- Eu não como assim há tempos. – Havia algo
diferente naquela lasanha que Anna não sabia identificar. A lasanha tinha um
bom tamanho que com certeza alimentaria tranquilamente quatro a cinco pessoas,
o estranho era que estava quase acabando e nem Anna e nem Demi sabiam como
conseguiram comer em grande quantidade como fizeram.
- Eu também não. – Demi colocou uma mecha do
cabelo atrás da orelha e respirou fundo olhando para o prato vazio. – Mas eu
estou muito satisfeita, estava uma delícia e eu não me arrependo nenhum pouco
de ter comido esse tanto. – Ela estava melhor, ao menos não chorava desamparada
e tinha entendido um pouco mais sobre a doença de Joe. Anna tinha explicado o
que era insuficiência cardíaca, os tipos e o que deixava Demi mais tranquila
era: se Joe estivesse realmente muito mal, ele estaria internado no hospital.
- Eu também, Dem. – Anna sorriu quando olhou
para irmã. – Na verdade eu acho que nunca comi dessa forma, mas estou feliz, é
como um desejo realizado. – Demi
assentiu rindo da forma como Anna tinha gesticulado as mãos e sorrido toda
sonhadora.
- Eu já contei sobre o André? Antes de
começarmos a namorar, eu só pedia pizza para vê-lo. – Comentou se espreguiçando
como uma gata manhosa. – Eu soube que ele também estava afim de mim porque era
sempre ele que entregava as minhas pizzas em qualquer horário. – Disse pegando
o garfo para pegar o pedaço de azeitona que sobrava no prato.
- Eu acho que sou a única da família que não
fez loucuras por amor. – Resmungou Anna logo bebericando o suco de laranja. – Acho
que sempre fui muito tímida para deixar um garoto se aproximar e mudar o meu
mundo. – Comentou trocando um breve olhar com Demi.
- Não é ruim ter os pés no chão e ser
racional. – Disse Demi esboçando um pequeno sorriso. – Não faço ideia de
quantas vezes já fui machucada, ou de quantos relacionamentos vazios e
superficiais tive. É horrível ter o coração partido, mas mesmo assim nunca
deixei de acreditar que eu encontraria o meu amor. – Os olhos fitaram um ponto
qualquer da cozinha e Demi respirou fundo quando pensou em Joe. O que ele era?
Uma decepção? O homem que ela amaria para todo o sempre?
- Eu sinto muito. – Anna abraçou Demi de
lado e gentilmente cobriu a mão da irmã com a dela. – Pensando por esse lado,
não é ruim. – Disse cortando mais um pedacinho da lasanha. – Eu gostaria de ter
tido mais experiências na adolescência, vocês aproveitaram muito mais que eu. –
Era fato. Provavelmente Hannah tinha a vida amorosa mais movimentada que a de
Anna, que era relativamente mais velha que a menina.
- Você acha que a timidez te atrapalhou ou
tinha algo há mais? – Perguntou Demi voltando a atenção a irmã e Anna mordeu o
lábio inferior para depois comer a lasanha.
- Não é como se ninguém nunca tivesse me
chamado para sair. – Anna sorriu se lembrando de como era na adolescência. – Eu
sempre estava envolvida com os meus livros, as atividades da escola e teve uma
época que a minha mãe não me deixava visita-la no hospital porque eu estava
indo todos os dias ficar com ela. – Tinha acontecido há cerca de cinco a seis
anos, mas parecia que era há uma eternidade. E Anna pensou em como tudo poderia
mudar drasticamente num piscar de olhos. – Eu estava no hospital por dois motivos:
eu adorava ficar com a minha mãe no consultório e porque o Rick era o
estagiário dela. – Demi sorriu ao olhar para irmã. Anna não podia ser tão
atrevida quanto ela ou tomar decisões como Bella, era uma mulher apaixonada e
paciente. Tinha o seu próprio estilo.
- Você era a mais próxima a sua mãe? –
Perguntou Demi num impulso e logo sentiu as bochechas corarem com o olhar
surpreso de Anna. – Se não quiser responder, tudo bem, eu entendo. – Eram
irmãs, mas para Demi sempre existiria algo estranho quando elas resolviam
conversar sobre os pais.
- Nós éramos próximas. – Disse Anna
esboçando um sorriso triste. – Mas acho que todas nós éramos. Cada uma tinha um
segredo com a mamãe, uma atividade preferida, um seriado. Ela sabia administrar
muito bem o tempo e todas nós recebíamos atenção já que nem sempre conseguíamos
ficar no mesmo ambiente e compartilhar a mamãe pacificamente. Era divertido e
às vezes o papai ficava excluído. – Não era para menos. Seis meninas atrás da
mãe, as ideias femininas sempre falavam mais alto e Inácio às vezes não sabia
como conviver com tantas mulheres. – Ele dormia no sofá e a gente na cama com a
mamãe. – Demi sorriu quando Anna a olhou também sorrindo. Pelo jeito que ela
contava, a ideia era que não havia momento melhor que aquele. E Demi ficava
feliz por saber que as irmãs tinham crescido num ambiente seguro e amoroso. –
Mas eu acho que Megan é a mais sensível com a mamãe. Elas tinham uma conexão
especial e a mamãe sempre conseguia acalma-la. – Anna suspirou, largou o garfo
e cobriu o rosto com as mãos. – Hoje completa dez meses que a mamãe faleceu e
daqui a dois dias é o aniversário da Meggy. Será tão difícil para ela. Todo ano
a mamãe a acordava com um bolo confeitado com velinhas e cantando parabéns. Não
sei o que podemos fazer esse ano. Será o primeiro ano da Megan sem a mamãe.. – Deveria
ser a melhor sensação do mundo acordar com um bolo confeitado com direito a
velas e parabéns. No lugar do bolo, tudo que acontecia com Demi era uma surra e
no mínimo xingamentos.
- Anna, eu sinto muito. – Disse guiando a
mão para segurar as da irmã, que assentiu de cenho franzido pensando em como o
tempo tinha passado rápido desde... – Vocês deveriam continuar fazendo o mesmo.
Imagino que será difícil, mas tentem pensar em como a Megan ficará feliz. – Era
mais complicado do que Demi podia entender. Dianna nunca foi presente, então
era quase o mesmo que não ter uma mãe. Só que existia uma grande diferença entre a situação de Dianna e a de Caroline, mãe das meninas.
- Eu não queria que ela pensasse no que
aconteceu... Ela é uma peste, mas é tão pequena e inocente. – Demi envolveu
Anna num abraço acolhedor pensando que tudo que ela precisava fazer era apoiar
a irmã. – É muito difícil para Bella e eu, Dem.
Nós vimos essas garotas nascerem, cuidamos delas e quando elas estão
tristes, é de partir o coração. – Demi tinha certeza que era, crianças não
deveriam sofrer com pais viciados, alcoólatras, abusivos e que partiam cedo,
porém a vida funcionava daquela forma e tudo que restava era ser forte para
conseguir vencer.
– Nós vamos fazer algo para Meggy, todas nós, ok? – Anna forçou um sorriso para Demi que assentiu um pouco sem jeito desfazendo do abraço. - Essa semana será movimentada. Temos o seu tcc, o aniversário de Megan. – Disse Demi tentando soar alegre e animada, e era o que ela tentaria fazer. Sofrer por Joe não mudaria nada, a vida deveria seguir e nada melhor que a família para ajuda-la a esquecer.
– Nós vamos fazer algo para Meggy, todas nós, ok? – Anna forçou um sorriso para Demi que assentiu um pouco sem jeito desfazendo do abraço. - Essa semana será movimentada. Temos o seu tcc, o aniversário de Megan. – Disse Demi tentando soar alegre e animada, e era o que ela tentaria fazer. Sofrer por Joe não mudaria nada, a vida deveria seguir e nada melhor que a família para ajuda-la a esquecer.
- Semana que vem é o natal depois teremos o
ano novo. – Disse Anna se levantando para começar a organizar a bagunça que as
duas fizeram para o almoço. – Se o meu tcc for aprovado, teremos a minha
formatura. – Demi assentiu. Mais um ano estava acabando e era incrível como
tudo tinha sido completamente diferente, claro, para melhor. Havia uma família
para amá-la e amar, Selena teria um bebê e por quase seis meses, ficar com Joe
tinha sido imensurável.
- Nós teremos o casamento da Sel. – Comentou
Demi. – O pai dela quer apressar as coisas, então até o final do ano nós
teremos um casamento para ir e organizar. – Era estranho em pleno século vinte
e um com tantos tabus quebrados e o pai de Selena ainda queria casa-la só
porque ela estava grávida, mas Demi suspeitava que Sel só estava aceitando toda
história porque realmente amava e queria ficar com Ed.
- Jesus. – Murmurou Anna e as duas riram
quando se olharam porque elas sabiam que seria uma loucura organizar o
casamento de Selena. – Isabella e a Selena não param de conversar, elas saíram
juntas esse final de semana e a Selena foi lá em casa. – Ciúme, mas de quem?
Demi franziu levemente o cenho para segundos depois assentir. Selena e Bella? –
Dem? Você não está com ciúme, está? – Anna sorria a olhando, e quando Demi não
disse nada, tudo que ela fez foi arquear as sobrancelhas.
- É que.. Não me interprete mal. – Disse
Demi colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha. – Eu acho que tudo que
passei quando era pequena me fez uma pessoa muito sensível. – As bochechas
estavam coradas e Demi não sabia se deveria tocar no assunto, mas sentia que
podia confiar em Anna. – Sabe? Não ter atenção e carinho da minha mãe, nem o
papai por perto. Quando conheci a Sel, me apeguei muito a ela e.. Eu a amo.
Fico com ciúme porque eu tenho medo dela gostar mais de outra pessoa do que de
mim. – Era tão estranho tocar no assunto. Agora ela tinha os pais, ambos
amorosos, e muitas irmãs para ama-la. O tempo deveria consertar aquela bagunça,
Demi esperava que sim. – Mas não é apenas em relação a Selena.. Acho que eu
tenho ciúme de todas as pessoas que amo. – Murmurou terrivelmente envergonhada
e Anna assentiu pacientemente a abraçando.
- Eu entendo. Você passou por muitas coisas
ruins, mas agora está tudo bem. – Sustentaram os olhares e Anna assentiu quando
Demi franziu o cenho chorosa.
- E o Joseph?
– Perguntou chorosa se aninhando ao abraço da irmã porque nos braços de
Anna, Demi se sentia protegida.
- Você o ama e vocês vão ficar juntos. Dê um
tempo para você e para ele. – Disse Anna deslizando os dedos pelas mechas
marrons do cabelo da irmã. – Não é fácil para quem está doente, Dem. Eu acho
que você deveria apoia-lo como namorada, ficar ao lado dele e mostrar como ele
é especial para você. – Demi franziu o cenho ao olhar para Anna. A situação era
muito complicada e ela não queria se machucar ainda mais.
- Anne, eu o amo, mas não consigo confiar
nele. Terminei porque se nós costumássemos, seria desconfortável para ambos. Eu
sempre desconfiaria e no final, nós dois acabaríamos mais machucados do que
estamos. – Seria tão desgastante, e Demi se conhecia para saber que
investigaria todos os passos de Joe às escondidas para saber se ele estava
realmente dizendo a verdade.
- Eu
entendo. – Disse Anna pensativa. – Você terá que considerar todas as
possibilidades, Dem. O Joe errou em não te contar, mas não foi fácil para ele,
nunca é.. O que eu quero dizer é que você deveria dar uma segunda chance para
ele. Tenho certeza que com o seu apoio como namorada, ele ficaria mais feliz e
seguro. – Talvez Anna tivesse razão. Demi a olhou e relutante assentiu, não era
que ela faria o que a irmã tinha dito, era que de certa forma concordava.
- Eu sei, vou pensar nisso, prometo. – Disse
se levantando para começar organizar a cozinha. – Preciso de ajuda hoje para
procurar a Lucy, você e o Rick podem ajudar? – Perguntou trocando um breve
olhar com Anna, que esboçou um pequeno e feliz sorriso.
- Ele encerra o consultório as seis, nós
passaríamos a noite juntos hoje, mas vou cancelar para ficar com vocês. – Demi
riu da cara de cachorro carente da irmã. Ela compreendia como era difícil ficar
longe do namorado por uma noite, por isso não julgava. – Já estou avisando que
você vai dormir lá em casa. – Uma vez que elas sairiam para procurar Lucy todas
juntas, Anna tinha certeza que as irmãs fariam uma festa por ter Demi de volta,
e seria muito divertido.
- Eu queria dormir com a minha mãe. –
Ronronou Demi. A ansiedade para ver Dianna era tão grande e deliciosa de sentir
porque Demi sabia que quando a encontrasse tudo seria muito diferente do de
costume e ela seria mimada pela mãe. – Mas como você está abrindo mão do seu
namorado, eu também vou abrir mão da minha mãe para ficar com vocês. – Demi
gargalhou alto quando Anna corou e sorriu envergonhada. – Eu não estou dizendo
nada demais, mas você está se entregando Anne. – Rindo novamente, Demi se
sentiu animada para conversar com a irmã sobre o assunto.
- É que hoje nós marcamos para eu dormir no
apartamento dele. Entendeu? – Perguntou Anna olhando brevemente para Demi que
assentiu. – Como eu disse mais cedo: conforme você vai praticando, vai ficando
muito bom... Talvez nós antecipemos a nossa noite para essa tarde, se ele não
estiver ocupado no consultório. – Demi assentiu sorrindo. Quando Joe estava
ocupado e surgia uma pequena brecha no tempo do rapaz, eles aproveitavam da
forma que podiam e era divertido e apaixonado.
- No jantar de noivado da Sel você estava
praticamente fugindo dele, fico feliz que agora as coisas estão melhores. –
Comentou Demi murmurando um palavrão porque lavar louça era uma tortura em dias
frios.
- Eu só não conseguia tirar a minha primeira
vez da cabeça. Eu amo o Rick, mas acho que foi a noite mais desconfortável de
toda a minha vida. – Reclamou Anna e Demi riu. Sorte a dela que com André não foi
ruim, bem pelo contrário. – Três vezes depois, eu estou começando a gostar
muito.
- Ficará bom, Anne. O melhor é que é com o
cara que você ama. Daqui alguns dias vocês não conseguirão manter distância. Vão
considerar namorar em todos os lugares e será incrível. – O sorriso sonhador de
Demi logo se transformou num triste. Ela olhou para a louça suja e franziu o
cenho se lembrando de como era grudada a Joe. Era tão bom dormir abraçada com
ele, conversar, assistir desenhos e o melhor de tudo era poder fazer amor com a
certeza que Joe era o homem que a amaria para sempre.
- Nada de ficar triste, vocês vão ficar
juntos. – Como ficariam juntos que era a questão, porém Demi quis acreditar nas
palavras da irmã de todo coração porque ela amava Joe e sempre amaria.
***
Poderia ser
classificado como mutirão o que fariam, certo? Até porque no total eram seis
irmãs, tirando Alicia, então vinha Selena, Ed, Rick, Augusto e Inácio. Quando
se dividissem em grupos, ficaria muito mais fácil para procurar por Lucy. O
encontro estava marcado para 18h30, e todos tinham confirmado, só era uma pena que
por causa do inverno, o dia escureceria muito mais cedo que o habitual, o que
ficaria muito ruim para procurar Lucy. Demi estava tão preocupada com a
cadelinha porque era uma covardia um animalzinho indefeso ficar perdido num
lugar desconhecido, ainda mais no inverno. Lucy deveria estar faminta e com
muito frio, por isso Demi atravessava a rua para adentrar o prédio onde a mãe
morava. Toda ajuda era bem-vinda. Ela tinha entrado em contato mais cedo com as
irmãs e facilmente conseguiu o apoio delas, então Anna contatou Rick, e Hannah,
Augusto.
A visita era
surpresa, então foi muito bom o porteiro libera-la sem ter que avisar a Dianna.
Demi afrouxou o cachecol que usava e pacientemente subiu o jogo de escadas que
levava ao andar onde a mãe morava. Seria muito bom receber o abraço caloroso da
mãe quando Dianna abrisse a porta. Até o cabelo Demi arrumou, claro que foi
necessário porque a touca tinha o bagunçado um pouco. Ao bater a porta, a
ansiedade começou a consumi-la e algumas perguntas se formaram. Será que Dianna
iria gostar de vê-la? Será que ela deveria visitar a mãe sem avisa-la? Um pouco
nervosa, Demi começou a tremer a perna esquerda fazendo com que a bota batesse
repetidamente no chão, arrumou o trench
coat ao corpo e adentrou o bolso do mesmo com as mãos. Estava frio.
- Surpresa? – Era para ter sido mais
animado, Demi sabia que sim, só que não conseguia agir com toda naturalidade
quando estava perto da mãe porque ficava muito nervosa e tímida.
- Demetria. – Dianna sorriu claramente
feliz. Abriu os braços para recebê-la num abraço e a beijou nas bochechas
demoradamente. – Eu estava com tanta saudade de você, filha. – Foi muito bom
ouvir aquelas palavras. Demi sorriu de olhos fechados e engoliu em seco
enquanto era abraçada pela mãe.
- Eu também estava com saudade de você, mamãe. – Disse toda tímida e quando
Dianna desfez do abraço, ela fez questão de tocar o rosto da filha, arrumar
melhor as mechas de cabelo e sorrir ao olhar Demi nos olhos constatando que ela
era a cara do pai.
- Vamos entrar. – Disse Dianna dando
passagem para Demi que estranhou ouvir a televisão ligada. Ela sabia que a mãe
não gostava de assistir tevê. – O seu pai está comigo. – O objetivo de ir a
casa da mãe sem avisar era fazer surpresa, não ficar surpresa. Foi impossível
não arregalar os olhos castanhos quando Inácio entrou no campo de visão, porém
Demi disfarçou com um sorriso e caminhou de encontro ao pai quando ele ofereceu
um abraço como Dianna fez.
- Meu filhotinho. – Demi fez careta, mas não
reclamou de como o pai a abraçava todo exagerado. – Nós sentimos muita a sua
falta, bebê. – Inácio sempre era carinhoso. Demi sorriu de olhos fechados
sentindo os beijos que eram distribuídos pelo rosto para depois descansar a cabeça
no peito do pai.
- Eu também senti. – E novamente ela fez
careta quando foi envolta num abraço de urso.
- Inácio, você vai esmagar a menina! –
Reclamou Dianna. E quando Demi a olhou, ela esperava encontrar a mãe brava, não
com um sorriso mostrando que estava de bom humor.
- Eu não vou. Estou esmagando você? –
Perguntou Inácio a olhando nos olhos e Demi sorriu e balançou a cabeça negando.
Ela gostava muito de todo o carinho que recebia e jamais o recusaria.
- Não está, está muito bom. – Demi riu junto
com o pai se sentindo uma criança com toda atenção e carinho que recebia, logo
ela olhou para mãe sorrindo e sentiu que o coração sairia boca a fora quando
Dianna a abraçou ainda nos braços de Inácio. Aquilo era demais. Demi mal
conseguia fechar os olhos e eles ficaram marejados, como ficaram! Então todo
aquele amor que recebia começou a sufoca-la junto ao nervoso. Era muito bom ter
um pai e uma mãe depois de tudo que tinha acontecido, mas ter os dois juntos
era muita coisa para digerir. – Então, o que vocês estão fazendo? – A pergunta
foi uma escapatória para o momento considerado por Demi muito constrangedor e
embaraçoso, porém o que aconteceu em seguida foi o suficiente para deixa-la de
bochechas coradas e com muita vontade de poder sumir no exato momento:
- Estamos fazendo chocolate quente. – Disse
Dianna.
- Estamos acendendo a lareira. – Disse
Inácio.
O problema das duas
frases era que elas tinham sido ditas no mesmo instante, o que causou um
conflito absurdo e Demi não soube disfarçar, porque quando olhou na direção do
sofá, encontrou a coberta e travesseiro de Dianna. Alguém estava absurdamente
errado ou era uma mera confusão toda a situação.
- Nós estamos acendendo a lareira. – Disse
Inácio pacientemente tentando não mostrar como estava envergonhado. – E
resolvemos fazer chocolate quente para ajudar aquecer. O aquecedor da sua mãe
quebrou, não consegui conserta-lo porque uma peça queimou. Estamos esperando um
técnico há horas, mas até agora ninguém apareceu. – Agora fazia sentido. Demi
assentiu, mas não tinha coragem suficiente para fazer a pergunta que ela queria
fazer “Ok, mas porque você está aqui há
horas com a minha mãe?”.
- Nós almoçamos juntos aqui. – Disse Dianna
como se pudesse ler o que Demi pensava.
- Então? Você quer chocolate quente? –
Perguntou Inácio esboçando um largo sorriso para filha e trocando um breve
olhar com Dianna.
- Claro. – Murmurou Demi adentrando os
bolsos do trench coat com as mãos acompanhando os pais na direção da cozinha. –
Anna ligou para você mais cedo depois do almoço, porque não disse que estava
aqui? – Perguntou Demi olhando para o pai enquanto se acomodava a cadeira. Pelo
visto era Inácio quem tomava frente da cozinha já que Dianna não sabia
cozinhar.
- Anna não perguntou onde eu estava. – Não
era a resposta que ela queria, porém Demi decidiu que não iria insistir, na
verdade ela sequer sabia o que estava tentando provar fazendo perguntas e
tentando chegar a conclusões. – Ela também não disse que você estava de volta,
princesa. Chegou hoje? – Demi não respondeu de imediato porque de repente o pai
estava muito próximo da mãe ensinando exatamente o que Dianna deveria saber
para preparar um chocolate quente: “Fogo
sempre baixo e não pare de mexer, querida.”.
- Na verdade ontem à noite. A Sel me buscou
no aeroporto com o Ed. – Disse Demi fitando os próprios dedos. Ela queria estar
vibrando de felicidade por estar presenciando o momento que sempre sonhou:
Dianna e Inácio juntos. Só era estranho e impossível de acontecer para
simplesmente estar acontecendo sem grandes complicações. – O que? – Perguntou
quando percebeu que os pais a olhavam sem conseguir esconder como pareciam
preocupados.
- Aconteceu alguma coisa? – Dianna perguntou
a olhando atentamente e para o bem de Joe, Demi resolveu negar balançando a
cabeça. O ex-namorado tinha a
chateado muito, mas ele não merecia uma surra de Inácio.
- Eu só quis voltar para casa. Tenho meu
escritório para abrir, o projeto da Gyllenhaal
para terminar... Não posso ficar parada, preciso de um emprego o quanto
antes. Também tem a Lucy, eu estou tão preocupada com o meu anjinho, precisamos
encontra-la. – Não era mentira. Demi umedeceu os lábios e
sustentou o olhar da mãe, que só o desviou quando Inácio a chamou para falar
que eles já podiam desligar a boca do fogão.
- Você pode trabalhar comigo. – Disse Inácio
buscando pelas xícaras no armário e Demi se perguntou como diabos ele sabia que
as xícaras ficavam exatamente naquele compartimento. – Eu preciso mesmo de uma
secretária para resolver os problemas mais burocráticos da empresa. – Então ele
guiava Dianna a cada passo do chocolate quente, estava próximo demais e aqueles
olhares. Demi sentiu uma pontada de ciúme incomoda-la que ela até franziu o
cenho.
- Pai,
eu não sou secretária. – Resmungou Demi um pouco mal-humorada quando Dianna a
serviu com o chocolate quente. – Eu quero abrir o meu escritório e mexer com
design, odeio trabalhar com documentos e acordar cedo para ir a bancos e usar
roupa social. – Era verdade. Demi sustentou o olhar de Inácio e quando Dianna a
serviu biscoitos, tudo que ela fez foi franzir o cenho. – Deixe-me adivinhar:
fizeram biscoitos de manhã? – Soou tão acusador e pelo fato de não receber
nenhuma resposta de imediato, Demi apenas assentiu pegando um biscoito sem
fazer contato visual com os pais. – Fiquei curiosa para saber o que vocês
cozinharam no almoço. – Disse baixinho e um pouco embolado com a boca cheia de
biscoitos e quando Dianna a olhou como se pedisse para ela pegar mais leve,
Demi deu de ombros.
- Eu já volto, é da escola das meninas. –
Disse Inácio assim que o celular começou a tocar no bolso da jaqueta.
- Demetria. – Dianna a repreendeu se
acomodando a cadeira ao lado e Demi fez careta.
- O que? Vocês estão mentindo para mim e nem
sabem disfarçar. – Disse irritada colocando a caneca com chocolate quente sobre
a mesa. – Eu não sou idiota e nem inocente. – Murmurou com um mau humor que nem
conseguiu ser quebrado quando Dianna a abraçou de lado.
- Eu estou achando você só está com ciúme. –
Disse Dianna de um jeito tão descontraído que Demi não soube o que dizer a
princípio, demorou alguns segundos para formular uma resposta.
- Não é só ciúme. Eu não gosto que mintam
para mim e ess... – Resmungou, porém o assunto não progrediu porque Inácio
adentrou a cozinha.
- Filhote, vamos buscar Meggy e Amber na
escola? – Demi conhecia Inácio o suficiente para saber que algo tinha
acontecido. – Megan arrumou confusão e o diretor quer falar comigo. – Explicou
olhando para Demi que assentiu.
- Mamãe, a Lucy fugiu e agora à tarde nós
vamos procura-la. Você pode nos ajudar? – Perguntou Demi a Dianna antes mesmo
que ela esquecesse o real objetivo de ter ido a casa da mãe. – Pensei que
quanto maior for o grupo de busca, mais rápido vamos encontra-la. Está nevando
muito e.. Ela não pode ficar lá fora sozinha, assustada com frio e fome. –
Disse olhando nos olhos de Dianna que assentiu enlaçando os dedos aos dela.
- Qual o horário? – Perguntou Dianna com
toda atenção voltada para Inácio. Ela não se cansava de analisa-lo pensando em
como os anos tinham feito bem a ele. Inácio não tinha mais de quarenta e cinco
anos, e mesmo que tinha alguns fios grisalhos, ele parecia tão jovem,
descontraído e absurdamente sexy vestindo desde jaquetas de couro ao moletom
com capuz que tinha usado naquela manhã.
- Seis
e meia. – Murmurou Demi porque ela estava ali presenciando tudo e eles nem
sabiam disfarçar! – Está delicioso. – Disse em alto e bom som depois de
bebericar o chocolate quente, o que resultou numa careta e lábios rosados
porque a bebida estava realmente quente. – Nós já estamos indo? – Perguntou
Demi a Inácio o olhando fixamente. Ela não sabia o porquê do comportamento, só
não conseguia entender perfeitamente a ideia dos pais juntos como um casal.
- Vou terminar o meu chocolate quente
primeiro. – Disse Inácio de cenho franzido se acomodando a mesa. – O garoto
voltou com você? – Perguntou olhando para Demi, que desviou o olhar para a
xícara em mãos.
- Não.. O Joe ficou no Texas, ele voltará
essa semana ainda. – Disse brevemente sem muito interesse no assunto. – Se
quiser, pode ficar no meu apartamento enquanto o aquecedor estiver quebrado.
Hoje eu iria dormir com as meninas, mas posso cancelar. – Disse Demi a Dianna.
- Obrigada, meu amor. Mas não precisa se
preocupar, ficarei bem. Tem cobertas o suficiente para me aquecer, e até o
final do dia provavelmente o aquecedor estará consertado. – Demi assentiu sem
muita vontade.
Os próximos minutos
não foram exatamente desagradáveis, porém também não foram animados. Apenas
ficaram em silêncio bebendo chocolate quente porque sabiam que não estava
fluindo muito a conversa. Dianna e Inácio tinham percebido como Demi ainda
ficava muito abalada em relação a eles. Já Demi não conseguia de parar de
pensar nos pais juntos como um casal e imaginar várias teorias de coisas
que jamais iriam acontecer.
- Passo para pegar você seis e dez. Vou
ligar antes de vir. – Disse Inácio a Dianna, e Demi arqueou uma sobrancelha
olhando para xícara vazia. – Vamos buscar as suas irmãs, bebê? – Então agora
era com ela. Demi assentiu e se levantou para colocar a xícara na pia.
- Fique bem aquecida, mamãe. – Demi abraçava
Dianna por trás mesmo caminhando. – Nós estaremos juntas novamente daqui a
pouco. – Comentou toda carente quando a mãe se virou para abraça-la.
- Tenha cuidado e seja uma boa menina. –
Disse Dianna a olhando nos olhos e Demi assentiu gostando do abraço da mãe. –
Amo você, meu amor. – Era muito bom ouvir aquelas palavras. Demi sorriu e quase
derramou lágrimas. Depois de tudo que já tinha passado com Dianna, ouvir aquelas
palavras não tinha preço.
- Também amo você, mãe. – Demi beijou as
bochechas da mãe e sorriu admirada a olhando. Dianna sempre estava elegante, e
daquela vez não era diferente. Ela calçava botas, jeans e um suéter branco de
linha brilhosa que era um charme.
Na vez de Inácio se
despedir de Dianna, Demi não ousou em desviar o olhar porque ela queria muito
saber o que estava acontecendo entre os pais. Porém para o alívio ou desespero,
não houve nada além de um abraço e um beijo carinhoso de Inácio na testa de
Dianna.
- Como foi no Texas? – Perguntou Inácio
assim que adentraram o carro e Demi deu de ombros murmurando um “Bom”. – Gostou dos parentes do garoto?
– Tornou a perguntar e Demi a murmurou “Gostei”.
– Como foi a hospedagem? – Inácio deu partida no carro intrigado com as
respostas da filha, e quando veio o “Gostei”,
ele soube que algo estava errado. –
Vivo cercado de mulheres há vinte e três anos. O que aconteceu? – Perguntou
Inácio e Demi se lembrou de que precisava colocar o cinto de segurança.
- Nada. – Sim, era o que as mulheres
geralmente faziam. Demi cruzou os abraços e quando o pai disse o “Está bem” estrategicamente, ela franziu
o cenho. – Você e a minha mãe. – Resmungou irritada olhando o trânsito pela
janela do carro.
- Então é essa a questão. – Pacientemente
disse Inácio lançando um breve olhar sobre a filha. Era óbvio que Demi tinha
percebido, e ele que ela sabia, só não esperava ser afrontado tão cedo. – Dem, eu fui casado por vinte e dois anos
e quatro meses, amei a minha esposa e ainda a amo. Mas também amo a sua mãe, o
que sinto por ela sempre esteve comigo adormecido durante todo esse tempo. O
que tem de errado? Caroline queria que eu continuasse a minha vida, e Dianna
está solteira. Nós somos amigos e temos uma filha. – Não era tão simples como
Inácio queria dizer. Demi massageou o cenho e respirou fundo.
- É estranho para mim, ok? – Disse sem
esconder como estava chateada. – Eu.. Eu.. Eu nunca tive vocês dois por perto,
agora eu tenho um pai e uma mãe que se importam comigo. Mas ter pais que se
importam e que se amam é muito diferente. Isso está acontecendo rápido demais e
eu não consigo acompanhar vocês. – Demi mordeu o lábio inferior e resolveu que
não olharia para Inácio, só tentaria dizer o que sentia. – Tenho medo de que da
mesma forma que está acontecendo rápido que também acabe rápido. – Disse
baixinho. Era exatamente aquilo mais a assustava: eles estavam indo muito
rápido e podia significar que também acabariam rápido. – E tem tantas coisas.
Eu amo a minha mãe independente do que aconteceu, e eu não suportaria se as
pessoas a julgasse pelo que ela fazia... Eu não quero ninguém a olhando torto e
a destratando. – Era o que a sociedade fazia: apontava o dedo sem saber o que
era verdade ou mentira, ninguém queria saber, na verdade.. Só diziam por que
queriam ter algo interessante para contar. – O que você acha que as garotas
farão ao descobrir que você está saindo com uma
ex-prostituta que é mãe da sua filha? – O tom não passou muito do calmo,
porém era desafiador e exigia uma resposta clara o mais breve possível, por
isso Inácio estacionou o carro na primeira vaga livre que encontrou mesmo que
não era o destino final.
- Antes de ser uma ex-prostituta, a sua mãe
é um ser humano. As minhas meninas foram criadas para respeitar seres humanos
independente do que eles são ou foram. Assim como eu sei que a sua mãe também
criou você. – Era medo. Inácio sabia que era. Ele analisou a filha desde as
feições ao comportamento corporal. Demi estava tensa e com um ar de preocupação
que provavelmente não englobava apenas aquela questão.
- Eu sei. Só que sempre vai existir um
receio, preocupação e vergonha. É inevitável. Eu sei por que já passei por isso
na faculdade no último período. Foi um terror, as pessoas começaram a se
afastar, a comentar e fazer tantas brincadeiras ridículas com o assunto.. Eu
não estou preocupada comigo. – Disse antes que Inácio pensasse o contrário. –
Eu só não quero que a minha mãe seja alvo de comentários maldosos,
preconceituosos e ofensivos.
- Querida, o meu relacionamento com a sua
mãe está caminhando devagar. Nós estamos estudando todas as nossas decisões
cuidadosamente para ninguém se machucar, caso não dê certo. – Quando Demi
respirou fundo um pouco mais aliviada, Inácio segurou a mão esquerda dela e a
beijou nos dedos. – As suas irmãs não sabem o que está acontecendo e eu
gostaria que continuasse dessa forma até que seja sério o bastante para eu
apresentar a sua mãe como a minha
namorada. E elas não precisam saber o passado da sua mãe, não vejo como
algo que irá acrescentar positivamente. – Das palavras ditas por Inácio, cada
uma impactou Demi de uma forma diferente, mas a parte que mais a deixou
balançada foi “até que seja sério o
bastante para eu apresentar a sua mãe como a minha namorada”. Caso
acontecesse, poderia mudar tudo e quem sabe eles seriam uma família feliz?
- Você quer que eu esconda isso? – Em poucas
semanas as seis meninas se tornaram muito mais que irmãs para Demi, eram boas
amigas e esconder aquele detalhe iria incomoda-la e até coloca-la numa posição
difícil.
- Sei que estou te pedindo muito, mas a
situação é delicada e todo cuidado é pouco, meu anjo. – Disse Inácio a olhando
nos olhos. – Eu amo a sua mãe e agora que estou com ela, estou feliz e quero
muito poder dar todos os passos que nos esperam. – Só restou assentir. Demi
ronronou manhosa quando foi abraçada pelo pai e quando desfez o abraço, olhou
fixamente nos olhos dele.
- Eu sei que você é um cavalheiro. Toda
mulher deveria ter a honra de conhecer um homem gentil, carinhoso, protetor e
tão bom ouvinte como você. – Demi riu da careta do pai e para brincar, apertou
a ponta do nariz de Inácio. – Mas não, por favor, não machuque a mamãe. Cuide
dela, dê muito amor e carinho para ela. Em todos esses anos, a mamãe não saiu
apenas com caras por dinheiro. Ela já esteve em relacionamentos abusivos e eu
tenho certeza que, além de você, nenhum cara foi gentil com ela e a fez se
sentir amada. – O amor era forte o suficiente para transformar as pessoas, era
um elemento fundamental para felicidade e Demi sabia que se Inácio amasse
Dianna da mesma forma que ela amava Joe e era amada por ele, a mãe seria feliz.
- Eu vou cuidar da sua mãe, bebê. – Demi
sorriu toda envergonhada com o olhar do pai. Tinha algo sobre a forma que
Inácio a olhava que a fazia derreter de amor. O olhar era tão gentil, amoroso e
transmitia cuidado, atenção e muito carinho. – Oh, Dem. – E novamente Inácio
puxou Demi para um abraço, mas dessa vez o olhar dele não era tão feliz, era
que o coração partiu-se ao se lembrar de que ele não tinha visto aquela mulher
quando ela era apenas uma criança inocente. – Sempre vou amar você, filha. – Os
dedos dele tocaram cuidadosamente o rosto de Demi, os olhos fitaram os marrons
dela e Inácio encostou as testas sem interromper o olhar que trocaram.
- Eu sempre amei você, papai. E estou muito
feliz de finalmente te conhecer. Você é muito melhor do que eu imaginava, e eu
amo muito isso. – Os dois derramaram lágrimas, trocaram um abraço apertado em
meio aos suspiros porque por mais que os momentos que eles tinham eram bons,
muita coisa irrecuperável ficou para trás.
- Não se preocupa com nada, está bem? Vou
cuidar da sua mãe e de vocês. – Demi assentiu gostando muito de receber o beijo
demorado a testa. Ela tinha certeza que Inácio iria fazer um bom trabalho porque
ele era um homem incrível.
- Eu sinto que vocês vão me dar muito
trabalho. – Resmungou Demi quando o carro já estava em movimento. – Só não
inventem ter mais um bebê. – Seria muito e era apenas uma brincadeira, mas
quando Inácio arqueou uma sobrancelha e esboçou um pequeno sorriso, Demi se
sentiu tomada pelo desespero. Ela só não sabia se era de felicidade ou de
pânico. – Pai! – Disse alto e exasperada para Inácio rir em seguida.
- Estou brincando, mas se a sua mãe quiser,
eu não vou negar. – Era verdade. Demi massageou o cenho e não soube o que dizer
por que estava constrangida o suficiente para continuar com aquela conversa.
- Você está mesmo falando sério? – Perguntou
Demi alguns minutos mais tarde quando o carro já estava sendo estacionado numa
das vagas da escola das meninas. – Sobre bebês com a minha mãe. – Explicou
quando Inácio a olhou sem entender.
- Claro! Por que não? – Inácio sorriu a
olhando e Demi parecia que tinha tomado um susto de tão surpresa que estava com
a resposta. – Dem, não precisa ficar preocupada. A sua mãe está satisfeita com
você, mas quando nós estávamos conversando, ela disse que se acontecesse de
engravidar novamente, ficaria feliz. Não estou dizendo que nós estamos
planejando ter mais um bebê. – Dianna estava satisfeita com ela? Era tão bom
ouvir aquele tipo de coisa, significava que os pais estavam conversando sobre
ela e Demi até ficou curiosa para saber o que eles diziam a seu respeito.
Se dentro do carro
já era frio com o aquecedor trabalhando, no ar livre a coisa era séria. Estava
muito frio. Tão frio que nem abraçando Inácio resolveu muita coisa. O que
tiveram que fazer foi caminhar para dentro da escola rápido lutando contra a
dor causada pelo frio nas articulações das pernas.
- Eu só consigo pensar na Lucy perdida com
toda essa neve. – Pelas portas de vidro dava para observar a neve caindo e se
amontoando onde não havia caminho ou ruas. Demi cobriu o rosto com as mãos e
brevemente pediu a Deus que Ele estivesse protegendo Lucy de todo o frio e
maldade humana.
- Nós vamos encontra-la bem. – Inácio sorriu
para filha e para transmitir segurança a Demi, segurou-a na mão. – Procura as
suas irmãs enquanto converso com o diretor? – Pediu a olhando nos olhos e Demi
assentiu voltando a atenção para a estrutura da escola. – Se Megan perguntar, o
que é quase cem por cento de certeza, diga que sim, ela está de castigo até o meu primeiro bisneto completar oitenta anos.
– Não havia bom humor e quando Inácio a beijou na testa se despedindo,
Demi agradeceu por não ser Megan. Inácio era um excelente pai, ele fazia de
tudo para agradar, mas também quando elas aprontavam, ele era duro e incontestável.
Há quanto tempo
Demi não pisava dentro de uma escola? Deveria ter quase sete anos desde o
ensino médio. Era muito tempo, mas não tinha deixado nenhuma saudade. Bom era
ser independente e ter a vida financeira estável, ao menos algo positivo já que
o resto se resumia numa enorme bagunça. Em escolas tudo podia acontecer. A fase
de adolescente era difícil e tinha tanta pressão para escolher o que fazer no
futuro para conseguir sobreviver. Não deveria ser daquela forma impulsiva e
cruel. Caminhando pelo corredor com alguns armários, murais e portas, Demi se
lembrou de que a melhor coisa sobre a escola era ter Selena em todas as aulas e
por muito mais tempo do que ela tinha hoje. Elas eram tão grudadas que se uma
faltasse, a outra também faltava, sempre faziam trabalhos e atividades juntas e
foi daquela forma que a amizade nasceu.
A escola era muito
grande, e como não sabia onde as irmãs estavam, Demi pediu informação por onde
passava, alguém deveria conhecer Megan e Amber. Na sala de aula das meninas,
elas não estavam. Tudo estava muito quieto e já faltava esperanças, porém ao
sair da sala que Amber estudava, Demi franziu o cenho ao ouvir o barulho
inquietante que vinha do corredor.
Megan estava
vermelha, descabelada e claramente decidida a empurrar a outra garota. Uma
tentava puxar o cabelo da outra com as mãos e qualquer forma de ferir. Quando
caíram ao chão, Demi franziu o cenho indignada porque um garoto e uma garota
que eram mais velhos influenciavam a briga e alguém batia sem parar na lataria
do armário.. Aparentemente a pessoa estava presa e pedia ajuda, só que não dava
para entender muita coisa porque as meninas trocavam xingamentos e os
adolescentes mais velhos faziam barulho influenciando-as usar mais violência.
- Parem com isso! – Pediu Demi tentando puxar
a outra garota de cima de Megan, ela quase recebeu um tapa no rosto, mas quando
perceberam que era mais velha e não uma estudante da escola, portaram-se
diferente. – O que está acontecendo aqui? – Perguntou Demi soltando a menina
que agredia a irmã para poder ajudar Megan a se levantar.
- Nunca mais toca na minha irmã, ouviu? –
Megan era impossível. Demi arregalou os olhos quando a menina furiosamente se
aproximou da que estava brigando e ditou as palavras mostrando como falava
sério. Mas não eles não tinham feito nada com ela, pensou Demi de cenho
franzido, e daí ela ouviu a voz de Amber vindo do armário. – Se Amber fizer uma
reclamação sobre vocês ou se eu ouvir algum múrmuro nessa escola, não respondo
por mim. – E decidida, Megan se virou para soltar a irmã mais nova do armário.
- Pode deixar, eu vou garantir que ela vai
ficar calada. – Disse a outra garota e antes que Megan pudesse avançar, Demi a
segurou porque sabia que não resultaria em nada trocar agressões.
- Nós vamos falar com o diretor. – Foi de
propósito falar alto porque Demi queria que a menina e os adolescentes
ouvissem. Séria, ela ainda os olhou porque adolescentes não a intimidavam, ela
era uma mulher adulta e não tinha paciência para agressores e pessoas que
achavam legal praticar bullying. – Meu
Deus! – Demi tirou o moletom trench coat que
usava para envolver Amber no casaco e depois abraça-la. A menina estava apenas
com uma blusa de mangas fina, os lábios estavam um pouco avermelhados, o rosto
pálido e o corpo magro gelado. – Nós precisamos leva-la para enfermaria. –
Disse Demi preocupada com o estado de Amber. Se já estava frio para ela que
usava roupas adequadas, imagina para Amber?
- Eu juro que vou matar essa garota. – Megan
estava revoltada. Ela tirou o moletom que vestia para vestir na irmã mais nova
e Demi doou mais uma peça que era o cachecol. – Vamos leva-la. – Para manter o
calor, Megan abraçava Amber de um lado e Demi do outro.
Era um pecado uma
menina tão indefesa passar por aquele tipo de situação. Quando chegaram à
enfermaria, os olhos de Demi marejaram quando Amber foi deitada numa maca e
coberta com muitos cobertores. Era só uma criança, o que Amber podia fazer para
irritar uma garota mais velha a ponto de perder as roupas de frio?
- O que aconteceu? – Megan tinha deitado com
Amber e só tinha anteção para a irmã, que tinha os olhos fechados e suspirava.
Escorada na bancada de mármore, Demi observava as irmãs preocupada com o estado
de Amber, mas no momento só podia esperar pela enfermeira que tinha saído para
buscar um prato de sopa.
- Eles sempre roubam o dinheiro do lanche
dela. – Resmungou Megan se sentindo péssima porque não era sempre que ela
conseguia sair cedo da aula para lanchar com Amber e protegê-la. – Hoje não foi
diferente, só que dessa vez as meninas foram longe de mais. Encontrei as roupas
de frio no banheiro. Estão sujas com nomes horríveis escritos com spray, não
prestam mais. – Como uma garota de onze anos podia ser uma vadia, puta,
perdedora? Amber era apenas uma criança indefesa. – Amber? – Chamou-a porque a
menina estava tão quieta e de olhos fechados.
- Eu estou bem, é muito bom ficar quentinha
novamente. – Demi e Megan sorriram quando se olharam. Até uma touca dada pela
enfermeira a menina usava. – Você não disse que estava de volta, Dem. – Demi
sorriu um pouco sem jeito, acariciou o rosto de Amber e fez careta brincando.
- Eu senti muita saudade de vocês, por isso
voltei logo. – Brincou para descontrair o clima e ela riu quando Megan arqueou
uma sobrancelha a olhando. – Você está bem? Eles te machucaram? – Perguntou
para Amber.
- Não, mas aconteceu algo. – As bochechas
coradas de Amber eram de pura vergonha. A menina desviou o olhar das irmãs e se
sentiu tão sem jeito. Ao menos não era com o pai, o que seria mil vezes pior. –
Aconteceu comigo aquilo que acontece com todas as meninas. – Foi um sussurro baixinho
carregado de medo, vergonha e receio. Megan olhou para Demi, que também a
olhava. As duas pensavam em outra coisa, só depois entenderam o que Amber quis
dizer.
- Você está sentindo dor? – Megan perguntou
olhando para Amber, que ainda não a olhava.
- A minha barriga está doendo. – Disse a
menina tímida.
- Espero que você goste de brócolis. – Não
daria para conversar sobre o assunto porque a cozinheira tinha acabado de
adentrar a enfermaria junto a enfermeira, o diretor e Inácio, que apressou o
passo para checar se Amber estava bem.
- Megan está me aquecendo e a Dem me
emprestou o casaco. – Disse Amber quando o pai a tocou no rosto e franziu o
cenho sem conseguir esconder como estava preocupado.
- Você não quer mais um casaco, anjo? –
Inácio já tinha tirado o moletom que vestia para vesti-lo na filha. Se fosse
preciso, ele ficaria nu porque protegeria com as roupas que vestia Amber ou
qualquer uma das filhas.
- Estou bem, não precisa. – Para dar espaço
para Amber, Megan deixou-a sozinha na maca e ficou ao lado de Demi observando a
irmã comer toda a sopa como se o alimento fosse o mais delicioso de todo o
mundo, o que com certeza estava longe de ser, na opinião da menina.
- Você não me deixou bater naquela nojenta.
– Demi franziu o cenho e negou quando olhou para Megan. Violência nunca resolveria
nenhum problema, pelo contrário.
- Ela vai ter o que merece. – Uma coisa que
Demi tinha aprendido era que a vida sempre dava o troco, e com certeza os
adolescentes que tinham aprontado com Amber pagariam. – Você não pode se meter
em tantos problemas, Meggy. – Disse Demi a irmã observando o pai conversar com
a enfermeira e o diretor.
- Eu sei, mas o que aconteceu foi apenas uma
discussão em sala de aula. Era um debate e o meu colega começou a zombar da
minha opinião.. E eu perdi a paciência. – Demi riu de como Megan ficou sem
jeito, então a abraçou de lado e sorriu porque sabia que a irmã tinha a
personalidade forte, mas era uma garota encantadora.
- Mesmo que aconteçam episódios como esses,
você precisa ser paciente, Meggy. Principalmente quando estiver na faculdade e
trabalhando, as coisas são diferentes da escola e nem sempre você vai conseguir
defender o seu ponto de vista nem mesmo se ele for o correto. – A vida
funcionava de uma forma estranha, na verdade eram as pessoas. No ambiente de
trabalho não era apenas o conhecimento profissional que contava, a convivência
em grupo era crucial para o desenvolvimento das tarefas. Quando Meggy murmurou
um “Eu sei”, Demi a envolveu mais no abraço e se lembrou do que Anna tinha dito
mais cedo sobre a irmã. – Você está bem? – Demi fitou os olhos castanhos da
irmã, e quando Megan desviou brevemente o olhar para depois voltar a olha-la,
Demi soube que a menina estava triste e tentava disfarçar usando toda a
confusão da escola.
- Estou. – Um sorriso forçado e então Megan
descansou a cabeça no peito. De uma forma muito indireta de dizer “Eu estou
aqui para você”, Demi gentilmente guiou os dedos para o cabelo da menina e os
acariciou suavemente arrancando um suspiro de Megan.
- Você precisa ir para diretoria de novo,
Megan. – Inácio não parecia muito contente, ele olhou para Demi para depois
Megan cansado de ter que conversar com o diretor sobre o comportamento da
filha. – É sobre o que aconteceu agora à tarde. – Disse arrumando o casaco da
menina ao corpo.
- Sobre eu defender a minha irmã que quase
morreu congelada de agressores abusados e nojentos. – E todo o comportamento
amigável de Megan desapareceu com o olhar de reprovação do pai. – Estou pronta
para ser julgada e condenada. – Murmurou pegando a mochila sobre o balcão e
caminhando para fora da sala.
- Pega leve com ela, ok? Meggy só estava
tentando ajudar, eu estava na hora que aconteceu. – Disse Demi a Inácio porque
ela não queria que a irmã levasse uma bronca monstruosa.
- Não se explica violência. – Foi tudo que
Inácio disse. Ele realmente parecia cansado e muito decepcionado.
Respirando fundo,
Demi se aproximou de Amber e sorriu porque a pequena tinha os olhos fechados,
agarrava a ponta de cima da coberta contra o corpo e cochilava. – Você está
quentinha? – Perguntou arrumando a coberta no corpo da irmã para depois toca-la
nas bochechas.
- Estou muito melhor. – O sorriso de Amber
era gentil e tão inocente. Demi sorriu de volta e olhou para menina.
- Quer conversar sobre o que aconteceu com
você? – Não era sobre o bullying. Amber assentiu envergonhada lançando um breve
olhar para a enfermeira que organizava a sala. – Não vou contar para ninguém. –
Disse por que sabia que era muito constrangedor aquele tipo de situação,
principalmente no início. – Você sabe como isso funciona? – Perguntou Demi se
sentando a beirada da maca para poder ficar mais pertinho da irmã.
- É um pouco confuso, as meninas sempre
estão conversando sobre essas coisas e elas me explicaram como funciona. – Demi
assentiu achando muito fofo como Amber estava vergonhada que até as bochechas
estavam coradas.
- É sim, mas com o passar dos anos você vai
entendendo melhor como funciona. – Disse arrumando a touca e a coberta ao corpo
de Amber. – Vai acontecer todo mês provavelmente nessa mesma data ou um dia
antes ou depois. Tem meninas que sofrem com muita dor, já tem algumas que não. –
Infelizmente o caso de Demi era a primeira opção, porém o anticoncepcional ajudava
muito a aliviar as cólicas.
- Eu vou ficar brava? – A pergunta de Amber
foi tão inocente que Demi riu assentindo.
- Meu anjo, nessa época acontece uma
alteração muito grande no nosso corpo, então você pode ficar brava, irritada,
chorona, triste, alegre. Muda de mulher para mulher. Você está sentindo dor?–
Explicou enlaçando os dedos aos de Amber por baixo da coberta.
- Um pouco, as minhas costas estão doendo na
parte de baixo. – Demi assentiu olhando na direção da porta a procura de Inácio
e Megan, porque precisavam ir para casa cuidar de Amber.
- Você está com absorvente? – Foi ouvir a
pergunta para Amber ficar tão envergonhada de rosto rosado e sem conseguir
olha-la timidamente assentindo com a cabeça.
- Minha colega me emprestou, eu não sabia o
que fazer. Megan não atendia o celular e nem respondia as minhas mensagens. –
Explicou-se sem olhar Demi nos olhos. – Quero ir para casa, Dem. – Murmurou a
menina e Demi assentiu sabendo que Amber se sentiria melhor quando estivesse em
casa.
Inácio e Megan
demoraram na sala do diretor, e quando saíram de lá, não estavam contentes..
Nenhum pouco, na verdade. Megan não tinha dito muitas palavras e Inácio parecia
se controlar para não explodir com a filha. Demi tinha pensado que ele só
estava mais calmo por conta do que aconteceu com Amber.. E provavelmente era
verdade. Já dentro do carro as únicas pessoas que conversaram foram Inácio e
Demi sobre a busca por Lucy.
- Sabe quem não parou de falar sobre você,
essa pequena! – Demi sorriu de orelha a orelha ao ser recebida calorosamente por
Hannah e Alicia. – Eu também senti a sua falta, Dem. – Ironizou Hannah na
brincadeira porque Demi envolveu Alicia num abraço apertado que até tinha
fechado os olhos e sorria muito feliz por estar com a irmãzinha nos braços.
- Eu também senti a sua falta, Hann. – Demi abraçou Hannah mesmo com
Alicia nos braços para depois se acomodar ao sofá para poder brincar com a
pequenina. – Mas eu senti muita a falta dessa coisinha gostosa. – Brincou
enchendo Alicia de beijos exagerados na bochecha fazendo a pequena gargalhar
alto.
- Demi, senti saudade! – Demi deitou a
cabeça para trás e sorriu quando Isabella a beijou na bochecha e a apertou no
queixo.
- Sentiu? Você está saindo com a minha
melhor amiga, Bella. – Disse Demi brincando quando Isabella se ajeitou ao sofá
empurrando Hannah de uma forma tão exagerada que a menina fez careta.
- Eu não tenho culpa se a sua amiga é muito
legal. – Explicou-se Bella sorrindo e Demi arqueou uma sobrancelha. Ela estava
brincando, porém realmente sentia ciúme.
- Ela veio aqui, você precisava ver como
elas estavam intimas. – Disse Hannah para pirraçar Isabella e Demi, e a reação
das duas foi diferente. Bella riu e Demi fez careta.
- Anne me contou hoje pela manhã. – Demi
assentiu quando Isabella a olhou como se perguntasse se Anna realmente tinha
ido ao apartamento. – Você está saindo com a minha melhor amiga e eu com a sua.
– Elas até começariam a fazer muito barulho com as brincadeiras e conversas, mas
quando Anna abriu a porta da sala trazendo Rick consigo, elas não souberam
disfarçar os olhares sugestivos e as risadinhas porque Anna apenas as cumprimentou,
assim como Rick, e subiu para o quarto com o namorado.
- O papai vai matar a Anna. – Disse Hannah e
só restou Demi e Isabella assentirem. – Falando em matar e o papai... O Joe
voltou com você? – Perguntou Hannah e Demi mordeu o lábio inferior e negou
balançando a cabeça.
- Ele deve voltar ainda essa semana.. Eu não
sei direito, não estamos mais juntos. – Doeu dizer em voz alta porque antes em
pensamento parecia mentira, agora era real. Demi forçou um sorriso e desviou o
olhar de Hannah e Bella para Alicia, que brincava em seus braços quieta.
- Nós sentimos muito, Dem. – Disse Bella a
tocando no ombro e Demi só assentiu guiando a mão a da irmã.
- Obrigada. Nós conversamos depois. – Não
existia uma razão para que Demi escondesse das irmãs o motivo do término, elas
eram amigas e sempre se apoiariam. – Só não contem para o papai, não quero
preocupa-lo. – Não era preciso dizer mais nada para que Bella e Hannah
entendessem. Se Inácio soubesse o motivo do término, o que com certeza ele iria
querer saber, Joe estaria em maus lençóis. – Vocês vão me ajudar com a Lucy? –
Perguntou por que já era quase seis da tarde.
- Vamos. O meu bebê deve estar chegando. –
Hannah sorriu se espreguiçando.
- Dem, você já sabe: nada de dividir grupos
com casais. Hannah vai fugir e pelo visto Anne
também. – Disse Isabella e Demi assentiu. Não que fugiriam, mas como estariam
juntos, Demi sabia que às vezes era complicado ter foco quando o namorado
estava por perto.
- Não escute a Bell, Dem. Ela está dizendo
isso só porque o Scott viajou e ela está sozinha. – Hannah riu quando Bella a
empurrou para fora do sofá e a acertou com uma almofada. – Viu? Se não fosse
verdade, ela não me acert... – Hannah fez careta porque Bella a acertou
novamente, mas ela não deixou barato, acertou a irmã com as almofadas e depois
se jogou sobre Bella, Demi e Alicia transformando a brincadeira em múrmuros e
risadas exageradas.
- Crianças, tem alguém batendo! – Inácio tinha
o pano de prato em mãos porque secava a louça, e ao ver as filhas juntas, ele
sorriu e quis acolhe-las aos braços e passar todo o tempo do mundo com elas.
Quando a batida á porta soou novamente, ele se apressou para abri-la e fez
careta quando Augusto sorriu e ofereceu a mão para ele aperta-la.
- Sr. Lovato, a Hannah está? – Perguntou o
rapaz ainda apertando a mão de Inácio, que nem teve tempo de assentir porque
Hannah abriu um pouco mais a porta e sorriu, mesmo que muito descabelada, de
orelha a orelha para o namorado.
- Eu assumo daqui, papai. – A careta de
Inácio foi sem igual quando Hannah fechou a porta certamente porque trocaria um
beijo com Augusto e não queria que o pai presenciasse a cena.
- Você é tão mal humorado. – Disse Isabella
ao pai quando ele se curvou para beijar Alicia que ainda estava nos braços de
Demi.
- Eu apenas deixei vocês terem namorado, não
significa que eu estou feliz com isso. – Inácio sorriu para as duas filhas mais
velhas e voltou para cozinha. – Daqui a cinco minutos vocês vão ver o que a
irmã de vocês está fazendo! – Disse da cozinha, alto e em bom som, e Demi e
Bella riram porque o pai jamais abriria mão daquele lado protetor.
- Hoje você vai dormir aqui, nós teremos
meio que um rito de passagem. – Disse
Isabella pegando Alicia no colo. – Agora Amber é uma mocinha e nós sempre
oficializamos isso. Quando aconteceu comigo e Anna, Hannah e Megan eram
crianças. A mamãe nos explicou tudo e foi descontraído e divertido, então nós
decidimos que quando acontecesse com as garotas, faríamos o mesmo. Então veio
Hannah, Megan e agora Amber. – Demi assentiu pensando em como tudo era muito
diferente de como aconteceu com ela aos doze anos. Dianna nem mesmo ficou
sabendo. Quem explicou como as coisas funcionam para as meninas foi Mandy e
Selena.
- Acho que vai ser divertido. – Comentou
Demi e quando Anna desceu a escada arrastando Rick pela mão, foi impossível
esconder o sorriso.
- Será. Nós só queremos que o momento seja
descontraído, divertido e acolhedor. Quando isso acontece, é tão constrangedor
e de certa forma, muda a vida de uma garotinha. – Demi assentiu brincando com
Alicia, e Bella arqueou uma sobrancelha ao olhar para Anna, que se acomodou ao
sofá junto com o namorado.
- Amber? – Perguntou Anna e Bella assentiu. –
Hoje será a nossa noite. Vai ser divertido. – Divertido era pouco. Elas
preparariam tantas coisas para comer, assistiriam a filmes e falariam muitas
besteiras durante toda a noite até que o sono as derrubasse no amanhecer. – Nós
vamos sair para procurar a Lucy que horas, Dem?
- Acho que já podemos ir. Está todo mundo
disponível agora? – Perguntou Demi ao mesmo tempo e, que o celular vibrou no
bolso e pela barra de notificações foi possível ler a mensagem de Selena: Nós já estamos prontos.
- Eu só vou dar banho nessa pimentinha. –
Bella sabia que Alicia daria trabalho para a tia, caso não dormisse. Era sempre
daquela forma, a pequena só ficava mais sossegada depois do banho da tarde e
uma mamadeira de mucilon, então era só esperar que Alicia iria dormir em
questão de segundos.
- Nós estamos prontos. – Disse Rick. Ele e
Anna eram um casal fantástico. Só de olha-los dava para sentir a sintonia que
os envolviam. E Demi se perguntou o porquê de ter demorado tanto tempo a
acontecer.
- Onde está Hannah? – Quando adentrou a
sala, Inácio franziu o cenho e murmurou um mal-humorado “Hum” porque ele não
esperava que Rick estivesse na sala com as filhas, aliás, ele nem tinha visto o
rapaz entrar. – Hannah ainda não entrou? – Rick apenas recebeu um breve “Olá” e
então Inácio estava todo irritado atrás de Hannah.
- Pai, deixa a Hannah namorar em paz. –
Resmungou Isabella se levantando com Alicia no colo. – Ela já vai entrar. – Foi
engraçado quando Inácio espiou por entre as cortinas a procura da filha.
- A neve não é lugar para namorar, só se
você quiser morrer congelado. – O comentário foi motivo de risos. Elas sabiam
que Inácio só estava bravo e todo mal-humorado porque ele tinha muito ciúme de
Hannah. – Hannah! – E como sempre, Inácio não era nenhum pouco discreto. Ele
abriu a porta da sala e chamou pela filha mostrando como estava sério e preocupado.
- Eu já estava entrando. – Hannah resmungou,
revirou os olhos e quando puxou Augusto pela mão, sentou-se ao sofá junto a
Anna e Rick.
- Todos juntos por uma boa causa... – Disse
Inácio olhando para os rapazes. – Nós já vamos sair para procurar a Lucy, vocês
devem ter coisas para fazer. – Demi quis pedir ao pai que ele não fosse tão
mal-humorado com os rapazes, mas preferiu ficar quieta no momento, depois
tentaria acalma-lo.
- Megan? – A menina passando apressadamente
do corredor para cozinha sem parar para cumprimenta-los foi o que melhorou o
clima desconfortável depois do comentário de Inácio. Demi franziu o cenho
porque não era típico da menina agir daquela forma. Ela sempre parava para
conversar e fazer brincadeiras para envergonhar as irmãs, principalmente na
frente dos namorados. – Será que está tudo bem? – Perguntou Demi a Bella, que
trocou um breve olhar com Hannah. As duas sabiam o porquê de todo silêncio de
Megan. Primeiro havia a escola e a bronca de Inácio, e então completaria dez
meses que a mãe tinha falecido. Todas estavam sentidas e lamentavam muito, mas
não tinha como reverter à situação, tudo que elas podiam fazer era guardar as
boas lembranças que tinham da mãe e jamais esquecê-la. E como Anna tinha dito
mais cedo, Megan era quem mais sofria com a falta de Caroline.
- Lembra do que nós conversamos mais cedo? –
Anna sustentou o olhar de Demi até que a irmã assentiu alguns segundos depois
logo arqueando as sobrancelhas porque tinha assimilado tudo.
- O que vocês conversaram mais cedo? –
Perguntou Inácio as olhando e Anna enlaçou mais os dedos aos de Rick e deitou a
cabeça no ombro do namorado.
- Coisas de meninas. – Disse Demi e a careta
de Inácio foi motivo de riso, principalmente para Hannah que chegou a ficar
corada. – Eu vou subir para falar com a Megan. Está ficando tarde, nós
precisamos sair logo. – Ao se levantar, Demi franziu um pouco o cenho e
discretamente deu de ombros quando Hannah a olhou como se pedisse para que ela
não saísse, pois parecia que Inácio só não tinha grosso por conta dela. Porém
não tinha jeito. O que tinha acontecido com Megan e Amber na escola mais cedo
tinha sido realmente sério e o fato de as duas junto a Alicia serem as mais
novas as colocava numa posição mais vulnerável.
- Vou trocar Alicia. – Demi franziu o cenho
porque tomou um susto ao ouvir a voz de Bella, que estava logo atrás carregando
a pequena empacotada em roupas de frio e quase dormindo. Alicia seria a única
que cresceria sem a mãe, sorte era que ela tinha seis mulheres para cuidar dela
e ama-la.
- Vou falar com Megan, espero que ela não
fique brava comigo. – Disse Demi baixinho porque estava perto do quarto da
menina.
- Ela é terrível, porém a garota mais
sensível e amável quando quer. As pirraças e a língua afiada são apenas as
armas que ela usa para se proteger. – Se Bella estava falando, era porque era
verdade. Demi observou a irmã partir em direção ao quarto de Alicia sempre
brincando com a pequena para distraí-la. Anna e Bella eram tão iguais e
diferentes ao mesmo tempo. Iguais no quesito aparência, quanto à personalidade,
as duas eram carismáticas, amáveis e simpáticas, porém Bella tinha mais
autonomia, cuidado e carinho sobre as irmãs como uma mãe tem com os filhos.
Bater à porta
pareceu o certo. Demi o fez e não esperou que Megan abrisse, abriu a porta e
discretamente colocou apenas a cabeça para dentro do quarto e esboçou um tímido
sorriso ao encontrar Meggy sentada à cama e com um livro em mãos próximo ao
criado mudo onde havia uma luminária. A menina estava concentrada lendo, mas
assim que a viu, esboçou um sorriso fraco e buscou por um marca páginas na gaveta.
- Você tem cinco minutinhos para falar
comigo? – Perguntou Demi um pouco envergonhada adentrando o quarto para logo
fechar a porta. Infelizmente ela ainda sentia um pouco de vergonha para falar
com as irmãs, mas estava disposta a esquecer da vergonha porque precisava ajudar
e se enturmar ainda mais.
- Você sabe que sim, Dem. – A resposta foi
tão suave e calma. Era que Megan sempre se mostrava atrevida e madura do que
deveria ser, mas naquele momento sentada à cama vestindo moletom e de cabelo solto,
a menina parecia apenas menina, nada mais.
- Tudo bem? – Com jeito Demi se acomodou a
beirada da cama e olhou para Megan porque não queria deixar nada passar por
despercebido.
- Tudo bem. – Megan desviou o olhar do de
Demi e umedeceu o lábio inferior se sentindo desconfortável com o como o
silêncio tinha pesado de uma forma estranha entre elas. – Acho que a correria
na escola me quebrou. Tudo bem se eu ficar em casa? – Demi assentiu
prontamente, e sabia que a busca por Lucy não seria tão efetiva já que Megan
não iria participar.
- Eu sei que tem pouco tempo que nos
conhecemos, mas eu gostaria que você soubesse que eu amo você e realmente me
preocupo. – Não houve interrupções na troca de olhares. E quando Megan respirou
fundo, Demi a envolveu num abraço acolhedor que foi igualmente retribuído. – Você
pode contar comigo sempre que precisar. Não quero que você fique sozinha e
triste. – Ela tinha conseguido tocar no ponto que incomodava Megan. Demi viu os
olhos da menina marejarem e ela assentia limpando a primeira lágrima.
- Eu sei que sim, você também pode contar
comigo sempre que precisar. Eu amo você, Dem e sempre vou te proteger. – Megan
era uma menina, mas Demi sorriu assentindo porque achava muito fofa a forma que
a irmã parecia determinada a enfrentar o mundo por ela. – Eu.. O meu dia não
está sendo bom. – Só de se lembrar da mãe, Megan deixou as lágrimas rolarem sem
conseguir controla-las e logo suspirava baixinho. – Hoje completam dez meses
que a minha mãe fa..faleceu e eu não consigo parar de pensar nela e sentir
muita saudade. Eu acho que nunca vou superar, nunca vou conseguir preencher
esse buraco na alma. Geralmente tudo que faço me lembra da mamãe. Quando estou
na escola às vezes esqueço e fico ansiosa para chegar em casa, e depois que
lembro que ela não está mais aqui, fico tão irritada. Eu odeio tanto essa
situação e não sei o que posso fazer para melhorar. – Demi nem esperou que
Megan terminasse de falar. Abraçou-a apertado e também derramou lágrimas porque
era injusto um filho perder a mãe tão cedo.
- Eu imagino que deve ser muito difícil. –
Chorar não ajudaria Megan. Demi engoliu o choro e se ajeitou a cama de forma
que conseguia consolar a irmã nos braços. – Mas tenta não pensar nisso. Você
está rodeada de pessoas que amam muito você e só querem o seu bem. –
Carinhosamente Demi beijou a testa de Megan e limpou as lágrimas que a menina
derramava.
- Eu não consigo pensar numa palavra forte e
adequada o suficiente para classificar como esse sentimento é terrível e
devastador. Não tem como não pensar, Dem. Sempre fico com a expectativa que vou
receber um beijo e um abraço de madrugada igual quando a mamãe chegava do
plantão, ou que ela vai me buscar de surpresa na escola, do tempero da comida,
do som da risada, do cheiro, de como ela era divertida e sempre fazia o papai
ficar sem jeito para pirraça-lo. – Não tinha argumento forte o bastante para contornar
as colocações de Megan. Se perder um amigo próximo era difícil, perder a mãe deveria
ser como perder o chão. – Ela me entendia como ninguém. Ela não é como o papai
que sempre me dá bronca quando faço algo de errado na escola, quando acontecia,
ela me perguntava o porquê de eu ter agido de forma errada e me explicava como
as coisas funcionam na vida. Sempre me senti mais calma e segura com ela. – Inácio
era um pai excelente, não tinha como negar. Ele sempre abria mão de tudo pela
família. O problema era que quando havia apenas um para administrar seis
pessoas, tudo ficava mais complicado e cansativo. Eram contas a pagar,
educação, manter a casa, tentar assumir o papel da mãe em algumas ocasiões,
fora as mais inusitadas situações que estavam inclusas no pacote de administrar
uma família.
- É normal sentir saudade do cheiro, da
risada, da voz. Eu sei que é, às vezes sinto falta da minha avó. Demora um
pouquinho para a gente acostumar. Mas hoje eu fico feliz e agradecida por ter
tido a sorte de conhecer a minha avó. – Demi sabia como era a sensação. Se com
a Amélia que nem mesmo era próxima, foi difícil, imagina com a mãe? – Ninguém
jamais vai substituir a sua mãe, bebê. E você nunca vai deixar de sentir
saudade dela, mas você não precisa ficar triste e se isolar. Nós estamos aqui
para você e sempre vamos te amar e querer o seu bem. – O coração de Demi
explodiu de amor quando Megan assentiu chorando e a abraçou com força dizendo
que a amava. Aquele momento foi tão diferente e especial. Demi se sentiu como
uma irmã mais velha protetora e como uma adulta responsável, quase como uma
mãe.
- Obrigada Dem. Eu preciso de vocês, às
vezes eu fico tão irritada por não ter mais a mamãe que.. que eu faço muitas
besteiras na escola. É como se eu descontasse toda minha frustração nos meus
colegas. – Explicou-se limpando as lágrimas e Demi assentiu.
- Eu entendo. Quando eu era mais nova, eu
procurava o carinho que nunca recebi da minha mãe em outras pessoas. – A
adolescência já era uma fase difícil e complicada, porém quando juntava a
problemas familiares, tudo virava uma bola de neve e infelizmente podia gerar
problemas como os que Megan e Demi enfrentavam com certas situações. – Nós
podemos pensar em algo para ajudar você a liberar essa frustração. – Disse
colocando uma mecha do cabelo da menina atrás da orelha.
- O que aconteceu com você e a sua mãe? –
Perguntou Megan curiosa e Demi mordeu o lábio inferior e desviou o olhar da
menina.
- Nós tínhamos alguns problemas com o nosso
relacionamento, mas hoje nós estamos bem. – Não era uma opção contar tudo que
ela já tinha sofrido com Dianna. Até porque Megan ainda era uma menina e não
entendia certas coisas, mas ao pensar na situação, Demi pensou que nem mesmo
para Anna e Bella teria coragem de contar às coisas que Dianna já tinha feito.
– Já pensou em praticar esporte? – Perguntou voltando ao assunto que
interessava porque ela sabia como Megan conseguia ser insistente quando queria.
- Eu tenho a música, videogames e o jornal
da escola. Acho que não tenho tempo para esportes. – Murmurou preguiçosa e Demi
riu porque ela também não era muito fã de atividades físicas, às vezes
praticava corrida no Central Park por insistência de Selena.
- Nós podemos pensar em algo para você para
te ajudar a liberar essa frustração. Chegará num ponto da sua vida que não vai
ser legal descontar em outras pessoas. A escola pode ser terrível, mas não
chega perto da faculdade e de ser adulta e independente. – Era a mais pura
verdade. Na escola os erros ainda eram tolerados porque as pessoas estavam ali
para aprender e para ensinar, porém a faculdade já quase a chegada à vida
adulta, onde as coisas não eram nada simples.
- Tudo bem, eu estou dentro. Já fico feliz
porque você não me julgou e está tentando me ajudar. – Saber lidar com aquele
tipo de situação era tão bom porque Demi sentia que estava ficando cada vez
mais próxima das irmãs.
- Agora eu posso contar com você para
procurar a minha pequena? – Simpática e carinhosa, Demi sorriu e tocou a ponta
do nariz de Megan. Era um dia difícil para menina porque completavam dez meses da morte da mãe, mas não precisava ser triste e solitário. Tudo que Megan precisava
fazer era distrair e evitar pensar no assunto.
Das
seis meninas, apenas quatro foram, pois Alicia era um bebê e Amber estava
descansando. Então havia Selena e Ed, Inácio e Dianna, Augusto e Rick. A
responsabilidade de dividir os grupos ficou com Demi, então ela os dividiu de
uma forma que não haveria casais juntos num mesmo grupo. Eram cinco grupos,
cada um com duas pessoas e apenas um com três. Dividiram-se para procurar Lucy
nas ruas próximas ao apartamento de Ed.
Demi
estava aflita e com tanto medo por Lucy. Era apenas uma cadelinha inocente perdida
numa cidade que mais parecia estar congelada. Havia muita neve e ficar exposta
às ruas era um sacrifício. A busca durou por volta de uma hora e meia, e quando
todos se encontraram em frente ao prédio onde Ed morava, estavam cansados, com
frio e frustrados porque não havia sinal da cadelinha por nenhum lugar.
- Eu só vou buscar as minhas coisas. – Disse
Demi a Inácio. O carro estava parado em frente ao apartamento e como passaria a
noite na casa do pai, Demi precisava levar roupas, o cobertor e secretamente o
ursinho de pelúcia que ela tinha ganhado de Joe. Eles tinham acabado de deixar
Dianna em casa e bem pelo contrário do que Demi tinha pensado, não foi estranho
compartilhar do mesmo ambiente dentro do carro com a mãe, o pai, Bella e Megan.
Hannah e Augusto estavam com Anna e Rick. – Não demoro nem cinco minutos. –
Disse por que Inácio estava ansioso para chegar em casa logo porque queria
acompanhar o jogo de futebol pela televisão.
- Você precisa de um quarto lá em casa. –
Murmurou Inácio mais concentrado em assistir ao jogo pelo celular e as
bochechas de Demi esquentaram um pouco de vergonha porque ela não sabia qual
seria a reação das garotas. Às vezes o medo de estar sendo invasiva era demais,
até porque tudo estava acontecendo muito rápido e a última coisa que Demi
queria era ter inimizade com as irmãs ou qualquer desentendimento.
- Nós podemos reformar o de hospedes, vai
ser muito legal. – Sugeriu Megan e Demi assentiu com um pouco de receio.
- Façam como achar melhor. – Homens e
futebol. Inácio nem mesmo tinha desviado o olhar da tela do celular, e Demi se
perguntou o que mais o pai aceitaria.
- Eu já volto. – Sair do carro foi um
castigo. Ao sentir o vento gelado em contato com o rosto, Demi franziu o cenho
e se abraçou na tentativa de ajudar a se aquecer um pouco mais. Então teve uma
hora que os dentes bateram e Demi teve que andar mais rápido porque aguentava
ficar exposta à nevasca.
Toda
vez que Demi sentia frio, automaticamente pensava em Lucy e sentia o coração se
partir em vários pedacinhos. A esperança era que Lucy estaria num local aquecido,
com água e comida, e logo voltaria para casa com a ajuda de uma alma boa. Respirando
fundo, Demi se recostou na parede metálica do elevador e se olhou no espelho da
parede da frente. O que ela faria nos próximos dias? Não havia mais a
Gyllenhaal, o namoro estava acabado. O dinheiro estava começando a ficar
pouco. O que ela faria da vida?
Continuaria com o plano de montar um escritório? Ter o próprio negócio seria
fantástico, porém para empreender era preciso arriscar com a certeza que tudo
daria certo.
A ideia de voltar a estudar não foi ruim.
Talvez fazer uma pós-graduação ou um mestrado. Ter aquele conhecimento há mais
faria a diferença no currículo e Demi também poderia se aventurar em trabalhar
na área acadêmica, o que ela não podia era ficar sem dinheiro. Ao entrar no
apartamento, Demi sentiu falta de ficar sossegada ali, mas confessava que
gostava de dormir fora, principalmente na casa do pai junto às irmãs porque era
muito divertido ficar com a família. Passar a noite com Selena também era bom,
e a parte favorita de Demi com certeza era dormir de conchinha com a melhor
amiga. Então ao pensar em Joe, um suspiro triste escapou porque foi exatamente
na mesma hora que a porta do quarto foi aberta e os olhos capturaram a imagem
da cama. Foram bons meses indo dormir vestida e acordando nua. O sexo era maravilhoso,
as conversas eram descontraídas e a forma como eles se divertiam juntos era
especial e tão espontânea. Joe era o cara perfeito e ela o amava e sempre
amaria, Demi sabia que jamais iria esquecê-lo e era difícil decidir o que fazer
com todas as descobertas dos últimos dias.
O
moletom escolhido era dele, e o edredom tinha o cheiro delicioso de Joe. Como
ela poderia esquecê-lo por pelo menos alguns dias antes de tomar uma decisão
definitiva sendo que Joe estava em todos os lugares? Demi abraçou o conjunto de
moletom e o cheirou sentindo saudade do ex-namorado.
Ao se olhar no espelho, Demi colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha e
decidiu que era melhor se apressar porque o pai estava esperando.
A
mochila foi carregada com o moletom de Joe junto a dois, três mudas de roupas,
já que Demi não sabia quando que as garotas a deixariam voltar para casa, e os
objetos pessoais. Já estava pronta para deixar o apartamento quando o celular
começou a tocar, e ao ver o nome de Megan na tela, Demi pensou que a menina
estava ligando para dizer que Inácio estava pedindo para ela descer logo porque
ele queria voltar para casa para assistir ao jogo, mas foi algo completamente
diferente.
- Dem,
o Joe acabou de subir. – Não era Megan quem falava, era Isabella, só que
não foi nenhuma surpresa porque assim que abriu a porta do apartamento o coração
de Demi quase saiu boca a fora porque ela tinha acabado de dar de cara com ele.
- Eu acabei de encontra-lo. – Murmurou Demi sem
conseguir desviar o olhar de Joe. Ele estava tão lindo! O suéter verde com a
jaqueta militar tinha sido a combinação perfeita, e como sempre, Joe era
exagerado e usava um cachecol de lã cinza e uma touca de pompom da mesma cor. –
Desço num minuto. – Não tinha como ela continuar no celular enquanto encarava
Joe. Eles tinham combinado que seriam amigos e deveriam agir como tal.
- Oi. – Ele não podia sorrir todo menino
daquele jeito fofo! Demi desviou o olhar do dele porque não tinha conseguido
conter o sorriso apaixonado e nem o coração acelerado.
- Oi Joseph. – Demi colocou uma mecha do
cabelo atrás da orelha e quando voltou a olhar Joe, sustentou o olhar dele.
- Tudo bem? – Perguntou um pouco
envergonhado arrumando os óculos de grau ao rosto e adentrando o bolso da calça
com as mãos. Desde que chegou mais cedo do Texas, tudo que Joe queria era poder
ver Demi, e na primeira oportunidade que teve foi ao apartamento dela e agora
não sabia exatamente o que dizer, porém estava aliviado porque Demi não estava
o tratando mal, bem pelo contrário, ela estava reagindo muito melhor à forma
que ele tinha imaginado.
- Estou bem. E você? Chegou agora do Texas? –
Perguntou Demi tentando ignorar todos os sentimentos que foram despertados
apenas porque Joe estava ali pertinho dela.
- Me sinto bem. – E dessa vez quem desviou o
olhar foi ele, mas não demorou muito para voltar a olha-la. – Tem algumas horas
que cheguei. – O que ele poderia falar? Joe umedeceu os lábios e se lembrou da
sacola que carregava. – O seu moletom. A vovó mandou um pouco de doce de leite,
espero que goste. – Ele não tinha contado para Clara sobre o término com Demi, e
quando a avó soube que ele estava a caminho de Nova York, ela ficou chateada,
como ficou! Mas depois que Joe a acalmou, Clara aceitou a ideia e fez os
preparativos da viagem do neto da melhor forma que podia.
- A sua avó é um amor. Aposto que está
delicioso. – Demi não conseguiu evitar o sorriso. Apesar das descobertas
desagradáveis, a pacata Marble Falls e a fazenda Jonas eram lugares incríveis e
que Demi com certeza gostaria de visitar novamente. – Agradeça por mim. –
Ignorar a forma que as mãos se esbarram foi o melhor que os dois fizeram, e
então não tinha mais nada a ser dito. – Eu tenho que descer, o meu pai está me
esperando com Bella e Megan. – Explicou um pouco envergonhada. Ela até queria
conversar com Joe, passar algum tempo com ele, mas não podia fazer Inácio
esperar a noite toda.
- Tudo bem, só vim trazer o moletom e o
doce. – Disse Joe um pouco sem jeito e Demi assentiu.
- Pode
segurar o doce para mim? Vou guardar o moletom e volto num segundo. – Depois que
adentrou o apartamento e já estava perto do quarto que Demi se sentiu estúpida por
não ter convidado Joe para entrar nem que fosse por um segundo. Já ele ficou
parado e quieto ansioso para que Demi voltasse logo, e como ela disse, não
demorou nada. – Então.. Como você vai fazer com o tratamento? – Perguntou Demi
trancando o apartamento e Joe umedeceu os lábios e teve vontade de segurar a
mão feminina quando começaram a caminhar em direção ao elevador.
- A tia Laura está comigo. Ela vai ficar por
aqui por alguns meses até eu ficar melhor. – Ter Laura por perto era a garantia
que Joe seguiria todos os procedimentos e que ele ficaria mais seguro. – Amanhã
nós vamos visitar a médica cardiologista que está cuidando do meu caso e
tomaremos as demais providencias. Por enquanto estou tomando os medicamentos e
está tudo bem, eu acho. – Demi assentiu aliviada. Desde que Joe tinha contado
sobre a doença, tudo que ela pensava era que o pior poderia acontecer em
qualquer segundo, então saber que Joe tomava medicamentos era bom. – Nós estamos
pensando em comprar um apartamento próximo ao hospital e um carro por questão
de segurança. Nunca mexi na minha herança, mas agora a tia Laura acha que é o
momento certo. – Murmurou incomodado. O que sempre o deixava de mau humor era
que todos sempre pensavam que o pior iria acontecer com ele.
- E é, Joseph. Você já ajuda muitas pessoas
com as suas terras, não tem nenhum problema investir em bens que te ajudará a
ficar saudável. – Disse Demi adentrando ao elevador. – Pense que você estará
usando a sua herança da forma correta e que os seus pais vão ficar orgulhosos. –
Por que diabos não havia ninguém no elevador? Estava sempre cheio e Demi ficou
irritada porque ela não queria ficar sozinha com Joe, não quando parecia que
todos os hormônios iriam enlouquecê-la a qualquer segundo.
- O plano era conquistar tudo com o meu
próprio trabalho. – Resmungou e Demi sorriu porque ela gostava de como Joe era
esforçado e trabalhador, caso fosse um garoto festeiro, ele já teria acabado
com toda herança há tempos. – Mas vou aceitar os conselhos de vocês, sei que só
querem o meu bem mesmo. – Tornou a resmungar e a risada espontânea de Demi o
deixou sem jeito e corado.
- Nós realmente só queremos que você fique
bem, amor. – No mesmo segundo que
usou o apelido carinhoso Demi se arrependeu. Foi automático e agora ela estava
tão sem graça! Demi respirou fundo e não conseguiu desviar o olhar de Joe. Já
ele, apesar de sério, sorriu e se aproximou um pouco mais, tirou os óculos de
grau os guardando no bolso da calça e desviou o olhar de Demi para os lábios
dela.
Quando
acontecia, apenas se entregavam ao momento. Joe se aproximou de Demi ficando
com o corpo encostado ao dela, uma mão foi a cintura e a outra acariciou a
bochecha e o queixo. Já ela não sabia de onde tinha tirado coragem para levar
os braços ao pescoço de Joe e olha-lo nos olhos. A princípio não foi um beijo,
apenas um roçar de lábios para depois Joe beijar o queixo e o pescoço de Demi
deixando-a de pernas bambas. Os lábios se tocaram no segundo seguinte num beijo
lento para depois se transformar em algo apaixonado e quente, com Joe
imprensando Demi contra a parede metálica do elevador e ela suspirando porque o
roçar dos seios ao peito a excitou e também doeu.
Só foi uma pena porque quando estavam poucos andares do térreo, as portas
do elevador se abriram e o beijo teve que ser interrompido.
- Acho que será bom morar num apartamento
maior, terá mais espaço para Lucy. – Comentou Joe tão envergonhado que as
bochechas até coradas estavam.
- Joseph, a Lucy fugiu. Reuni um grupo de
busca com o pessoal agora pouco, procuramos em toda região onde o Ed mora e não
a encontramos. – Demi assentiu quando Joe arqueou as sobrancelhas e engoliu em
seco. – O Ed espalhou cartazes e está divulgando na internet, vamos continuar
procurando. – Joe franziu o cenho e não olhou para Demi, fitou os próprios pés
e se sentiu péssimo porque Lucy estava perdida em meio a toda aquela neve.
- Eu vou procura-la agora mesmo. – Ele disse
determinado quando as portas do elevador se abriram e Demi franziu o cenho
porque Joe passou tão rápido para fora e não pediu desculpas por se esbarrar
num rapaz.
- Ei! Você não vai procura-la agora. Você
vai para casa descansar. Amanhã nós dois vamos juntos. – Disse Demi firme o
suficiente para convencer Joe a desistir da ideia. – Nós vamos encontra-la, por
favor, não fique preocupado. – Gentilmente Demi o envolveu num abraço e Joe
respirou fundo tentando se acalmar. Ele queria Lucy de volta bem e saudável.
- Está nevando e ela é indefesa. E se alguém
fizer algo com ela? – Perguntou preocupado e Demi não soube o que dizer por que
também tinha medo de acontecer algo sério com a pequenina.
- Vamos pensar positivo, ninguém vai fazer
nada de mal com a nossa menina. – Demi sorriu para encoraja-lo e relutante Joe
assentiu a envolvendo em mais um abraço apertado. – Nós vamos encontra-la, fica
tranquilo. – Quando ele a olhou nos olhos, a vontade era de beija-lo na boca,
mas tudo que Demi fez foi sorrir e dar um breve e inofensivo beijo na bochecha
dele. – Eu tenho que ir, meu pai está me esperando. – Disse desfazendo do
abraço e no mesmo instante foi como se estivesse nua e exposta ao nevoeiro,
como ela podia ter se esquecido de que Joe era tão quentinho e sempre a aquecia?
- Eu vou te ligar amanhã para combinarmos de
procurar a Lucy. – Disse Joe olhando atentamente a rua com a esperança de
encontrar Lucy farejando para conseguir voltar para casa.
- Está combinado. Vá para casa e descansa
bastante, amanhã nós procuramos a pequena. – Demi olhou na direção do carro do
pai e depois para Joe. – Estou indo. Tenha cuidado Joseph, qualquer coisa pode
me ligar. – Disse o olhando nos olhos e Joe assentiu tomando a iniciativa de arrumar
o trench coat nos ombros de Demi.
- Você também pode me ligar se precisar de
qualquer coisa. – Ele sorriu um pouco sem jeito quando Demi assentiu
cabisbaixa.
- Diga para Laura que eu disse oi. – Não tinha
jeito. Quando Joe assentiu, Demi mordeu o lábio inferior e não teve como fugir
do abraço de despedida.
- Até amanhã, Dem. – Acontecer uma vez era
até normal, e Demi se amaldiçoou quando roubou um selinho de Joe o fazendo
sorrir de orelha a orelha. Era força do hábito, ela não tinha culpa.
- Até amanhã, Joe. – Então cada um seguiu
seu caminho. Demi em direção ao carro do pai, e Joe atravessou a rua sobre o
olhar atento de Demi que só adentrou o carro quando teve a certeza que o rapaz
estava seguro.
Continua... Oi, tudo bem com vocês? Eu estou bem! Demorei a postar porque esse último mês foi uma loucura. Fiquei muito preocupada com a Demi, logo em seguida minha cadelinha teve que fazer uma cirurgia às pressas para retirada do útero porque ela foi diagnosticada com piometra.. foi uma correria com o pós operatório e também teve a faculdade mais o estágio. Espero que me perdoem pela demora a postar. Então, falando do capítulo, estou seguindo a sinopse da segunda temporada e da primeira, então teve um pouquinho de tudo nesse capítulo. O que vocês acham sobre o Joe e a Demi? Parece que aos pouquinhos a Demi está perdoando o Joe, acho que ela está se acalmando e concluindo que não quer ficar longe dele, porém ao mesmo tempo a confiança entre os dois está quebrada. O que vocês acham? Ahh, tem tantas coisas acontecendo nessa fanfic! Nesse capítulo mesmo dei um spoiler que vai mudar tudo, cabe a vocês descobrir do que se trata!! Beijo, obrigada pelos comentário e a paciência para um novo capítulo <3