9.2.16

Capítulo 1 - Verdade


Central Park, Manhattan, Nova York – Estados Unidos – 05:30PM


   - Será que a gente pode conversar sobre outro assunto? – Bufou irritada ao telefone um pouco alto demais recebendo olhares estranhos das pessoas que caminhavam pelo parque. – Mãe! – Rugiu com desgosto e acabou esbarrando num estranho que a olhou feio no mesmo instante em que o vento que soprou forte bagunçou-lhe os cabelos lisos e castanhos. – Eu estou correndo com a Sel no Central Park mamãe. – Disse tentando ser o mais paciente possível com a mãe, que apenas disse “É o encontro perfeito para você, querida, ele é rico e maravilhoso”. – Me poupe. Eu não vou, tenho que trabalhar mais tarde. – Desligando a tela do celular com raiva, Demi colocou o aparelho na braçadeira e gesticulou as mãos para que Selena tirasse os headphones.

   - Era a sua mãe? – Desconfiou Selena analisando as feições de Demi que franziu o cenho e pôs-se a correr ao lado da amiga tentando não pensar na mãe e em todas as ideias malucas da mulher.

   - Como você sabe? – Não tem como não saber, pensou Selena. As duas eram amigas desde o colegial, estudaram na mesma faculdade e trabalhavam na mesma empresa. Eram como carne e unha, só que a vida de Selena era normal, contrária a de Demi, que por mais que já era uma mulher adulta, a mãe ainda tentava se manter no controle como se ela fosse uma garotinha confusa. – Eu não quero falar sobre ela. – Dianna Hart tinha muito em comum com a falecida mãe, Amélia Hart. As duas gostavam de luxo, porém não faziam esforço algum para consegui-lo além de seduzir homens ricos para sustentá-las. - Terceiro domingo de junho. – Murmurou fechando os olhos castanhos e quando os abriu focalizou os de Selena fitando-lhe com compaixão.

   - Demi. – Selena murmurou sem saber ao certo o que dizer. Demi não a culpou, acelerou o passo ao subir a rampa da ponte e disparou na frente colocando uma música qualquer para tocar no último volume. Selena tinha um pai presente e amoroso e uma mãe que compreendia as suas vontades e os seus sentimentos e apoiava os seus relacionamentos, ao contrário de Dianna que sempre tentava arrumar “bons” partidos para ela e insistia que rosa era a cor que uma mulher deveria se orgulhar, não cores como azul e verde, as preferidas de Demi. – Demi! Calma. – Quando Selena alcançou a amiga e a puxou pelo braço, recebeu um olhar feio de Demi que imaginou que algum engraçadinho a assaltaria naquela hora do dia ou algo do tipo já que a sorte sempre estava ao lado dela, para não dizer o contrário. – Eu juro que entendo. – Disse Selena fixando os olhos aos olhos castanhos e cansados da amiga. Demi estava tipicamente corada por conta da corrida e porque estava chateada.

   - Desculpa. – Murmurou fitando os tênis de corrida. – Eu estou sendo chata. – Desacelerando o passo, Demi enlaçou o braço de Selena ao dela e choramingou. Agora ela era chata e dramática.

Demi era uma mulher forte e determinada, porém tudo que acontecia na vida sentimental tinha uma pequena probabilidade de dar certo. Quando a jovem ainda era uma adolescente e decidiu que seguiria a carreira de Designer Gráfico, a avó materna, e a única que conhecia, quase surtou e fez de tudo para que Dianna, mãe de Demi, impedisse que a adolescente engatasse na faculdade. O que não aconteceu, diferente da mãe e da avó, Demi não queria ter toda a atenção masculina para si e luxo não fazia o seu estilo de vida por mais que a mãe e a avó a criou para ser uma verdadeira “socialite” com direito a roupas de grife e tudo mais. A personalidade era forte, Demi recusara todas aquelas coisas banais do mundo da mãe e da avó para viver como uma adolescente comum. Adorava livros, séries, comer besteiras com Selena, gostava de ir ao cinema, assistir peças e musicais, andar pelas ruas movimentadas de Manhattan vestida com seus moletons que eram grandes demais e o melhor, adorava namorar.


 Bem, a lista de namorados de Demi era realmente grande, tudo começou no colegial quando teve o primeiro beijo com o garoto de seus sonhos. Ah! Carlos era perfeito e foi o primeiro namorado, mas meses depois ela o flagrou na cama com uma das piranhas do grupo das líderes de torcida. Depois veio André, um verdadeiro galã em um uniforme feio de entregador de pizza. Foi paixão na certa, e naquela época Demi deveria ter engordado pelo menos cinco quilos, pois praticamente todos os dias a menina pedia pizza quando a mãe saía para curtir a noite e voltava para casa Deus sabe lá quando. E foi numa dessas noitadas de Dianna que durou praticamente uma semana que Demi perdeu a virgindade com André no cômodo que ficava debaixo da escada do apartamento. 

O namoro durou pouco mais de um ano e meio e eles terminaram com a chegada da bendita carta. A menina tinha sido aprovada no curso dos sonhos e não teve quem a impediu de seguir caminho. Com a ajuda da mãe e um emprego temporário, Demi alugou um apartamento próximo ao campus da faculdade junto com Selena. Dividiam as despesas e engataram nos estudos. Os namoros de Demi passaram de simples rolos a intensas paixões. Teve Marcus, Paulo e Gabe. E os três partiram o coração da jovem já de vinte anos. Meses depois Amélia faleceu de ataque cardíaco em seu próprio apartamento. Tudo bem, a velha não tinha sido uma boa avó e muito menos uma boa influência, mas Demi a amava e chorou por uma semana nos braços de Selena. 

Então as manipulações de Dianna começaram.  filha era jovem e muito bonita, homens ricos e pobres mostravam interesse na menina, o que já não acontecia mais com Dianna.. Demi começou a perguntar pelo pai, o que sempre deixava Dianna terrivelmente irritada. Quando era menina Demi sempre perguntava sobre o homem que a gerou, mas quando entrou na puberdade se esqueceu do pai por conta da vida conturbada de adolescente que tinha. O jeito foi manipular a moça como Amélia fez muito tempo atrás. E Dianna conseguiu convencendo a filha a se encontrar com um velho amigo e cliente, um empresário de pouco mais de vinte e nove anos, dizendo a menina que o homem estava apaixonado por ela, claro, uma tremenda mentira que Demi acreditou e aceitou se conhecer o amigo da mãe porque Dianna a seduziu com falsas histórias de amor e mentiras sobre o pai. 

Com o primeiro encontro que armou, Dianna conseguiu um bom e gordo dinheiro. Outros encontros aconteceram sem sexo, porém a farsa não durou muito tempo, Demi era esperta, desmascarou a mãe e novamente chorou por uma semana nos braços de Selena. Ficou arrasada e alguns meses depois quando voltou a falar com a mãe exigiu que Dianna explicasse tudo desde o início e o que suspeitava desde que passou a entender o mundo e suas complicações era verdade. A mãe a avó se vendiam por dinheiro. O baque foi tão forte que na época, ao invés de chorar nos braços de Selena, Demi chorou nos braços de John, o atual namorado. Os boatos correram rápido pela faculdade e a sorte de Demi era que faltava apenas um semestre para se formar. John era um traidor e o pior, a difamou por toda a faculdade.

Completou vinte e um anos, trabalhava e finalmente se formou. As boas notas e o ótimo currículo recheado de atividades acadêmicas extras e estágios foram a chave para que ela conseguisse uma vaga como Designer na maior empresa de TI dos Estados Unidos, a Gyllenhaal. Um ano depois Selena também tinha sido aprovada e as duas amigas trabalhavam juntas. Dona do próprio nariz e do apartamento que comprou com muito esforço, Demi resolveu que daria um tempo aos namoros intensos e focaria no trabalho, o que, pela primeira vez, estava dando certo.


   - Por que você não pergunta a ela? – Pelo olhar que recebeu Selena soube que Demi não perguntaria a mãe nada sobre o pai.


   - Eu não quero nada dela. – Disse com desgosto. – Eu só queria saber quem ele é, se ele a amou e porque nunca entrou em contato. – Demi procurou o pai na internet e em cemitérios da cidade, porém não havia nenhuma informação sobre o homem. A única coisa que sabia sobre o pai era que o nome dele era Inácio Edward Lovato. Nada mais. As suas características físicas deveriam ser herdadas pela família dele. Os cabelos eram castanhos e lisos, diferentes dos da mãe e os da avó que eram loiros e encaracolados. A pele era branca e rosada, o rosto tinha sardas e os lábios eram avermelhados e carnudos. Dianna era branca amarelada, não tinha sardas e os lábios eram normais e pálidos. Já Demi era baixinha de um metro e cinquenta e nove, tinha o bumbum avantajado, coxas grossas e seios médios e firmes. A mãe era apenas seis centímetros mais alta que ela e não tinha metade de suas curvas. Demi se orgulhava de quem era e por mais que não soubesse nada a respeito do pai, nutria um amor secreto por ele e acreditava que o Sr. Lovato era a sua única faísca de felicidade naquele mundo já que a mãe, a avó e os homens que se envolvia sempre a decepcionava. – Mais um dia dos pais sem saber quem ele é, Sel. – Selena respirou fundo e abraçou a amiga. O instinto maternal sempre falava mais alto quando o assunto era Demi. Selena a protegia como podia e odiava quando a amiga desabava em lágrimas. Como alguém poderia ser tão cruel com ela? Demi era a mulher mais doce e amorosa que Selena conhecia.


   - Você sabe que pode jantar lá em casa, o papai te considera como uma filha. – Em todo terceiro domingo de junho Demi sentava-se a mesa dos Gomez para comemorar o dia dos pais, mas naquele ano ela queria fazer diferente.


   - Hmm, eu sei. – Murmurou pensativa. – Vou confrontá-la Sel. – Disse minutos mais tarde ainda caminhando de braços cruzados com Selena.


   - Você tem certeza? – Perguntou Selena com um mau pressentimento em relação àquela história. Dianna não era flor que se cheire e poderia tentar manipular Demi com um de seus truques sujos, não era à toa que ela não gostava da mulher.


   - Eu quero saber quem ele é. – Aquele tom de determinação indicava que a história não acabaria nada bem. – Vou pensar melhor, talvez hoje mesmo.. – Ótimo! Selena revirou os olhos ao comprovar o que pensara. Ela conhecia aquele olhar e aquele sorrisinho de Demi.


   - Ah não, você não vai sair com aquele cara. – Disse Selena a arrastando pelo braço ao ver que já era tarde demais, Demi já trocava sorrisos significativos com o rapaz que conversava com um amigo olhando na direção delas próximo ao carrinho de sorvete alguns metros de onde elas estavam.


   - Sel, ele é um gato! – Insistiu olhando para a amiga, mas o sentido estava no rapaz atlético, forte e moreno! O tipo preferido de Demi.


   - Demi! Não, você não ousaria a me deixar aqui sozinha. – Selena farejava problema. Demi se apaixonaria e acabaria de coração partido, era sempre assim com todos os bonitões e fortões.


   - Ele está vindo para cá, vai comprar alguma coisa. – Disse Demi tentando se livrar da amiga, mas Selena revirou os olhos e enlaçou o braço ao de Demi encarnando a amiga mãe protetora.


   - Oi meninas. – O rapaz esboçou um sorriso galã para Demi e cruzou os braços sobre o peito forte claramente se exibindo.


   - Pode dá meia volta, ela já tem namorada. – O rapaz era realmente um gato, mas Selena sabia que Demi não encontraria o pai de seus filhos no Central Park àquela hora da tarde e ainda mais com aquele sorriso mancha calcinha que deveria levar todas as mulheres para a cama e depois descartá-las como objetos.


   - Eu não acredito que você disse isso! – Disse Demi quando o rapaz deu as costas a elas tão frustrado quanto ela. – Selena! Qual o seu problema? Namorada¸ sério? – Perguntou revoltada enquanto Selena a puxava pelo braço em direção ao carro.


   - Demi, não. – Era para o bem de Demi. Selena abriu a porta do carona indicando para que a amiga entrasse no carro e quando Demi finalmente o fez emburrada, ela entrou no carro e deu partida. – Ele não é para você. – Disse sem olhá-la.


   - Eu sei muito bem o que é para mim. – Rebateu Demi. – Nunca vou te perdoar. Seria a melhor transa da minha vida. – Resmungou recebendo um olhar feio de Selena.


   - Poderia até ser, mas e depois? – Perguntou quando parou no sinal vermelho.


   - Depois? Por favor, eu não quero acordar todos os dias com um cara roncando por um bom tempo. – Disse observando o movimento dos carros e das pessoas na chegada da noite. Nova York era tão cheia e calorosa, às vezes Demi pensava em se mudar para uma cidade do interior do país onde poderia trabalhar sossegada longe de toda aquela movimentação, mas o seu coração estava ali. Cresceu e viveu os melhores momentos de toda a sua vida naquela cidade. – Seria só sexo e acabou, eu dormiria na minha cama e ele na dele. – Selena a olhou e arqueou as sobrancelhas. Com Demi nunca era só sexo. – Eu não vou me apaixonar tão cedo. – Era o que Demi lutava para conseguir, mas no fundo ela sabia que não daria muito certo. Selena deveria ser a única pessoa que a amava no mundo, a família resumia-se na mãe e na falecida avó, o que não mudava nada. A esperança era encontrar um homem que a amaria de todo o coração e juntos eles construiriam uma grande família. Pena que todos os homens só estavam interessados em estar entre as pernas dela sem compromisso algum.


   - Está entregue. – Apesar do silêncio, o clima seguiu tranquilo como sempre no interior do carro que agora estava estacionado em frente ao prédio da rua de atrás do GE Building. Demi comprou o próprio apartamento com as economias dos estágios remunerados da época da faculdade e só terminou de quitá-lo no mês passado.


   - Não quer entrar? Nós podemos tomar café e quem sabe ver as estrelas. – Midtown, região de Manhattan, era famosa pela concentração de arranha-céus, e entre eles estava o GE Building, o edifício central do Rockefeller Center, com duzentos e cinquenta e nove metros de altura que tinha a vista mais linda da cidade entre o sexagésimo sétimo andar (67º) e o septuagésimo (70º) andar, onde era conhecido como o observatório Top of the Rock. Demi e Selena sempre visitavam o observatório à noite para ver as estrelas, davam trabalho para os seguranças desde adolescente, mas agora não havia nenhuma burocracia já que as duas sempre levavam café e biscoito para eles.


   - Dem, eu tenho que ir para casa. – Disse Selena com pesar. – Você tem certeza que não vem? Nós vamos sentir a sua falta. – Esboçando um sorriso de desculpas, Demi abraçou a amiga e a olhou nos olhos.


   - Obrigada pelo convite Sel. – Agradeceu educadamente. – Mas já tomei a minha decisão. Dê lembranças aos seus pais e agradeça o convite por mim. – Disse arrumando a bolsa no ombro direito e abriu a porta do carro. – Quer sair mais tarde? – Perguntou.


   - Demi! Sossega. – Repreendeu Selena, mas elas acabariam numa balada movimentava como sempre.


   - Tudo bem! Eu desisto de encontrar um cara para transar. – Selena arqueou as sobrancelhas e Demi riu sem graça. – Amo você. – Disse finalmente se despedindo.


   - Eu também. – Demi era como a irmã que Selena nunca teve. – Por favor, me liga mais tarde. – Disse e Demi entendeu o que ela queria dizer.


   - Tudo bem. O mesmo para você quando chegar em casa, namorada. – Dando um beijo na bochecha de Selena, Demi saiu do carro e acenou sorrindo enquanto o carro da amiga sumia pelas ruas de Nova York. O que ela seria sem Selena?

Como de costume, Demi adentrou ao prédio cumprimentando o porteiro, um senhor já de idade e super simpático, e o recepcionista que conseguia conversar mais que ela e Selena. A caminhada pelo parque acontecia em todos os domingos no final da tarde, era o momento mais descontraído entre as amigas, assim, elas podiam conversar amplamente sem que ninguém as vigiasse como acontecia na Gyllenhaal. Por mais que a empresa fosse voltada à tecnologia, o setor que Demi e Selena trabalhavam havia várias mulheres exercendo cargos de secretária, programadora, designer e algumas espécies de engenheiras. Ao menos o pessoal não era machista a ponto de excluir aquelas incríveis e batalhadoras mulheres. Era bem pelo contrário, o setor era o melhor da empresa e o mais divertido, elas não paravam de conversar e uma ajudava a outra sempre que podia no desenvolvimento do melhor. Essa era a melhor parte de trabalhar para o velho Jason Gyllenhaal, claro, sem citar o salário.

Cansada demais para subir o jogo de escadas, Demi esperou pelo elevador e quando o mesmo chegou foi um verdadeiro alívio. Agora era só esperá-lo subir até o vigésimo quinto andar dos trinta e cinto andares do prédio. Porém era domingo! Não havia os filhos escandalosos do casal do sétimo andar, não havia a fofoqueira do décimo andar e muito menos o casal gay, que sempre fazia um escândalo, do penúltimo andar. Todo dia podia ser domingo, pensou Demi já imaginando como seria péssima a segunda-feira naquele terrível horário das cinco e meia ou seis horas da tarde, horário em que ela costumava chegar em casa. O elevador iria parecer um ônibus coletivo super disputado. Oh Deus! O painel de LED finalmente acendeu indicando o vigésimo quinto andar, bastaria caminhar até a sexta porta à direita, número quarenta e três e bingo! Estaria finalmente em casa. E foi o que ela fez rezando a cada passo por estar mais um dia em casa.


Não havia regras, não havia com quem compartilhá-lo, não havia nada que a impedisse de ser feliz, claro, ela não podia ligar o som no último volume, não podia gritar, não podia ter o sonhado cachorro e não podia caminhar de babydoll pelos corredores do andar, até podia, mas seria estranho. Detalhes à parte.. Aquele apartamento pertencia a ela! Sem mãe chata, sem homens chatos, sem regras chatas! Destrancando a porta, o sorriso cansado foi inevitável. O lugar não ostentava luxo, mas mesmo assim tinha o seu próprio charme.

A sala era grande de paredes brancas com alguns simples quadros de artistas desconhecimentos que a agradava. O porcelanato branco e impecável era ótimo para treinar o Moonwalker usando meias brancas. A enorme TV de setenta polegadas era o seu mimo e a sua melhor amiga, Demi passava mais tempo em frente à TV assistindo séries deitada no sofá quando estava de folga do que em seu quarto. O sofá azul turquesa era espaçoso e elegante, e tirando a sala de jantar mais recuada, a sala de TV se resumia apenas na TV e uma porrada de videogames, no sofá, no enorme tapete branco felpudo, na estante branca e azul carregadas de livros e num pequeno centro de vidro. Não se esquecendo do porta-chaves atrás da porta.


Demi trancou o apartamento e pendurou o chaveiro de ursinhos e tudo mais no porta-chaves e começou o pequeno show. Primeiro tirou os tênis de corrida os levando para a lavanderia onde terminou de se despir. Tranquilamente nua caminhou para a suíte principal, o seu quarto. Era simples e aconchegante, Demi gostava de simplicidade e conforto, e assim era o seu quarto. A enorme cama de casal a acolhia perfeitamente, era macia e o despertador sobre o criado-mudo tinha pelo menos cinco funções de soneca, já que o sono da jovem era pesado. O banheiro era fisicamente luxuoso, não tinha como negar, mas o que importava para Demi era que ele sempre estivesse limpo e que o chuveiro e a banheira pudessem aquecê-la e fazê-la esquecer de todos os problemas do mundo. E foi o que aconteceu, calçando apenas os flip-flop pretos, Demi tomou um banho digno com direito a trechos do refrão de Billie Jean e tudo mais. Michael Jackson era uma das paixões de Demi, ela tinha crescido ouvindo as músicas dele pelas ruas de Nova York e até mesmo foi a um show com Selena e André um ano antes da morte do rei do pop.

As toalhas brancas eram as preferidas de Demi, secando-se e se enrolando com uma, envolveu os cabelos noutra e caminhou para o closet onde se vestiu com shorts curtos de pijama e um moletom branco. O relógio analógico sobre o criado-mudo ainda marcava seis e quarenta da noite, era domingo e havia uma série de coisas que Demi poderia fazer: dormir na cama, dormir no sofá, dormir no tapete como ela sempre fazia, dormir assistindo séries, simplesmente dormir. A ideia era agradável, mas ainda era cedo demais para dormir e a essa altura do campeonato Demi já havia desistido da ideia de dormir e de falar com a mãe. Sentando-se à cama, Demi terminou de pentear os cabelos úmidos e foi ao banheiro guardar o pente gostando da ideia que surgia em meio aos seus pensamentos preguiçosos. Se ela terminasse o comercial da empresa naquela noite, o departamento feminino bateria mais um recorde e ela finalmente poderia focar em outros projetos que vinha fazendo por fora.


   - Onde está o carregador? – Murmurou consigo mesma a procura do carregador do notebook já que sabia que trabalharia até mais tarde, tempo em que o notebook a deixaria na mão por conta da pouca durabilidade da bateria. Quando achou o que procurava, Demi caminhou para a sala deixando o notebook sobre a mesa de vidro e foi à cozinha para preparar um misto quente junto a um suco de frutas. O trabalho começou quando Demi se sentou a cadeira acolchoada da mesa de vidro e ligou o notebook. A imaginação estava a mil e ela tinha certeza que Jason, dono da empresa e um de seus melhores amigos, adoraria e aprovaria o mais novo comercial do próximo produto da G. Enterprise que revolucionaria o mercado da tecnologia. Foram exatas duas horas trabalhando sem cessar, concentrada e séria organizando tudo que vinha em mente no papel para depois incluir no projeto em que trabalhava. Mordendo os lábios como sempre fazia quando estava indecisa, Demi cogitou a ideia de ligar para Selena para perguntar se ela poderia avaliar o seu trabalho árduo, então se lembrou de que Sel naquela hora deveria estar jantando com os pais. Esqueça, pensou tentando afastar todas as lembranças daquele dia. Era simplesmente estranho não ter amor de nenhum lado. A avó nunca agiu como tal, enxergava a menina apenas como um problema. Dianna queria usá-la e bem, havia Selena, alguém que realmente a amava. Afastando todos aqueles pensamentos, Demi revisou tudo que fez e quando a ideia perfeita surgiu, a campainha tocou. Quem diabos seria àquela hora da noite? Intrigada, salvou o projeto no dropbox em caso de segurança e caminhou até a porta um tanto desconfiada.


   - Você? – Por que ela não tinha gritado um “Quem é?” antes de abrir a porta? Agora teria que suportar Dianna e se controlar para acabar não fazendo uma besteira. – O que você quer Dianna? – Perguntou se corroendo quando a mulher invadiu o apartamento sem ao menos pedir licença.


   - Meu anjo, por favor, sou eu, a mamãe. – Demi revirou os olhos e balançou a cabeça num gesto negativo.


   - Aliás, quem foi o louco que te deixou subir? – Resmungou baixinho. - O que você está fazendo aqui, mamãe? – Ironizou levando as mãos à cintura.


   - Demetria, esse são os seus modos com a sua mãe? – Disse Dianna se aproximando e automaticamente Demi deu um passo para trás. Ela não podia confiar naquela mulher que a usou da forma mais suja para conseguir dinheiro. – Sua avó tinha razão quando dizia que não valia a pena gastar um centavo em bons colégios para você. – O olhar recriminador de Dianna não a intimidava, bem pelo contrário, Demi tinha vontade de gargalhar. Como alguém poderia ser tão cara de pau?


   - Dinheiro suado e digno, não é mesmo? – Esbravejou. – Dá para falar o que você está fazendo aqui? Se não percebeu, eu estou trabalhando. – Disse apontando para o notebook sobre a mesa de vidro.


   - Meu amor, eu não quero que entenda mal. – Disse Dianna completamente diferente da mulher orgulhosa e arrogante que era.  – Eu encontrei um rapaz que é perfeito para você. Vocês são tão parecidos, ele também gosta de todas essas coisas de tecnologia, é inteligente e educado. Falei muito sobre você para ele, e n... – Antes que Dianna pudesse terminar, Demi fechou os olhos com força e cerrou os punhos.


   - Eu já disse que não! – Gritou mesmo sabendo que poderia ter problemas com os vizinhos. – Eu não sou como você e a vovó! Eu já disse que não! – Disse ainda alterada. – E você não vai conseguir me manipular Dianna, não mais. – Indignada, Dianna olhou para a filha e sorriu levando as mãos à cintura.


   - Ah! Está tudo explicado. – Disse a mulher mais velha fitando a outra de cima a baixo. – Terceiro domingo de junho, você deveria estar na casa daquela tolinha sentada à mesa com aquele bando de pobre. – Dando um passo em direção à mãe, Demi tentou se controlar para não fazer uma besteira. – O que foi? Não vai me bater como eu aposto que você está louca para fazer? Segue em frente Demetria. Você não vale nada, prefere aqueles, aqueles po.. aquelas pessoas a sua própria mãe! – As veias chegavam a pular por conta do nervoso, mas Demi respirou fundo tentando se controlar, não adiantaria de nada se estressar com Dianna.


   - Prefiro mil vezes me sentar à mesa com a família da Selena a me sentar com você, sua vagabunda nojenta! – O sorriso lento e presunçoso de Dianna a assustou e Demi soube que a mãe estava furiosa.


   - Vagabunda nojenta que te gerou, que cuidou de você, que te sustentou e te suportou! - Disse a mulher tão calma e sorridente. – Eu deveria ter dado um fim na sua vidinha medíocre quando ainda era tempo, mas que tola fui eu.. – O coração quase saiu pela boca e os olhos estavam arregalados. Sabia que a mãe não a amava, mas jamais esperava que ouviria algo assim, mesmo que fosse de Dianna.


   - O meu pai não permitiria.. – Sussurrou indefesa e assustada. Que tipo de ser humano era aquela mulher a sua frente?



   - O seu pai? – A gargalhada amarga da mulher a fez estremecer. – Ele me estuprou e me espancou no chão frio de um banheiro. – O tom rude e os olhos carregados de ódio diziam a Demi que não era mais uma mentira. – Algumas semanas depois eu estava enjoada e descobri que estava grávida. E aqui está você, um verme como o pai. Vocês dois destruíram a minha vida. – As lágrimas rolaram grossas e rápidas, no peito o coração gritava tão alto a ponto de explodir. Demi caminhou a passos rápidos em direção a Dianna a puxando pelo braço para fora do apartamento e bateu a porta com força. Estava sozinha novamente. Sozinha, com as suas lágrimas grossas no choro que a fazia soluçar e sem ninguém para amá-la.


Continua... Eita! Que coisa :p Eu estou tãaaaaaao nervosa! Por favor, o que vocês acharam do capítulo? Eu li esse trem umas sete vezes dpadokad espero que vocês gostem, sério, que dorzinha no core. Tadinha da Demi, a mãe dela é literalmente uma fdp hsauhsa não liguem, é o nervoso. Então. Ok. Qual será a reação da Demi? A última faísca da esperança de ser feliz foi apagada pela Dianna. O que vai acontecer Brasil? Realmente, de todo o meu coração, espero que vocês gostem! Muito obrigada, muito mesmo, pelos comentários do prólogo que foram respondidos!!! Êhh! Milagre né? Pois é, eu respondi ~vergonha~ tipo, eu não respondia antes pq a internet era péssima, mas agora tá bem melhor, então resposta aqui Então é isso, vou-me indo assistir Gotham, espero, de novo, que gostem desse capítulo, beijos no core!

14 comentários:

  1. comecei a ler seu blog a pouco tempo e amei, e também estou amando essa fanfic, posta logo, bjsss.

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  2. Mds,a estória está perfeita, continua flor. Bjao

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  3. Ai meu core, mulher que capítulo foda pra caralho, estou amando e já quero mais trezentos capítulos ou pode ser dois jdjs u.u
    Tadinha da Demi todos os caras que ela se entregou de coração a magoaram e até a própria mãe e a avó.. Mas o bom é que ela tem a Sel obrigada Deus por mandar a Selena na vida da Demetria hsha ❤
    Enfim, muito booooom quero mais posta logo beijos

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    1. Obrigada! Já vou postar mais.
      É, todo mundo consegue enganar a Demi, tadinha.. Será que o Joe vai enganá-la? u.u
      A Selena é o anjo da Demi na história!
      Beijos

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  4. Que mãe cruel...
    tadinha da Demi...mais ela ainda vai achar o pai dela,espero. Selena é um amorzinho !!
    To mega ansiosa para mais kkk... enfim..tá perfeito !! posta logoooo e beijos

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    1. A Dianna é muito dura com a Demi..
      O pai da Demi.. Hum.. não sei kkkk
      Sim, a Sel é um amor! Um estou tão apaixonada por Semi que resolvi colocar a Sel na história, ela será como um anjo para a Demi.
      Ainda vem muito treta hahhaha
      beijos no core, já já eu posto!

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  5. Eu to morta! Meu deus quando achei que nenhuma fic ia bater a SS fui otaria

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    1. Lena, sdds! kkkkkk, muitas surpresas ainda estão por vir :p
      bjo

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  6. Eu estou surpresa com essa história, juro pra você!
    Quando entrei no blog e pulei esse primeiro capítulo pra ler a sinopse eu estava esperando uma história totalmente diferente e fico feliz de você ter me surpreendido já no capítulo um, de uma forma totalmente agradável.
    Então, eu não sei o que dizer a respeito da relação que Demi tem com a família, porque realmente sinto muito por isso. Conheço pessoas que não se deram bem com os pais e, quando a vida aconteceu, já era tarde demais. Sei lá, espero que um dia elas se entendam - apesar de tudo indicar que não. Aliás, fiquei um pouco sentida com a forma como Dianna foi estuprada... Odeio esse tipo de homem e acho que seria muito de bom grado se todos eles pegassem a highway to hell e por lá ficassem.
    Por outro lado, eu adorei o relacionamento das meninas. Só tenho uma amiga assim (que não é virtual) e vi muito de nós duas na Demi e na Selena, e adorei isso!
    Enfim, estou ansiosa! <3

    bjbjbj,
    - 2000
    - Monomania

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    1. Obrigada, essa história será realmente diferente de tudo que já escrevi e fico muito feliz que você tenha gostado.
      A relação da Demi com a família é realmente complicada, ela praticamente se criou.. enfim, você verá conforme o desenrolar da história. A Dianna também sofreu muito, ela não teve escolha quando a Amélia a colocou nesse caminho.. sem spoilers :p
      mas não vou deixar isso passar, vou mostrar um pouco mais da história da Dianna também..
      Ah! É ótimo ter uma amiga como a Sel, né? Ela e a Demi são carne e unha.
      Beijo!!

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  7. MEU DEUS ESSE CAP FOI ARRASADOR JA CHEGOU ARRASANDO MINHAS ESTRUTURAS. QUERO MAIS JAAAAAAAA. Desculpa o coment pequeno mas nunca sei o que escrever mas quero só quero q saiba q já amei a fic e senti pena da Demi já de cara a Dianna sofreu tbm mas exagerou

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    1. Calma que tem mais! Não tem problema, fique a vontade para comentar o que quiser! Já estou para postar. Tadinha da Demi, as coisas nunca são fáceis para ela.. A Dianna sofreu sim, sofreu muito, mas exagerou e errou muito com a filha. Beijos!

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