aplicar insulina. – Comentou assim que abriu a porta da
caminhonete. É claro que eles tinham esquecido. Os beijos que trocavam era o
suficiente para envolvê-los só naquela forma de afeto e nada mais.
- Qual o nome da sua namorada? – O Sr. Potter perguntou dando partida na
caminhonete.
- Demi. – Joe esboçou um pequeno sorriso ao pensar que poderia encontrar
Demi ainda dormindo na cama dele.
- Quanto tempo vocês estão juntos? – Perguntou e quando fitou a aliança,
arqueou uma sobrancelha fazendo Joe corar.
- Oficialmente juntos há três semanas. – Dessa vez ele deixou o sorriso
tomar conta dos lábios. Daqui alguns dias eles comemorariam um mês de namoro.
- Quantos anos você tem, filho? – Então Joe murmurou vinte e três timidamente.
Era visível que ele era diferente dos outros rapazes em todos aspectos, por
isso o Sr. Potter o olhou com certa curiosidade quando parou a caminhonete no
sinal vermelho. – Primeira namorada?
- Primeira namorada. – O sorriso tímido de Joe dizia tudo e foi o
suficiente para que o homem mais velho entendesse exatamente o que tinha
acontecido na vida de Joe nos últimos dias.
- Nenhum homem esquece a primeira namorada.
Ela sempre será especial para você independente das circunstâncias. – A voz
soou firme e tão empolgada como se ele estivesse tendo uma boa lembrança. –
Você não me passou o seu endereço.
Daquela área do Brooklyn até
Manhattan de carro levou pouco mais de quarenta minutos levando em consideração o
trânsito da manhã, que como sempre, estava congestionado. Mas as perguntas do
Sr. Potter vinham uma atrás da outra e Joe as respondia da melhor forma que
podia, assim, o tempo passou mais rápido.
- Posso fazer uma pergunta? – A caminhonete estava parada em frente ao
prédio onde Joe morava e ele se preparava para descer do carro o mais rápido
possível na esperança de ainda encontrar Demi.
- Pode. – Disse Joe mais familiarizado com aquele homem gentil. Mas só
de pensar que ele teria que responder uma pergunta sem saber do que se
tratava, o nervoso o tomava.
- Como toda empresa, nós pesquisamos antes de contratar novos
funcionários. O seu currículo é bom apesar de não ter experiência como vigia. Nós
levamos em conta o seu porte físico e que um rapaz da sua idade poderia ajudar
em outras questões. Procuramos por referências no seu antigo emprego e houve
uma pequena confusão. Primeiro recebemos uma crítica positiva, e hoje pela
manhã recebi um e-mail contradizendo toda a recomendação. Eu decidi que era
melhor conversar com você a respeito do assunto antes de tomar qualquer
decisão. E por favor, de homem para homem, seja sincero. – Era claro que aquilo
era coisa de Jake. As palavras dele ainda estavam frescas na mente de Joe que
respirou fundo.
- Eu vim do Texas para
trabalhar na Gyllenhaal como analista de redes. – Começou a dizer fitando os
olhos escuros do Sr. Potter. – Antes de entrar na empresa, eu conheci a minha
namorada de uma forma trágica. Um doente iria violenta-la e eu impedi. Nos tornamos
amigos, só que ela estava envolvida com o neto do dono da Gyllenhaal. – Eram
tantas coisas para explicar e a revolta de Joe era tão grande quando se tratava
de Jake que ele até mesmo tinha perdido a fome. Alguns detalhes ele preferiu
não encaixar, mas pelo que contou ao Sr. Potter a essência da história
continuava a mesma. – Eu fui demitido porque bati no dono da empresa dentro de
uma delegacia. – Disse um pouco incomodado. – Não sou violento, só que eu não
podia deixar essa passar. O Jake humilhou
e abusou psicologicamente da minha namorada e da minha amiga. E ele expôs a
Demi em sites pornográficos sem o consentimento dela. Eu só perdi a paciência.
- Eu acredito em você. –
Demorou um pouco para a frase ser dita, mas uma vez que foi, Joe soube que ele
realmente acreditava. – E eu estou contando com os seus serviços, Joseph. Você
é um bom garoto e está certo em defender a sua namorada. Nunca deixe um homem
ou até mesmo uma mulher ferir a sua garota da maneira que for, e nem você a
machuque. – Joe assentiu. Ele concordava em todos os aspectos, só que os
pensamentos sobre o pai de Demi o fez pensar sobre a situação e automaticamente
ele estava se sentindo mal.
***
- Então nada de briga? – Perguntou Selena. O sofá do escritório de Demi
acomodava as duas amigas e os objetos que elas usavam para trabalhar naquela
manhã fria e de tempo nublado.
- Eu não diria briga. – Disse Demi mais concentrada no que fazia no
notebook a olhar Sel, que não estava muito diferente dela. – Discussão se
encaixa melhor. Nós discutimos e transamos depois do almoço assim que
chegamos ao apartamento dele. Pagamos o apartamento e hoje ele vai pagar o
resto das contas. – Ela aproveitou para conferir a hora no notebook. Eram oito
e vinte, Joe já deveria estar em casa dormindo.
- Ainda bem que ele entendeu. – Disse Sel e Demi assentiu. – Já percebeu
que os homens sempre ficam com receio de receber ajuda de uma mulher? –
Perguntou pensativamente e Demi tornou a assentir de imediato.
- Eles são orgulhosos. Eu entendi o lado do Joe, ele só que caminhar
sozinho. Mas ainda sim o orgulho o cegou um pouco, ainda bem que não foi o
suficiente para ele continuar recusando a minha ajuda.
- Vocês estão se protegendo? – Selena perguntou fitando o conteúdo no
notebook para depois os olhos de Demi que forçou um sorriso. – Demetria!
- Por que você sempre pergunta isso? – Uma sobrancelha de Demi estava
arqueada e o olhar fixo ao de Selena.
- Você sempre se esquece de tomar o anticoncepcional.
- Eu esqueço vez ou outra. E quando esqueço, tomo duas pílulas. – Selena
arregalou os olhos e Demi deu de ombros um pouco sem graça. – Eu só esqueci uma
vez, e nós usamos preservativo no começo.
- Vocês têm que usar os dois métodos, ainda mais com você se esquecendo
das pílulas. E ainda tem a questão do horário.. – Demi revirou os olhos indiscretamente.
Então ali começou a brincadeira, elas se pirraçaram e riram tanto como sempre
faziam.
- Qual é o segredo para ter uma bunda desse tamanho? – Arqueando uma
sobrancelha, Demi fitou os olhos castanhos de Selena e deu de ombros esboçando
um pequeno sorriso. – Parece que a cada que passa ela fica maior. – Comentou
Sel se erguendo para tocá-la na cintura. – Fica como se estivesse de perfil. –
Pediu e Demi revirou os olhos. Ela estava trabalhando, não tinha tempo para
verificar aquele tipo de coisa. E então Selena analisou o corpo da amiga
naquela região e esboçou um pequeno sorriso. – Demetria! Que bunda magnífica! –
Era algo que se comentava em voz alta? Demi enrolou os documentos e com eles
numa espécie de tubo, aproveitou para bater em Selena.
- Acho que eu posso comentar o mesmo sobre os seus seios. – Ela sorriu
amarelo e agora quem arqueou uma sobrancelha foi Selena logo olhando para os
seios e os tocando.
- Você acha que eles estão grandes? – Perguntou esperançosa e Demi se
sentou no colo de Sel que estava um pouco deitada já que estavam no sofá.
- São maiores que os meus, então você não pode reclamar. – Demi esboçou
um sorriso tímido e aos pouquinhos se deitou sobre Selena aninhando a cabeça no
ombro da amiga.
- Não quer dizer que eles estão crescendo. - Selena levou as mãos à cintura de Demi e ali a apertou gentilmente. O
silêncio entre elas era algo tão natural quanto as conversas. Nos braços de
Selena, Demi relaxou fechando os olhos gostando de sentir o calor da amiga e o
toque delicado dos dedos na cintura.
Guiada pelo momento, os dedos
tocaram a clavícula de Sel e logo a mão abraçou o ombro descendo o carinho até
um pouco acima do seio esquerdo. Selena também levou a caricia da cintura para
as costas tão timidamente quanto Demi. Ambos os toques eram delicados e tão
femininos. Os corações estavam disparados nos peitos, mas a vontade de trocar
aqueles carinhos era maior.
Abrindo os olhos, Demi roçou o
rosto ao pescoço da amiga sentindo que o coração iria sair boca a fora. A ideia
de dar um beijinho ali não parecia errada, bem pelo contrário. Ela pressionou
timidamente os lábios abaixo do maxilar de Selena e a mesma arrepiou da cabeça
aos pés. Não era a primeira vez que Demi a beijava ali, só que agora era
diferente porque das outras vezes tinha sido brincadeira.
Demi preparou os lábios para
roçar a pele de pêssego de Selena, umedecendo-os e assim que os roçou fechando
os olhos, a respiração pesou quando a mão da amiga lhe acariciou o rosto. Os
olhos de Sel eram castanhos como os dela e o olhar profundo era um poço de
paixão, amor e segurança. Diferente dos olhos de Demi que mostravam como ela
precisava de alguém para amá-la. No momento que se olharam, foi diferente de
todas as outras vezes. Estudavam-se e ampliavam ainda mais o sentimento que uma
nutria pela outra. Os dedos de Selena deslizaram pelo rosto de Demi das
bochechas para o queixo e o olhar dela focou-se nos lábios bem desenhados da
amiga para depois fita-la nos olhos. E Demi fez o mesmo arriscando levar a mão
à cintura de Sel.
Se fosse outra situação, as duas
já teriam trocado um sorriso de orelha a orelha ou começado a rir. Só que
aquela conexão que tinham criado era forte demais para ser interrompida por uma
brincadeira de melhores amigas. Os olhos de Selena fitaram novamente os lábios
de Demi e elas se aproximaram por instinto, que nem perceberam. O beijo
aconteceria se não batessem a porta. Aquilo era definitivamente uma droga! Demi
se levantou tão sem jeito, as bochechas estavam coradas e ela não teve coragem
de olhar para Selena que não estava muito diferente. A batida sutil com certeza
não pertencia a Ed, o que era muito mais reconfortante. Arrumando a roupa
social ao corpo, Demi passou a mão pelas mechas do cabelo e se preparou
psicologicamente para atender a porta.
- Srta. Lovato, bom dia. – Tudo que ela menos esperava era que quem
batia à porta fosse Marcus, o atual presidente da Gyllenhaal e meio-irmão da
esposa de Jake. Geralmente o homem estava sério, cara de poucos amigos e fazia
questão de olhá-la profundamente como se pudesse enxergar além do normal. Porém
Marcus parecia à vontade e envolvido com o trabalho o suficiente para deixar a
opinião sobre Demi de lado. – Eu estou precisando da sua ajuda. – Ele disse
fixando o olhar dos olhos escuros sobre os dela e Demi assentiu dando passagem
para que ele pudesse adentrar o escritório. – Srta. Gomez. – Marcus
cumprimentou Selena com um breve aperto de maõ e ela nem mesmo ousou em olhar
para Demi. – Já que a Srta. está aqui, poderá ajudar a Srta. Lovato. – Era
castigo? Quando elas trabalhavam juntas tudo fluía com naturalidade e o resultado
era incrível, só que depois do que tinha acontecido, elas precisavam ficar
distantes por pelo menos uma tarde. – Com toda a repercussão do caso do Jake,
nós estamos perdemos alguns funcionários de diversos setores aqui na empresa. Nas
fábricas os números continuam os mesmos. Eu preciso de pessoas de confiança
para contratação de novos funcionários. Nós temos uma entrevista para essa
tarde com cerca de cem candidatos. Eu preferia administrar as entrevistas, mas estamos
começando a ter problemas com alguns dados da contabilidade... Então eu preciso
das duas para organizar as entrevistas, e depois a Srta. – Disse olhando para
Demi. – Participará da nossa reunião de estratégia e discutiremos ideias para
novos projetos de Software. – Marcus não parou de falar. Eram tantas atividades
extras que Demi e Selena tiveram que fazer notas. – Srta. Lovato, desculpe
avisá-la hoje. Nós recebemos um convite de uma faculdade em Baltimore para realização de
uma palestra sobre tecnologia gráfica. Pensei na Srta., pois é a funcionária
mais adequada para a realização da palestra e representará bem a empresa.
- Em Baltimore? – Demi perguntou apreensiva.
- São cerca de três horas daqui. A empresa vai disponibilizar um carro e
pagar por todos os gastos. – Disse Marcus. Demi arriscou olhar para Selena,
pois naquele momento ela precisava da ajuda da melhor amiga.
- Hoje à tarde? – Selena perguntou devolvendo o olhar de Demi.
- No final da tarde. A palestra acontecerá no auditório da faculdade às
oito da noite, então a Srta. precisa sair as quatro para chegar a tempo. –
Mesmo Marcus sendo o atual presidente, Demi arqueou uma sobrancelha na frente
dele.
- E as outras atividades? – Demi perguntou claramente não gostando nada
da ideia de ter que viajar porque era justamente no horário que ela poderia
ficar com Joe. Sem contar que depois dos vídeos que Jake vazou na internet,
tudo que ela queria era distância de multidões.
- A Srta. as executará até as três, ainda estamos na manhã então temos
tempo o suficiente. Pagarei a mais pelo serviço das duas. – Dinheiro não era
problema. Demi fitou os próprios pés por alguns segundos sem saber que resposta
ela daria. Ficar sem Joe estava fora de cogitação! – A Srta. receberá pela
palestra. Mandarei um carro leva-la para casa às três e as quatro vocês saem.
Qualquer dúvida trate com o meu secretário, tenho negócios a resolver fora da
empresa. – Ele nem mesmo deu a chance de Demi negar. Marcus saiu do escritório
às pressas quando o celular começou a tocar.
- Eu nunca saí da cidade. – Disse Demi de cenho franzido e um pouco
nervosa. Ela tinha nascido e crescido em Nova York, e de lá, nunca tinha saído
nem mesmo para visitar uma cidade vizinha. – E o Joe? O que eu faço, Sel? –
Resmungou aflita e Selena se aproximou para abraça-la.
- Primeiro mantenha a calma. Eu vou te ajudar com essa lista que temos
para cumprir. – Selena a olhou nos olhos e Demi assentiu. – Então você vai para
casa às três horas como o Marcus falou. Não será tão ruim, Baltimore é aqui
pertinho e você vai poder voltar ainda hoje.
- E o Joe? – Ela não estava preocupada com a viagem e muitos menos com
as atividades que tinha para cumprir.
- Liga para ele para falar, não manda mensagem.
- Eu não vou poder ficar com ele. – Resmungou manhosa rompendo o abraço quando
tornaram a bater à porta. E pelo desespero, Demi e Selena souberam que era Ed.
- Meninas, com licença. – E era realmente Ed. Ele abriu a porta na
terceira batida e colocou apenas a cabeça para dentro do escritório para
verificar se poderia adentrá-lo sem problemas. – Amor, estamos precisando de
você. – Disse a Selena adentrando o escritório então os olhos bonitos dele
fitaram os de Demi, que corou um pouquinho se lembrando do que tinha acontecido
mais cedo com Selena. – Preciso que você verifique o rendimento do
departamento. – Disse a Demi ainda o olhando nos olhos.
- Nós estamos tendo problemas com funcionários? – Demi pegou os papeis
das mãos de Ed para que pudesse analisá-los acomodada a cadeira.
- Vocês duas não leram as últimas notícias? – Perguntou Ed de cenho
franzido abraçando Selena por trás. Quando as duas negaram, ele buscou pelo
celular no bolso e não demorou nada para encontrar o que procurava. – “Caso Jake Gyllenhaal: o empresário está
detido na delegacia central de NY há duas semanas suspeito de matar Jason
Gyllenhaal. A acusação de assassinato não foi confirmada pela polícia e o caso
segue sendo um mistério. Jake, que está em processo de julgamento, conseguiu
ação na justiça para responder pelos crimes de assédio sexual e moral e
chantagem em regime aberto.
A paz tinha acabado, as feições
tranquilas tinham mudado drasticamente e o clima pesou. Selena estava com os
olhos arregalados claramente em estado de pânico e Demi não estava muito
diferente, só que estava em estado de choque. Jake estava livre para
perturbá-la, e ele iria.
- Ele não foi carrasco só nesse departamento. O pessoal está pedindo
demissão e afastamento com medo da volta dele. – Disse Ed as analisando e
demorou um pouco para que Demi e Selena entendessem do que se tratava.
- Ele vai responder em regime aberto. Não significa que ele vai voltar à
presidência da empresa. – Murmurou Demi folheando os papeis que Ed tinha trago.
– Com tudo que ele fez, eles não vão deixa-lo voltar. – Demi adentrou o cabelo
com as mãos e respirou fundo tentando não ficar apavorada. – Eu vou ligar para
o detetive Pine mais tarde. – Disse mais para Ed porque Selena estava aninhada
nos braços do namorado escondendo o rosto no peito dele.
- Nos mantenha informados, Dem. – Disse Ed a Demi que se levantou para
se aproximar de Selena.
- Ei Selly, nós estamos aqui e não vamos deixar nada de ruim acontecer
com você. – Disse tocando o ombro da amiga que a olhou assustada. Demi nunca
tinha visto Selena com tanto medo e insegura. Aquele era o papel dela, não o de
Sel. – Vai ficar tudo bem. – Forçando um sorriso, Demi abraçou Selena e por
minutos ficou envolvida naquele abraço oferecendo segurança e amor a Selena. Quando
estava sozinha no escritório, Demi analisou os documentos sobre a mesa. Eles
tinham perdido quase dez funcionários, dentre eles seis mulheres e quatro
homens consideravelmente experientes e de confiança. A situação não melhoraria.
Demi só conseguiu concluir aquele pensamento quando pensou linearmente em todos
os acontecimentos envolvendo Jake. Ele era sinônimo de caos e todo cuidado era
pouco.
Continua... Oi! Tudo bem com vocês? Eu estou bem! Primeiramente, desculpem a demora para postar. Eu demorei a começar escrever porque tive uma avaliação na semana passada e só comecei a escrever esse capítulo(parte dele) na última segunda-feira. Espero que vocês gostem! E aí? Acham que o Jake vai voltar a perturbar? E esse trabalho do Joe? Obrigada por todos os comentários e visualizações, posto as respostas na próxima parte que já está sendo desenvolvida. Beeeeeijo!